José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

Área para discussão de Assuntos Gerais e off-topics.

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#1 Mensagem por Clermont » Qui Set 06, 2007 8:55 pm

José Bonifácio - Formação

Nasceu José Bonifácio a 13 de junho de 1763. Fazia parte de uma das famílias mais ricas de Santos. O pai, funcionário da Coroa, figurava no Recenseamento de 1765 como a segunda fortuna da cidade. (...)

Coimbra reunia grande número de brasileiros, representantes das famílias mais ou menos ilustres da colônia ou membros de sua clientela. Durante o século XVIII, cerca de 1700 brasileiros matricularam-se na Universidade, dos quais 68 pertenciam à capitania de São Vicente. (...) A primeira elite brasileira, a responsável pela institucionalização do país depois da Independência, foi quase toda ela formada na Universidade de Coimbra, o que é um dado significativo para sua compreensão.

Alguns anos antes de José Bonifácio chegar a Coimbra, a Universidade passara por profunda transformação. Pombal, no seu intento de reorganizar Portugal, segundo diretrizes que a burguesia vinha preconizando nos vários países da Europa, procurou modernizar o ensino, ainda preso à retórica clássica. Introduzir na Universidade os métodos mais modernos do empirismo. Abrir a Universidade ao movimento das Luzes que empolgava o pensamento europeu, varrer o obscurantismo e a rotina em que estava mergulhado o ensino, combater a influência dos jesuítas eram os seus principais objetivos. Com a reforma remodelaram-se os cursos, dando-se maior importância aos estudos científicos. Condenou-se o ensino “meramente teórico e livresco”, preconizando-se a observação direta da natureza. Na Faculdade das Artes, na qual ingressaria alguns anos mais tarde José Bonifácio, desenvolveram-se estudos de filosofia e ciências da natureza.

Quando José Bonifácio chegou a Portugal no entanto, já o Ministro Pombal caíra em desgraça e a Universidade estava longe de se pautar pelas normas do pensamento ilustrado. Atravessava-se um período de repressão às idéias que pareciam por demais avançadas para um Portugal arcaico e carola. O Alvará de 5 de fevereiro de 1778 mandara apreender muitos livros de “perniciosa doutrina”, não só capazes de corromper os bons costumes, como dizia o alvará, mas igualmente contrários “à santidade da religião católica e ao sossego público”. Com a queda do ministro, a reação tomara conta de Portugal. Vários lentes foram submetidos a processo por lerem autores franceses, principalmente Rousseau. No ano seguinte, o reitor Francisco de Lemos foi exonerado, sendo nomeado em seu lugar o Principal da Santa Igreja de Lisboa, “com a missão de providenciar contra o ardor revolucionário com que os jovens de aplicavam à lição voluntária dos livros de errada doutrina”.

No Reino da Estupidez, poema satírico publicado em 1785 atribuído a um estudante brasileiro, Francisco de Melo Franco, que na opinião de alguns contou a com a colaboração de José Bonifácio, mestres e cursos são impiedosamente criticados.

A Reforma trouxe à Universidade de Coimbra alguns professores “dignos de tal nome” – dizia-se no poema – mas para distingui-los seria preciso “ter a vista bem perspicaz: tanto reina ainda aqui mesmo a Estupidez”. Sobre os estudantes de Leis, e José Bonifácio era um deles, observava-se que o único fruto que levavam era a “pedantaria, a vaidade e a indisposição de jamais saberem, enfarinhados unicamente em quatro petas do Direito Romano”, não sabendo “nem o Direito Pátrio, nem o Público, nem o das Gentes, nem Política nem Comércio”, nada que fosse útil enfim. O poema denunciava ainda o atraso de Portugal em relação ao Progresso de outros países, as arbitrariedades cometidas pela fidalguia, a falta de compostura do clero, o fanatismo, a credulidade e a ignorância do povo em geral, condenando a submissão de Portugal aos estrangeiros:


Miserável nação! Que fielmente
Os tesouros franqueia aos Estrangeiros
Por chitas, por fivelas, por volantes
E por outras imensas ninharias!


Relatava, enfim como a Estupidez fora introduzida na Academia.

É nessa Universidade, “Reino da Estupidez” de onde a reforma Pombalina não conseguira varrer, de todo, os modelos tradicionais, que José Bonifácio inicia-se nos autores da Ilustração, ampliando, ao mesmo tempo, seus conhecimentos dos clássicos.

Leitor incansável, José Bonfiácio não se contentaria com o que lhe era ensinado na Universidade. Suas notas dispersas hoje em vários arquivos e suas poesias está, assim como suas cartas, cheias de referências a Rousseau, Voltaire, Montesquieu, Locke, Pope, Virgílio, Horácio, Camões, denotando uma formação humanista ampla e familiaridade com os autores da Ilustração, o que irá explicar mais tarde suas teorias políticas.

Embora continuasse a versejar, as preocupações científicas passaram ao primeiro plano, fixando-se seu interesse nos estudos de mineralogia. Contando com o apoio do Duque de Lafões, conseguiu, depois de formado, uma viagem de estudo pela Europa, viagem que se prolongou por dez anos, durantes os quais prosseguiu os estudos acompanhando cursos de Química de Fourcroy, Lavoisier, Jussieu, fazendo estágios em regiões mineiras da Europa (Tirol, Estítira, Caríntia), viajando pela França, Alemanha, Áustria, Hungria, Suécia, Noruega, Dinamarca. Quem o encontrasse naquela época veria nele o jovem cientista interessado em mineralogia e jamais suspeitaria que vinte anos mais tarde viria ele a desempenhar importante papel na emancipação da colônia portuguesa na América.

(...)

Na França esteve em plena Revolução, nos primeiros meses de 1791, guardando uma penosa impressão dos movimentos revolucionários e da agitação das massas. Entre os autores da Ilustração, se alinharia melhor ao lado de Voltaire e Montesquieu, do que de Rousseau. Sua irreverência em matéria religiosa, sua desconfiança em relação às massas, sua pouca simpatia pelos regimes democráticos lembram as críticas de Voltaire ao clero em geral e o seu horror à canaille. Seria um liberal, mas nunca um democrata. Suas idéias, aliás, acompanhavam de perto as de Melo Franco, ele também discípulo de Locke, Condillac, Helvetius e Cabanis, para quem a “licença de uma grande liberdade” era tão nociva quanto os despotismos.

(...)

O ideário político de José Bonifácio.

Tendo vivido mais de trinta anos na Europa, identificara-se em vários aspectos com o pensamento ilustrado assimilando a visão crítica da burguesia européia, condenando o latifúndio improdutivo, o trabalho escravo, valorizando o trabalho livre e a mecanização. Da Ilustração também lhe viera um acentuado anti-clericalismo, sua confiança na eficácia da educação como meio de transformação da sociedade, incluindo-se a educação feminina, sua aversão aos privilégios e títulos de nobreza e a todas as formas de absolutismo. Não daria nunca sua adesão às soluções revolucionárias, encarando com desconfiança o que considerava “excessos de liberdade”. O chefe de Estado, a seu ver devia ser menos um líder revolucionário, um representante do povo do que um déspota esclarecido, e menos um déspota esclarecido do que um monarca constitucional.

(...)

Toda sua vida se regeria por esse quadro de valores. Abominava os “extremos” da República, não desejando tampouco um governo absolutista. Por isso se oporia em 1823 ao Imperador como se opusera às intenções republicanas de Ledo e Januário da Cunha Barbosa.

(...)

Temeroso das mudanças bruscas e radicais, mais confiante no “progresso do espírito humano”, não seria avesso às transformações lentas e progressivas. “Os que se opõem às reformas”, escreveria ele, criticando os adeptos do status quo, “por nímio respeito da antiguidade”, por que “não restabelecem a tortura, a queima de feiticeiros etc.? Seriam nossos pais culpáveis para com os seus antigos quando adotaram o Cristianismo e destruíram a escravidão na Europa? Não era isto abandonar a antiguidade para ser moderno? E por que não aproveitaremos nós as luzes do nosso para que a nossa posteridade tenha também uma antiguidade que de nós provenha, mas que o deixe de ser, logo que o progresso do espírito humano assim o exigir?” E em outra ocasião: “Nas reformas deve haver muita prudência, se conhecer o verdadeiro estado dos tempos, o que estes sofrem que se reforme, e o que deve ficar do antigo. Nada se deve fazer aos saltos, mas tudo por graus, como obra da Natureza”.

(...)

Seu programa político filiava-se a uma posição conservadora, consentânea com os interessados no estabelecimento de um regime monárquico no qual o poder real ficasse limitado pelo compromisso constitucional e pela atuação do Legislativo, recrutado pelo voto qualificado. Divergia apenas quanto à fixação dos limites do poder real. As oligarquias rurais, aliadas aos elementos mais liberais, nesta questão, consideravm imprescindível limitar o poder real, submetendo-o à hegemonia do Legislativo que poderiam facilmente controlar. Interpretando o ponto de vista burocrático, José Bonifácio pretenderia reforçar o poder do rei, receando o governo das oligarquias.

O radicalismo de José Bonifácio.

Se o seu programa político aproximava-o mais dos conservadores do que dos liberais, seu programa social e econômico afastava-o dos conservadores, colocando-o ao lado dos liberais mais extremados que na prática política perseguia e na teoria não raro ultrapassava. Embora jamais chegasse a aceitar a apologia revolucionária e democrática da Nova Luz Brazileira, jornal contundente aparecido em 1829 ou do Jurujuba dos Farroupilhas (...), José Bonifácio estaria, no entanto, identificado com as opiniões desses jornais no tocante à aristocracia, tratados de comércio, abolição da escravatura e extinção do latifúndio improdutivo.

(...)

Mais incômoda ainda à aristocracia rural do que sua aversão aos títulos de nobreza e seu sarcasmo ferino eram sua intenção de pleitear a cessação do tráfico e a gradual emancipação dos escravos, assim como suas críticas ao latifúndio e seus projetos de reforma do sistema de propriedade da terra. (...) A idéia de substituir o trabalhador escravo pelo livre aparecia, na época, aos olhos da maioria, como sonhos de visionário e de nada adiantaria o exemplo de José Bonifácio que introduzia na sua propriedade em Santos vários imigrantes com a intenção de demonstrar aos seus compatriotas a viabilidade de sua sugestão.

Repetindo os argumentos de Rousseau e Condorcet, escreveria José Bonifácio que a sociedade civil tem por base primeira a justiça e por fim principal a felicidade dos homens e prosseguia dizendo: “mas que justiça tem um homem para roubar a liberdade de outro homem e o que é pior dos filhos deste homem e dos filhos destes filhos? Nos dirão talvez que se favorecerdes a liberdade dos escravos será atacar a propriedade. Não vos iludais, Senhores, a propriedade foi sancionada para o bem de todos, e qual é o bem que tira o escravo de perder todos os seus direitos naturais e de se tornar de pessoa a cousa, (...) Não é pois o direito de propriedade que querem defender, é o direito da força, pois que o homem não podendo ser cousa, não pode ser objeto de propriedade”.

Ao mesmo tempo que combatia nesses termos a escravidão, recomendava o uso de máquinas que diminuíssem a necessidade de mão-de-obra e observava que, se fossem calculados os custos da aquisição das terras, dos escravos, dos instrumentos rurais que cada um necessitava, seu sustento, vestuário, moléstias que os dizimavam, fugas repetidas, ver-se-ia que o trabalho livre era mais produtivo. Parecia-lhe paradoxal que um povo livre e independente adotasse uma Constituição liberal e um regime representativo, mantendo escravizado mais de um terço da sua população. Considerava a escravidão corruptora da sociedade, responsável pelo pouco apreço ao trabalho, pela desagregação da família e deterioração da religião.

(...)

Não obstante recomendadsse sempre que tudo fosse feito com moderação e circunspecção para evitar alvoroço da população escrava, sua posição apareceria como demasiado avançada aos olhos de seus amigos que viviam em função do trabalho escravo nas lavouras ou se enriqueciam às custas do tráfico.

(...)

Igual escândalo deviam provocar suas idéias a propósito da política de terras expostas nas Instruções do Governo Provisório de São Paulo aos deputados da Província às Cortes Portuguesas, onde, no item 11, sugeria uma nova legislação sobre sesmarias, fundando-se para isso nas Ordenações do Reino e argumentando que as leis referentes à concessão de terras haviam sido desrespeitadas, permitindo-se contrariamente ao espírito da lei, a criação de latifúndios improdutivos “com sumo prejuízo da administração, da justiça e da civilização do País.” Por isso sugeria que todas as terras que não se achassem cultivadas reintegrassem os bens nacionais, permitindo-se aos donos conservar apenas meia légua quadrada, com a condição de começarem logo a cultivá-las. Recomendava ainda a instituição de uma caixa cofre para recolher o produto da venda de terras, sendo o capital acumulado empregado na promoção da colonização. Com esse objetivo sugeria fossem concedidos lotes de terra a europeus, pobres, índios, mulatos e negros forros. Recomendava finalmente que todos os proprietários de terra fossem obrigados a conservar a sexta parte de sua propriedade intata; coberta de matos e arvoredos, proibindo-se a derrubada e as queimadas, salvo quando fossem as matas substituídas por bosques artificiais. Procurava dessa maneira prevenir os inconvenientes oriundos do desflorestamento sem medidas.

(...)

Também ao lado dos liberais estaria José Bonifácio em matéria de religião. Formado no convívio com os autores da Ilustração, conservaria por toda vida uma certa irreverência que lhe permitia fazer afirmações que certamente escandalizariam os meios católicos, mais conservadores como quando dizia que o catolicismo convinha mais um governo despótico que a um constitucional e que a “religião que convida a vadiagem e faz do celibato uma virtude é uma planta venenosa no Brasil”. Na discussão a propósito da liberdade de culto, travada na Assembléia Constituinte em 1823, suas simpatias estariam ao lado dos que a defendiam (Muniz Tavares, Custódio Dias, Carneiro de Campos), contrariando alguns dos seus mais fervorosos companheiros, tais como Azeredo Coutinho, que consideravam a liberdade de culto um atentado à religião”.

Na posição de intelectual e burocrata, formado na Europa, impreganado de idéias ilustradas, não diretamente vinculado aos meios agrários e mercantis, colocando-se freqüentemente contra os interesses desses grupos, José Bonifácio perderia progressivamente suas bases políticas.

Manifestara pouca simpatia pelos tratados de comércio com os ingleses e opunha-se aos empréstimos, considerando-os lesivos ao interesse nacional. Num dos seus textos analisa os efeitos do Tratado de Methuen, observando que “os portugueses deviam-se escandalizar da pouca gratidão britânica”. A Pontois, representante francês do Rio de Janeiro, confessava que todos os tratados de comércio e amizade concluídos com as potências européias eram puras tolices e que nunca os deixaria ter feito se estivesse no Brasil. Numa de suas cartas escritas do exílio, referindo-se ao tratado de reconhecimento da Independência do Brasil que estipulava o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas a Portugal e obrigava o Brasil a assumir junto ao governo britânico um pesado empréstimo, comentaria José Bonifácio acremente: “ao menos temos a Independência reconhecida, bem que a soberania nacional recebeu um coice na boca do estômago de que não sei se morrerá ou se restabelecerá a tempo, tudo depende da conduta futura dos Tatambas” (referindo-se à elite responsável pelos destinos políticos do país).

Cartas Andradinas, A.B.N., 14, p. 11. “Os políticos da moda querem que o Brasil se torne Inglaterra ou França, eu quisera que ele não perdese nunca os seus usos e costumes simples e naturais e antes retrogradasse do que se corrompesse” dizia José Bonifácio (O. Tarquínio de Souza, O Pensamento Vivo de José Bonifácio, p. 137).


____________________________

Extraído de MOTA, Carlos Guilherme - 1822: Dimensões, Editora Perspectiva - São Paulo, SP - 1986 (2ª Ed).




Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#2 Mensagem por Clermont » Seg Set 07, 2009 6:42 pm

JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA.

O TAMOYO, 2 de setembro de 1823.

José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), O Patriarca da Independência, foi o primeiro brasileiro a ocupar um ministério, o do Reino, empossado em janeiro de 1822. Neste cargo, ele comandou o movimento político em favor do trono de dom Pedro I contra a corte portuguesa. Foi o autor de O Manifesto, de 6 de agosto, documento diplomático que apresentava o Brasil como nação soberana aos olhos do mundo. Em outubro de 1822, José Bonifácio e seu irmão, Martim Francisco, então responsável pelas finanças do país, foram demitidos depois de sucessivos confrontos com dom Pedro, já Imperador Constitucional do Brasil.

O povo, incitado pelos próprios Andrada, exigiu que eles retornassem ao poder. Dom Pedro cedeu e os readmitiu. No entanto, a contínua tensão entre os Andrada e seus adversários políticos acabou provocando a dissolução da Assembléia Constituinte de 1823. Em novembro daquele ano, José Bonifácio foi preso e exilado na França. Retornou ao Brasil apenas em julho de 1829. Com a abdicação de dom Pedro I, em 1831, ele assumiu a tuoria dos filhos do Imperador, função que ocuparia até 1833, quando foi sumariamente afastado. Novamente detido, acusado de consptirador e perturbador da ordem pública, seu processo se estendeu até 1835.

Durante o período em que esteve na oposição, depois de sua demissão do ministério, José Bonifácio fundou o jornal O Tamoyo, que circulou pela primeira vez em 12 de agosto de 1823. Nesta entrevista, uma das primeiras de que se tem notícia na imprensa brasileira e mundial, ele é chamado o Velho do Rocio.

--------------------------

Como vossa mercê publica um periódico que eu muito prezo pelo puro brasileirismo que nele brilha, e porque com muito boa filosofia combate coisas sem caluniar pessoas, julgo quereá fazer o favor a mim, e à nossa pátria, de publicar no seu estimável papel uma conversa franca e amigável que anteontem tive com este raro e ótimo patriota que é o nosso Velho do Rocio.

Eu, senhor redator, em melhores eras também freqüentei a alma mater Academia, que hoje, não sei com que razão, praguetos e descontentes chamam de decrépita, ignorante e poluta. Mas não querendo aumentar o número de Galopins 1 que atulhavam em Lisboa as ante-salas dos secretários e ministros de Estado em busca de um minguado lugarinho de juiz de fora, fui-me escafedendo para a terra do Pão de Açúcar e fiz-me roceiro. Há anos que com meu trabalho vivo sossegado e com fartura. Porém, de quando em quando venho à cidade saber das novidades políticas do tempo e conversar com algum amigo que ainda conservo neste melhor dos mundos possíveis, segundo o doutor Pangloss. Entre estes poucos amigos conto desde Coimbra com este honrado cidad~dao, a quem o Brasil deve muito e muito. Logo que me chegou aos ouvidos uma confusa notícia de que ele tinha pedido sua demissão, bem como o seu digno irmão, o nosso grande financeiro [o autor faz referência a Martim Francisco, irmão de José Bonifácio e ministro da Fazenda.], calcei as botas e vim correndo para a cidade a saber da realidade e circunstâncias de tão detestável fato.

Cheguei e logo cai doente, sem poder ir abraçá-lo como desejava. Entrtanto soube que ferviam pasquins contra os Andrada e até me vieram às mãos várias folhas impressas cheias de infamtes mentiras e pilhérias de moleque, em que os caluniavam a bel-prazer. Ferveu-me o sangue de ler tanta miséria e tão pouca vergonha, mas consolava-me a esperança de que o nosso velho lançasse mão da clava de Hércules para derrubar de um golpe esses vis caluniadores, estendendo sobre a banca antômica seus imundos escritos, para com o escalpelo da análise dissecá-los e esburgar-lhes os cariados ossos.

Continuou a minha doença e passou-se mais de mês sem eu poder sair de casa, e o velho calado sem responder. Enfim, pude enfiar o casacão e saí com a intenção danada de ir ralhar com ele exprobar-lhe a sua falta de de ânimo ou desleixo. Cheguei à porta, bati uma e mais veazes e ninguém aparecia. Afinal saiu um moleque que em língua preta (língua que fala também muita gente branca em tribunais) me disse que o senhor estava doente.

Não importa, vai dizer-lhe que aqui está F., e que deseja falar-lhe ainda que esteja a expirar.

Mandou-me logo entrar e o achei sentado numa cama de campanha com uma mesinha defronte, muitos papéis espalhados, e um livro grego aberto, que depois soube ser o Periplon de Hannon, que o senhor redator sabe muito bem ser o primeiro roterio do descobrimento e navegação, mandado fazer pelo senado de Cartago ao longo das costas da África Ocidental. Recebeu-me mais esta vez com a mesma cordialidade antiga, e começando eu com muito fogo a dizer-lher por que vinha vê-lo, deu uma risada e começou a sossegar-me com sua animada ironia socrática, que nunca abandona, senão quando se trata de honra e salvação de nossa cara Pátria. Vou referi-lhe em substância o que lhe ouvi em toda nossa conversação; porém devem me desculpar se não for exato na narração, porque nunca campei 2 por ter boa memória.

Continuando a replicar-lhe, disse:

“Pois então está resolvido a sofrer com pachorra estóica todos os impropérios e calúnias que esses miseráveis quiserem vomitar contra você?”

“Sim, senhor”, respondeu-me, “porque eles mostram nisso o que são, e eu faço o que devo. Quer, senhor doutor esquentado, que a Lua se enfade contra todos os cães que lhe ladram? Não sabe que o telescópio do malvado faz-lhe ver manchas no Sol, onde na as há, e não as que lhe ficam pegadas no nariz? E então devo eu andar a quebrar óculos e ventas por todo esse mundo de Cristo? Decerto não nasci para isso: ora sossegue, meu amigo, sente-se e ouça-me a sangue frio. Eles não são os principais culpados, e vossa mercê saberá em pouco tempo quem é o autor de todo este ridículo espalhafato: Pater, dimitte ei, nescit enim quid facit...

"Meu bom amigo, sou já velho, tenho visto muito mundo dentro e fora da Pátria, e conheço os homens. Era impossível que não adquirisse no lugar que ocupei, e nas circunstâncias atuais, muitos inimigos. Basta refletir que, quem não quer, ou não pode, ser virtuoso e honrado, luta para que as grandes almas pareçam na mesma condição que eles. Os niveladores em política também o são em moral.

"Vossa mercê bem sabe que eu tive a desgraça de ser o primeiro brasileiro a ser ministro de Estado: isto não podia passar pela goela dos europeus, e o que é pior, nem pela de muitos brasileiros. Ajunte a isto que fui também o primeiro que trovejei das alturas da Paulicéia contra a perfídia das cortes portuguesas; o primeiro que preguei a Independência e a liberdade do Brasil (mas uma liberdade justa e sensata debaixo das formas tutelares da Monarquia Constitucional); e nisto estou firme ainda agora, exceto se a salvação e Independência do Brasil exigir imperiosamente o contrário, o que Deus não permita.

"Acrescente vossa mercê que, quando cheguei em 17 de janeiro do ano passado a esta cidade, o príncipe, hoje imperador, havia recém-escapado de ir preso para Lisboa. Mas os Avilezes e Carretes, apoiados pelo Partido Lusitano do Rio de Janeiro, ainda ameaçavam furiosamente; e o pior é que os democratas assim o desejavam. Todavia, pelas medidas que se tomaram e em que tive muita parte, os janízaros fugiram das nossas costas, assim como a expedição que vinha reforça-los.

"Quando o príncipe partiu para Minas a fim de pacificar e converter os facciosos, os chumbeiros [também, “pés-de-chumbo”, um apelido brasileiro para sacanear portugueses.] do Rio de Janeiro, junto com os anarquistas do Brasil, tentaram aproveitar-se desta circunstância para reduzir a mero presidente da Junta Provisional. Eu, que então estava à testa do Conselho dos Ministros, penetrei seus mistérios, desfiz seus projetos e concorri para salvar, mais esta vez, a cidade e o Brasil.

"Quando Sua Majestade foi a São Paulo ensinar e castigar brandamente alguns doidos alucinados pelos mesmos partidos desorganizadores, bramiram de novo contra mim os facciosos de toda a ralé, e, na sua volta, porém, trabalharam tanto que conseguiram iludi-lo com palavras vãs. Então vi-me forçado a pedir minha demissão, porque não queria, nem devia, consentir que o reduzissem a mero imperador do Espírito Santo. Confesso que errei em ceder às vontades do povo e do monarca, pois devia antever que, quem fraqueja uma vez, pode também fraquejar uma Segunda.

"Vossa mercê soube que perto de oito mil homens, com o Senado da Câmara e os procuradores gerais das províncias à frente, designaram a quatro ou cinco desgraçados (entre os quais alguns que em melhor siso e tempo tinham prestado seus serviços à causa do Brasil) como cabeças de desordem e anarquia, e pediram que se mandasse fazer uma devassa para se conhecerem a fundo seus cúmplices e projetos. A isto anuiu o imperador, e o governo se viu na obrigação de tomar medidas sérias e gerais contra uma conspiração que se dizia, e era de crer, estava já ramificada em muitas das províncias. Exigiu o sossego público, e até a necessidade de salvá-los do furor popular, que estes designados fossem interinamente mandados para fora do Império, conservando-lhes os seus soldos e ordenados.

"Se por efeito da devassa saíram pronunciados alguns outros, devíamos eu e o Ministério de Sua Majestade parar o curso da Justiça e usurpar o Poder Judiciário? De nenhum modo! Então o partido dos anarquistas encolheu-se com medo mas conservou in pectore a realização dos seus projetos para melhores tempos. Os chumbeiros, porém, exacerbados com os sucessos da Bahia e com a bravura dos bons brasileiros, continuaram em seus planos infernais. Foi preciso então entregá-los a toda a vigilância da polícia e à vara rija da Justiça. O governo autorizado com o Senatusconsulto Romano – Providoant Consules, ne Respublica aliquid detrimenti patiatur - redobrou de energia e providências. Se praticasse o contrário seria traidor ao imperador e ao império.

"Mas estas medidas de salvação pública, com que brandura não foram executadas? Eis aqui os meus crimes, e fui criminoso, confesso, não por ter aconselhado e mandado executar, mas por ter sido brando e piedoso em demasia. Com efeito, nada disto bastou. Instala-se a Assembléia Geral Constituinte e os pés-de-chumbo, corcundas, áulicos e facciosos de todo o calibre, aproveitaram-se dos exagerados da Assembléia e da incauta ignorância política que nela havia (como sempre houve, e há de haver em todas as assembléias de qualquer nação que seja, presentes, passadas e futuras), formaram-se em falange cerrada e assestaram toda a sua infernal artilharia. E contra quem? Contra o Ministério que tudo sabia e aprovava? Não; contra mim somente, e contra meu irmão, a quem só temiam com razão, porque nunca soubemos ser falsos ao nosso dever e ao bem da nossa Pátria.

"Eu sei, meu amigo, o que será para o futuro; mas sei decerto que os facciosos e almas vis desta imunda cloaca, máxima dos romanos, conseguirão uma segunda vez enganar, deslumbrar e assustar o jovem imperador, que o céu não há de permitir venha a ser somente o do Espírito Santo de Mataporcos. Ah!, não consinta o céu que o chefe do Império e sua augusta família sejam obrigados (não sei por culpa de quem) a fugir um dia do Rio de Janeiro, a ir mendigar apoio pelas províncias agitadas e desconfiadas. Que negra fatalidade parece perseguir há tempos os Braganças! Eu tremo que os facciosos não aproveitem habilmente esta ocasião para realizar seus antigos projetos de desmembração. Os clubs agitam-se em suas cavernas tenebrosas: uns proclamam já declaradamente o chumbismo e a destruição da nossa independência; e outros querem o absolutismo antigo, e as cebolas do Egito.

"Todos os partidos forcejam por corromper e fascinar a opinião do povo ignorante e ainda verde para uma santa e justa liberdade. A gente boa da capital vacila e anda temerosa, mormente depois que uma nova proclamação sub-reptícia, contrária à verdade sabida, aos sentimentos das anteriores, e até à fala solene do Trono na abertura da Assembléia, tem espelhado desconfianças. Disto sabem aproveitar-se os inimigos ocultos do Império, que agora só fazem vociferar contra os Andradas. Pela minha parte, desprezo tão vis caluniadores e apelo para os documentos irrefragáveis que se acham impressos na Gazeta, no Diário do Governo, e em outras folhas do tempo , assim como nas secretarias de Estado. Estou certo de que virá o dia em que os brasileiros honrados hão de fazer-nos justiça e estigmatizar com o ferrete da infâmia todos esses traidores, que pretendem iludir de novo a mocidade fogosa...

"Descanse a chusma, porque, logo que me permitir a Assembléia, deixarei para sempre esta malfadada Corte, irei cuidar da minha saúde arruinada no torrão pátrio, irei gozar de ares mais livres e puros, de estilos mais macios e curtos, onde me parece que o sol rutila claro, mas não queima. Ali no repouso do campo, que sempre amei, e que apenas encetei nos meus oiteirinhos de Santos em 1820, gozarei talvez de melhor saúde, e pelo menos de mais paz interna".

Aqui fez uma pausa o meu amigo, mas eu, que o queria incitar a continuar a conversação, lhe repliquei: "Então está você decidido a sofrer calado que um bando vil de abutres intrigantes e velhacos continue a se precipitar sobre você como se fosse um cadáver de esterqueira?

"Sim", me respondeu ele, "porque não quero alterar o meu sossego, que é a coisa mais substancial que há neste mundo: rem prorus substantialem, já dizia Newton de si e no seu tempo. Enganam-se estas gralhas grasnadoras se pretendem fazer-me sair ao terreiro dos gladiadores. Não quero dar nem receber novas cutiladas para divertimento da gentalha. Minha alma tem ainda elasticidade bastante para não se amoldar às calúnias, nem acanhar-se à má fortuna dos tempos.

"A voz da minha consciência brada-me a todo o instante que no desempenho de minhas obrigações públicas, se não fiz tudo o que queria, fiz tudo o que podia. Se os zoilos 4 me caluniam, e se for julgado à revelia, tenho sangue frio bastante para desprezar injustiças e vilezas. Meu amigo, ainda há um Juiz Supremo que conhece os corações e que nos há de julgar com justiça imparcial. E quais são os fatos que contra mim alegam e aprovam? Ignoro-os: são meras calúnias e ridicularias de que me rio. Sonno picole coglinerie, que apenas me arranham a pele. Fiquem certos e consolados que, cansado de sofrer tanta intriga e cabala vil, já deixei para sempre um lugar que há muito deveria ter largado, se por desgraça minha não tivesse tanta bondade. Não levo saudades dele porque nunca dei peso ao fumo das grandezas humanas. É unombra, anzi dúna ombra un sogno um sogno, dizia o Tasso.

"Todavia sou sincero e devo confessar-lhe senhor filósofo da roça, que me arrependo sinceramente de ter sido tão fraco, de não saber dar ao povo e ao monarca um redondo não em 30 de outubro de 1822 5. Iludi-me, pois cri que os homens nascidos em certas classes eram capazes de amizades e singeleza.

"Continuei a amar, e folgo ainda de o dizer porque esta meiguice e condescendência não avilta, mas enobrece o coração. Cuidei que aqueles por quem me desvelava eram capazes de me reamarem, e peguei-lhes em retorno desta sonhada amizade e gratidão com uma fina moeda de fé pura, de estima verdadeira e de limpeza de alma. Quantas vezes dizia-lhes eu em meu peito o mesmo que o bom e honrado Sá de Miranda dizia, e esperava, dos amigos de seu tempo:

A vontade de vós seja estimada,
Porque em tão baixo tempo, em que pureza,
E em que obras não há, deve ter preço.


"Mas enganei-me, torno a dizer, assim como creio também que se enganou o poeta naquele tempo. Querem pois meus bons amigos verem-se livres do medo da ressurreição da carne? Obtenham da Assembléia a minha carta de alforria, então só não sofrerei seus embustes e desaforos com paciência cristã, mas até lhes ficarei muito agradecido e os olharei como meus benfeitores. Senhor doutor da roça, vossa mercê me conhece há muito tempo, e sabe que uma amável e virtuosa companheira que tenho, um verdadeiro amigo (animal bem raro em nossos dias) e alguns bons livros são as únicas necessidades da vida que ainda não posso escusar. Acolher-me ao retiro dos campos e serras que me viram nascer e folhear ali algumas páginas do grande livro da natureza, que aprendi a decifrar com aturado e longo estudo, sempre foi uma das minhas mais doces e suspiradas esperanças, que praza ao céu possa eu ver de qualquer modo. Contanto que seja bem cedo realizada.

"Fiquem sossegados esses senhores que deixei para sempre o Ministério e nunca mais serei juiz com tais alcaides, ainda que baixem novos cataclismos políticos. Lá se fiquem com seus botões. Cada mais me persuado que não nasci senão para homem de letras e roceiro como vossa mercê. No retiro do campo, meu bom amigo, terei tempo (que até agora sempre me tem fugido) de dar a última mão à redação das minhas longas viagens pela Europa, aos meus compêndios de metalurgia e de mineralogia e a vários opúsculos e memórias de filosofia e literatura, frutos de larga e aturada aplicação, os quais se não acudo já, estão em perigo de ser pasto de baratas e cupins. Se não servirem para o Brasil, como creio, servirão talvez para os doutos da Europa, que conheço e me conhecem. E que maior consolação pode ter um amante das ciências e boas artes que comunicar suas idéias e pensamentos a quem pode entendê-los e aproveitá-los? É um prazer puro da alma espalhar pelo mundo o fruto de seus estudos e meditações, ainda sem outra remuneração que a consciência de fazer bem.

"O sábio despreza as sátiras e ingratidões de ânimos vis que não podem deixar de reputar-se, queiram ou não queiram, muito inferiores aos homens de virtude e de saber. Mas basta, senhor roceiro, estou cansado de falar e a erisipela não deixa de incomodar-me".

Calou-se então e maquinalmente abriu o livro de que falei e pôs-se a ler, mas logo o fechou. Eu não ousei interromper o seu silêncio porque o vi sério e reflexivo. Talvez alguma vista de olhos retrógrada sobre a paga de seus longos serviços, feitos a Portugal e ao Brasil durante a sua trabalhosa e afadigada vida, ocupava então sua imaginação. Passados porém alguns momentos, abrindo um sorriso que me pareceu sardônico, disse-me:

"Amigo, então, que pensa? Ainda ousará acusar-me de falta de ânimo e de desleixo? Quererá ainda que compareça, como réu, para defender-me perante o tribunal revolucionário dessa vil chusma de patifes e celerados, que tem o luciferino gostinho de morder e atassalhar 6 com raiva hidrofóbica a reputação de qualquer homem sábio ou virtuoso; e que sem ter adquirido por merecimentos e serviços pessoais, por feitos extremados e insignes, o direito de julgar, ousam todavia chamar ao seu ridículo juízo toda a gente boa, que não pode deixar de desprezá-los e de mofar de seu pueril atrevimento? Os gregos, meu bom amigo, pais de todo o heroísmo, ciência e civilização, levantaram altares aos cidadãos beneméritos, e os romanos, seus discípulos, estátuas e troféus; mas a plebe de nossa terra só deseja levantar-lhe patíbulos e forcas.

"Julguem-me como quiserem, brada-me a consciência dia e noite que fiz à minha Pátria e ao povo desta cidade todo o bem que pude e estava ao meu alcance. Se não me foi possível dar a última mão de estuque ao magnífico Salão Nacional, ao menos esbocei a parede. Se não achei fulcro sólido para apoiar a alavanca de Arquimedes (Des ubi consistam, coelum, terramque movebo), paciência!!! Peço a Deus que faça aparecer homens mais ricos e mais bem herdados em largueza de virtudes, energia e talento, os quais talvez sejam mais bem fadados do que eu fui. Mas temam-se e vigiem-se dos leõezinhos, lobos e raposas que andam às soltas e sem medo de montaria."

Fez aqui outra pausa, e o celeste lume do patriotismo que dentro o animava transluzia em seus olhos e semblante. Admirando sua mansidão e filosofia, não podia porém tolerar que tais patifes ficassem impunes e sem resposta alguma. "Não, meu Andrada", continuei eu ainda aceso em justa sanha, "É obra de misericórdia castigar os que erram (Oderunt peccare mali formidine poenae) e, no silêncio das leis, na presente desaforada anarquia, creio de que dom Camarão furibundo devia exercitar o seu ofício. Pelo menos desejo que o porrete de Juvenal lhes dê quatro latagadas na nuca para começo de ensino".

A isto me atalhou o nosso velho e me disse: "Não meu bom amigo, seja mais humano e pachorrento. Desconhece-se de homem que não sabe perdoar. Se o imperador Tito, bom pagão, não fazia caso, diz Xefelino, de injúrias e menoscabos, porque nada obrava que merecesse repreensão; por que não deverá cumprir tão generoso exemplo um caipira de São Paulo, homem de bem e bom cristão, que não é nem deseja ser imperador?"

Aqui lhe fui à mão, e lhe disse: "Meu bom amigo, é debalde questionarmos mais, pois não convence a um bom pecador velho, como eu, acostumado a surrar negros maus, quando merecem".

"Pois bem, senhor doutor da roça", me respondeu, "também eu homo sum, e não anjo, e ainda conservo uma esperança de vingança digna de mim e útil aos outros. Quando eu, no meu retiro dos oiterinhos de Santos, ou em Monteserrate, na Parnaíba, entre os meus livros, pedras e reagentes químicos, repassar pela memória os honrados amigos que aqui deixo: corcundas, pés-de-chumbo, anarquistas, ladrões, alcoviteiros e outras lesmas utriusque sexus, que se crêem gente de polpa, então me consolarei ao menos com a vingativa esperança de que seus poucos miolos, metamorfoseados no túmulo em matéria sebácea, segundo as observações do meu defunto mestre Fourcroix, poderão ser ao menos, depois de mortos, úteis para darem luz afogueada em algumas estrebaria de bestas de alquilé. E será justo que em vez da epígrafe infernal que lhes deveria pôr na campa: Hic sempiternus horros inhabitat, se ponha logo Fiat lux".

A isto dei uma grande gargalhada e abracei ao meu amigo cordialmente; despedi-me e vim logo escrever o que lhe tinha ouvido. Mas não afianço, senhor redator, que as frases e pensamentos sejam em tudo, e por tudo os mesmos que lhe ouvi; e pode ser que me sucedesse o mesmo que, para bem de uns e mal de outros, sucede com as falas dos senhores deputados no Diário da Assembléia.

Seu venerador,

Tapuia.


________________________________________________

Extraído de “A Arte da Entrevista”, organizador Fábio Altman, São Paulo, Scritta, 1995 (coleção Clássica).


1 : Galopins – gaiatos; presepeiros; caozeiros.

2 : Campar – ufanar-se; tirar onda.

3 : Pachorra – Paciência.

4 : Zoilo – Crítico invejoso,

5 : Demitido por D. Pedro, este último se viu forçado a voltar atrás, por pressões de grupos políticos a pedir a volta de José Bonifácio.

6 : Atassalhar – Difamar.




Avatar do usuário
Booz
Sênior
Sênior
Mensagens: 2495
Registrado em: Seg Ago 15, 2005 3:36 am

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#3 Mensagem por Booz » Qua Dez 30, 2009 8:16 am

Prezado cavaleiro Clermont, saudações de um servidor do Templo.

Estava navegando, pelas "gerais", e me deparei com este seu muito interessante post do nosso propalado "patriarca da independência", José Bonifácio.
Bem, sem nunca querer desmerecer vosso apreço ao ilustre personagem de nossa história, mas com a certeza que você saiba que personagens históricos não estão imunes à críticas ou revisões (muitas não procedidas por que é melhor deixar como está), ouso afirmar que, quanto ao personagem citado, há controvérsias.

Uma parte da instituição secular, a qual pertenço, advoga a outro ilustre brasileiro a condição de, no mínimo, a co-participação e merecedor da divisão de tão honroso e significante título de "patriarca da independência".
O nome é o de, Gonçalves Ledo.

Seriam imensas às razões históricas que se poderia elencar a robustecer a proposição (não só minha nem de minha lavra afirmo), para emoldurar a condição importantíssima deste brasileiro que, antes de - apenas - pretender compor um a transição de quadro, de estado-colônia para um estado com maior autonomia mas ressarcindo com excessíva generosidade a Portugal (e se mantendo o Brasil como monarquia), quis e agiu, Gonçalves Ledo, para a libertação total e, inclusive, à condição de república do Brasil.
Há inúmeros documentos, infelizmente em péssimas condições de conservação, que se encontram nas masmorras do Palácio Maçônico do Lavradio, que elecariam tais proposições.
Contudo, em hipótese alguma, qualquer dessas colocações, às quais ouso apenas transmitir, desalinham a importância histórica do grande lider de nossa história, José do Patrocínio.

Um fte e fraterno abraço.




Imagem
Avatar do usuário
Al Zarqawi
Sênior
Sênior
Mensagens: 1828
Registrado em: Ter Jul 03, 2007 8:07 pm
Localização: Rio de Janeiro

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#4 Mensagem por Al Zarqawi » Qua Dez 30, 2009 10:15 am


A Reforma da Universidade

A Universidade de Coimbra é uma das mais antigas da Europa. Criada em 1290, esteve ora em Lisboa, ora em Coimbra, até ser definitivamente instalada na cidade do Mondego em 1537.Um dos marcos de referência da história da instituição é a reforma pombalina de 1772, que acontece na esteira do reformismo ilustrado do reinado de D. José I. A profunda remodelação curricular trazida pela Reforma revela o notável esforço de atualização do ensino universitário diante do movimento das Luzes e em direção à modernidade científica.

A Universidade de Coimbra foi fundamental na formação da geração de cientistas brasileiros do setecentos português. Com a proibição da abertura de cursos superiores em terras da colônia, as famílias mais abastadas do Brasil acabavam por enviar seus filhos para estudar na metrópole. Um reduzido número de estudantes brasileiros chegou a buscar outras universidades européias, como as de Edimburgo e Montpellier, mas Coimbra continuaria, por todo o século XVIII, a ser o principal destino acadêmico para os jovens do ultramar.O século XVIII, mais especificamente a partir do reinado de D. José I, marca um período de reformas nas estruturas do estado português. Capitaneado pelo ministro Sebastião José de Carvalho e Mello, o processo de reformas perpassou o conjunto das instituições políticas, econômicas e administrativas de Portugal, culminando com a reforma da Universidade, em 1772.

Nunca dantes o estado havia se imiscuido de forma tão direta e incisiva na gestão da Universidade. O próprio Pombal encarregou-se de dirigir e supervisionar os trabalhos de elaboração dos Estatutos que refundavam a Universidade, como se esta jamais houvesse existido. Tal procedimento visava, por um lado, neutralizar a influência ancestral dos jesuítas na academia, tornando a Universidade uma instituição pública e secular e, por outro, criar uma universidade voltada para os interesses do estado. Em outras palavras, o Portugal moderno ideado por Pombal devia livrar-se da nobreza parasitária e despreparada que ocupava postos no governo e investir na formação de uma elite de profissionais qualificados para servir ao estado.

A crise política, econômica e administrativa por que passava o Império em meados do século XVIII expressava-se também, em termos culturais, através de uma relativa defasagem científica em relação aos países mais desenvolvidos da Europa. Eruditos da metrópole e portugueses radicados no exterior discutiam, desde as primeiras décadas do século, o atraso das instituições portuguesas e buscavam alternativas para seu desenvolvimento. Entre estes, nomes como o de Luis Antonio Verney, autor do Verdadeiro Método de Estudar (1746), um libelo contra o ensino jesuítico, e de Antonio Ribeiro Sanches, autor de Cartas sobre a educação da Mocidade (1760), Método para Aprender a Estudar a Medicina e Apontamentos para Fundar-se uma Universidade Real, tornaram-se emblemáticos da oposição à pedagogia praticada na Universidade de Coimbra.

O sistema de ensino e os curriculos acadêmicos mereceram a atenção desses intelectuais, cujas críticas e propostas foram levados em conta na elaboração dos novos Estatutos instituídos pela Reforma de1772.

Tradicionalmente a Universidade oferecia os cursos de Teologia, Leis e Medicina. Com a Reforma, foram criadas as Faculdades de Filosofia e de Matemática que, juntamente com a de Medicina, compunham a Congregação Geral das Ciências e suas disciplinas de História Natural, Física, Química e Geometria passaram a ser pré-requisitos obrigatórios para todos os alunos dos demais cursos. Para além de instutuir o aprendizado das ciências da natureza como indispensável na formação de todos que passassem pela Universidade, a instalação das novas faculdades significou, também, a obrigatoriedade da formação de nível superior para os matemáticos e determinou o surgimento de um novo profissional: o naturalista.

Duas vertentes orientaram a mudança pedagógica e curricular instituída pelos Estatutos da Reforma: a introdução do ensino das modernas ciências matemáticas e da natureza e a adoção do método experimental como processo de aprendizado.

Para o ensino das novas disciplinas foi criada uma série de estabelecimentos que visavam, sobretudo, instituir a prática do método experimental. Os futuros médicos passaram a contar um Hospital Escolar, com o Teatro Anatômico, com um Dispensário Farmaceutico, e também com o Jardim Botânico, ligado ao curso de Filosofia, onde aprendiam a conhecer as plantas medicinais. Para a Faculdade de Matemática foi criado o Observatório Astronômico. A Faculdade de Filosofia, além do Jardim Botânico, contava com o Gabinete de História Natural, o Gabinete de Física Experimental e o Laboratório Químico.

Para ocupar a cátedra das recém criadas disciplinas, foram convidados professores estrangeiros. O naturalista italiano Domingos Vandelli, chamado para lecionar no Colégio dos Nobres, encontrava-se em Lisboa desde finais de 1760, onde, por atribuição régia, veio a criar o Jardim Botânico e Museu da Ajuda. Com a Reforma, Vandelli deslocou-se para Coimbra onde passou a lecionar História Natural e Química. Vandelli foi o idealizador das viagens filosóficas em terras do reino e no ultramar, e também um dos impulsionadores da criação da Academia Real de Ciências de Lisboa. O matemático Miguel Antonio Ciera, chamado para participar da organização das Expedições de Demarcação de Limites entre Portugal e Espanha na América Portuguesa, foi convidado para lecionar Astronomia. Giovanni Antonio Dalla Bella, também chamado para lecionar no Colégio dos Nobres, veio a ocupar a cadeira de Física Experimental em Coimbra, onde colaborou com Vandelli na elaboração do projeto do Jardim Botânico. Dalla Bella figura como um dos membros fundadores da Academia Real das Ciências de Lisboa.

Da geração de brasileiros que passou pelos bancos da Coimbra pós Reforma, alguns fizeram o curso de Filosofia, tornando-se os naturalistas que a coroa empregou no reconhecimento científico das suas colônias, muitas vezes os mesmos acumularam cargos administrativos com missões científicas. Outros brasileiros, mesmo tendo escolhido carreira diferente, acabaram por envolver-se em atividades ligadas às do filósofo da natureza, dedicando-se a estudos sobre aclimatação de espécimes vegetais, inovação de métodos de exploração mineral, técnicas de cultivo e desenvolvimento de novas culturas, reconhecimento territorial sob bases científicas, tradução e publicação de obras científicas e de divulgação de conhecimentos para público não especializado, legislação relativa à exploração vegetal, mineral e animal, entre outras. Alguns graduados brasileiros seguiram a carreira universitária como docentes em Coimbra. Ao tempo da Reforma, a reitoria era exercida por D. Francisco de Lemos, nascido no Brasil.

A Universidade de Coimbra e seus mestres, citados em muitos dos textos produzidos pela geração de cientistas brasileiros do setecentos, permaneceriam como referenciais fundamentais na formação desses profissionais.

A Universidade de Coimbra como centro de formação profissional, a Academia Real de Ciências de Lisboa e a Casa Literária do Arco do Cego, como indutoras da produção e divulgação de saberes técnicos e científicos, compõem a tríade de instituições basilares do pensamento cultural e econômico do Portugal setecentista.



.......... O QUE LER

ARAÚJO, Ana Cristina, (coord.). O Marquês de Pombal e a Universidade. Coimbra: Imprensa da Universidade, 2000.

BRAGA, Teófilo. História da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrução pública portuguesa. Lisboa: Tipografia da Academia Real das Ciências, 1898. 3v.

CRUZ, Ana Lúcia Rocha Barbalho. Verdades por mim vistas e observadas, oxalá foram fábulas sonhadas; Cientistas brasileiros do setecentos, uma leitura auto-etnográfica. Curitiba: UFPR, 2004. (Tese de doutorado defendida no Programa de Pós-graduação em História da UFPR).

FERRAZ, Márcia Helena Mendes. As ciências em Portugal e no Brasil (1772-1822); o texto conflituoso da química. São Paulo: Educ, 1997.

LEMOS, Francisco de. Relação geral do estado da Universidade: 1777. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1980.

RODRIGUES, Manuel Augusto. Alguns aspectos da reforma pombalina da Universidade de Coimbra. In: POMBAL REVISITADO. Lisboa: Editorial Estampa, 1984. v.1, p.189-207.

_____. A universidade de Coimbra e a elite intelectual brasileira na última fase do período colonial. REVISTA DE HISTÓRIA DAS IDÉIAS, v.12, 1990. p.89-109.

SILVA, M. B. Nizza da. A cultura luso-brasileira; Da reforma da Universidade à Independência do Brasil. Lisboa: Editorial Estampa, 1998.

SCHWARTZMAN, Simon e PAIM, Antônio. A Universidade que não houve: antecedentes da ciência e educação superior no Brasil (uma perspectiva comparada). 1976.



.......... DOCUMENTO

Carta de roboração dos Estatutos da Universidade de Coimbra (1772)



Magnus Pereira & Ana Cruz




Al Zarqawi - O Dragão!

"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.
Imagem
Avatar do usuário
Al Zarqawi
Sênior
Sênior
Mensagens: 1828
Registrado em: Ter Jul 03, 2007 8:07 pm
Localização: Rio de Janeiro

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#5 Mensagem por Al Zarqawi » Qua Dez 30, 2009 10:35 am

AS UNIVERSIDADES EM PORTUGAL
História, Organização e Problemas

A Reforma "iluminista" do Marquês de Pombal: o facto e a realidade simbólica
Falar de "Reforma da Universidade" conduz-nos de imediato ao nome do lendário Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, figura simbólica do que ficou conhecido entre os historiadores por "despotismo esclarecido".

Com efeito, é no século XVIII, no reinado de D. José - de quem o Conde de Oeiras e Marquês de Pombal foi (depois de ter passado pelas embaixadas de Londres e de Viena) ministro todo poderoso, sobretudo a partir de 1755 - , que se verificou uma nova reforma profunda da Universidade. Todavia, continuou a manter-se em Coimbra (e só em Coimbra), ao contrário do que defendiam as novas concepções "ilustradas", as quais falavam insistentemente da "universidade régia" e defendiam, ao invés do que sucedera no Renascimento, a sua instalação em grandes centros populacionais, nomeadamente junto do poder real.

Até aí as realizações culturais de cunho mais avançado não foram experimentadas na Universidade (embora se possa discutir o nível de actualização dos seus mestres), mas sim em instituições à sua margem. Contudo, também em Portugal se iam fazendo sentir as novas realidades sócio-económicas e sócio-culturais. Certos sectores mais cultos da burguesia, que ia adquirindo consciência da sua importância, e da aristocracia mais evoluída, do clero e da nobreza (por vezes de segunda ordem), iam contactando com os novos métodos de ensino e de educação, com novas áreas culturais e com novas matérias científicas e técnicas. E esse conhecimento era mais vivo nos "estrangeirados", como ficaram conhecidos os portugueses que, por virtude das suas viagens, se relacionaram directamente com a cultura europeia além-pirenaica. Eles não podiam deixar de sentir o atraso do nosso ensino universitário, como se pode provar através das reflexões e críticas, vindas de Itália, de Luís António Vernei, ou do Doutor António Ribeiro Sanches, de origem judaica, que, depois de deambular por Espanha, Inglaterra e Holanda, se tornou médico dos czares da Rússia, vindo a morrer em Paris. Porém, se no tempo de D. João V - no reinado do qual, entre 1717 e 1727, se edificou a notável Biblioteca da Universidade, verdadeiro templo secular dedicado às luzes do saber e ao rei - já se sentia a necessidade de reformas, também é verdade que elas só poderiam ser efectuadas por uma elite de poder, representante dos estratos sociais culturalmente mais evoluídos, que se impusesse à reacção conservadora e que fosse capaz de controlar uma instituição com a força da Universidade. Essa situação surgiu no reinado de D. José - corporiza-a, portanto, o ministério do Marquês de Pombal.

A reforma do ensino começou pelos "estudos menores", para os quais foi criado um corpo de "professores régios", em substituição de mestres predominantemente eclesiásticos e em certos casos jesuítas (como se disse, expulsos do país em 1759, no contexto de um movimento regalista da Cristandade). Mais tarde, passou-se à reforma do "Estudo Geral" de Coimbra. Os novos Estatutos, corroborados pelo rei em 28 de Agosto de 1772 e elaborados por uma Junta de Providência Literária, que havia sido nomeada para estudar a situação da Universidade e propor soluções de reforma (pelo que escreveu um Compêndio Histórico, que, como outras obras do tempo, é um libelo contra a Companhia de Jesus), foram entregues solenemente em Coimbra pelo próprio Marquês, em 29 de Setembro. Mas, só as vontades inabaláveis de Pombal, nomeado "Visitador" da Universidade, e do Reitor-Reformador, D. Francisco de Lemos, puderam superar as dificuldades que surgiram e, assim, pôr em prática, e não totalmente, os Estatutos.

A reforma pombalina manifestava sobretudo interesse pelas ciências da natureza e pelas ciências de rigor, que tão afastadas se encontravam do ensino universitário. Contudo, incidia também sobre as faculdades jurídicas, Cânones e Leis, e de Teologia, procurando actualizar o seu ensino, através de uma perspectiva historicista, e integrá-lo em concepções político-eclesiásticas galicanas, que estavam de acordo com as directrizes do absolutismo esclarecido de D. José, do Marquês de Pombal e de um escol de súbditos, alguns dos quais eclesiásticos.

Assim, salientou-se a reforma da Faculdade de Medicina, que procurou seguir as sugestões apresentadas por Ribeiro Sanches sobre a necessidade de uma investigação experiencial, o que levou à fundação do Teatro Anatómico e do Dispensatório Farmacêutico, e a criação de duas novas faculdades, a de Matemática e a de Filosofia. Esta última concedia um lugar particular (ou mesmo exclusivo) à Filosofia Natural, o que conduziu à criação do Gabinete de Física (com instrumentos didácticos que constituem uma das melhores colecções do género referentes aos séculos XVIII e XIX) e do Museu de História Natural - que ocuparam, com o Hospital e as dependências da Faculdade de Medicina, o antigo Colégio de Jesus, cuja igreja foi transformada em Sé Catedral - e à criação do Laboratório Químico e do Jardim Botânico, de construção e de implantação originais.

O desenvolvimento das indústrias, da mineração e da agricultura, numa concepção de "Progresso", científico e técnico, eram algumas das suas finalidades. A Faculdade de Matemática, que tinha anexo o Observatório Astronómico, também tinha como um dos objectivos o estudo da agrimensura, de grande interesse para a planificação do espaço, e da "estadística". Deve ainda salientar-se o significado que teve a criação da Imprensa da Universidade, que tinha já alguns antecedentes em tempos anteriores. Em todo este contexto vieram para Portugal mestres estrangeiros que aqui se instalaram, prolongando a sua descendência. Sirva de exemplo o caso do italiano Domingos Vandelli, que procurou em Coimbra revivificar a indústria da faiança decorativa, de grande tradição na cidade e ainda hoje muito viva.

Com o reinado de D. Maria I, cujo período inicial tem sido conhecido por "viradeira", para marcar o seu carácter anti-pombalino, não se destruiu, todavia, a reforma de 1772, mas houve ao princípio, pelo menos, uma certa reacção contra os seus mentores. D. Francisco de Lemos foi substituído por D. José Francisco de Mendonça, conhecido simplesmente por Principal Mendonça, da Patriarcal de Lisboa, que foi considerado no tempo o símbolo do processo reaccionário. Além disso, inicialmente, não se terão tomado medidas eficazes de molde a provocar o desenvolvimento do espírito da reforma do Marquês, adaptando-a ao renovado condicionalismo cultural, que se ia afirmando na Academia das Ciências de Lisboa, fundada em 1779. Por essa razão, a Universidade será mordazmente criticada por estudantes insatisfeitos, que aspiravam a outras realidades. O poema O Reino da Estupidez é um significativo exemplo de tal polémica.

Entretanto, a Rainha e D. João VI, que lhe sucedeu como regente e depois como rei, procediam à criação em Lisboa e no Porto, de novas escolas "médio-superiores", de tipo técnico-científico e artístico, à margem da Universidade, na continuação de uma política de ensino já iniciada com o Marquês de Pombal e que será, de resto, continuada com o liberalismo. A única instituição universitária existente no país, apesar de não se renovar estruturalmente, pese embora o regresso em 1799 de D. Francisco de Lemos, ia, porém, ganhando força institucional, pelo menos aparentemente. Coube-lhe mesmo, através da Directoria Geral dos Estudos e Escolas do Reino, fundada em 1794, mas só formada de facto em 1799, a incumbência de fiscalizar a instrução pública. Esse órgão de poder, que foi adquirindo várias formas com diferentes nomenclaturas, criou na Universidade um foco de polémica com o poder central, quando este procurava retirá-lo de Coimbra, o que só veio a suceder com a instituição de uma Direcção-Geral de Instrução Pública e de um Conselho Geral de Instrução Pública, em Lisboa, no ano de 1859.

Olhada com desconfiança, a Universidade de Coimbra - na prática, cada vez mais ligada ao Estado, apesar do seu alegado ou afirmado corporativismo - nunca conseguiu um verdadeiro estatuto de autonomia criativa, como sucedeu com universidades anglo-saxónicas e com a humboldtiana universidade germânica. A "Reforma Pombalina" ia-lhe, porém, servindo - sobretudo em determinados momentos (como na altura do seu centenário, 1872) - de referência renovadora e, assim, de símbolo, que perpassou todo o período da conturbada Monarquia Constitucional (1820-1823, 1826-1828 e 1834-1910), inicialmente entremeada por tendências ou afirmações absolutistas (1823-1826 e 1828-1834).

Com o apoio do
Portal Universia S.A.
Rua dos Sapateiros, nº 21 - 3º
1100-063 Lisboa
Portugal
Aviso Legal | Condições Gerais
Política de Confidencialidade
Contactos
Questões Técnicas

--------------------------------------------------------------------------------




Al Zarqawi - O Dragão!

"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.
Imagem
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#6 Mensagem por Clermont » Qui Dez 31, 2009 10:10 am

Salve, jp.
mas com a certeza que você saiba que personagens históricos não estão imunes à críticas ou revisões (muitas não procedidas por que é melhor deixar como está), ouso afirmar que, quanto ao personagem citado, há controvérsias.
Sem dúvida, principalmente José Bonifácio que, na sua época, ora estava na crista da onda, ora estava no fundo.
Uma parte da instituição secular, a qual pertenço, advoga a outro ilustre brasileiro a condição de, no mínimo, a co-participação e merecedor da divisão de tão honroso e significante título de "patriarca da independência".
O nome é o de, Gonçalves Ledo.
Não há dúvida de que Gonçalves Ledo foi uma figura de importância neste processo. E também outros, como Diogo Feijó, Januário Barbosa etc e tal. Quanto a este título de “Patriarca da Independência”, não seria demais lembrar que foi pura auto-propaganda do próprio José Bonifácio, surgida já naqueles dias da independência e divulgada nos jornais que ele, ou seus amigos, controlavam.
Seriam imensas às razões históricas que se poderia elencar a robustecer a proposição (não só minha nem de minha lavra afirmo), para emoldurar a condição importantíssima deste brasileiro que, antes de - apenas - pretender compor um a transição de quadro, de estado-colônia para um estado com maior autonomia mas ressarcindo com excessíva generosidade a Portugal (e se mantendo o Brasil como monarquia), quis e agiu, Gonçalves Ledo, para a libertação total e, inclusive, à condição de república do Brasil.
Bom, em primeiro lugar, eu penso que não é correta a caracterização de Gonçalves Ledo como defensor de tais idéias tão avançadas. O que acontece é que, ao se tornar inimigo político do grupo de José Bonifácio ele foi vítima de uma campanha de difamação. E a principal forma de fazer isso era tachar Ledo e seu grupo maçônico como anti-monarquistas e republicanos. Veja que coisa gozada: isso era pra ser um xingamento em 1822, mas, um século depois, virou virtude, e as pessoas dizem que Gonçalves Ledo era um camarada sensacional por ser anti-monarquista e republicano! Na verdade, ele, também, era monarquista, mas defensor da variante constitucional de monarquia e não da absolutista. Mas José Bonifácio também defendia, mais ou menos, a mesma coisa, porém, em graus diferentes. E tal diferença de graus e, possivelmente, outras coisitas mais, colocaram estes homens como adversários políticos..

Sem dúvida, existiam alguns republicanos autênticos naquela época, mas, muito poucos e sem nenhuma possibilidade de implantar suas idéias. Eles eram utilizados mais como bicho-papão, mais ou menos como os comunistas nos tempos modernos. Mas, e se os republicanos tivessem força? Ninguém nunca irá saber, ao certo, mas, quem poderá garantir que uma república, em 1822 não teria, por conseqüência, levado o Brasil no mesmo caminho das colônias espanholas? Ou seja, fragmentação política? O que nós sabemos, com certeza, é que o Império, com um membro legítimo da dinastia de Bragança, manteve o Brasil unido.

Ah, e tem mais outra coisa: no final de 1823, D. Pedro I dissolveu a Assembléia Constituinte, descartando a prática de uma Monarquia Constitucional. José Bonifácio foi exilado, enquanto Gonçalves Ledo foi chamado e aceitou fazer parte do ministério.

Esta atitude de Ledo comprova que “personagens históricos não estão imunes à críticas ou revisões”.
Bem, sem nunca querer desmerecer vosso apreço ao ilustre personagem de nossa história.
Realmente, eu acho o José Bonifácio uma figura interessante, claro que eu nunca tatuaria a cara dele da forma como o Mike Tyson tatuou a carranca feia do Che Guevara na barriga. Mas, é bom não se iludir: José Bonifácio era uma figura difícil, que exerceu o poder de forma implacável. Ele parecia não ter o mínimo pudor em se livrar de qualquer um que atravessasse o seu caminho, e, definitivamente, nunca teria sido escolhido para o prêmio de o “Democrata do Ano”.

Por outro lado, não deixa de ser sedutor imaginar o que teria sido um Brasil que tivesse seguido pelo caminho que ele indicava: eliminação da escravidão; a ênfase no cultivo das ciências e não do bacharelismo jurídico; a indústria. E, nestes tempos de Copenhagen e Carlos Minc, é curioso observar que José Bonifácio combatia o desmatamento inconseqüente.

Certo, qualquer um poderá dizer que tais avanços para o Brasil não eram, apenas, uma questão de “querer” de um indivíduo, mas não custa nada sonhar. Pelo menos, José Bonifácio sonhou com um futuro muito melhor para o país.




Avatar do usuário
Booz
Sênior
Sênior
Mensagens: 2495
Registrado em: Seg Ago 15, 2005 3:36 am

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#7 Mensagem por Booz » Sex Jan 01, 2010 1:20 am

Realmente, cavaleiro Clermont, posições estritamente republicanas eram, ainda, "desconhecidas" em sua real essência por estas bandas á época. Porém, documentos que pusemos à disposição do Museu Nacional (mas que infelizmente continuam dormitando em local totalmente impróprio à sua conservação), atestam a sbversão de Ledo à monarquia quando dos primeiros movimentos de inedependência de Portugal.

Por absoluta falta de melhores meios, acadêmicos e de pesquisa para confrontação, não podemos atestar o que - apenas - conseguimos pressupor. Cito a ciência (ladina), de "Guatimozin", em toda esta manobra, inclusive pelo fato que você mesmo cita: a posterior ascenção de Ledo ao governo na defenestração de Bonifácio.

Contudo, debalde ter sido preparado desde a tenra infância para governar, D. Pedro I não pode ser "acusado" de recipiendário de muitas luzes (ao contrário do seu culto filho, D. Pedro II). Ele sempre foi um homem de "rompantes", mais atinado ao temperamento cavalariço e ainda influenciado, supertisciosamente, às sua conhecida epilepsia. Fora que ouvia, sobre política de estado, mais e até suas amantes, a mais notória quase pndo o império abaixo dos seus fartos seios.
Por tudo isto, e por estar o calhamaço de documentos em estado deplorável e de pouca legibilidade, fica difícil discernir quem foi(ram) o(s) que mais influenci(ou)aram ao imperador a manobra tão lupina.

De qualquer forma, excelente suas exposições, apraz-me aprender de fonte tão culta e cônscia de nossa história.
Pax Vobis
JP Andrade




Imagem
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#8 Mensagem por Clermont » Sex Jan 01, 2010 8:26 pm

jp escreveu:Contudo, debalde ter sido preparado desde a tenra infância para governar, D. Pedro I não pode ser "acusado" de recipiendário de muitas luzes (ao contrário do seu culto filho, D. Pedro II). Ele sempre foi um homem de "rompantes", mais atinado ao temperamento cavalariço e ainda influenciado, supertisciosamente, às sua conhecida epilepsia.
Realmente, foi uma grande infelicidade que D. Pedro I não fosse mais talhado para exercer a função de monarca constitucional. Foi péssimo para a nova nação começar sua história política com tropas do Exército invadindo uma Assembléia Constituinte e, alguns anos depois, com a deposição do imperador.
Fora que ouvia, sobre política de estado, mais e até suas amantes, a mais notória quase pndo o império abaixo dos seus fartos seios.
Taí, não sabia que a Domitila era "bem-dotada" neste aspecto. Quer dizer, então, que a Manchete escolheu bem a queridinha dos portugueses, Maitê(são) Proença para o papel...
De qualquer forma, excelente suas exposições, apraz-me aprender de fonte tão culta e cônscia de nossa história.
Ora, obrigado.
Pax Vobis.
Vida Longa, e Próspera.

Imagem




Avatar do usuário
cabeça de martelo
Sênior
Sênior
Mensagens: 40547
Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
Localização: Portugal
Agradeceu: 1204 vezes
Agradeceram: 3027 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#9 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Jan 02, 2010 9:31 am

Esse senhor deve ser antepassado do P44. 8-]




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
Avatar do usuário
delmar
Sênior
Sênior
Mensagens: 5290
Registrado em: Qui Jun 16, 2005 10:24 pm
Localização: porto alegre
Agradeceu: 212 vezes
Agradeceram: 515 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#10 Mensagem por delmar » Sáb Jan 02, 2010 11:39 am

Li em algum lugar que não consigo recordar no momento, a seguinte observação sobre José Bonifácio e irmãos: "Despóticos no poder; demagogos na oposição". Bem cruel.

saudações




Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceu: 632 vezes
Agradeceram: 644 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#11 Mensagem por Clermont » Sáb Jan 02, 2010 2:41 pm

cabeça de martelo escreveu:Esse senhor deve ser antepassado do P44. 8-]
Só lembrando que José Bonifácio não veio para o Brasil com a Família Real. Ele escolheu ficar em Portugal e enfrentar, de armas na mão, as tropas invasoras do Ogro da Córsega. Ele serviu no Batalhão Acadêmico, voluntários estudantes e professores da Universidade de Coimbra. Atingiu o posto de tenente-coronel do Exército português; supervisionou a fabricação de munições; a construção de fortificações e até serviu em missões de inteligência.

Ou seja, foi um sujeito que prestou serviços à Portugal e ao Brasil, na paz e na guerra.




Avatar do usuário
cabeça de martelo
Sênior
Sênior
Mensagens: 40547
Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
Localização: Portugal
Agradeceu: 1204 vezes
Agradeceram: 3027 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#12 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Jan 02, 2010 4:09 pm

Então não é, impossível, o Pzito é mais:

- Chulos, camelos cendentos de sangue, vão para a guerra em prole do império, etc.

Chegar à frente...tá quieto ó mocho! :twisted: :lol:




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
Avatar do usuário
Al Zarqawi
Sênior
Sênior
Mensagens: 1828
Registrado em: Ter Jul 03, 2007 8:07 pm
Localização: Rio de Janeiro

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#13 Mensagem por Al Zarqawi » Sáb Jan 02, 2010 4:31 pm

Clermont escreveu:
cabeça de martelo escreveu:Esse senhor deve ser antepassado do P44. 8-]
Só lembrando que José Bonifácio não veio para o Brasil com a Família Real. Ele escolheu ficar em Portugal e enfrentar, de armas na mão, as tropas invasoras do Ogro da Córsega. Ele serviu no Batalhão Acadêmico, voluntários estudantes e professores da Universidade de Coimbra. Atingiu o posto de tenente-coronel do Exército português; supervisionou a fabricação de munições; a construção de fortificações e até serviu em missões de inteligência.

Ou seja, foi um sujeito que prestou serviços à Portugal e ao Brasil, na paz e na guerra.
Caro,Clermont

Tenho bastante estima por suas colocações.Mas neste caso penso que foi um cidadão que não agradou nem a gregos nem a troianos (leia-se portugueses e brasileiros).
Para uns um traidor para outros um meio herói.Não discutirei sobre isso.É mais uma personagem controverso como Joaquim Nabuco.

Grande abraço,




Al Zarqawi - O Dragão!

"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.
Imagem
Avatar do usuário
tgcastilho
Sênior
Sênior
Mensagens: 932
Registrado em: Qua Jun 18, 2008 10:59 am
Localização: No meu cantinho a beira mar plantado
Agradeceu: 194 vezes
Agradeceram: 249 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#14 Mensagem por tgcastilho » Sáb Jan 02, 2010 4:58 pm

cabeça de martelo escreveu:Então não é, impossível, o Pzito é mais:

- Chulos, camelos cendentos de sangue, vão para a guerra em prole do império, etc.

Chegar à frente...tá quieto ó mocho! :twisted: :lol:
Hiiiii,boca pó barulho!!
Ó pzito,isto merecia uma espera feita pelos teus manos da margem sul.
:mrgreen:




"Socialist governments traditionally do make a financial mess. They [socialists] always run out of other people's money. It's quite a characteristic of them."
Avatar do usuário
cabeça de martelo
Sênior
Sênior
Mensagens: 40547
Registrado em: Sex Out 21, 2005 10:45 am
Localização: Portugal
Agradeceu: 1204 vezes
Agradeceram: 3027 vezes

Re: José Bonifácio - Patriarca da Independência do Brasil

#15 Mensagem por cabeça de martelo » Seg Jan 04, 2010 9:44 am

Ah, então os bacanos de cor meia escura dentro de uns Honda Civic que estão do outro lado da rua são "friends" do Pzito?! Espera aí que eu vou buscar a minha "flauta"...o nome dela é beretta, não é um nome lindo, não é?! 8-]




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

https://i.postimg.cc/QdsVdRtD/exwqs.jpg
Responder