Sundao escreveu: Poderia falar-nos "suscintamente" ( tá aí a dificuldade ) sobre a ordem dos templários. É algo que me interessa ( talvez a outros foristas ) e que não tenho muito tempo de procurar.
Bem, não sei se isso é sucinto o bastante, mas felizmente já tinha guardado esse texto que achei em outro fórum. Acho que ele deve ser bem informativo.
MONGES DE COMBATE
"Senhor, vim perante Deus e perante vós e os irmãos, e peço-vos e suplico-vos em nome de Deus e de Nossa Senhora que me concedais a vossa companhia e os benefícios da casa, como a um que doravante será sempre servo e escravo."
"Bom irmão, estás a pedir uma grande coisa, pois só vês a casca exterior da nossas religião; vês que temos bons cavalos, bons arneses, boa comida e bebida e boas roupas, e pode parecer-te que viverás aqui folgado. Mas desconheces os fortes mandamentos que existem no interior; pois coisa difícil é que tu, que és senhor de ti mesmo, te tornes servo de outrém. Dificilmente farás algumas coisa que desejes: se quiseres estar na Europa, podes ser enviado para lá dos mares; se desejares estar em Acre, podes ser mandado para Trípoli, ou para Antióquia, ou para a Armênia. Se desejares dormir, podes ser acordado, e se estiveres acordado pode ser-te ordenado que te deites. Bom e querido irmão, suportarás bem todas estas dificuldades?"
"Sim, suportarei tudo que for do agrado de Deus."
"Bom irmão, na nossa companhia não deves procurar mando nem riquezas, honra nem bem-estar do corpo. Deves procurar três coisas: renunciar e rejeitar os pecados deste mundo; fazer o serviço de Nosso Senhor, e ser pobre e penitente. Juras perante Deus e Nossa Senhora que doravante, todos os dias da tua vida, obedecerás ao mestre do Templo e a quaisquer ordens que vierem de quem estiver acima de ti? Que viverás em castidade, sem bens pessoais? Que respeitarás e defenderás os bons costumes da casa? Que ajudarás, na medida das tuas possibilidades, a conquistar a Terra Santa de Jerusalém? Que nunca deixarás esta Ordem, nem pela força nem pela fraqueza, nem em piores tempos nem em melhores?"
"Em nome de Deus, de Nossa Senhora, de São Pedro e do nosso pai, o papa, concedemos-te, ao teu pai, à tua mãe e a todos os da tua família que desejares, os benefícios da casa, tal como têm sido desde o princípio e serão até o fim. E tu, tu concede-nos a nós todos os benefícios que tens e terás; e nós prometemos-te pão, água, fadigas, trabalho e a pobre veste da casa."
(Juramento dos Templários)
A primitiva Igreja cristã condenava a guerra por princípio, considerando-a um pecado não importando em que nível ou por qual motivo ela fosse travada. O imperador romano Constantino I, provocou um cisma, no ano de 313, ao estabelecer seu édito de tolerância do cristianismo em todo o império, pois a sobrevivência deste baseava-se na guerra. O Império Romano do Ocidente aceitou a guerra como justificável pela defesa da fé. A adoção de santos militares, tais como São Jorge ilustra tal fato. Por outro lado, a Igreja romana no Ocidente permaneceu firme em sua crença de que toda a guerra era um mal, embora ao tempo de Santo Agostinho (354-430) tenha sido aceito que um lado poderia ter uma “causa justa” para a guerra, e soldados como indivíduos tomando parte em tais guerras poderiam ser absolvidos.
Ao tempo do Papa Gregório, o Grande (590-604), o Ocidente adotou a interessante idéia de que heréticos e infiéis poderiam legitimamente ser convertidos ao cristianismo pela força; mas não foi até à época das Guerras Carolíngias contra os saxões na segunda metade do século VIII que os líderes cristãos foram capazes de transformar guerras políticas em guerras religiosas sob tal disfarce. No início do século VIII, a Igreja já acumulava grandes riquezas, quando a eclosão das invasões sarracenas se mostrou uma séria ameaça a tais posses - em verdade à todo o Cristianismo. Agora a Igreja romana podia apoiar a guerra na defesa da fé; e doravante guerra e Igreja andaram de mãos dadas, com a Missa sendo celebrada antes das batalhas e relíquias de santos passadas em revista pelas tropas para inspirá-las no “trabalho de Deus”.
Esta “meia-volta” deveu-se em parte ao antigo código guerreiro de comportamento que persistiu na Europa cristã. Sob este código as maiores virtudes de um homem eram a força física, habilidade com as armas, bravura, iniciativa, lealdade para com os chefes e solidariedade dentro da tribo. Os ideais da primitiva Igreja cristã eram diametralmente opostos a tudo isso. Entretanto, ao canalizar o espírito marcial para o serviço de Deus, o brutal guerreiro do passado foi transformado num guardião da sociedade. A guerra era aceitável se fosse socialmente útil, e o código guerreiro foi amarrado para criar um novo espírito cavalheiresco pelo qual a classe guerreira de elite, agora a nobreza ou classe governante, se tornasse a defensora da fé, protetora dos pobres e dos fracos. Este novo Miles Christianus (militar cristão) deveria se tornar um herói romântico para rivalizar com os heróis das velhas sagas pagãs; um membro de uma confraria internacional pertencente a uma única classe, compartilhando códigos e ideais.
Em meados do século XI, o papa Leão IX (1049-1054) invocava a guerra contra os invasores normandos na Itália meridional como meio de “libertar a Cristandade”. As bênçãos e estandartes papais foram atribuídos às expedições contra os muçulmanos na Espanha em 1063, e para a invasão da Inglaterra “herética” em 1066. Todas essas campanhas foram chamadas de “guerras santas”, mas eram na verdade lutas de natureza política. E quando, ao tempo do Papa Gregório VII (1073-1085), este convocava exércitos oferecendo recompensas tanto financeiras como espirituais, os papas tinham se tornado recrutadores de soldados e chefes de guerra.
Quando Urbano II convocou uma guerra santa ou “Cruzada” para salvar a igreja oriental e os cristãos de Jerusalém, a resposta foi avassaladora. Lutar pela fé havia se tornado parte do código cavalheiresco do guerreiro, e cada cavaleiro que se desse ao respeito se sentia obrigado a sair em cruzada - se não imediatamente, então em algum momento de sua vida. Desta forma as duas grandes ideologias da Europa medieval - a Cavalaria e a Igreja - se fundiram em uma única na Terra Santa. E lá, desta estranha união, nasceu, talvez a mais poderosa expressão do espírito dominante dos Tempos Medievais: o “monge-guerreiro” das ordens militares - termo que teria sido, em tempos não tão afastados, contraditório em si mesmo.
Depois que Jerusalém foi libertada (ou invadida, dependendo do ponto de vista...) em 1099, a maioria dos cruzados retornou à Europa e apenas uns 300 cavaleiros permaneceram para defender o recém-conquistado reino. Existiam forças menores em Edessa e Antióquia, mas aí os novos príncipes estavam ocupados consolidando e expandindo seus novos domínios. O problema era como defender o reino com forças tão escassas.
Bem cedo no século XII uma resposta parcial foi fornecida por pequenos grupos de cruzados que, por devoção religiosa, voluntariamente dedicavam-se a proteger os peregrinos nas rotas para a Terra Santa. Em pouco tempo a igreja reconheceu o valor destes homens e aceitou-os como parte de sua própria instituição, monges-soldados de nascimento nobre que cumpriam os três votos monásticos de Pobreza, Castidade e Obediência e que usavam hábitos religiosos na capela, mas que também cavalgavam na batalha em cotas de malha (armadura feita de elos metálicos) com os mantos ou túnicas de suas ordens.
Na verdade, desde o fim das legiões romanas, as ordens militares constituíram-se nos primeiros corpos de combate profissionais a surgir na Europa. Entenda-se o termo “profissionais” como homens dedicados, exclusivamente, a uma ocupação. Tal não ocorria, por exemplo, com os senhores da guerra feudais da época. Estes, eram “senhores” devido a suas habilidades militares. Estas eram, portanto, um meio. Quando não estava em combate, o senhor da guerra gastava o seu tempo com um mínimo de treino e um máximo de vida no castelo; administrando suas terras; participando em justas; caçando; jogando ou cortejando “miladies”. Os monges-soldados eram terminantemente proibidos de participar em justas; caçar ou jogar.
Certa feita, durante uma cruzada no Egito, os muçulmanos receberam a informação de que um “reforço” de prostitutas e bebida, havia chegado ao acampamento dos cruzados. Ao anoitecer, quando os cavaleiros laicos estavam “ocupados”, uma força muçulmana aproximou-se, sorrateiramente, do acampamento. Tudo indicava que eles obteriam total surpresa, e uma vitória decisiva. Porém, para sua infelicidade, o setor que eles escolheram para irromper no grande campo dos cruzados, era aquele guarnecido pelas ordens militares. Seus cavaleiros, naquele momento, estavam ocupados em suas orações e plenamente aptos a reagir. Desta forma, os muçulmanos, em vez de surpreender, foram surpreendidos e totalmente desbaratados.
Isto prova que, de vez em quando, a castidade tem suas recompensas...
Quando não estavam aperfeiçoando suas técnicas de combate ou na capela, os freires exerciam trabalhos manuais. Principalmente, a construção e reparo de suas enormes fortalezas. Esta era outra característica que os mantinha aparte dos seus contemporâneos, os cavaleiros laicos. Um senhor da guerra feudal jamais usava as mãos para outra atividade além do uso de armas. Outra característica que diferenciava os exércitos feudais laicos dos pertencentes às ordens militares, encontra-se num dos mandamentos monásticos destas últimas: obediência. Os senhores da guerra eram, quase sempre, indisciplinados. Apenas líderes excepcionais, como Ricardo Coração-de-Leão podiam fazer-se obedecer. Inclusive nos momentos de maior perigo, quando muitos nobres tendiam a pensar mais em salvar suas próprias linhagens do que manter-se firmes no campo de luta.
Por volta de 1140, uma destas ordens, a dos Templários, desempenhava uma parte importante na defesa militar do Reino de Jerusalém, e em meados do século, contingentes dos Templários e dos Hospitalários formavam uma grande parte do exército real em campanha. Recrutas e dinheiro fluíam para estas duas grandes ordens e, no final do século, elas eram as principais proprietárias de terra no “Outremer”, seus cavaleiros eram encarregados com a guarda dos maiores e mais importantes castelos do território, e a rede de comunicações da Terra Santa era policiada por suas patrulhas. No início do século XIII seus cavaleiros, sargentos (homens que combatiam a cavalo, usando cota de malha, porém sem origem nobre) e mercenários contratados formavam aproximadamente metade de qualquer exército de campanha.
O número preciso de soldados fornecidos pelas ordens militares é desconhecido. Para a Campanha do Egito de 1158, os Hospitalários contribuíram com 500 cavaleiros. Cada cavaleiro era, normalmente, acompanhado por dois escudeiros que eram não-combatentes. Entretanto, poderia haver pelos menos um número igual de sargentos e turcopoles (levas de combatentes de origem local, muitos deles muçulmanos convertidos ou de religiões cristãs orientais), assim o total de 2 mil combatentes seria razoável. Os Templários concordaram em fornecer 500 cavaleiros e 500 turcopoles para apoiar o Rei Amalrico (1163-1174) em troca de doações de terra. Por volta de meados do século XIII, os Templários e os Hospitalários podiam reunir, apenas, por volta de 200 e 300 cavaleiros cada, embora um pequeno número tenha permanecido nos vários castelos devendo ser adicionado ao total.
OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS.
A Ordem do Templo de Salomão - originalmente chamada de "Os Soldados-Pobres de Cristo" - foi a primeira das ordens militares, formada por volta de 1118 por sete cavaleiros que juraram proteger peregrinos e observar os votos monásticos. A ordem foi reconhecida pelo Papa em 1128 como um ramo da Ordem Cisterciense e em 1147 travou sua primeira grande ação contra os muçulmanos.
Em 1145, os Cavaleiros Templários receberam permissão para usar o manto branco com capuz dos Cistercienses; este era substituído por uma capa branca em serviço ativo e a partir do tempo da Segunda Cruzada, uma cruz vermelha era usada no peito esquerdo e nos escudos. Os sargentos usavam manto ou capa marrons. Os pendões das lanças também eram brancos, com a cruz da Ordem. O estandarte era branco e negro.
A reputação da Ordem e sua força em combate cresciam a passos largos. Em novembro de 1177, 80 templários juntamente com outros 300 cavaleiros laicos colidiram com o exército de Saladino numa única e esmagadora carga de cavalaria liderada pelo mestre do Templo. Os muçulmanos foram completamente desbaratados, embora o mestre tenha sido capturado, morrendo na prisão por se haver negado a pagar resgate.
Seu sucessor, Geraldo de Ridefort, tornou-se notório por sua temeridade militar e intrigas políticas, ainda que a primeira crítica possa ser desculpável nos termos de que ele apenas obedecia seus votos. Em 1187, com apenas 90 templários e 40 outros cavaleiros, ele carregou uma força muçulmana de aproximadamente 7000 cavaleiros. Apenas ele e dois outros templários conseguiram abrir caminho e escapar. Pouco tempo depois, na Batalha de Hattin, ele dividiu o exército cristão e levou sua cavalaria a derrota total.
Apesar destes atos insensatos, os Templários juntamente com os Cavaleiros Hospitalários constituíam as melhores forças de combate na Terra Santa; na batalha eles sempre tomavam a honrosa posição na ala direita, com os Hospitalários na esquerda.
Durante o século XIII a riqueza da Ordem continuou a crescer, mas sua força militar começou a declinar na Terra Santa - em parte porque eram encontrados menos noviços desejosos de morrer pela fé, em parte devido à crescente rivalidade com as outras ordens militares recentemente criadas, dissipando suas energias e mesmo levando ordem a combater ordem.
Em 1243, Jerusalém foi perdida pela segunda vez. No ano seguinte, os cristãos foram decisivamente derrotados em Gaza, na Batalha de La Forbie, e dos mais de 300 templários presentes apenas 36 sobreviveram. Em 1250 cerca de 200 templários morreram nas ruas de Mansurah, no Egito. Nesta ocasião o mestre do Templo havia prevenido o exército contra uma emboscada, mas viu seus conselhos serem menosprezados pelo comandante laico e irmão do Rei de França (além de grande idiota), Roberto de Artois. Por questão de honra, a Ordem se viu obrigada a seguir os cruzados para a morte certa...
Ao iniciar-se a década de 1290, apenas a cidadela marítima de São João do Acre permanecia em mãos cristãs. Aí, a 6 de abril de 1291, uma última e galante batalha - ainda que fútil - foi travada contra o avassalador poder das forças islâmicas reunidas.
Depois de seis semanas de investidas por máquinas de cerco, uma brecha foi aberta na muralha externa. A brecha foi assaltada pelos Mamelucos (dinastia muçulmana de soldados-escravos que tomaram o poder das mãos de seus senhores no Egito), e apesar de uma magnífica resistência os cristãos foram eventualmente empurrados para a linha interna de muralhas. O assalto final veio três dias mais tarde.
O mestre dos Templários morreu combatendo por entre o troar de edifícios em chamas e desabando, mas os sobreviventes da Ordem conseguiram retirar-se para seu castelo, o Templo, no sul da cidade e aí fizeram uma última resistência sob o comando de seu marechal (o terceiro na linha de comando das ordens militares, abaixo do mestre e do senescal. Era responsável pelo planejamento militar). Termos de rendição foram ofertados, mas as conversações foram rompidas quando um grupo de muçulmanos que havia entrado no Templo começou a saquear civis abrigados lá, e os templários - em obediência a seus votos - os mataram. Uma segunda oferta fracassou quando o marechal, que havia saído do castelo para negociar, foi capturado à traição e decapitado. Só havia uma alternativa, e cada templário ainda capaz de lutar se preparou para ela.
Os muçulmanos atacaram o castelo com armas incendiárias, catapultas e minas. Depois de uma semana, a muralha externa foi derrubada e 2 mil mamelucos avançaram através da brecha. Enquanto o corpo-a-corpo final era travado, as fundações cederam sob o peso da massa de homens de armadura combatendo; o Templo desabou, sepultando os últimos dos templários e seus inimigos sob uma montanha de escombros. A Terra Santa estava perdida para sempre, apesar das mortes em combate de mais de 20 mil templários, cavaleiros e sargentos, desde a fundação da Ordem.
OS CAVALEIROS HOSPITALÁRIOS.
A Ordem do Hospital de São João de Jerusalém foi originalmente criada em 1070 tendo uma função puramente hospitalar e hospitaleira para cuidar e abrigar os peregrinos na Terra Santa, mas no fim do primeiro quarto do século XII começou a se desenvolver alguma forma de organização militar, possivelmente apenas um condestável controlando mercenários contratados para defender as propriedades da Ordem. Entre 1136 e 1142, a Ordem recebeu como doações um certo número de fortalezas-chave e, por volta de 1157, estava engajada em ações de guerra, não apenas defendendo suas possessões. Em 1168 ela foi capaz de enviar 500 cavaleiros para a invasão do Egito, o que sugere que por meados do século ela cumpria uma tarefa tanto militar como hospitaleira.
O Papa concedeu-lhes um estandarte vermelho com uma cruz branca em 1130; entre 1120 e 1160 foi estabelecido que uma cruz branca devia ser usada com o manto negro da Ordem de Santo Agostinho, os Agostinianos, dos quais os Hospitalários eram um ramo. A cruz provavelmente era do tipo latino até meados do século XIII (posteriormente foi alterada para o característico formato com oito pontas, mais conhecida como Cruz de Malta). Em 1248, o manto foi substituído por uma túnica negra com a cruz branca no peito, mas em 1259 esta foi mudada para uma túnica vermelha.
No início do século XIII, os Hospitalários rivalizavam com os Templários como potência militar, possuindo, talvez, mais de 600 irmãos em armas. Choques entre as duas ordens tornaram-se cada vez mais freqüentes. Em 1216, Antióquia, controlada pela Ordem do Templo, foi capturada pelos Hospitalários. Cada vez mais as manobras políticas e diplomáticas das duas ordens eram dirigidas menos contra os infiéis do que contra sua rival.
O declínio da Ordem começou com a perda de Jerusalém em 1243, e ganhou velocidade com o final do século. Em Gaza, na Batalha de La Forbie mais de 300 hospitalários juntamente com o mestre do Hospital foram capturados. Em 1271, a maior de todas as fortalezas da Cristandade, o Krak des Chevaliers, pertencente à Ordem, caiu - levada à rendição por falta de homens para defendê-la. Em 1291 foi a vez de Acre, chamada São João de Acre, devido à magnífica igreja do Hospital lá existente. Depois de oito semanas de heróica resistência Acre caiu, e os Hospitalários morreram até o último homem, combatendo lado-a-lado com seus antigos rivais, os Templários.
Um ano depois da queda de Acre, os Hospitalários se estabeleceram na ilha de Chipre. Incapaz de crescer ou retomar seu antigo poder militar, a Ordem começou a perscrutar o futuro. Ao contrário dos Templários que haviam recorrido às finanças, os Hospitalários perceberam que, a partir da experiência obtida com suas pequenas expedições anfíbias anteriores contra os muçulmanos, uma alternativa militar ainda era viável. Para sobreviver eles precisavam deixar de ser uma força terrestre para se transformarem numa força naval.
Buscando expandir-se, e aproveitando-se, como desculpa, do fato de alguns muçulmanos terem se estabelecido na ilha de Rodes controlada pelos bizantinos, a Ordem obteve permissão do Papa para expulsar os intrusos infiéis em 1306. Livre das divergências políticas internas que tanto empecilhos causaram à Ordem desde a formação do seu ramo militar e, agindo num teatro de operações onde ela era o único grande poder, a Ordem dos Hospitalários (agora conhecida como Cavaleiros de Rodes) dedicou-se a destruição dos corsários muçulmanos que dominavam o Mediterrâneo oriental.
Quando Constantinopla caiu em 1453, Rodes tornou-se o último posto avançado da Cristandade no Oriente. Após uma série de ataques em 1480, foi lançado o ataque final contra a fortaleza dos Hospitalários pelo sultão Solimão, o Magnífico, no ano de 1522. O Mestre do Hospital, Villiers de L’Isle Adam tinha 600 hospitalários e cerca de 4500 auxiliares locais contra um exército turco de uns 100 mil homens. No entanto, Rodes era uma das maiores fortalezas do mundo, equipada com excelentes baterias de artilharia, e obrigou Solimão a dois meses de operações de cerco até efetuar uma brecha no ponto mais fraco das muralhas. Os custosos assaltos foram substituídos por uma guerra de atrito, com a ilha sendo isolada de reforços e suprimentos por um bloqueio completo. Por volta de 20 de dezembro de 1522, os Hospitalários foram confrontados com duas alternativas: extermínio total, ou rendição. Os termos de Solimão eram generosos, e foram aceitos. Depois de 200 anos, a Ordem do Hospital estava de novo sem um teto.
O Sacro Imperador Romano-Germânico e Rei da Espanha, Carlos V reassentou a Ordem na estratégica ilha de Malta. Os Hospitalários, agora conhecidos pelo nome de Cavaleiros de Malta, converteram a ilha numa fortaleza ainda mais poderosa que seus antigos redutos. Doravante, a Ordem dedicou-se a combater os corsários da costa da Barbária, localizada na Argélia. Os corsários estavam dificultando seriamente o comércio em todo o Mediterrâneo, e mesmo levando a cabo incursões na Itália e na Espanha; porém, 200 anos de combates nas águas do Mediterrâneo criaram uma força naval hospitalária que era mais do que páreo para os corsários. Em breve, os nomes dos capitães do Hospital eram tão temidos entre os muçulmanos como os seus capitães corsários haviam sido entre os cristãos.
Em 1565, Solimão, agora envelhecido, chegou a Malta com uma frota de 180 navios e cerca de 30 mil homens. O grande cerco de Malta ia começar. Reforçado por cavaleiros de cada comendadoria hospitalária da Europa, os Cavaleiros de Malta se prepararam em suas espaçosas e bem supridas fortalezas para resistir ao último e mais famoso dos cercos de sua longa história. Haviam cerca de 500 cavaleiros da Ordem na ilha, apoiados por uma leva maltesa de uns 4 mil homens e cerca de 4500 outros soldados, incluindo mercenários. Outros 80 cavaleiros e 600 soldados conseguiram atravessar o bloqueio mais tarde, embora a força original de Solimão tenha dobrado durante o cerco.
O ataque inicial foi feito no fim de maio contra o Forte de São Telmo, que guardava a entrada para o Grande Porto. Após um mês de feroz combate, o forte finalmente caiu; os sobreviventes da heróica guarnição foram massacrados, e seus corpos mutilados foram postos a flutuar rumo ao porto. Os Hospitalários retaliaram executando os prisioneiros que mantinham, e arremessando suas cabeças no campo inimigo. A partir daí, o cerco tornou-se uma amarga luta até a morte, sem que nenhum dos lados desse quartel.
Em 15 de julho de 1565 um assalto geral foi lançado por terra e mar. Quase teve sucesso. Uma brecha foi criada por minagem em 7 de agosto, e novamente os turcos chegaram perto da vitória. Entretanto, os Hospitalários conseguiram reparar as brechas, e todos os assaltos foram repelidos. Em 7 de setembro, um exército espanhol de socorro, chegou; o desmoralizado exército turco reembarcou e se fez ao mar sem ser molestado, tendo sofrido cerda de 24 mil baixas. Os Hospitalários perderam 240 cavaleiros e cerca de 6 mil outros soldados.
OS CAVALEIROS TEUTÔNICOS.
A terceira grande ordem militar na Terra Santa era a Ordem do Hospital de Santa Maria dos Alemães, conhecida como Ordem dos Cavaleiros Teutônicos. Fundada como ordem hospitalar e seguindo a Regra Cisterciense durante o cerco de Acre em 1189-1190. A ordem foi reconhecida pelo Papa em 1191 e em 1198 tornou-se uma ordem militar. Como os Templários e os Hospitalários já estavam firmemente estabelecidos na Síria, os Cavaleiros Teutônicos concentraram-se nas regiões de Antióquia e Trípoli. Porém, em 1210, a maioria de seus cavaleiros juntamente com seu Hochmeister (Grão-Mestre) foram mortos em combate. Um novo quartel-general foi estabelecido perto de Acre, mas a Ordem Teutônica sempre foi sobrepujada pelas outras duas ordens na Terra Santa e sua verdadeira grandeza foi fundada na Europa setentrional.
Os Cavaleiros Teutônicos usavam uma capa branca, ou túnica, ostentando uma cruz latina negra a partir de 1191 (a mesma que se vê nos tanques e aviões alemães e na Cruz de Ferro); os sargentos usavam uma capa ou túnica cinzas ostentando uma cruz truncada, isto é, sem a seção vertical acima do braços horizontais (como a letra “T”).
Em 1230, vinte cavaleiros e 200 sargentos foram enviados à Prússia para converter as tribos pagãs ao Cristianismo e por volta de 1237 haviam conseguido reduzir toda a resistência e iniciado a colonização da região. A Ordem então moveu-se para Livônia.
Os anos vindouros apresentaram uma série de grandes derrotas para os Teutônicos. Em 1241, eles sofreram uma dura derrota, nas mãos dos mongóis que haviam realizado uma incursão em larga escala contra a Europa oriental. Desta Batalha de Liegnitz, também participou um pequeno contingente de cavaleiros da Ordem dos Templários.
Em 1242, os Teutônicos tentaram aumentar sua província da Livônia as custas de outros cristãos - os russos da Igreja Oriental - e uma força expedicionária cruzou o rio Narva rumo a Novgorod. A Ordem foi confrontada por um exército russo liderado pelo Príncipe Alexandre Nevski, sendo forçada a combater por sobre o congelado Lago Peipus. O gelo rompeu-se sob o peso das armaduras e montarias dos Cavaleiros Teutônicos, e a maioria morreu afogada, ou nas mãos da cavalaria ligeira russa. Esta derrota, que efetivamente deteve a expansão da Ordem rumo ao norte, foi imortalizada no clássico filme de Eisenstein de 1938, "Alexandre Nevski".
Nesse mesmo ano, as tribos prussas se rebelaram e uma Cruzada de 60 mil alemães e boêmios foi lançada para salvar a Ordem e suas conquistas.
Enquanto isso, na Terra Santa, o castelo teutônico de Starkenberg havia sido perdido em 1272, e com a queda de Acre, os Cavaleiros Teutônicos moveram seu quartel-general para Veneza. Em setembro de 1309, o Hochmeister e outros líderes da Ordem entraram em Marienburg (atual Polônia) que se tornou o seu quartel-general.
Nas décadas que se seguiram, a expansão e grande poder da Ordem Teutônica criaram inimigos invejosos. As duas grandes monarquias católicas da Europa oriental, Polônia e Hungria, aliaram-se numa tentativa de conter a influência dos Teutônicos. Jagellon (Ladislau I) rei da Lituânia, que se havia convertido ao catolicismo, mobilizou um exército de mais de 10 mil homens, incluindo todos os inimigos dos Cavaleiros Teutônicos - poloneses, lituanos, russos, boêmios (estes sob o comando de João Ziska, futuro líder da Revolta dos Hussitas), húngaros e até mesmo mongóis e cossacos - e invadiu os territórios da Ordem em julho de 1410. O Hochmeister decidiu contragolpear o mais rápido possível, sem esperar pelo reforço dos irmãos da Livônia, e imediatamente marchou na direção do inimigo.
Os dois exércitos encontraram-se nas colinas arborizadas de Tannenberg, ou Grunwald. O exército de Jagellon acampou no interior da floresta, desta forma negando à Ordem o uso de sua mais poderosa arma - a carga montada de seus cavaleiros couraçados. O Hochmeister, portanto, desdobrou suas tropas para um engajamento defensivo e esperou pelo ataque inimigo, confiando em seus numerosos besteiros e arqueiros para contê-lo.
Quando o exército aliado começou o ataque, os besteiros e arqueiros da Ordem conseguiram pôr em fuga os lituanos numa ala, mas o centro e a outra ala avançaram, e um grande combate teve início. Os triunfantes perseguidores dos lituanos foram detidos pela cavalaria russa e uma reserva polonesa, e durante algum tempo, nenhum dos lados conseguiu vantagem. Então, o Hochmeister liderou sua reserva remanescente numa tentativa de perfurar a linha polonesa. A manobra fracassou; ele e os outros líderes da Ordem foram cercados e mortos. Após uma breve resistência o resto do exército dos Teutônicos rompeu as fileiras e fugiu, deixando cerca de 200 dos cavaleiros da Ordem mortos no campo de batalha. Muitos outros foram capturados, submetidos à tortura e, posteriormente, decapitados.
Outra ordem puramente alemã, fundada em 1204 pelo bispo de Riga para proteger os colonos alemães desta cidade, foi a dos Cavaleiros Porta-Gládio (ou Irmãos da Espada, Schwertbrüder em alemão). Em 1206 esta ordem possuía cerca de 50 cavaleiros, mas um terço destes foi morto entre 1212 e 1223 e mais da metade da força de combate dos Porta-Gládio tombou diante dos lituanos pagãos, na Batalha de Siaulai, em 1237. Os sobreviventes foram reunidos à Ordem Teutônica na Livônia, embora permanecendo independentes do Grão-Mestre teutônico.
AS ORDENS MILITARES IBÉRICAS.
Na península ibérica os exércitos dos vários reinos espanhóis e portugueses, sempre carentes de potencial humano para controlar as crescentes faixas de terra reconquistadas aos mouros, foram reforçados pelas ordens militares. Originariamente os Templários e os Hospitalários receberam terras e castelos para guarnecerem em nome dos reis, mas nenhuma destas ordens estava disposta a se engajar profundamente na península ibérica. Assim, entre 1160 e 1170, para tomarem os lugares delas, várias ordens militares luso-espanholas foram criadas. A maioria destas ordens locais se originou de pequenos grupos ou associações de cavaleiros que guarneciam fortalezas de fronteira. As maiores entre tais ordens foram a dos Cavaleiros de Santiago e a dos Cavaleiros de Calatrava.
A Ordem de Calatrava foi a primeira ordem espanhola a ser formada, em 1157, quando um grupo de monges Cistercienses e soldados de Navarra concordaram em manter o estratégico castelo de Calatrava (guardando o caminho para Toledo), que havia sido abandonado pelos Templários. No fim de 1158, estes homens haviam limpado de incursores mouros toda a área circunvizinha. Os monges retornaram à sua abadia em 1164 e, no mesmo ano, a seção militar remanescente no castelo foi reconhecida como ordem militar pelo Papa. Os cavaleiros originalmente usavam o manto branco com capuz dos Cistercienses mas uma túnica foi logo adotada para serviço ativo. Nenhuma insígnia foi criada, porém, as armaduras dos cavaleiros eram sempre pintadas de negro.
Os Cavaleiros de Santiago originaram-se de um grupo de treze cavaleiros que protegiam peregrinos no caminho para o santuário de Santiago de Compostella durante o período de 1158-1164. Em 1175, os cavaleiros foram reconhecidos como ordem militar pelo Papa. Eles usavam um hábito branco com uma cruz vermelha no peito esquerdo; o parte de baixo da cruz assemelhava-se a uma lâmina de espada. O ramo português, da Ordem, São Tiago, também usava um hábito branco e uma cruz vermelha, mas a parte de baixo do braço vertical desta cruz terminava num formato de flor-de-lis.
Em 1162 existia um pequeno grupo de cavaleiros portugueses conhecidos como Irmãos de Santa Maria. Em 1170 eles adotaram a Regra beneditina. Depois das ofensivas mouras contra Portugal em 1190, a Ordem construiu muitos postos ao norte de Tagus e em 1211 adquiriu a cidade de Avis, tornando-se conhecida como Ordem Militar dos Cavaleiros de São Bento de Avis. Os Cavaleiros de Avis provavelmente usavam uma capa ou túnica negras, seguidores que eram da Regra beneditina. No início do século XIV, Alfonso IV obteve permissão papal para que a Ordem usasse uma cruz verde.
Por volta de 1166, outro grupo de cavaleiros, conhecidos como Cavaleiros de São Juliano, estava operando em Castela e na fronteira de Leão. Eles foram reconhecidos como ordem militar pelo Papa em 1183. Por volta de 1264, a Ordem já contava com mais de 600 cavaleiros e 2 mil sargentos. Eles usavam capa ou túnica brancas.
A Ordem dos Cavaleiros de Nossa Senhora de Montjoie foi criada por um antigo cavaleiro da Ordem de Santiago por volta de 1176 na Terra Santa, e foi reconhecida pelo Papa em 1180. Um pequeno destacamento combateu na Batalha de Hattin, depois do que a maior parte de Ordem se retirou para Aragão e foi incorporada à Ordem de Calatrava em 1221. Os cavaleiros usavam um hábito branco com uma cruz branca e vermelha, cuja forma é desconhecida.
A dissolução dos Templários em 1312, levou o Rei Dom Dinis de Portugal a criar em 1318, uma ordem que encampasse as enormes propriedades do Templo em Portugal, impedindo que os Hospitalários se tornassem poderosos demais em seu reino. Em 1321, a nova ordem conhecida como os Cavaleiros de Cristo tinha 69 cavaleiros, nove capelães e seis sargentos. Henrique, o Navegador tornou-se Mestre de Cristo no início do século XV; durante seu mestrado, a Ordem empregou os mais eminentes geógrafos da época, e seus navios empreendiam expedições que eram em parte, missionárias e em parte, comerciais. Por volta de 1425, a Ordem havia colonizado Madeira e as Canárias; em 1445 estava estabelecida nos Açores, e levando a cabo uma sistemática exploração da costa ocidental da África. Vasco da Gama era cavaleiro da Ordem de Cristo quando, em 1497, fez vela para a Índia através do Cabo da Boa Esperança.
Os cavaleiros usavam um manto ou túnica brancos com uma cruz vermelha no interior da qual havia outra cruz branca.
Extraído de WISE, Terence. - The Knighst of Christ, Osprey, 1997.