Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#856 Mensagem por Rodrigoiano » Ter Mar 26, 2013 1:53 am

Será que o Condor destinado ao Brasil cairá no Uruguai! Seria interessante a crise das "papeleras" virar cinzas, literalmente! :mrgreen: Ou cairá no próprio território argie?! Em breve 'habemus cogumellum atomicum' no cone sul!!!!

Parabéns Túlio Clancy!




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#857 Mensagem por Túlio » Ter Mar 26, 2013 9:01 am

Em Goiânia é que não vai cair (mas se eu morasse em Sampa, Rio ou Porto Alegre, ficaria de orelha em pé)... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#858 Mensagem por Túlio » Qui Mar 28, 2013 6:07 pm

SEIS HORAS - PARTE 45



Kirby seguia à frente dos estranhos monges. Percorreram corredores e subiram escadarias. O prédio parecia ser bem construído e ainda melhor decorando, com estátuas, mosaicos de ladrilhos e afrescos tão antigos quanto belos e bem conservados, todos com estranhos motivos religiosos. Onde diabos estava?

Então saíram para o ar livre. Sequer notou alguma porta. Olhou para trás, tentando vislumbrar se o prédio era tão belo por fora quanto por dentro. A decepção não poderia ser maior: era uma caverna! Aliás, estava em uma relativamente ampla planície cercada por morros íngremes, quase impossíveis de escalar. Notou logo outras aberturas na rocha, que provavelmente levariam a aposentos como os que percorrera. O que era aquilo?

De qualquer modo, seguiu em frente. Nem se lembrava de quando vira a luz do sol, de quando ela lhe aquecera o corpo pela última vez, mas devia fazer bastante tempo. Sentiu o mais genuíno prazer, esquecendo-se até de seus intentos, como sempre, homicidas. Dirigiram-se para mais adiante, onde havia uma espécie de bosque, com uma picada que conduzia para o seu interior. Sempre orientado pelos dois homens, seguiu por ela e internaram-se no bosque, até chegarem a uma clareira levemente arredondada, onde havia um semicírculo de algumas dezenas de pessoas com os mesmos trajes que seus vigilantes. "Bem, é agora que fico sabendo o que essa gente quer comigo" - pensou.

E não se enganava. Os dois homens estacaram, juntando-se ao círculo, após o louro dizer-lhe para avançar para o centro. Sem entender nada, obedeceu. Então uma das pessoas se destacou das demais, aproximou-se com passos medidos e, a cerca de um metro de distância de Kirby "coragem esse sujeito tem" - pensou ele -, e tirou o longo capuz, que praticamente lhe encobria as feições.

Era um homem que já passara da meia-idade, talvez uns 50 anos, pouco mais, pouco menos. Algo mais baixo que Kirby e aparentemente franzino. O silêncio era total. O estranho homem então falou, quase um sussurro:

- Senhor Kirby? É um inaudito prazer conhecê-lo, meu caro, e diria que temos assuntos substancialmente sérios a discutir. A sermos bem sucedidos, posso garantir-lhe que teremos mútuo proveito. Atrevo-me mais, posso dizer que em nenhum outro lugar o amigo estaria mais seguro e apto a desenvolver e praticar suas...habilidades especiais, que no momento muito nos interessam.

O homem falava um inglês culto, quase erudito na forma e sotaque, especulou o serial-killer. Deveria ouvi-lo ou saltar-lhe à garganta? Não entendera realmente quase nada do que o homem dissera mas lhe soara bem. Por outro lado, os instintos e as vozes que costumava ouvir lhe diziam mais inteligivelmente: "mate!"

E partiu para cima do homem. Não entendeu direito, este mal se movera, podia jurar, mas ele, Kirby, sentira sua mão direita ser agarrada com a força de uma tenaz e a seguir seu corpo batera em algo muito duro. No próximo instante estava totalmente no ar, ainda que brevemente, aterrissando com violência e de mau jeito no solo. Sentiu os ossos do ombro estalarem. o homem não lhe largara o pulso.
- Se o amigo não se incomoda, poderíamos parar com essas brincadeiras infantis e passarmos a coisas mais sérias? Sei que não compreende mas meu tempo é muito valioso...
Ofegante pela dor e surpresa e falando entredentes pela dolorosa e contínua pressão sobre seu ombro, que parecia aumentar em força a cada instante, grunhiu:
- Quem...diabos é...você?
O homem o largou. Kirby, com um esforço supremo, sentou-se no chão, atordoado. Levantar-se era uma impossibilidade física, tão fraco se sentia, era como se o homem lhe tivesse drenado as forças. Então novo sussurro, mal audível:

- Meu caro, sou o Irmão Aristarkos. Para você isso basta. E digo-lhe, nossa Organização necessita de seus serviços e, pode acreditar, pagamos muito bem. E cuidamos do nosso pessoal, acrescento.

Mas Kirby não prestou atenção alguma, esperava suas forças se recobrarem para tentar novo ataque. O monge pareceu adivinhar seus pensamentos.

- A meu ver o amigo ainda não está convencido, estou certo? Vamos a uma proposta, que imagino razoável: escolha qualquer pessoa deste círculo e está livre para atacá-la como quiser.
Curioso, Kirby olhou em volta: havia um dos vultos que parecia menor e mais franzino que os demais. Não seria possível haver outro velhote metido a Bruce Lee. Alguém ele podia matar. E apontou. O Irmão Aristarkos:

- Diana, por favor, adiante-se, sim? E pode tirar o manto...

Deste emergiu a mais bela mulher em que John Kirby já havia posto os olhos. Relativamente alta (mas mais baixa do que ele), cabelos negros e muito lisos e com olhos cinza-chumbo, faces rosadas, corpo escultural, recoberto com uma malha justíssima e uma espécie de jaqueta leve de algo que se assemelhava a seda. Era exatamente o tipo de mulher que ele adoraria matar e depois estuprar. O que lhe faltava ainda de forças retornou imediatamente, junto à excitação. Voltou-se para o Monge e perguntou:

- E posso fazer o que eu quiser? Ninguém vai se meter?
- Na verdade, pode fazer tudo o que puder. E torça para que alguém se meta, meu caro...- disse, misteriosamente.

Dito isto, Kirby saltou como uma mola, tronco dobrado, indo como uma locomotiva para agarrar a garota pela cintura. A derrubaria, estrangularia e estupraria diante daquele monge pretensioso e seus capangas.

Mas não aconteceu nem remotamente assim. Enquanto ele avançava, notou que ela sequer se movia, apenas os olhos plúmbeos, que continuavam cravados nos dele, escureceram ainda mais. Nenhuma mudança no belo semblante.

No que ele estava por abraçá-la com a força de uma morsa e erguê-la, arremessando-a ao solo, ela simplesmente saltou e encaixou suas coxas ao redor de seu pescoço, usando seu próprio impulso, somado ao de seu oponente, para efetuar um giro tão rápido quão brusco e lançá-lo novamente ao solo com inaudita dureza. Mal ele tocou o chão, ela já estava encarapitada sobre ele, uma das pernas imobilizando-lhe o braço e, de algum lugar, sacara um objeto brilhante. Uma katana, espécie de miniatura da espada samurai. Que agora estava encostada firmemente ao pescoço de seu oponente. Então ouviu a voz mais sensual de sua vida:

- Um movimento e lhe corto a cabeça como se fosse a de uma galinha. - E a afiadíssima lâmina deslizou cerca de um centímetro por sua garganta. Sentiu uma leve cócega e logo após o sangue a verter pelo pescoço.

Kirby, olhos arregalados, ficou imóvel e afrouxou os músculos, vencido.

Novamente o monótono sussuro de Aristarkos:
- Não poderia ter feito escolha pior, meu caro mr. Kirby. Diana é uma espécie de último recurso entre nós. Quando tudo mais falha, a enviamos. E as coisas logo voltam ao normal, acrescento eu, se não se importa que o diga...
O Irmão Aristarkos estava algo contrariado. Avesso à palavra falada, já falara mais ali do que em uma inteira semana normal. Mas aquele homem era crucial para o que 47, seu operador de campo predileto, tinha em mente. Então prosseguiu:
- Como vê, meu caro amigo, tem muito que aprender. Ao menos se pretende ir à forra com um certo Mr. Norris...

Aquele nome o encheu de energias; erguendo-se de um salto, pescoço ainda sangrando, bradou:
- Norris? Chuck Norris? Está brincando comigo, velhote? Esse cara morreu há anos, p*!
- Engano seu, meu caro amigo, engano seu...

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O Feldmarschall Einsamkeit estava satisfeitíssimo. Seu plano de batalha, cuidadosamente elaborado, atingira os principais objetivos. Ao criar a tática, a batizara de "Bote da Pantera" porque era precisamente com o que se parecia.

Avançara com o seu centro bastante reforçado e à frente de uma força de reserva suficientemente poderosa para tanto selar a retaguarda quanto, se necessário, dar o empuxo final em um ataque. Mas o elemento mais importante estava nos flancos. Ao mesmo tempo em que protegiam sua força principal, se mantinham recuados em relação a ela, combatendo o mínimo possível e sem tomar qualquer iniciativa ofensiva. O quadro que seu antagonista, general Hopkins e seu EM (Estado Maior) tinham diante de si sugeria que eram apenas forças destinadas a evitar uma manobra surpresa de flanqueamento. Excessivamente poderosas para isso, ainda por cima. Na prática, evidenciavam-lhe que o general brasileiro era demasiado cauteloso. Era exatamente o que o Feldmarschall desejava que ele pensasse.

Pois não podiam estar mais enganados. Mas a intenção era mesmo esta, dar a impressão de que Eins avançava com excessiva cautela, quase medroso. Então, ao perceber o inimigo iniciando o desdobramento final de suas forças para a grande batalha, a ordem partiu do Leopard2A8 de Eins e fora imediatamente percebida e compreendida por toda a força. Haviam treinado aquela manobra à exaustão, tanto em manobras reais de campo quanto simulações. Era a hora da verdade.

De súbito, ambos os flancos avançaram com a máxima velocidade, enquanto o centro reduzia a sua até ser ultrapassado, dando a impressão de que iria parar e bombardear o centro inimigo com artilharia. O resultado aparente não poderia ser outro:

- General Hopkins, esses brasileños HDP vão nos cercar, o senhor não vê? Temos que parar aqueles malditos flancos deles enquanto ainda podemos, e depois...

- Sim, depois mandar um contraataque, já que está com os flancos desguarnecidos, não? Olhe melhor: ele está abrindo o dispositivo principal.
- Vai montar novos flancos? Está louco, então! Com o que temos, poderemos reduzir a pó o que sobrar de... - foi interrompido pelo general americano com um verdadeiro urro:
- PQP! Estamos f*didos! Olhe só o desgraçado!

A força mista americano-argentina sequer completara seu dispositivo e já recebia ordens de alterá-lo, e isso sob ataque por ambos os flancos. Coisa que sempre gera confusão. E esta se tornou literalmente catastrófica quando o centro brasileiro, que estava quase parando, retomou o avanço, desta vez à mesma velocidade dos flancos. E ainda maior poderio, pois parte das reservas se haviam juntado ao corpo principal no ataque, Era o "Bote da Pantera". As "garras" (flancos) iam na frente, logo em seguida os dentes (centro) se juntavam ao ataque. E eram garras de aço e dentes de fogo. O resultado comprovou o que se vira na teoria: um ataque com tal ímpeto, dependendo basicamente de velocidade, letalidade e perfeita coordenação não podia ser detido, exceto talvez por uma força esmagadoramente superior.

- Foi-se a nossa Iniciativa! - berrou o general Hopkins. - os caras vão nos trucidar!
O argentino:
- Pois vamos luchar hasta el último hombre!
- Não diga bobagens. Vamos retrair enquanto ainda dá.
- General Hopkins, yo protesto! Nosotros...
- Ora, cale essa boca! - e começou a emitir rapidamente as ordens pertinentes. Voltou-se então para o irado argentino:
- Você não entende? Se passam por nós sua capital está perdida e, com ela, a guerra toda! Dê as ordens de retirada às suas forças enquanto ainda tem alguma, que inferno!
- General, yo...
- Faça o que eu disse! É uma ordem!
- Si señor...

Eins avançava à testa de suas colunas, estando entre os primeiros a atacar e ser atacado. Não faria de outra forma, dado seu temperamento impetuoso. Por um instante, observou por seu periscópio ótico de 360º e o que viu fez delirar a seu coração de militar com origens germânicas: seus blindados, tão de origem alemã quanto ele próprio e suas tropas, estavam por toda parte, avançando velozmente e atirando sem parar. A emoção era tanta que de início nem se deu conta que cantarolava a famosa Panzerlied (canção dos Blindados) da segunda guerra mundial. Só percebeu ao ouvir seu atirador acompanhando com entusiasmo e em voz alta, também em alemão. Sorriu-lhe. Era um dia feliz.

Hopkins se impacientava com a relutância do argentino em ordenar retirada às suas tropas. Louco suicida! Mas então percebeu que outro detalhe lhe escapara (maldita manobra, nunca vira algo assim, isso o deixava confuso): a artilharia estava inteiramente pronta para atuar em apoio às suas forças, levaria algum tempo para poder entrar em ordem de marcha. Isso a deixaria bem no caminho daquele maldito brasileiro. E tempo era o bem mais escasso e precioso num momento como aquele. A idéia veio-lhe naturalmente:
- General, vou fazer o seguinte, - explicou-lhe o problema com a artilharia, além das unidades logísticas e outras de baixa mobilidade - se quer mesmo lutar, então façamos assim: retire suas tropas mas apenas até estarem entre as nossas unidades de retaguarda e as vanguardas inimigas. Resista o quanto puder.
Um largo sorriso ocupou o rosto até então cada vez mais carrancudo do argentino.

E emitiu as ordens com presteza.

O resto fora quase...burocrático: todas as forças americanas que puderam recuaram, juntando-se à retaguarda já em retirada enquanto os argentinos eram sistematicamente destroçados pela força em irresistível avanço. Mas esta fora suficientemente retardada e sofrera suas baixas. O general argentino, com o sacrifício de duas brigadas inteiras, que lutavam com verdadeiro fanatismo, mesmo diante de sua imensa inferioridade técnica e tática, lhe ganhara o tempo necessário para salvar o que podia. E que não era pouco. Claro, o hombre estava com ele em seu confortável Striker de Comando. É sempre mais fácil dar ordens de lutar até o fim quando não se precisa estar junto e sentir na carne as consequências...


E assim Hopkins montava seu dispositivo defensivo em Buenos Aires. A preciosa artilharia se camuflava como podia nas ruas e avenidas e parques da capital, enquanto as forças blindadas e mecanizadas se desdobravam nas áreas suburbanas e moradores eram deslocados mais para o centro, à exceção dos que dispunham de potentes fuzis de caça e estavam dispostos a lutar na linha de frente.

E que não eram poucos.

Nem gostavam de brasileiros.

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O capitão Netto fizera ouvidos de mercador às queixas dos especialistas, que queriam analisar melhor o dispositivo defensivo que estava sendo montado na capital portenha. Aquilo não o interessava de modo algum, haviam vários outros VANTs no ar fazendo esta tarefa. Não, ele queria mesmo era ir para o sul e ver se não haveria algo realmente poderoso vindo de lá. Os americanos poderiam ter desembarcado reforços em Puerto Belgrano, por exemplo. Talvez até mais ao sul, como Río Grande. Neste último caso não se poderia contar com nenhum alerta proveniente do Chile, não por lealdade de seu governo para com os argentinos mas sim para com os americanos.

De qualquer modo, qualquer força que desembarcasse, fosse onde fosse, teria forçosamente de seguir por estradas, se desejasse chegar a tempo. E deveriam permanecer tão longe da costa quanto possível, evitando a detecção por meios navais e aéreos da Marinha do Brasil.

E Netto, num impulso, escolhera seguir por uma delas, larga e asfaltada. Da altitude para a qual havia subido após o REVO, cerca de FL250 (no jargão aeronáutico, Nível de Voo 250, ou seja, 25.000 pés ou cerca de 7,62 km) descia suavemente para estabilizar ali por FL200, trocando altitude por velocidade, o que se fazia já desde os primeiros voos de combate. Tinha a vantagem extra de economizar combustível, graças ao auxílio prestado pela gravidade. Já ali por FL230 atingira sua máxima velocidade de cruzeiro mas continuou descendo em busca de atingir e se manter o quanto fosse possível na VNE (Velocidade Não Exceda), a maior velocidade permitida a uma determinada aeronave dentro de seu envelope de voo original (e da garantia do fabricante).

Pouco mais de duas horas e meia se passaram. Netto queria a todo custo manter a VNE sem comprometer demais o alcance, e já se encontrava quase em FL170, quando um dos especialistas, o operador do IIR, dirigiu-se ao capitão:
- Senhor, tem algo ali embaixo, dava para desviar um pouco para boreste?
Netto empertigou-se. Novatos! O que era "um pouco" para esse cara que viera transferido da PA (Polícia da Aeronáutica)? Mas vai que...

E fizera um desvio meio que a olho, sem saber direito para onde ir, até que algo realmente apareceu em sua câmera de pilotagem. Estava em uma estrada que, naquele ponto, corria quase paralela à que estava seguindo, embora distante. O operador de sensores óticos pediu uma aproximação mais acurada, queria ver direito o que era. Já algo entediado, Netto concordou. Já havia quase ultrapassado o veículo, que vinha em direção oposta, pelo menos poderia fazer uma curva caprichada e se colocar em excelente posição para observação do que quer que fosse aquilo. Poderia até dar em algo, alguma evidência de reforços inimigos.

Não tinha a menor idéia de que aquela simples curva mudaria para sempre a História, além de colocá-lo em uma tremenda confusão, arriscando a carreira e mesmo a liberdade...




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#859 Mensagem por cassiofrc » Sáb Mai 11, 2013 12:14 pm

Olá Tulio

Não vai haver continuação desta ótima estória?

Abs.




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#860 Mensagem por Túlio » Dom Mai 12, 2013 1:04 pm

Buenas, amigo Cássio.


Eu pensava que ninguém sequer lia mais isso...

Bueno, devo dizer que está meio complicado de continuar, pois estou escrevendo outra história e esta é com vistas à publicação. Fica complicado escrever duas histórias ao mesmo tempo, embora não me seja incomum fazê-lo.

Assim, na medida do possível, postarei mais partes, tri?


Abração!!! :D :D :D :D




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#861 Mensagem por cassiofrc » Qua Mai 15, 2013 10:44 am

Bom dia Tulio

Espero que você consiga terminar a estória, estava muito boa.

Abs.




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#862 Mensagem por kekosam » Qui Mai 16, 2013 9:41 am

Pois é... o Túlio traiu o movimento... se prostitui para uma grande editora e agora só vai lançar best sellers... :roll:




Assinatura? Estou vendo com meu advogado...
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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#863 Mensagem por NettoBR » Qui Mai 16, 2013 10:07 am

Traidor do movimento literário??? Vixxii... :shock:

Eu não deixava!! Se fosse eu, colocaria metade do livro aqui só para calar a boca desses hereges difamadores... :x :x




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#864 Mensagem por Túlio » Qui Mai 16, 2013 11:11 am

NettoBR escreveu:Traidor do movimento literário??? Vixxii... :shock:

Eu não deixava!! Se fosse eu, colocaria metade do livro aqui só para calar a boca desses hereges difamadores... :x :x

Sabes que não é má idéia? Metade não dá porque ainda estou longe disso, não será exatamente um livro "fininho" mas posso mandar um teaser. Trata-se da apresentação, no primeiro capítulo, de uma personagem que percorrerá toda a trama, causando uma tremenda dor de cabeça à unidade de FFEE (adivinhem qual) Brasileira que fora enviada em uma missão de reconhecimento no interior do Haiti e acabou envolvida numa confusão dos diabos. Como conhecem meu estilo, muito chumbo vai voar... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:

Se chamava Hassan. Já tivera outro nome, este em em francês mas, com a passagem dos anos, acabara esquecendo. Mas não de seus pais e irmão, todos mortos lutando contra os soldados do cruel e sanguinário governo de Mobutu Sese Seko, no então Zaire. Na ocasião ele tinha apenas nove anos de idade e, quando os primeiros tiros e explosões foram ouvidas e as primeiras notícias sobre o combate haviam chegado através de um vizinho, mal entendera o que significavam. Apenas vira seus pais – a mãe grávida de quatro meses – e seu irmão de quinze anos (outros cinco entre eles haviam falecido de doenças e desnutrição, exceto um – uma menina – vítima de um projétil disparado à toa ou mesmo sem querer por um soldado do governo embriagado, durante uma patrulha) empunharem imediatamente seus fuzis Kalashnikov e seguirem decididos rumo a algum lugar, de onde podia ouvir disparos e explosões. Devia ser a praça a alguns quarteirões dali. Lhe haviam dito para ficar em casa – de qualquer modo, não havia fuzil para ele – até que retornassem. Mas o pequeno lembrara do revólver calibre .38 que seu pai guardava sempre carregado embaixo da humilde cama de tábuas e um colchão fino fornecido pela missão da ONU que compartilhava com a esposa. Foi até lá e apanhou-o. Sentiu a empunhadura e o poder que dele emanava. Era pesado, mas isso foi o definitivo ponto de inflexão em sua vida, jovem e adulta. Para sempre!

Com a arma na mão direita, correra em direção aos disparos, acreditando que seus familiares seguiriam mais ou menos o mesmo trajeto e que agora obviamente indicavam que intuíra o lugar correto dos eventos, a praça. Quase com naturalidade, conhecedor que era das redondezas, desembocara na área mais ou menos ampla, onde o combate parecia estar no auge. Havia muitas pessoas atirando e uma enorme massa de seus concidadãos, vários deles vizinhos e conhecidos seus, lutando contra aqueles invasores. O ruído dos disparos e explosões, somado ao estrondo dos motores a diesel, o agudo guinchar das lagartas, os gritos e exortações, e o esporádico atroar dos canhões, era praticamente insuportável. Mas mesmo com a barulhenta cacofonia que imperava Hassan, para sua eterna tristeza, localizara sua mãe no exato instante em que, com um grito que o jovem adivinhara sem poder ouvir, tal a balbúrdia, ela caíra, atingida. Correra até ela e, ao abraçá-la e erguer-lhe suavemente o rosto, já sabia, mesmo em seus tenros anos, que a vida a deixara para sempre. Mas podia ficar pior e com efeito havia ficado. Seu pai jazia a poucos metros, tão morto quanto a esposa. Estava órfão! A tristeza deu imeditamente lugar à extrema raiva e, sem sequer olhar para os fuzis que agora jaziam calados ao lado de seus falecidos usuários (de qualquer forma, jamais aprendera a usá-los, era pequeno e jovem demais, segundo seu agora falecido pai, que apenas lhe ensinara a disparar o revólver), correu para o engenho de guerra que avistara. Tinha sua arma e iria usá-la. Era (ele naturalmente não sabia, não entendia de coisas assim) um carro de combate T-55, de fabricação russa, que rodava decidido e abrindo caminho a ferro e fogo. Outros podiam ser avistados nas adjacências mas queria aquele! Não saberia explicar o porquê, contudo assim era. Talvez fosse a bandeirola colorida, presa à ponta da antena de um rádio transceptor inoperante por falta de manutenção e que indicava ser o carro do comandante da unidade, outra coisa que a criança ignorava. Talvez, por ser o mais próximo, ele o considerasse o mais provável culpado por sua recente orfandade. Na verdade, isso pouco importava. Queria sangue!

E quiseram as circunstâncias do combate que o blindado parasse exatamente quando o menino dele se aproximava, correndo, a fúria lhe emprestando asas aos pés. O direito pousara num salto sobre a lagarta, o esquerdo sobre o chassis (carroceria), tendo batido dolorosamente a canela na lateral do carro mas isso não importava agora, na verdade mal havia se dado conta, as veias inundadas de adrenalina. Com a mão esquerda agarrara uma das “pegas” da torre, equipada com o canhão e as metralhadoras. Então uma das escotilhas se abriu. Não sabia quem era (o comandante/chefe do carro e do pequeno esquadrão, não dispondo de outro meio para se comunicar com as outras unidades, ordenara ao auxiliar do atirador, encarregado de manter as armas municiadas, que subisse, abrisse sua escotilha e fizesse sinais manuais aos demais blindados para pararem e se reposicionarem) mas pouco lhe importava, era o inimigo e, em seu juízo, assassinara covardemente a seus pais! Segurando seu .38 com apenas a mão direita, fechou um olho, como seu pai lhe ensinara, e apontou em direção ao rosto do homem, que estava meio de lado, tentando sinalizar com os braços aos outros carros, expondo-se ao fogo em lugar de seu comandante. O homem, notando com a visão periférica a presença do menino, começou a voltar sua cabeça para ele quando o garoto constatou que simplesmente não tinha forças para pressionar o duro gatilho da arma de dupla ação. Lembrando-se da alternativa que seu pai, rindo gostosamente de sua pouca força, lhe mostrara, tratou de usar o polegar esquerdo junto com o direito para engatilhar, soltando-se da torre e arriscando a ser derrubado por seu simples movimento giratório (mas o mecanismo de giro também tinha problemas de manutenção, sendo naquele momento, por ordem do comandante, movido lentamente através de uma manivela pelo atirador). O homem, horrorizado, havia se dado conta de que estava em sua própria escotilha que, ao contrário da do comandante, não possuía metralhadora própria para autodefesa. Então o disparo! O municiador improvisado em sinaleiro agora olhava direto para o pequeno Hassan, olhos esbugalhados de surpresa e terror. Seu rosto imediatamente oscilou para trás e em seguida para a frente, banhando-se de vermelho, e o menino sabia que sua vingança pessoal havia começado. Apenas começado. Ato contínuo, o homem deslizou frouxamente para dentro do veículo e o menino seguiu para a escotilha, que permanecia aberta. Alguns projéteis voavam e embatiam contra o blindado ao seu redor mas sequer se dava conta. Não importava...

Enfiou o rosto pelo buraco no topo da torre, olhando para baixo. Viu o homem que matara (sim, havia matado um ser humano, haveriam orações e expiações a serem oferecidas por ter feito isso, fora ensinado e bem desde cedo, mas não podia sinceramente dizer que lamentava, não com tanto ódio borbulhando em sua corrente sanguínea) desabado sobre o piso interno do veículo. Um outro homem, o atirador, ainda girando a manivela, olhou para cima, apenas para ver um vulto indistinto que lhe apontava uma arma. Começou a dizer algo, ainda girando tola e inutilmente a manivela mas, com o mesmo expediente “engatilhar/mirar/disparar”, o menino o silenciou para sempre, também com um disparo na cabeça, que transfixou o capacete de couro de fabricação soviética e o crânio do infeliz. A sensação era embriagadora. O seguinte foi o comandante, que tentava desajeitadamente sacar uma pistola de seu antigo coldre militar com tampa e botão, derrubado com um par de disparos, já que o primeiro, ali pelo tórax, aparentemente não bastara, o homem ainda se movia e por isso recebera um segundo disparo, agora ao lado da cabeça. Não vendo mais ninguém e com o blindado retomando o movimento, decidiu entrar e caçar quem mais estivesse a bordo. Mas o motorista não era exatamente tolo e, ao perceber o que ocorria e que a Morte estava ali dentro com ele, largou os comandos e abriu sua própria escotilha, saltando de qualquer maneira para fora do carro de combate e a seguir deitando a correr em direção ao blindado mais próximo. Vendo o movimento de onde estava (já na base da torre), o menino chegou a disparar mas errou, atingindo apenas o encosto do assento do banco do condutor. Deslocou-se rapidamente pelo meio confinado, graças ao seu pequeno tamanho, e emergiu da escotilha por onde escapara o motorista, já com a arma novamente engatilhada. O maldito assassino corria para longe o mais rápido que podia, estando já a alguns bons metros. Fechou um olho e mirou com cuidado. O disparo alcançou o homem de verde ali pelo meio das costas, atingindo o coração e fazendo o soldado desabar no chão, imóvel. O menino exultou. Era o único ser vivo dentro daquela máquina infernal. Estava vingado! E também vingara seus pais...

Não sabia mas sua ação era observada atentamente por outro envolvido naquela batalha, este um homem adulto chamado Ahmed, que comandava um pequeno subgrupo de guerrilheiros e imprimiria (ambos ainda o ignoravam, naturalmente) o definitivo rumo de sua jovem vida.

Ahmed mantivera seu grupo cuidadosamente oculto. Mesmo aos vinte e cinco anos, já era um guerrilheiro experiente, que conhecia as virtudes da prudência. Primeiro observe e avalie o inimigo, depois descubra e explore suas deficiências e só então o esmague, aprendera cedo e à custa de vários amigos perdidos, além de um par de ferimentos em sua própria carne. E erros operacionais ali havia de sobra, era incrível como aquela gente lutava mal. As pessoas disparavam fuzis, carabinas, submetralhadoras e metralhadoras leves contra carros de combate e ainda por cima se expunham ao fazer isso. Loucura! Pior, notara que vários simplesmente fechavam ambos os olhos ao disparar.

E o que dizer dos blindados? Eram cinco e avançavam sós, sem qualquer infantaria de apoio capaz de protegê-los ou qualquer cobertura aérea e/ou de artilharia, ao menos que pudesse ver, talvez por imaginar que enfrentariam apenas civis com armas leves. Uma presa fácil para seus atiradores de RPG, que se haviam posicionado e aguardavam cuidadosamente ocultos a hora de agir. E então aquilo!

Um menino franzino, seminu, vestindo apenas um calção largo demais para ele, que corria descalço e de modo suicida com alguma arma leve (parecera-lhe aos olhos experientes um revólver, mas não havia como ter certeza, o pequeno vulto se movia rápido demais) numa das mãos rumo ao T-55 de comando (Ahmed notara a bandeirola). Fixara-se na cena, imaginando seu triste final. Mais uma criança violentamente morta onde tantas crianças morriam pela violência – e isso as que tinham sorte, pois a fome e as doenças matavam muito mais. Então, o inesperado: sem ser atingido, o menino saltara agilmente para o topo do carro ao mesmo tempo em que se abria uma escotilha e um homem emergia, voltando-se para os demais blindados e começando a agitar os braços. Um atirador apontou imediatamente seu fuzil de precisão SVD mas Ahmed o deteve com um gesto. Queria ver! E, para seu espanto, viu mesmo.
O menino matou o soldado com um único disparo e logo a seguir enfiou-se na torre, tudo com extrema rapidez. Em instantes havia desaparecido no interior do blindado. Ahmed só se deu conta do final ao ver o motorista saltar e correr, apenas para ser também abatido a poucos metros do veículo pelo menino que emergira dali logo a seguir. Inacreditável, uma simples criança capturara um carro de combate operacional sozinha diante de seus olhos, após aparentemente massacrar toda a guarnição e isso tudo com apenas um mísero revólver! Já o garoto novamente desaparecia nas entranhas do monstro de aço.

Os atiradores de RPG haviam começado seu trabalho. Pelo jeito haviam também visto ou sido informados do ocorrido, pois rápida e eficazmente atingiram e destruíram os quatro outros T-55 (sem sofrerem baixas, pois Ahmed os havia treinado bem) quase ao mesmo tempo mas sequer prestaram atenção ao veículo capturado pelo menino. Talvez tivessem notado a proximidade do líder e sua escolta, não querendo arriscar acidentes ou mesmo fratricídio, ou talvez mesmo tivessem assistido também, igualmente espantados, à extraordinária ação do menino...

A praça era um espetáculo tétrico, triste de se ver, mesmo para o endurecido coração de Ahmed. Pessoas mortas e feridas por toda parte, sangue fluindo de feridas abertas e corpos mutilados, pedaços de corpos, gemidos e lamentos, pessoas grotescamente esmagadas pelas lagartas dos blindados de trinta e seis toneladas, fogo e fumaça, a horrenda cena se repetia em qualquer direção para a qual olhasse. Mas a batalha, ao que parecia, terminara. Era hora de medicar feridos e chorar e sepultar os mortos. Não obstante, o guerrilheiro não prestava realmente atenção àquilo, sua atenção estava concentrada no T-55 intacto. Era uma bela presa de guerra. Não serviria, claro, à sua organização, mas já imaginava o quanto renderia, oferecido às pessoas certas. Armas, munições, alimentos, medicamentos e, claro, algo que dinheiro algum pode pagar: prestígio! Encaminhou-se para ele com alguns homens, já indagando a si mesmo a quem deveria entregar sua operação até a entrega ao futuro usuário. A poucos passos o menino emergiu da mesma escotilha por onde entrara (certamente não tinha força suficiente para abrir as outras). A arma ainda na mão direita, a curta distância de Ahmed. A aparição foi tão súbita que ninguém esboçou a mínima reação, tal a surpresa. Então as duas mãos da criança tornaram a engatilhar a arma, agora apontada para o rosto do líder guerrilheiro.

E dois dedos infantis pressionaram o gatilho. Ahmed sequer sentiu medo, tão surpreso estava, como todos os demais. Apenas olhou o menino nos olhos e viu a mais absoluta frieza, além de algo mais, que não conseguia definir. “Vou morrer fitando olhos de leão”, pensou, algo poeticamente, no que imaginava por alto como seu último momento de vida. A arma apenas emitiu um suave clique. Descarregada. O menino usara todos os seis cartuchos em sua macabra vingança e não dispunha de munição extra.

Finalmente os homens (sua escolta pessoal) reagiram, armas foram destravadas e apontadas, estando prestes a serem descarregadas contra o pequeno inimigo. Então Ahmed se ouviu gritando, braço erguido:
- Não atirem! Não atirem! Cessar fogo!
Bem treinados, os homens obedeceram, algo inquietos, pois o negrinho (árabes como eles nunca foram particularmente famosos por sua tolerância étnica), ainda olhando fixamente para os olhos de Ahmed, tornava a engatilhar e pressionar o gatilho da arma descarregada. Começava a engatilhar outra vez, a arma sempre apontada. Ahmed então falou em voz suficientemente alta para ser compreendido:
- Garoto, você está sem munição. E não sou seu inimigo, por que quer me matar? – perguntara em árabe, mesmo sabendo serem o francês e dialetos africanos as línguas predominantes ali. Após alguns instantes, o menino pareceu retomar o controle de si próprio e compreender o que lhe fora dito. Para surpresa do guerrilheiro e dos demais, respondeu ofegante e aos arrancos, mas no mesmo idioma:
- Desculpe. Estou nervoso. Mataram minha mãe. Mataram meu pai. Pensei que você fosse gente do governo também. Desculpe, repetiu. – e baixou a arma.
Isso provocou uma enorme gargalhada entre os demais guerrilheiros. Como podiam eles ser do Zaire? Eram bem mais claros e tinham cabelos lisos. Se não tivesse sido dito por uma criança, considerariam como séria ofensa. Então Ahmed respondeu:
- Desça daí, garoto. Ninguém vai lhe fazer mal, tem minha garantia.
O menino pareceu hesitar por alguns instantes. Então, sem largar o revólver, desceu agilmente da torre, saltando direto do casco do blindado para o solo. Um feio corte sangrava em sua canela mas não parecia sequer notá-lo ou sentir dor. Postou-se diante do líder do grupo, arma pendendo da mão, e olhou para cima – era bem mais baixo – outra vez diretamente nos olhos. Ahmed, novamente pensando “olhos de leão” (aquilo não lhe saía da mente), então perguntou-lhe:
- Como fala tão bem meu idioma?
A resposta foi imediata:
- Meu pai ensinou a todos nós desde bem pequenos, dizia que devemos orar na língua do Profeta se quisermos as bênçãos plenas de Alá, para sempre seja louvado. Vários aqui também falam...
Esta frase teve o condão de silenciar imediatamente os últimos resquícios de risadas entre os guerrilheiros. O menino falava como um Verdadeiro Crente, e isso em um país onde estes eram uma minoria perseguida. Ahmed, prático como a vida o ensinara a ser, disse então:
- Bem, vamos procurar seus pais e lhes dar um sepultamente digno de um Fiel. Você sabe onde estão?
- Sei. Só não encontrei meu irmão ainda.
- Vamos procurá-lo também. Tudo bem para você que o ajudemos...Irmão? - os homens da escolta apenas se entreolharam e o que cada um pensou, tratou de guardar para sim. De qualquer modo, estavam todos muito impressionados com a espantosa façanha daquela...daquela criança.
O menino assentiu com a cabeça mas nada respondeu, limitando-se a caminhar, agora assumindo um ar algo aturdido, em direção ao local onde encontrara seus pais. Sem hesitar, Ahmed o seguiu, a escolta logo atrás e atenta a qualquer risco para o líder, como sempre. Ele os havia treinado bem.
Os corpos foram encontrados rapidamente e então o garoto abandonou qualquer vestígio da dureza que causara admiração ao experiente guerrilheiro. Era agora apenas uma criança que soluçava abraçada ao cadáver da mãe, murmurando preces e palavras de carinho e de tristeza, o revólver esquecido no solo poeirento e ensanguentado.
O resto seguiu seu curso normal. O cadáver mutilado do irmão do garoto fora igualmente encontrado nas proximidades dos corpos dos pais. A família lutara e morrera unida. Após, algumas mulheres apanharam, conduziram para um recinto fechado e se ajudaram mutuamente a despir e lavar o corpo da mãe, enquanto os homens de Ahmed (alguns meio que a contragosto, lhes repugnava tocar em pessoas daquela cor) recolhiam e davam o mesmo tratamento ao pai e ao irmão do garoto; preces foram ditas e os sepultamentos concluídos, sempre em presença de Ahmed. Então, na manhã seguinte, este perguntou ao menino, este ainda algo entre ensimesmado e choroso:
- E agora, Irmão? Você tem parentes, alguém com quem ficar?
- Acho que não. Tenho uns tios que moram em alguma outra cidade mas não sei onde é, nos visitavam de vez em quando...
- Então, o que pretende fazer?
O menino o olhou mais uma vez nos olhos e o experiente guerreiro novamente pensou em leões, tal a fria ferocidade com que o pequeno o encarava, as lágrimas secando na face lisa, e respondeu:
- Vou matar mais deles. Todos os que puder.
Não havia raiva, apenas decisão.
Num impulso, o homem disse ao menino, sem sequer refletir, mas intimamente respaldado na certeza de que algo de muito bom resultaria daquilo:
- Quer vir conosco, meu jovem leão? Para ser um guerreiro é preciso antes aprender a ser guerreiro e posso lhe ensinar coisas que nem imagina. Quando tiver a minha idade já terá combatido tanto que sequer se recordará de todos os inimigos que enfrentou...
- E poderei matar mais gente maldita que faz o que esses homens fizeram à minha família? – as lágrimas se aproximavam de novo.
Ahmed sorriu-lhe. Então ficou sério novamente:
- Não apenas isso. O fará em nome de Deus e com Suas bênçãos. E, na falta de seu querido pai, que o Nosso Piedoso e Clemente Deus o tenha na maior das felicidades, você terá a mim para aconselhá-lo, guiá-lo e, se necessário, protegê-lo, até se tornar um homem feito. Tem a minha palavra e meu juramento de que, se me servir e obedecer fielmente, só terá a ganhar. Mil novas vinganças o aguardam, se vier comigo...
Ahmed estava certo de que encontrara uma valiosíssima jóia bruta e se propunha a lapidá-la e poli-la por quantos anos isso fosse necessário, até que ela brilhasse sozinha e alcançasse todo o seu valor, que ele apenas intuía. Agradeceu silenciosamente a Alá pelo presente.

Com um aceno de cabeça, o menino simplesmente aquiesceu, selando em definitivo sua aliança com o guerreiro.

NOTA - Tudo o que escrevi até agora volta e meia é revisado e eventualmente rescrito à luz de novas infos que recebo de amigos e do interlocutor que me foi designado por uma das FFAA, ou seja, tenho até apoio INSTITUCIONAL. Vai ser brabo de o resultado final não ser BEM tri (morre de inveja, TOM CLANCY! :mrgreen: )...

Espero que gostem.




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#865 Mensagem por Túlio » Dom Jul 28, 2013 9:21 pm

SEIS HORAS - PARTE 46


Netto falou:
- Que inferno, o que é aquilo?
Um dos Sargentos-Especialistas respondeu, voz ofegante:
- Parece um lança mísseis, senhor!
- Mas que mísseis, p****?
- Sei lá, pode ser apenas um ou montes deles, senhor. Mas definitivamente segue para BAires.
- Diabos, vamos repassar!
E a informação seguiu pela intranet militar.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

El Comandante, por aviso de um oficial, detectou o drone acima:
- Brasileños, malditos macacos!
E falou pelo rádio.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

O Mirage III voava bem ao sul de Buenos Aires, fora do alcance da caça brasileira. Então a chamada foi recebida. A ordem, entendida.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

O Capitão Netto notou que o caminhão ia parando.
- Que m****, o que deu neles agora?
Então sua câmera mostrou que a caçamba começava a bascular.
- Não tá nada bonito, senhor - exclamou um dos Especialistas.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

No Planalto, Dom Sebastião dizia:
- Não quero a sabeire do que vós tendes feito a meu reino, minha idéia é apenas a de consertaire, pá!
O Presidente Orestes apenas revirou os olhos e suspirou. Seria não apenas um longo dia mas talvez longos meses....

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Netto continuava a observar. Então um grito:
- Tem um radar travado em nós! Analógico!
Chaffs e flares. Não adiantou. Mesmo desviados com relativa facilidade os antigos mísseis, dois canhões DEFA 553 cumpriram e completaram o trabalho. O Capitão Netto perdeu o contato e o controle. O Harpia, incendiando-se, caía...
- PQP!!!

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Sabendo-se detectado, o caminhão parou. Por ordens com Comandante, a carroceria começou a bascular.
- Ahora estes brasileños lo verán!
Enquanto contemplava o drone do Capitão Netto a cair, comentou:
- A esta distância, será Puerto Alegre, por supuesto!
Um subordinado sorriu. O Comandante:
- Acuando estuvierem prontos, disparen, sin contage! Nos pagarán toda la sangre de siglos de una só vez...

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

A fragata da Marinha de Portugal, comandada pelo Capitão Rui Elias Maltez prosseguia em sua rota. Não tinham idéia do que iria suceder...

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

O FeldMarschall Eins decidiu criar um cinturão de ferro em torno de Buenos Aires (minha Stalingrado, pensava ele) antes de lançar o ataque decisivo. Percebera as defesas criadas, seria quase divertido. Mas, naturalmente cauteloso, a AAAe foi a primeira a assumir sua posições.

Depois sim, foram os blindados e a artilharia de campo, rebocada e autopropulsada.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Basculado o lançador, coordenadas de alvo verificadas, nenhum Brasileiro viu a fumaça e o fogo do Condor sendo lançado.

Com uma ogiva nuclear. Rumo a uma capital.




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#866 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Nov 26, 2014 2:37 pm

Eláaaaaaaaaaaaaa! :D




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#867 Mensagem por mmatuso » Qua Nov 26, 2014 7:48 pm

Estou estarrecido. :shock:




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#868 Mensagem por Túlio » Qua Dez 17, 2014 5:44 pm

Perto de retomar. O Finken já está de volta, o Netto na área, falta meia dúzia de colegas-personagens para a história recomeçar...




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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#869 Mensagem por Glauber Prestes » Qua Dez 24, 2014 5:27 pm

Ansioso como se fosse véspera de natal!!!!



Não, pera.




http://www.tireoide.org.br/tireoidite-de-hashimoto/
Cuidado com os sintomas.

Você é responsável pelo ambiente e a qualidade do fórum que participa. Faça sua parte.
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Re: Tu-160 - ROMANCE SEIS HORAS a/p pg 27 já na parte 41

#870 Mensagem por Túlio » Qua Dez 24, 2014 11:30 pm

Está complicado de retomar justamente por não ter sido bolada como uma história, era para ter apenas 3 eps demonstrando a puerilidade de se confundir INTERCEPTAÇÃO com PERSEGUIÇÃO, eu só queria evitar uma punição ao SKY e ao CM. Criou vida mas sem o fundamental, um ROADMAP. Não sei aonde vai parar mas vou tentar levar adiante, pois pegou uns lances legais (foi a história em si, não eu)...

De resto, confirmo: livro impresso em 2015 (nadavê com Defesa).




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