Frações de Infantaria

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Frações de Infantaria

#1 Mensagem por Clermont » Dom Fev 12, 2006 1:19 pm

O GRUPO DE COMBATE.

Stephen Bull

O grupo de combate (rifle squad para os americanos, rifle section para os britânicos, schützengruppe para os alemães) de dez a uma dúzia de homens era o bloco constitutivo básico da infantaria e seu menor corpo tático - o que algumas instruções alemãs chamavam "unidade de fogo". Tão importante quanto isso, ele era a pedra de toque do moral.

Poucos ex-combatentes citam idealismo patriótico, menos ainda um credo político, como o impulso que os fazia puxar o gatilho ou marchar aquele quilômetro extra; quase invariavelmente, eles falam do temor de deixar seus camaradas na mão. Como o sinaleiro (soldado de comunicações) Ronald Elliot do 16o Durhams coloca, a motivação era respeito por si mesmo e "pelos seus companheiros". Os americanos, que normalmente trabalhavam aos pares, se referiam a importância dos "companheiros de foxhole": o que o major Dick Winters da 101ª Divisão Aeroterrestre chamava "o inusual elo" dos veteranos de combate. Era aquilo que um recente comentarista americano chamou "uma irmandade mortífera". Os manuais britânicos faziam referência explícita a esse cimento vital. Como o Infantry Training (1944) explicava, a seção era "a equipe"; seu pessoal deveria ser alterado o menos possível, e tudo deveria ser feito para forjar "moral de grupo". Experiência compartilhada era a maior parte desse poderoso processo de integração. Para o tenente Peter White do KOSB (King's Own Scottish Borderer ou Regimento de Fronteira Escocês do Rei) essa era uma vida "tão apartada dos valores reconhecidos" que se tornava irreal: um mundo no qual alguém podia estar amontoado junto com amigos em busca de calor animal num momento, e empilhando seus corpos congelados uma hora depois. Nessa situação insana, onde quase-crianças tinham metralhadoras, e civis e animais estavam na linha de fogo, White acredita que ele e seus "Jocks" (apelido dos soldados escoceses) tinham a oportunidade única de "chegarem a conhecer seus verdadeiros egos".

Para os alemães, tudo isso se traduzia como Kameradschaft - camaradagem. Como o Unteroffizier Friedrich Bertenrath expunha, "a pior coisa que podia acontecer a um soldado era ser atirado num grupo no qual ele não conhecia ninguém... Nós éramos camaradas, e sempre nos socorríamos. Nós protegíamos nossos camaradas para que eles voltassem para casa e suas esposas, filhos e pais. Essa era a nossa motivação." Guy Sajer, com a Divisão “Grossdeutschland”, ouviu um sargento explicar que só a vida de soldado reunia homens em "absoluta sinceridade".

O soldado da Wehrmacht, Harry Mielert, filosofou que a frente era uma espécie de "pátria" em si mesma, onde uma "solidariedade de destino" realmente levava a "valores éticos mais altos".

É interessante que Hitler tenha extraído ganhos políticos explícitos do paralelo entre a "camaradagem da frente" e a "camaradagem nacional" - Frontgemeinschaft e Volksgemenischaft. Desse modo ele logrou imprimir valores nazistas sobre um ethos militar pré-existente, corrompendo um impulso essencialmente generoso e altruísta.

A lealdade ao grupo de combate era de similar, se não maior, significância para o GI americano. Isso era ainda mais notável num exército tirado de tantas origens diferentes, embora deva ser notado que os afro-americanos ainda eram segregados. (Essa separação podia ter conseqüências bizarras, como quando prisioneiros alemães foram admitidos num rancho de "brancos" de onde os GIs negros eram excluídos.)

Uma fraqueza potencial do sistema americano era o método pelo qual os substitutos eram fornecidos à uma unidade em ação, como partes sobressalentes. Soldados bisonhos, mergulhando em sua primeira experiência de combate como adições recentes para um grupo já fechado de veteranos, com freqüencia, sofriam de acordo. O sistema britânico não era perfeito, mas ao menos aqueles com autoridade estavam cientes do problema. Por exemplo, o general Montgomery escreveu tratando das preocupações do coronel Cooper do Border Regiment, em 16 de julho de 1944, assegurando-lhe que "todo cuidado possível nas circunstâncias será tomado nas afiliações regimentais e que, sempre que possível, oficiais e praças serão postados juntos em unidades, em grupos aproximadamente de tamanho de pelotão." Os alemães de forma similar planejaram que os substitutos para formações de campanha deveriam ser treinados em unidades Ersatz, suplementares da mesma área de origem, embora isso nem sempre tenha sido possível na prática.

O líder de grupo de combate

O graduado subalterno que liderava o grupo ou seção era de central importância. O Manual de Campanha da Infantaria americana: Companhia de Fuzileiros, Regimento de Infantaria de 1942 dava uma das mais exigentes especificações do líder de GC. Ele devia ser o responsável pela "disciplina, apresentação, instrução, controle e conduta do GC, zelar pela manutenção dos padrões apropriados de higiene individual e coletiva e pela limpeza das armas e, em combate, liderar da frente. Idealmente, ele deveria controlar o fogo, embora nem sempre tenha sido praticável "mudar o fogo de todo ou parte do GC de um alvo para outro" como os manuais esperavam.

O líder do GC alemão (Gruppe) de forma similar, arcava com pesadas responsabilidades:

"O líder de GC deve ser um exemplo - e um exemplo de combate - para seus homens. O meio mais efetivo de ganhar a confiança e o respeito dos subordinados e para extrair o máximo deles é dar o exemplo. Mas de modo a dar o exemplo, o líder de GC precisa ter força de vontade maior do que seus homens, precisa fazer mais do que eles fazem, e precisa sempre cumprir seus deveres e obedecer ordens alegremente... De modo a ser um líder em campanha, um superior precisa exibir um comportamento exemplar perante seus homens, no momento do perigo e estar pronto, se necessário, a morrer por eles."

De forma interessante, o papel do comandante de seção não era salientado de forma tão forte, na literatura britânica, embora ele também fosse visto como controlador e líder em batalha. O panfleto "Infantry Section" de 1938 tem sido descrito como um documento fraco por sua relativa falta de detalhamento tático. Mesmo assim, havia uma crescente apreciação da importância dos graduados subalternos, e o curso de líderes de seção era uma parte estabelecida do treinamento.

De acordo com o manual britânico Application of Fire (1939), um dos deveres primordiais do líder de seção era o controle de fogo. Ele devia, em especial, dirigir o fogo da metralhadora leve, dispensar aos tocaieiros suas tarefas e controlar os fuzileiros "de acordo com as circunstâncias". O fogo devia ser concentrado ou distribuído dependendo do alvo. A sombria linguagem da edição de 1942 dizia que um dos mais importantes trabalhos do líder devia ser determinar quando suspender o fogo de modo a manter o máximo de surpresa, e para "assegurar a matança do inimigo".

Tudo isso pode parecer supérfluo, até que alguém relembre que a maioria das unidades tinha crônicos "não-atiradores". Como um frustrado tenente Dick Hewlett dos Durhams salienta, "Alguns estão inclinados a congelar e você nada pode fazer - mas a única coisa a fazer é atirar."

Pesquisas americanas no pós-guerra não somente identificaram homens que não atiravam, mas muitos que fechavam os olhos quando o faziam.


=============================

Sgt Guerra escreveu em Qua Ago 03, 2005 5:07 pm (e teve a mensagem vergonhosamente afanada):

Eu sou contra uma troca de calibre, mas sou contra como foi feito na Brigada Leve. Trocaram o calibre dos fuzis, mas e os FAP? Tanto que tiveram que voltar atrás. Já essa combinação eu sou a favor. Seria uma troca perfeita. É obvio que não seria a solução final, mas traria um salto qualitativo enorme para todo o EB.


Eu defendo uma mudança nos grupos de combate. Concordo que o ideal seria adotar fuzis de ultima geração, sistemas individuais de comunicação, oculos de visão noturna para todos, mas vamos ser realista, nós não vamos ver isso tão cedo no EB. As mudanças que eu defendo, são mudanças simples e dentro da realidade do EB. Primeiro seria essa do calibre do FAL combinada com uma metralhadora leve. Eu acho que cada grupo de combate deveria ter metralhadoras leves no lugar dos FAP, ou seja, duas por GC. Além disso, cada GC teria um fuzil com lança granadas. Na questão do armamento, seria só isso. Na constituição dos GCs, seria trocar o soldado 3º Esclarecedor (que comanda a 2º Esquadra) por um cabo. Isso é viavel, já que quase sempre o soldado 3º Esclarecedor possui CFC.


Cada tipo de infantaria tem uma constituição, mas a constituição basica atual dos grupos é a seguinte:


3° Sgt – Cmt Gc
Cb – Cmt 1ª Esq
Sd – E1 (E=esclarecedor)
Sd – E2
Sd – AT (atirador)
Sd – E3 – Cmt 2ª Esq
Sd – E4
Sd – E5 (granadeiro)
Sd – AT


A proposta seria:


3° Sgt – Cmt Gc
Cb – Cmt Esq A
Sd – E1
Sd – E2
Sd – AT
Cb – Cmt Esq B
Sd – E3
Sd – E4 (granadeiro)
Sd – AT

Parece ser pouco, e realmente é. Isso não é nada sem blindados, sem artilharia etc, mas se analisarmos que aumentando o poder de combate dos GC vai aumentar o poder de combate dos pelotões e esse dos batalhões, eu diria que é um aumento significativo na força.


Quando eu tiver mais tempo eu vou postar aqui o material completo que eu acho ideal para cada integrante do grupo. Voces vão ver que tudo existe atualmente no EB, em algumas OMs apenas, mas existe.


Antes de alguém dizer que é uma mudança cara, primeiro considerem o preço para manter um blindado. O M-113, que leva um desses GCs, tem 127 almofadas (63 de um lado e 64 do outro). Cada almofada custa em torno de 80 reais.



Sgt Guerra escreveu em Qui Ago 04, 2005 12:41 pm (e teve a mensagem vergonhosamente surrupiada):

Esse é o equipamento básico que eu acho que os grupos deveriam ter;


Uniforme

Uniforme camuflado completo
joelheiras
capacete
coturno
luvas de couro




Fardo de combate (mochila)


Mochila
poncho nylon (meia barraca p/ 2 homens)
manta (estilo velame)
Kit manutenção do armamento
Kit primeiros socorros
Marmita com talher articulado
Ferramenta de sapa (pá articulada)
Ração de emergencia
Mosquetão
Freio
Cabo solteiro
Saco de dormir com isolante termico



Fardo aberto (suspensório)


Suspensório
Cinto NA
Bastão camuflagem
Porta cantil e cantil/caneco (dois)
Porta carregadores fuzil (dois)
Porta carregador de pistola



EQUIPAMENTOS

3 Radios (cmt GC e cmt Esquadra)
OVN
Bolsa Cmt (GPS, material anotação, Esq Loc, compasso, transferidor, escalimetro, cartas e mapas)
Lanterna e bastão luz quimica
Bolsa primeiro socorros (para o E3)
Binoculo (so para os cmt)
Luneta (uma por esquadra)
Mira laser (uma por esquadra)
Colete
Bussola (so para os cmt)


Cada soldado levaria duas granadas de mão e uma granada de bocal AP (menos os atiradores e o E5. Os E1 e E3 que levariam granadas AC)




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#2 Mensagem por Guerra » Dom Fev 12, 2006 7:49 pm

O líder de grupo de combate

O graduado subalterno que liderava o grupo ou seção era de central importância. O Manual de Campanha da Infantaria americana: Companhia de Fuzileiros, Regimento de Infantaria de 1942 dava uma das mais exigentes especificações do líder de GC. Ele devia ser o responsável pela "disciplina, apresentação, instrução, controle e conduta do GC, zelar pela manutenção dos padrões apropriados de higiene individual e coletiva e pela limpeza das armas e, em combate, liderar da frente. Idealmente, ele deveria controlar o fogo, embora nem sempre tenha sido praticável "mudar o fogo de todo ou parte do GC de um alvo para outro" como os manuais esperavam.


Isso é a nossa doutrina. Agora imaginem como o comadante de GC é sobrecarregado.

Idealmente, ele deveria controlar o fogo, embora nem sempre tenha sido praticável "mudar o fogo de todo ou parte do GC de um alvo para outro" como os manuais esperavam.


É claro que não. Como ele vai fazer isso com um Gc atuando como um todo? Agora imaginem o GC com duas esquadras comandadas por cabos experientes com uma metralhadora cada uma. Eu aposto como da certo.




A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
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#3 Mensagem por Clermont » Seg Fev 13, 2006 10:05 pm

O GRUPO DE COMBATE DA INFANTARIA BRASILEIRA – 1941.

A) Comandante:

- 3º Sargento
- 1 fuzil com sabre-baioneta e 60 cartuchos
- 1 serra articulada e 1 alicate

B) 1ª Esquadra de Fuzileiros:

- Cabo (Comandante de Fuzileiros)
- 1 fuzil com sabre-baioneta e 60 cartuchos
- 1 machadinha

- Soldado (Atirador)
- 1 fuzil-metralhadora e 180 cartuchos
- 1 pistola e 27 cartuchos
- 1 pá

- 2 Soldados (Municiadores)
- 1 pistola e 27 cartuchos
- 540 cartuchos para FM
- 1 pá e 1 picareta

- 2 Soldados (Remuniciadores)
- 2 mosquetões com sabre-baioneta e 60 cartuchos
- 1 pá e 1 picareta

C) 2ª Esquadra de Volteadores

- Cabo (Comandante de Volteadores)
- 1 fuzil com sabre-baioneta e 90 cartuchos
- 1 facão de mato e 1 alicate

- Soldado (1º Volteador)
- 1 fuzil com sabre-baioneta e 90 cartuchos
- 3 granadas-de-mão
- 1 pá

- 3 Soldados (Volteadores)
- 1 fuzil com sabre-baioneta e 90 cartuchos
- 3 granadas-de-mão
- 1 pá e 1 picareta

- Soldado (Granadeiro)
- 1 fuzil com bocal lança-granadas e 60 cartuchos
- 6 granadas-de-fuzil
- 1 facão de mato



O GRUPO DE COMBATE DA INFANTARIA BRASILEIRA tipo FEB– 1944.

A) Comandante:

- 3º Sargento

B) Equipe de Esclarecedores:

- 2 Soldados (Esclarecedores)

C) Equipe de Tiro

- Soldado (Atirador de BAR)
- Soldado (Municiador)
- Soldado (Remuniciador)

D) Equipe de Volteadores

- 5 Soldados (Volteadores)

E) Auxiliar:

- Cabo (granadeiro anti-carro)




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#4 Mensagem por Guerra » Ter Fev 14, 2006 1:11 pm

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MANTA VELAME

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#5 Mensagem por Clermont » Sex Mar 24, 2006 1:33 am

FUZILEIROS NAVAIS VETERANOS DE COMBATE TROCAM EXPERIÊNCIAS NA CONFERÊNCIA DE LIÇÕES APRENDIDAS.

Por E. W. Powers.

Em julho de 2005, o tenente-general James N. Mattis, general-comandante do Comando de Desenvolvimento de Combate do Corpo de Fuzileiros Navais, Quantico, Virgínia, instruiu o Centro do Corpo de Fuzileiros Navais para Lições Aprendidas para conduzir uma Conferência de Lições Aprendidas por Praças Graduados, de modo a coletar lições dos líderes de combate de linha de frente.

Dezesseis praças graduados (quatorze sargentos e dois cabos) de todo o Corpo, todos com experiência de liderança em combate, participaram da conferência, fornecendo uma rica intercessão de capacidades e habilidades. Eles incluíam tanto graduados da aviação e terrestres, que serviram ou na Operação “Enduring Freedom” ou na Operação “Iraqi Freedom”, ou em ambas. Esse artigo é baseado em comentários francos desses graduados, líderes de frações que lutaram em batalhas, apoiaram as forças que levaram nossos fuzileiros navais através de algumas das mais desafiadoras missões que nosso Corpo já enfrentou.

Eis aqui o que tinham a dizer:

Treinamento básico.

Todo treinamento básico deveria enfatizar “desapaisanamento” e instilamento de agressividade e rudeza. A qualidade do pessoal recrutado é importante. Mesmo havendo apenas uns poucos anos de tempo de serviço entre os graduados e seus novos fuzileiros alistados, há uma “brecha de gerações” com diferentes atitudes e expectativas.

Deve haver mais repetição e maestria demonstrada de habilidades básicas de infantaria antes de deixar a Escola de Infantaria, seja o Batalhão-Escola de Infantaria ou o Batalhão-Escola de Treinamento de Combate dos Fuzileiros Navais.

O Curso de Líder de Grupo de Combate, correntemente conduzido em todo o Corpo, deve ser expandido e/ou modificado para assegurar que ele preencha as atuais exigências de educação militar profissional para graduados que completem o curso com sucesso.

Pessoal.

Os graduados expressaram as mesmas opiniões que os comandantes de elementos de combate terrestre ou de serviço de apoio ao combate, que participaram de conferências prévias de lições aprendidas, sobre a questão de quão rápido uma unidade deve ser aparelhada antes de entrar em zona de combate: 180 dias antes do desdobramento é ideal, 90 dias mal é adequado, mas 120 dias é melhor para fornecer treinamento e ainda cumprir todas as tarefas e responsabilidades, tais como períodos de licença, procurações de advogados, preparação familiar, etc., que são parte da preparação de desdobramento.

Os graduados de um batalhão relataram que eles incorporaram mais de 400 novos fuzileiros navais vindos diretamente da Escola de Infantaria (SOI), durante o ciclo de treinamento em preparação para desdobramento para o Iraque. Um graduado resumiu perfeitamente, dizendo, “As unidades precisam estar estabilizadas com todo pessoal a bordo por um tempo igual ao seu ciclo de treinamento pré-desdobramento.”

Tempo de treinamento pré-desdobramento promove familiaridade e confiança com personalidades e capacidades, levando a crescente coesão da unidade que resulta em crescente efetividade em combate, com menos baixas.

O Programa de Assistência de Frota, que drena potencial humano para apoiar operações de instalações deve ser eliminado para os fuzileiros navais que atravessam o ciclo de treinamento para desdobramento. Os graduados entendem a necessidade de guarnecer bases e estações; entretanto, eles acreditam firmemente que o treinamento pré-desdobramento e o estabelecimento da coesão de unidade são mais importantes que fornecer “corpos” para funções que não são essenciais à preparação de combate.

Treinamento de Pré-desdobramento

A qualidade e efetividade de exercícios de treino de pré-desdobramento direcionados, tais como o Viper Mojave, o Exercício de Armas Combinadas Revisado (RCAX) no Comando de Treinamento da Força-Tarefa Ar-Terra em Twentynine Palms, Califórnia; Operações de Apoio e Estabilidade; e a Desert Talon, são excelentes. O problema é que nem todas as unidades atendem a todas as evoluções de treinamento. Nessas unidades que empreendem o treinamento, nem todos os fuzileiros navais individuais recebem o treinamento.

Os graduados notam que muitos fuzileiros navais não-infantes participam em combate urbano e experimentam numerosos engajamentos enquanto conduzindo operações de comboio sem jamais terem tido as oportunidades de treinamento. O treino com armas coletivas é uma necessidade para todos os fuzileiros navais, pois muitos deles terão de empregar tais armas em combate.

Mais ênfase é necessária em treinamento de pontaria básica, antes e durante o desdobramento. Habilidades em pontaria são perecíveis e precisam ser agressivamente mantidas.

Os instrutores de treinamento pré-desdobramento precisam estar atualizados, pelo menos a cada 90 dias sobre as atuais táticas, técnicas e procedimentos (TTPs) e possíveis missões para estarem certos de que unidades de seguimento recebam o melhor treinamento possível. Mais ênfase deve ser colocada em patrulhamento, operações integradas infantaria-blindados, operações de infantaria motorizada e adestramentos de reação à emboscada.

Os graduados também afirmaram que deve haver mais ênfase em operações de pelotão e grupo de combate, já que essas frações tendem a ser as unidades de ação no Iraque.

Um curso básico de operações de comboio foi conduzida na Base da Reserva Aérea March, Califórnia, e no RCAX, mas ambos foram “infantecêntricos” e ou omitiram, ou ignoraram os fuzileiros navais não-infantes que, realmente, conduzem a maioria das operações de comboios. Parece ser o caso de unidades de apoio tendo de fornecer apoio normal, dia-a-dia, durante o treinamento de pré-desdobramento, portanto elas não recebem o treinamento que, mais tarde se mostraria essencial. Muito da direção no teatro foi à noite, requerendo treinamento em procedimentos de blackout e direção com dispositivos de visão noturna.

Os graduados expressaram uma preocupação de que esteja havendo ênfase em demasia no reconhecimento de IEDs e não o bastante em ações imediatas. Um tema comum era “Uma apresentação de PowerPoint de 30 minutos não é o bastante para preparar fuzileiros navais para operações de comboios ou ameaças de IEDs.”


Treinamento de pré-desdobramento gravado em vídeo para repetição e análise tanto quando o uso de cartuchos SESAMS (Sistema de Marcação de Armas Leves de Efeitos Especiais, Special Effects Small-Arms Marking System) para criar realismo foram impressionantes. Os cartuchos SESAMS realmente atingem os fuzileiros navais, e “dor é igual a memória” para reforçar lições melhor do que qualquer outro auxílio ao treinamento.

O treinamento médico de combate é excelente, e o treino prático deve ser incrementado. Deve haver, treinamento contínuo com os socorristas designados para familiaridade com seus equipamentos e suprimentos, e para manter o relacionamento pessoal próximo desenvolvidos entre socorristas (da Marinha) e os fuzileiros navais em campanha.

Mudanças em primeiros-socorros, tais como o torniquete se tornando a primeira escolha em tratamento de feridos, devido aos tipos de ferimentos experimentados no Iraque, alcançaram o campo rapidamente, assim mostrando resposta rápida às lições aprendidas.

As comunicações permanecem um problema: nunca há equipamento o bastante, comunicações em movimento e além do horizonte são desafiadoras, e o ressuprimento não mantém o passo com a demanda por sobressalentes e baterias. Fuzileiros navais das comunicações parecem estar sobrecarregados e, para os recém-designados fuzileiros, subtreinados.

O rádio de função pessoa (PRR, personal role radio) e as comunicações VHF funcionaram bem em operações urbanas. O Rádio Inter/Intra Equipe de Faixa Múltipla (Multi-Band Inter/Intra Team Radio) foi útil, mas não tanto como o PRR. Os fuzileiros navais receberam muitos sistemas sem nenhum treino, mas se pudessem escolher entre novos e melhores equipamentos sem nenhum treinamento ou confiar em equipamentos velhos e menos capazes, eles queriam o novo equipamento.

Os fuzileiros navais também salientaram a necessidade por contínuo treinamento em higiene e contínua manutenção dela por pessoal médico e líderes de frações.

Consciência cultural e linguagem foram cruciais para o sucesso (*). Os graduados apóiam o treinamento universal de linguagem, mas acham que o Corpo precisa ser seletivo sobre quem é treinado. Habilidades lingüísticas precisam ser constantemente praticadas para serem mantidas e aperfeiçoadas.

TTPs de treinamento pré-desdobramento para postos de checagem (checkpoints) foram consideradas muito boas. A opinião deles era de que unidades efetivamente utilizando as TTPs tiveram poucos problemas com má-identificação de viaturas como hostis.

Armamentos.

A chave para o emprego bem-sucedido de todas as armas, individuais ou coletivas, é seguir os fundamentos cobertos nos treinamentos, tais como limpeza delas. Quase todos os casos de mau-funcionamento com os fuzis M16A2 ou M16A4 foram resultado de cuidado e limpeza impróprios, especialmente do carregador e munição. O clima áspero e constante presença de areia e poeira no deserto tornavam difíceis manter as armas apropriadamente limpas. A bandoleira de três pontos é uma peça crítica no equipamento em combate urbano para o M16, M4 e a escopeta.

A M4 era a arma de escolha para combate urbano. Pois, devido ao seu tamanho, era mais fácil de manobrar e tinha as mesmas características do M16A4 maior.

Todas as guarnições de tanques, viaturas anfíbias de assalto e viaturas blindadas leves precisam ser dotadas com a M4, que era mesmo preferível à atual pistola M9. A M4 fornece maior poder de fogo que a pistola de serviço. E, também, as guarnições de viaturas executam missões de infantaria em numerosas ocasiões, portanto faz sentido que sejam armadas com uma arma de infantaria mais adequada.

As viaturas devem ser armadas com a metralhadora M240, e os metralhadores devem receber treinamento em “tiro de quadril” porque essa era, com freqüência, o método preferido de emprego em áreas urbanas.

A metralhadora leve M249 teve problemas com os mecanismos de segurança e trava. Ela exige uma porção de manutenção, e haviam poucos canos sobressalentes.

A escopeta, em particular o sistema de escopeta de combate Benelli M4 Super 90, com coronha retrátil, era muito apreciada. Ela podia arrombar quase qualquer porta e foi utilizada extensivamente.

Todo mundo deve ser dotado com uma arma de porte, mas não a pistola de serviço M9 de 9 mm, devido a sua carência de poder de parada. Os fuzileiros navais precisam de soluções flexíveis para coldres, tais como coldres ajustáveis de saque para baixo (drop-down holsters) e/ou coldres de ombro, para gostos individuais e cenários.

Quase todos os graduados (todos os graduados infantes) receberam treinamento em armas inimigas antes das operações de combate. Eles utilizaram AK47s de tempos em tempos, particularmente quando percebiam a necessidade de disparar através de paredes e tetos (**).

Auxiliares ópticos e miras de armas aperfeiçoadas foram importantes para o sucesso no combate. Luzes de mira, iluminadores/apontadores de alvo, apontadores infravermelhos e miras ópticas, tais como a Advanced Combat Optical Gunsight, eram excelentes. Elas causaram um enorme acréscimo na letalidade e na habilidade de identificar positivamente os alvos. Houveram problemas ocasionais à noite devido ao clarão auto-produzido, particularmente com as armas automáticas. Todas essas capacidades precisam ser integradas num só sistema, embora mantendo-o leve e simples.

Equipamento Individual

Reduzam a carga de combate dos fuzileiros navais: “gramas iguais a quilos e quilos iguais a dor”. O equipamento precisa ser integrado para se adequar aos fuzileiros individualmente e o Corpo de Fuzileiros Navais deve comprar o melhor equipamento disponível, especialmente quando ele está disponível como itens comerciais de prateleira.

As botas estão cada vez melhores, e os graduados estão satisfeitos com a bota de selva-deserto aperfeiçoada. Ainda assim, eles gostariam de ver botas mais leves. Alguns fuzileiros navais adquirem suas próprias botas de caminhada estilo civil.

O novo sistema de capacete leve Gentex e as placas de inserção de proteção contra armas leves, incluindo a proteção adicional para ombro/braço e virilha, foram grandes. Os fuzileiros navais acham que seria melhor colocar as abotoaduras ao lado da armadura corporal para apresentar uma proteção contínua para o peito.

Outros bons equipamentos protetores incluiam joelheiras e cotoveleiras, particularmente as de poliuretano flexível. A proteção ocular sendo fornecida é excelente. Uma solução inovadora para o problema do embaçamento é limpar as lentes com pasta de dente.

Vários graduados relataram serem envolvidos pelas chamas durante operações de ruptura, portanto eles necessitam de vestimentas retardadoras de fogo, em particular, camisetas, proteção de pescoço e algum espécie de guarda-face. O atual uniforme utilitário é bom, excepto por sua durabilidade em combate.

Há a necessidade por alguma espécie de luva padrão retardadora de fogo, como essas utilizadas pelas tripulações aéreas e mecânicos.

Muito do equipamento de visão noturna está envelhecendo e precisa ser substituído. Motoristas necessitam de dispositivos que forneçam melhor percepção de profundidade. Toda arma coletiva precisa ser equipada com um dispositivo de visão noturna.

Há tipos diferentes demais de baterias para os equipamentos. Com muita freqüência, o suprimento não podia manter o passo com as requisições para baterias, e assim, o equipamento não estava disponível para uso. Futuras requisições devem exigir também o uso de baterias comuns.

Por toda a força-tarefa ar-terra dos Fuzileiros Navais, a média dispendida por cada fuzileiro individual era de cerca de $ 400, com os fuzileiros navais infantes gastando ligeiramente mais. Os mais populares itens comprados particularmente eram sistemas GPS, mochilas e botas.

Extensão das Temporadas

A atual política de rotação, sete meses desdobrados, sete meses em casa é “factível”, pelo menos no futuro previsível. Uma vez que os fuzileiros navais sejam desdobrados para a terceira temporada de dever (como vários desses graduados estavam se preparando), eles podem ser adversamente afetados pelos contínuos riscos do dever.

Há “flexibilidade” demais nos esquemas de desdobramento. As datas desses parecem estar continuamente mudando, normalmente, para mais cedo.

Também há mudanças nas missões, tais como se preparar para uma unidade expedicionária de Fuzileiros Navais e ser enviado para o Iraque. Deve haver uma mescla de desdobramentos e designações de missões de combate para as de não-combate, especialmente após completar três temporadas de dever.

O fator No 1 para conter a tensão do combate é a coesão da unidade. Há a necessidade de existir tempo de descompressão estabelecido para as unidades em retorno, para que elas possam se reajustar da tensão do combate, comunicando-se uns com os outros e preparando-se mentalmente para a transição para a vida de guarnição.

Todos os líderes de GC e acima devem ser treinados para reconhecer sintomas de tensão pós-combate e depressão que podem levar fuzileiros navais a tirar suas próprias vidas.

Os desdobramentos e temporadas de dever agem como grandes filtros para aqueles que verdadeiramente que almejam uma carreira como fuzileiro naval. A dureza e a tensão fazem os fuzileiros navais considerar com cuidado se estão preparados para continuar no Corpo de Fuzileiros Navais. As chaves para retenção são a liderança, especialmental ao nível de frações, e a coesão de unidade para dar aos fuzileiros navais um sentido de realização e orgulho em executar seus deveres.

Finalizando

Por mais de 200 anos, a chave para o sucesso dos Fuzileiros Navais tem sido o desempenho dos fuzileiros individuais e dos praças graduados que os lideram. Enquanto o clima e lugar possam mudar, a qualidade de nossos líderes de frações tem permanecido a um nível inacreditavelmente alto.

Os graduados que participaram dessa conferência representam todos os excepcionais graduados que passaram antes deles e aqueles que servem nosso Corpo, tão bem, hoje em dia. Seus comentários e observações são vitais para a liderança do Corpo de modo a fazer aquelas mudanças e aperfeiçoamentos necessários para assegurar o contínuo sucesso de combate de nossos fuzileiros navais.

________________________

(*): Ué? A guerra já acabou pra se falar em “sucesso”?

(**): Ué 2? Então, devo concluir que os fuzileiros navais americanos não estão satisfeitos com o poder de penetração dos fuzis calibre .5,56 mm? Ou não devo concluir nada?




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#6 Mensagem por Guerra » Sex Mar 24, 2006 8:51 am

FUZILEIROS NAVAIS VETERANOS DE COMBATE TROCAM EXPERIÊNCIAS NA CONFERÊNCIA DE LIÇÕES APRENDIDAS.


O COTER publica "LIÇÕES APRENDIDAS" todo semestre e disponibiliza na ebnet.




A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
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#7 Mensagem por Clermont » Qua Abr 05, 2006 9:51 am

A SEÇÃO DE INFANTARIA CANADENSE EM AÇÃO.

Capitão Michael Leary – RCR (Royal Canadian Regiment)

O sargento Byng observou o terreno aberto à sua frente. Por mais indesejável que fosse como aproximação, os limites restritos designados para o pelotão ditavam que a 2ª Seção (GC) precisava atravessar a crista baixa, 600 metros à frente. Uma vez que a seção assegurasse esse ponto intermediário, o resto do 1º Pelotão iria seguí-la para estabecer um pé-de-apoio para o próximo lanço tático.

A seção de Byng era bem versada em seus adestramentos. Por meses antes desse desdobramento, eles tinham, aos níveis de seção, pelotão e companhia, reensaiado e praticado todos os cenários previsíveis. Os adestramentos de batalha da 2ª Seção eram excelentes, cada prática de tiro real ou “em seco” demonstrava aperfeiçoamento até que os adestramentos da seção fossem irrepreensíveis . O sgt Byng tinha confiança na habilidade de seus soldados e não esperava dificuldade alguma, mesmo se eles fossem engajados em seu avanço.

Byng olhou à esquerda e à direita, ao longo da linha de árvores, para seus soldados, indicando que eles iriam avançar em formação de cunha. Ele deu um passo à diante ao mesmo tempo que o cabo Lipsett, o homem mais próximo no seu grupo de fogo (esquadra) do flanco esquerdo – grupo de fogo “Bravo”. Fazendo uma pausa, enquanto o cabo Lipsett se adiantava para tomar a ponta da formação, o sgt Byng observava enquanto o restante da 2ª Seção emergia das sombras. À sua esquerda, o cb Lipsett era seguido pelo soldado MacDonell, portando o lança-granadas M-203. Mais para a esquerda estava a cabo-mestre Watson (uma mulher), a auxiliar da seção de infantaria e o soldado Hugues, o metralhador de C-9 (versão da metralhadora leve americana M249) do grupo de fogo da cabo-mestre Watson. O soldado Hugues havia se juntado à seção, recentemente, na preparação para essa ação, ele havia demonstrado um fraco adestramento em metralhadoras e o sgt Byng concedeu-lhe o uso da C-9 como oportunidade para rememorar seu treinamento e ganhar prática.

À sua direita, os três membros remanescente da seção completavam seu próprio grupo de fogo – grupo “Alfa”. O cabo Burstall portava o outro M-203. Burstall era muito bom com seu lança-granadas e se podia confiar nele para reagir, rapidamente, com fogo acurado, se necessário. O restante do grupo “Alfa” consistia do cabo Loomis e, portando a outra C-9, o soldado Currie. Esse era uma constante fonte de preocupações para o comandante da seção, inteligente e ansioso para agradar, ele estava, constantemente, ficando para trás nas atividades físicas. Embora ele tivesse melhorado, graças ao treinamento pré-desdobramento do batalhão, ele ainda precisava de constante monitoramento e encorajamento. O sargento Byng sentia que as maiores exigências de portar a C-9 e sua carga associada de munição, apenas poderiam ajudar seu desenvolvimento físico.

Enquanto se movia adiante, permanecendo atrás e à direita de Lipsett, o sgt Byng atribuía ordens antecipatórias: “2ª Seção, se recebermos fogo de nossa frente, iremos nos mover em linha e avançar para o assalto por grupos e equipes de fogo até a crista à nossa frente. Se o inimigo for muito forte, iremos estabelecer uma base de fogo para o pelotão.” Lipsett estava quase à 50 metros da linha de árvores antes que o último dos membros da seção estivesse fora dela. Com 5-10 metros de separação lateral, a seção cobria quase 80 metros entre o mais distante soldado do flanco direito até o mais distante do flanco esquerdo. A frente, o terreno suavemente inclinado era dominado por uma crista baixa, que era o objetivo inicial da seção. Para cada lado, mato baixo começava a preencher os campos da velha fazenda em ambos os lados do corredor que eles estavam limpando.

Olhando por sobre o ombro, o sgt Byng podia ver o movimento dos elementos do grupo de comando do pelotão e daqueles das outras seções, enquanto elas se preparavam para seguir a 2ª Seção, atravessando o campo aberto. Com um terço da distância para a crista coberta, Byng começou a achar que esse lanço curto seria sem incidentes, a seção estava mantendo bem o seu espaçamento e os fuzileiros estavam cobrindo seus arcos de fogo, com diligência. Além do mais, eles tinham acabado de passar por onde a Companhia “Bravo” estava tratando de suas baixas do último tiroteio. A seriedade da tarefa era clara e eles não tinham intenção de compartilhar do destido da “Bravo”.

Reexaminando a crista, o sgt Byng sentiu que eles não estavam chegando mais perto. Enquanto abria a boca para dizer à Lipsett que acelerasse o passo, os primeiros tiros eclodiram. Como um só, a 2ª Seção jogou-se ao chão; fogo de resposta começou e os soldados nos flancos, alternadamente, cobriam-se uns aos outros, enquanto se movimentavam adiante, em linha com seu comandante de seção. Distraído pelo som, Byng estava dilacerado entre vasculhar a crista atrás dos inimigos que haviam disparado contra a 2ª Seção e tentar determinar se algum dos seus soldados havia sido atingido.

Com a facilidade do treino, os soldados da 2ª Seção começaram a executar o Adestramento de Batalha de Seção, todos exceto MacDonell, cuja ausência da linha de fogo indicava a efetividade do fogo inimigo. Tudo ficou quieto enquanto a seção vasculhava a crista à sua frente, mas nenhum sinal mais da localização do inimigo foi oferecido. Byng rapidamente entendeu que, apenas retomando o avanço, mais informação do inimigo poderia ser obtida. O aparelho de rádio soou em seu ouvido, mesmo antes de ele considerar suas opções. O comandante do pelotão, que também havia visto MacDonell tombar, disse que ele seria recolhido pelas tropas de seguimento, e ordenou “avançar”.

Respondendo rapidamente, o sgt Byng instruiu a 2ª Seção a avançar por grupos de fogo e ordenou ao grupo “Bravo” que movesse primeiro. Os três membros restantes do “Bravo” lançaram-se à frente, cada adotando uma nova posição de disparo para cobrir o movimento do grupo “Alfa”. Este moveu-se tão logo “Bravo” estava no chão. Quase ao mesmo tempo, o inimigo alvejou os soldados correndo. Apenas três acharam novas posições, a lerdeza de Currie em redesdobrar a C-9 lhe custou caro; era a única arma de apoio sob o controle direto de Byng que podia alcançar além dos 350 metros restantes até a posição do inimigo na crista. Byng preparou-se para ordenar outro lanço por grupos de fogo. O comandante de pelotão o informou que parecia só haver um ou dois soldados inimigos na crista e que o resto do pelotão iria “para o chão” enquanto a 2ª Seção limpava a posição. “’Bravo’, preparar para se mover,” gritou Byng.

Lipsett, Watson e Hughes saltaram para a frente diante da ordem de avanço. Os próximos dois lanços por cada grupo de fogo não foram contestados, a distância para crista baixando para menos de 300 metros. Os seis membros remanescentes da 2ª Seção começaram a assumir o ritmo familiar do adestramento de batalha. Movimento em grupos de fogo de três foi prontamente ajustado já que cada grupo de fogo havia passado vários dias de treinamento sem um membro. Watson e Hughes fecharam a brecha deixada quando MacDonell caiu. A única C-9 da seção, manejada por Hugues era uma reconfortante fonte de fogo de apoio crítico durante cada lanço.

No terceiro movimento do grupo “Alfa”, desde os últimos tiros do inimigo, este disparou novamente contra a seção em avanço. Dessa vez, Lipsett, de sua posição cobrindo o lanço do “Alfa” foi capaz de identificar a posição do inimigo e dar uma indicação sólida do alvo. O fogo do inimigo, dessa vez, não foi efetivo e o sgt Byng, agora, tinha informação positiva sobre a qual focalizar seu ataque. Atribuindo a ordem de controle de fogo apropriada, Byng obteve a orientação de sua seção que ele, até agora, havia sido incapaz de estabelecer.

O grupo “Bravo” fez seu próximo movimento, pivotando, levemente, à direita, para dirigir seu fogo e movimento rumo a localização indicada pelo inimigo. O fogo supressivo de “Alfa”, infelizmente, falhou em obter seu objetivo e o inimigo foi capaz de devolver o fogo contra os soldados do grupo “Bravo”. Lipsett caiu, e o sgt Byng sabia que ele não iria se levantar de novo durante esse ataque. Ele gritou para Watson e Hughes para cerrarem para o centro ainda mais no próximo lanço. Mesmo enquanto passava essa ordem, Byng se movimentava, liderando o grupo “Alfa” adiante, sob o fogo de apoio do fuzil de Watson e da C-9 de Hugues.

Reassumindo posições de fogo, Byng e o grupo “Alfa” começaram a disparar sobre as posições inimigas. Ele viu Watson e Hughes movendo-se com sua visão periférica. Ele foram para o chão, ligeiramente adiante de sua própria linha e começaram a disparar novamente. A C-9 de Hugues disparou duas rajadas e, então, parou com um som não-familiar. Enquanto Hugues começava a praguejar contra sua arma e tentava corrigir a falha, o sgt Byng ordenou que o grupo “Alfa” sustentasse sua localização até que a C-9 estivesse em operação novamente. Enraivecido com sua própria ineficiência, Hughes levantou-se sobre a arma para forçar seu funcionamento. Um único disparo saiu da crista inimiga e Hughes caiu ao solo, ao lado de sua metralhadora inativa.

A cabo-mestre Watson, imediatamente, compreendeu o alcance da tragédia, e fez um súbito movimento para recuperar a C-9. Ela a alcançou, rapidamente, enquanto o fogo inimigo, que por pouco não a atingia, a obrigava a ficar abaixada enquanto examinava a arma. A possibilidade de reparo da arma ficou óbvia para o sgt Byng quando Watson a arremessou na poeira, ao lado de Hughes e rastejou na direção do seu comandante de seção.

Com quatro soldados restantes, incluindo ele, armados com um M-203 e três C-7 (versão canadense do M-16), o sgt Byng sabia que este ataque não iria ser fácil. A primeira exigência era cerrar outros 50 metros para que o lança-granadas M-203 pudesse fornecer algum apoio de fogo efetivo. Byng, rapidamente, emitiu ordens para iniciar o movimento por equipes de fogo de dois elementos. Ele e a cabo-mestre Watson iriam formar a equipe da esquerda, Burstall e Loomis a da direita. Às ordens de Byng, ele e Watson começaram a disparar contra a localização conhecida da trincheira inimiga, enquanto Burstall e Loomis preparavam para se mover. O primeiro lanço para cada equipe de fogo ocorreu sem incidentes, ganhando os 50 metros necessários para colocar o M-203 em ação. Burstall não gastou tempo, mandando a primeira granada para impactar bem perto da localização indicada por seu comandante de seção. A segunda granada foi mais alta, mas o impacto pareceu estar bem sobre a parte de trás da crista. Manter efetivo fogo supressivo sobre a crista com o lança-granadas iria ser difícil.

A 2ª Seção cobriu os próximos cem metros rapidamente. Fogo preciso de fuzil e as granadas de Burstall, mantiveram as cabeças do inimigo baixadas, enquanto os quatro soldados restantes avançavam rumo ao seu objetivo, por lanços curtos. Nessa segunda tentativa de pôr o lança-granadas em ação, Burstall foi obrigado a se erguer, de modo a ver seu alvo, além do mato alto. Esse movimento, infelizmente, atraiu a atenção do inimigo e dois tiros rápidos, da densa cobertura foram efetivos. Baixando ao chão, Burstall lá ficou.

O sgt Byng considerou a situação da 2ª Seção. Desde que o inimigo abriu fogo, a seção havia coberto mais de 250 metros ao custo de cinco soldados. Byng sabia que tinha de levar os últimos três membros da seção até a crista e expulsar o inimigo antes que o pelotão pudesse atravessar o campo aberto. Liderando Loomis e Watson adiante, em rastejamento, ele se preparou para para liderar sua equipe de fogo à três elementos numa série final de lanços para cerrar com o objetivo. Espalhando-se mais do que o espaçamento usual, os três membros remanescentes da 2ª Seção começaram um movimento determinado rumo à trincheira inimiga. Alternadamente, cada soldado corria adiante num lanço curto enquanto os outros dois mantinham um firme cadência de fogo supressivo.

Num alcance de 50 metros, Byng tombou, como resultado de uma ousada rajada de fogo do inimigo. Ele jazia, inerte, observando enquanto a cabo-mestre Watson assumia e dirigia Loomis para efetuar o próximo lanço. Ele se moveu rapidamente para uma nova posição de fogo, sem compreender que o ângulo de seu engajamento fornecia ao inimigo proteção suficiente numa posição desenfiada, para continuar disparando. Watson moveu-se, tão logo ouviu o fuzil de Loomis, disparando. Ela não estava ciente de que esse fogo não estava fornecendo a supressão que ela precisava para proteger seu movimento. O inimigo, entretanto, foi rápido ao reagir e Watson tombou, pesadamente, como resultado de um rajada bem-visada do fuzil inimigo.

Loomis sabia que, agora, enquanto ainda estava em campo aberto, as chances não estavam em seu favor. Lentamente, ele rastejou adiante através do mato, tentando alcançar a crista e flanquear o inimigo, que havia dizimado a 2ª Seção. Ele hesitou em disparar, em parte por medo de revelar sua própria localização, e em parte porque ele agora estava inseguro da localização precisa da trincheira inimiga. Loomis, após quinze exaustivos minutos, alcançou a crista que ele estava tentando alcançar desde que a 2ª Seção havia sido engajada pela primeira vez. Irrompendo através da linha rala de mato, ele compreendeu que a “crista” era, também, a beira de um fosso estreito, atravessando a área aberta do avanço do pelotão. Ele olhou ao longo do fosso para esquerda e para a direita e, não vendo o inimigo, rolou dentro da depressão.

Pausando no fundo do fosso raso, Loomis considerou suas opções, que eram continuar atrás do inimigo ou acenar para o pelotão se adiantar. Escolhendo a última, ele espiou, cautelosamente, através da área, além do fosso, não vendo sinal algum de seu oponente. Erguendo-se, ele levantou um braço para acenar para o pelotão avançar. Um único tiro, ecoou do mato próximo, atrás dele. Loomis, repentinamente compreendendo que seu inimigo era tão bom em camuflagem pessoal como era em pontaria, foi ao chão e lá ficou.

Silenciosamente, amaldiçoando seu erro, ele ficou lá, observando enquanto o soldado inimigo sentava e sorria, e ambos aguardararm pelo árbitro, para resetar a Veste de Simulação de Efeitos de Armas de Loomis, permitindo-o a continuar no treinamento. O árbitro, agora, era avistado, atravessando a área entre a linha de árvores e o fosso, com o comandante de pelotão, enquanto eles analisavam o ataque da 2ª Seção de Infantaria.

“Como você pode ver aqui,” relatou o árbitro ao comandante de pelotão, “o ataque da seção com grupos de fogo balanceados, mesmo quando a proporção de força é favorável, nem sempre é a melhor opção. Aqui nós vimos uma seção treinada e experimentada ser dizimada por causa de umas poucas falhas fundamentais. O problema principal, no entanto, nessa situação, é a exigência para cada soldado se expor, repetidamente, e achar uma nova posição de fogo. Isso, teoricamente, coloca cada um na mira do inimigo, em cada lanço. Em particular, num longo assalto, o risco para as metralhadoras leves da seção pode ser alto demais, elas são incômodas durante o fogo e movimento, exigem atiradores altamente aptos e habilidosos, e movê-las tão freqüentemente, quebra o potencial para fogo de apoio contínuo das mais efetivas armas supressivas da seção.
*

________________________

* Os Fuzileiros Navais americanos não estão muito satisfeitos com suas M249 SAW, eles notam que os metralhadores andam ficando para trás, durante os assaltos; e também que esse tipo de arma, só rende bem, se for guarnecida por dois homens (atirador e observador/municiador). Eles andaram estudando a adoção de fuzis automáticos pesados, por estes serem mais móveis e só exigirem um homem em seu manejo. Ainda que carecendo do poder de fogo das metralhadoras leves. Estas, por sua vez, poderiam ser tiradas dos GC e concentradas, ou numa esquadra de apoio, dentro do GC; ou num grupo de apoio, dentro do pelotão.

Infelizmente, o USMC não achou, ainda, nenhum FAP que satisfaça suas exigências. Por isso, vão continuando com as M249 dentro de suas Rifle Squad.




Carlos Mathias

#8 Mensagem por Carlos Mathias » Qua Abr 05, 2006 11:35 am

Eles andaram estudando a adoção de fuzis automáticos pesados


Não é que o EB acabou tendo razão em não aposentar seus FAP véio de guerra?




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#9 Mensagem por Clermont » Qua Nov 01, 2006 4:51 pm

O GRUPO DE COMBATE ROMANO.

O que fazia o legionário verdadeiramente efetivo na batalha era sua sensação de pertencimento à sua centúria, e em particular, ao seu contubernium. Tal identificação com a unidade e lealdade ao grupo de camaradas soldados era crucial para seu desempenho em batalha. O legionário lutava primeiro por seus camaradas, sua centúria e sua legião, depois por butim e glória, e em último pelo, freqüentemente distante, imperador e pela Res Publica (a “Coisa Pública”, ou o Estado romano).

Os elos próximos entre os oito homens do contubernium teriam sido fortes simplesmente em virtude de compartilharem, juntos, um único quarto abarrotado nos quartéis, ou uma tenda em campanha. O outro elo crucial de ligação do contubernium era o de ser um grupo de rancho. O Exército romano não possuía ranchos gerais para seus soldados, nenhuma sala de refeições em suas fortalezas ou facilidades semelhantes quando em campanha. Era esperado que os soldados romanos preparassem suas próprias refeições e que pagassem pela comida através de deduções em seus soldos. Além do prazer de comerem juntos, podemos imaginar os soldados discutindo (ou lamentando) os deveres diários: isso era essencial para o forjamento da identidade de grupo. Esses laços, criados dentro do forte ou do acampamento, no treinamento, nos deveres diários, e nos momentos de lazer e de refeições, na convivência próxima dos quartéis, inicialmente vinculava homens juntos, como camaradas. A guerra e a batalha solidificava tais elos. Os legionários na centúria lutavam eficazmente porque eram bem conhecidos uns pelos outros, como amigos e camaradas – a centúria não era uma unidade tão grande que se tornasse sem rosto e impessoal. Além do mais, os legionários tinham orgulho de sua identidade coletiva centurial. Eles eram sua própria elite dentro da legião e eram levados pelos elos de camaradagem a não deixar seus camaradas soldados caídos em batalha, a resistir e a lugar pelos homens à sua volta.

Os termos para camaradagem no Exército romano são notáveis.

Contubernalis, significando companheiro de tenda ou de rancho dentro do contubernium de oito legionários, expressava não apenas o laço mais básico social e de grupo, dentro da legião, mas também a dependência dos contubernales uns dos outros em batalha.

Commilito (camarada-soldado) era, talvez, o mais vinculante dos termos, pois se aplicava através de todo o espectro, desde o soldado comum (miles) até o general e, mais importante, ao imperador. Commilito expressava a unidade do exército e do respeito aos camaradas soldados, qualquer que fosse sua patente. Entretanto, uma das mais interessantes ocorrências do termo commilito é encontrada na urna funerária de um soldado dos tempos de Augusto. A brevidade desse texto enfatiza a morte injusta de um soldado por outro, no mesmo exército e a traição da camaradagem:

L. Hepenius L. f. ocisus ab comilitone [sic],

“Lúcio Hepênio, filho de Lúcio, morto por um camarada soldado.”

A urna foi descoberta numa tumba, em Asciano, à sudeste de Siena, e continha uma moeda datada de 15 AC, sugerindo que a morte ocorreu durante o reino de Augusto. Tem sido suposto que Hepênio fosse um pretoriano ou um soldado das Coortes Urbanas, que foi morto em Roma e cujas cinzas foram devolvidas para sua família para sepultamento.

Manipularis ou commanipularis (soldado no mesmo manípulo) implicava na confiança dos legionários sobre os outros, e de centúria sobre centúria, para o sucesso e a sobrevivência em batalha. O mais pungente termo, regularmente inscrito em pedras tumulares, era frater (irmão). Em muitos desses monumentos fica claro pelos diferentes nomes de família dos falecidos e dos herdeiros que eles não podiam ter sido irmãos de verdade, mas o termo expressa, com grande eloquência e simplicidade, os elos fundamentais entre camaradas. Se a legião pode ser descrita como uma sociedade, o contubernium era a família do legionário.

A fraternidade entre camaradas poderia se estender ao extremo do suicídio em massa. Em 28 DC, 400 auxiliares encurralados numa vila pelos frísios, escolheram lançar-se uns contra as espadas dos outros, antes de serem capturados pelo inimigo (Tácito, Anais, 4.73). Em 54 AC, uma das legiões de César e cinco outras coortes legionárias foram destruídas quando tentaram evacuar o território dos eburões. Alguns legionários conseguiram abrir caminho lutando e voltar para seu campo de inverno abandonado, e repelir os assaltos dos gauleses até o cair da noite, mas em preferência a serem avassalados, eles escolheram cometer suicídio (César, Guerras Gálicas, 5.37). Apiano nos dá a perspectiva da visão do soldado sobre o suicídio. Ele relata que os soldados da renomada Legio “Martia” cometeram suicídio em desafio do que eles viam como uma morte inútil quando seus navios de transporte foram incendiados e afundados pela frota de Sexto Pompeu, em 42 AC:

“Alguns dos soldados, especialmente os marcianos, que excediam em bravura, ficaram exasperados em perder suas vidas inutilmentem e, portanto, mataram-se [de preferência] a serem queimandos até a morte. Outros saltaram à bordo dos vasos do inimigo, vendendo caro suas vidas”. (Apiano, Guerras Civis, 4.116).

A escolha do suicídio parece ter sido bem honrosa, um meio de roubar ao inimigo, a vitória total e podia mesmo ser vista como um modo de manter a honra do exército. Durante o cerco de Jerusalém, os judeus encurralaram um grande número de soldados romanos ao atear fogo ao pórtico no qual eles estavam lutando, cortando sua linha de retirada. A maioria queimou até a morte ou foi abatida pelos judeus, mas Longo escapou:

“Os judeus, em admiração pela perícia de Longo e de sua inabilidade para matá-lo, o instaram a descer... garantindo sua vida. Seu irmão, Cornélio...implorou-lhe que não desgraçasse sua própria reputação ou a das armas romanas. Influenciado por sua palavras, ele brandiu sua espada, em vista de ambos os exércitos e matou-se. (Josefo, Guerras Judaicas, 6.185-88).

Acima de tudo, tais episódios ilustram como os laços que vinculavam uma unidade, permaneciam, mesmo em tempos de grande tensão e terror, que um homem iria preferir morrer num pacto com seus camaradas soldados do que ser pego pelo inimigo. Mesmo o suicídio estimulado pela vergonha, por exemplo aquele de um soldado aparentemente covarde, relembrado por Suetônio (Oto, 10), podia ser visto como redentor e como a expressão última da camaradagem. Suetônio Laeto, pai do biógrafo Suetônio, serviu como legado da legio XIII “Gemina”, durante a guerra civil de 69 DC. Ele relembra um episódio quando um mensageiro relatou ao imperador Oto a derrota de suas forças próximo à Cremona:

“Quando a guarnição [em Brixellum] o chamou de mentiroso e de desertor covarde, o homem lançou-se sobre sua própria espada, aos pés de Oto. Ao ver isso, Oto, meu pai relatou, gritou que nunca mais iria arriscar as vidas de homens de tal coragem, que mereciam melhor. (Suetônio, Oto, 10). O próprio Oto acabaria por cometer suicídio.

Em tempo de guerra, o conceito de fraternidade era estendido e os soldados lutavam em apoio de outras unidades tanto como de seus camaradas imediatos. Um notável exemplo ocorreu em 28 DC, quando durante uma desastrosa batalha travada, principalmente, entre unidades auxiliares contra os frísios, a legio V montou um contra-ataque e livrou um grande número de auxiliares. Entretanto, 900 auxiliares não puderam escapar e lutaram até o fim (Tácito, Anais, 4.73; não confundir com os 400 que cometeram suicídio). O epitáfio de Veleio Patérculo para as XVII, XVIII e XIX legiões perdidas em 9 DC, indica a coesão delas como grupo de batalha: “Eles eram os mais bravos de todos os exércitos.” (2.119.2).




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#10 Mensagem por Lauro Melo » Qua Nov 01, 2006 6:51 pm

Ótimo Clermont !!!!




"Os guerreiros não caem se ajoelham e levantam ainda mais fortes."
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#11 Mensagem por Clermont » Qui Jan 18, 2007 12:34 pm

”O CABO ESTRATEGISTA": LIDERANÇA NA GUERRA EM TRÊS BLOCOS.

Pelo general Charles C. Krulak – Marines Magazine, janeiro de 1999.

Operação “Absolute Agility”.

0611: O sol africano acabou de subir acima das colinas rodeando a cidade e envia seus raios pelas vielas empoeiradas. O cabo Hernandez, cara ao sol, sabia que hoje irá, de novo, ser de derreter. Ele era um líder de GC no 2º Pelotão, Companhia “L” (Lima) e tinha, junto com seus homens, passado uma noite insone no perímetro. Na última semana, seu pelotão tinha providenciado segurança para os trabalhadores da Organização de Socorro Internacional (IRO, ou International Relief Organization) que guarneciam um dos três pontos de distribuição de comida no Setor Americano de Tugala – a capital de Orange, devastada pela guerra – uma nação centro-africana assolada pela desordem civil e a fome.

A situação em Orange tinha transfixado o mundo por quase dois anos. Sangrentas lutas tribais haviam levado, primeiro ao total colapso do governo e economia, e por fim, a fome disseminada. Esforços internacionais para debelar a violência e apoiar o hesitante governo tinham fracassado, e o país havia mergulhado no caos. Os Estados Unidos finalmente tinham sido compelidos a intervir. Uma Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais (Capacitada para Operações Especiais) (ou MEU-SOC, Marine Expeditionary Unit – Special Operations Capable) em desdobramento avançado, foi ordenada a apoiar os esforços da ineficiente Força Multinacional Regional (RMNF, ou Regional Multi-National Force). A chegada da MEU tinha estabilizado a situação e permitido que os preciosos suprimentos de socorro finalmente alcançassem o povo que mais precisava deles.

O Ponto de Distribuição de Comida (FDP, ou Food Distribution Point) guarnecido pelo 2º Pelotão servia mais de 5 mil pessoas diariamente. Os fuzileiros navais tinham, no começo, ficado chocados pela extensão do sofrimento, pelo fluxo constante de homens e mulheres desnutridos,e pelas barrigas distendidas e faces chupadas das crianças. O fluxo de comida e suprimentos médicos tinha, no entanto, um impacto dramático. O sombrio tributo diário de morte tinha, lentamente, começado a decair e a cidade tinha começado a recuperar algum senso de normalidade. Dentro de um mês as vidas dos fuzileiros navais tinham assumido uma espécie de rotina cega. O cabo Hernandez removera seu capacete e descansava a cabeça contra a parede enlameada da casa na qual seu GC estava aboletado e aguardando que suas MREs (Refeição Pronta para Consumo, ou Meals Ready to Eat) fossem aquecidas; satisfeito por e ele e seus camaradas navais estarem fazendo a diferença.

0633: A poeira e o estrondo de meia-dúzia de caminhões de 5 ton entrando na praça do mercado chamou a atenção do cabo Hernandez. Escoltado por fuzileiros navais, o comboio trazia comida e suprimentos médicos que significavam vida ou morte para os habitantes da devastada vizinhança. Com eles vieram, também, novas da vida além dos confins desse pequeno canto de Orange e informações úteis no que concernia a disposição das facções opostas que lutavam pelo seu controle. Hoje, o comandante do comboio tinha notícias perturbadoras para o comandante do pelotão, 2º tenente Franklin. Membros da facção OWETA, liderados pelo renegado senhor da guerra Nedeed, tinham sido observados concentrando-se próximo ao rio que dividia a capital ao meio e marcava a fronteira separando o território da OWETA daquele de seu principal rival. Nedeed criticava de há muito a presença da RMNF e, com freqüência, tinha alvejado seu pessoal. Embora ele tivesse, vigorosamente, denunciado a presença de forças dos EUA, ele tinha, até então, se refreado de alvejar pessoal americano. Como a fome se tornasse uma preocupação menor, no entanto, tensões tinham começado a subir e havia um temor crescente de que hostilidades abertas irrompessem novamente e que o ataque a pessoal da RMNF e da MEU fosse cada vez mais provável.

O tenente Franklin passou o relato a seu comandante de companhia e, então, concentrou seus líderes de GC para revisar a situação em desenvolvimento. O 1º GC recebeu ordens para se mover cerca de 400 m ao norte e guarnecer um bloqueio rodoviário no Ponto de Checagem Charlie (Checkpoint Charlie). Cabo Hernandez voltou à sua posição, relutantemente descartou sua MRE não consumida, e preparou seus navais para se movimentarem. O caminho até o cruzamento rodoviário em CP Charlie foi tranqüilo e levou menos de dez minutos. O GC já tinha guarnecido o posto antes e estava familiarizado com a rotina. Barricadas pré-montadas foram movidas com rapidez, para seus lugares assegurando a rua para tráfego veicular e uma rede de concertina tripla foi estendida de modo a controlar o movimento pedestre. O cabo Sley e sua esquadra de tiro (ou fire team, das quais, três formam o GC dos Fuzileiros Navais) se moveram uma centena de metros ao norte e estabeleceram um Posto de Observação (PO) no teto de um prédio de dois andares que fornecia excelente campo de visão. Por volta das 0700, o GC estava em posição. Nessa hora, a cidade ainda estava quieta, e excepto pelo relatório de inteligência concernente a atividade da OWETA, não havia evidência de que esse dia seria diferente de qualquer outro. Os fuzileiros navais do 1º Grupo de Combate posicionaram-se para mais outro longo dia quente de dever tedioso.

0903: Pela nove em ponto, a grande multidão normal, na maioria mulheres e crianças com cestos na mão, tinha se concentrado para aguardar passagem através do posto de checagem. As ordens dos fuzileiros navais eram claras: eles deviam negar acesso a qualquer um portando armas e estar alerta para quaisquer indicações de problemas em potencial. Suas Regras de Engajamento (ROE, ou Rules Of Engagement) eram sem ambigüidades: qualquer um observado com uma arma automática devia ser considerado hostil, como qualquer um que ameaçasse intencionalmente pessoal dos Fuzileiros Navais. O Comandante da MEU tinha deixado claro essa política em encontros com cada um dos senhores da guerra, nos primeiros dias do desdobramento. Suas diretivas tinham rendido dividendos e, até aquela data, nenhum elemento da MEU tinha sido ferido por fogo de armas leves. As facções tinham mantido um perfil baixo no setor americano e não tinham interferido com aqueles comboios acompanhados por fuzileiros navais. Tal não era o caso, no entanto, nos setores adjacentes, onde pessoal da RMNF, com freqüência, tinha sido visado por emboscadas e fogo de tocaieiros. Os Fuzileiros Navais tinham ficado em alerta.

0915: O cabo Sley reportou de sua posição no telhado que a multidão era especialmente grande e incluía uma incomumente alta proporção de homens jovens. Ele sentia uma agourenta mudança na atmosfera. Menos de um quilômetro distante, ele podia ver as viaturas da gangue de Nedeed se concentrando no lado mais distante da ponte sobre o rio que separava as facções OWETA e Mubasa. Ele repassou suas suspeitas ao seu líder de GC, “Algo grande está para acontecer.” O dia prometia ser uma ruptura com a rotina.

0921: O cabo Hernandez prontamente retransmitiu o relato e as preocupações de Sley ao seu comandante de pelotão e soube pelo tenente Franklin que o principal rival de Nedeed – Mubasa – estava se movendo para oeste rumo a CP Charlie. As intenções de Mubasa pareciam claras; sua rota iria trazê-lo diretamente a CP Charlie e para uma colisão final com Nedeed. A posição do 1º GC, à cavaleiro das duas MSRs (Main Supply Route, ou Rota de Suprimentos Principal) o colocava diretamente entre os clãs rivais. O tenente Franklin instruiu Hernandez a estender o bloqueio rodoviário para cobrir a estrada entrando no cruzamento pelo oeste e indicou que ele e o 2º GC do sargento Baker estavam à caminho para reforçá-lo. O cabo Hernandez podia sentir a tensão crescer. A multidão tinha ficado mais agitada, ciente de que os homens de Mubasa estavam próximos e preocupada que a vital distribuição de comida podesse ser desorganizada. Os jovens tinham começado a entoar slogans anti-americanos e atirar pedras nos aturdidos fuzileiros navais. O cabo Hernandez sentia que a situação estava escapando ao seu controle e decidiu fechar a estrada completamente. Com grande dificuldade, as barreiras foram transferidas e a concertina estendida por todo o estreito ponto de acesso. A multidão irrompeu em protestos e pressionou à frente.

0931: Acima, as lâminas giratórias de um helicóptero UH-1 da IRO foram ouvidas, mas fracassaram em distrair a multidão. Suas pragas e cânticos, no entanto, foram sufocados por um instante, pelo som e ondas de choque de uma explosão. O hlcp tinha, aparentemente, sido atingido por fogo terrestre, possivelmente um RPG, havia irrompido em chamas e caído em espiral rumo ao chão, vários quarteirões à leste do PO. O cabo Sley tinha observado a queda de seu ponto vantajoso no topo do edifício e viu, para seu alívio, que ao menos dois sobreviventes tinham saído dos destroços flamejantes. Seu alívio, no entanto, teve vida curta. À distância, ele pôde ver os homens de Nedeed correndo através da ponte. Sley, urgentemente, requisitou permissão para se mover de imediato para assistir a tripulação do hlcp abatido.

0935: Enquanto o cabo Hernandez considerava a possibilidade de uma tentativa de resgate, a situação assumia outra séria reviravolta; três viaturas carregadas com homens de Mubasa e seguida de perto por uma equipe de filmagen da INN, tinha chegado à cena. Brandindo armas automáticas e RPGs, eles forçaram suas viaturas através da multidão até que o pára-choque do caminhão da ponta, descansasse contra a barricada. Com a chegada deles, a já agitada turba abandonou todas as restrições. A ocasional pedra tinha, agora, se tornado uma constante chuva de projéteis bem-mirados. Uma atingiu o cabo-arvorado Johnson no rosto. O ferimento resultante, embora não sério, sangrava em profusão e acrescentava ao alarma crescente. De alguma forma, a visão do sangue escorrendo pelo rosto do jovem fuzileiro naval, alimentou a excitação da turba e aumentou o pânico que crescia dentro do grupo de combate. O que havia começado como outro dia de rotina da assistência humanitária estava, rapidamente, se tornando outra coisa, inteiramente diferente. Um coquetel-molotov chocou-se com a posição sem ferir ninguém, mas contribuiu mais para a confusão. Os navais do 1º GC olhavam uns para os outros e então para o cabo Hernandez. Ele, de modo tranqüilizador, devolvia o olhar para cada homem, sabendo melhor do que qualquer deles de que o destino do grupo, da tripulação ferida da IRO, e talvez, de toda a missão multinacional, estava na balança. Em pouco menos do que três horas, ele tinha visto uma missão de assistência humanitária dar terrivelmente errado e caminhar à passos largos para o desastre. O cabo Hernandez estava face à face com os graves desafios da guerra em três blocos e suas ações, nos próximos poucos minutos iriam determinar o resultado da missão e ter, potencialmente, implicações estratégicas.

A Guerra de Três Blocos

A missão fictícia acima – Operação “Absolute Agility” – é similar a muitas que tem sido conduzidas em volta do mundo em anos recentes e representa o provável campo de batalha do séc. XXI. Ela também representa, em detalhes gráficos, as enormes responsabilidades e pressões que serão depositadas sobre nossos jovens líderes fuzileiros navais. A rápida difusão de tecnologia, o crescimento de uma multitude de fatores transnacionais, e as conseqüências da crescente globalização e interdependência econômica, resultaram em criar desafios de segurança nacional notáveis por sua complexidade. Por volta de 2020, oitenta e cinco porcento dos habitantes do mundo estarão aglomerados em cidades costeiras – cidades geralmente carecendo da infraestrutura exigida para apoiar suas inchadas populações. Sob tais condições, tensões étnicas, nacionalistas e econômicas, há muito reprimidas, irão explodir e aumentar o potencial de crises exigindo intervenção dos EUA. Compondo os desafios apresentados por essa crescente instabilidade global estará a emergência de um campo de batalha cada vez mais complexo e letal. A difundida disponibilidade de armas e equipamento sofisticados irá “nivelar o campo de jogo” e negar nossa tradicional superioridade tecnológica. As linhas separando os níveis de guerra, e distinguindo combatente de “não-combatente”, irão se obscurecer, e os adversários, perturbados por nossa superioridade “convencional”, irão recorrer aos meios assimétricos para redefinir o equilíbrio. Complicando mais a situação estará a ubíqua mídia cuja presença irá significar que todos os futuros conflitos irão ser encenados diante de uma audiência internacional.

As respostas às crises modernas são empreendimentos excessivamente complexos. Na Bósnia, Haiti e Somália, os desafios únicos das operações militares que não sejam guerras (MOOTW, ou military operations other-than-war) foram combinados com os diversos desafios díspares de conflitos de média-intensidade. O Corpo de Fuzileiros Navais descreve tais conflitos amorfos como – A Guerra em Três Blocos – contingências nas quais os Fuzileiros Navais podem ser confrontados por todo o espectro de desafios táticos na extensão de umas poucas horas e dentro do espaço de três quarteirões de cidade contíguos. A trágica experiência das forças americanas na Somália durante a Operação “Restore Hope” ilustra bem a natureza volátil dessas operações contemporâneas. O soberbo relato do autor Mark Bowdens da “Batalha de Mogadíscio”, em “Blackhawk Down”, é uma história arrebatadora e que serve como prevenção e amargo lembrete da imprevisibilidade das assim chamadas operações que não sejam guerras. Ela é leitura essencial para todos os fuzileiros navais.

A inescapável lição da Somália e de outras operações recentes, sejam de assistência humanitária, manutenção da paz ou de guerra tradicional, é que seu resultado pode se apoiar nas decisões tomadas pelos líderes de frações, por ações tomadas ao nível mais básico. O Corpo de Fuzileiros Navais é, intencionalmente, uma força relativamente jovem. Sucesso ou fracasso irão repousar, cada vez mais, com o membro de GC e com sua habilidade para tomar a decisão certa na hora certa no ponto de contato. Semelhante ao cabo Hernandez em CP Charlie, os fuzileiros navais de hoje em dia, irão, com freqüência, operar bem longe “dos estandartes” sem a supervisão direta da liderança superior. E, como cabo Hernandez, eles serão solicitados a lidar com um espantoso conjunto de desafios e ameaças. De modo a ter sucesso sob tais condições exigentes, eles precisão ter maturidade, julgamento e força de caráter, resolutas. E mais importante, tais missões irão exigir deles que tomem decisões bem-fundamentadas e independentes sob tensão extrema – decisões que irão, provavelmente, estar sujeitas a áspero escrutínio de ambos, a mídia e o tribunal da opinião pública. Em muitos casos, o fuzileiro naval individual irá ser o mais conspícuo símbolo da política externa americana e irá, potencialmente, influenciar não somente a imediata situação tática, mas os níveis operacional e estratégico igualmente. Suas ações, portanto, irão impactar, diretamente, sobre o resultado da operação maior; e ele irá se tornar, como sugere o título do artigo – o Cabo Estrategista.

O Cabo Estrategista.

Lamentavelmente, o fim da Guerra Fria não anunciou a esperada era de paz, mas, antes, uma era de atribulações caracterizada pela desordem global, crise pervasiva, e a constante ameaça do caos. Desde 1990, o Corpo de Fuzileiros Navais tem respondido a crises num índice três vezes maior daquele da Guerra Fria – na média, uma vez a cada cinco semanas. Em qualquer dia determinado, até 29 mil navais estão pré-desdobrados em volta do mundo. Em lugares muito distantes como Quênia, Indonésia e Albânia, eles tem de ficar cara-a-cara com os desafios hostis e desorientadores do caótico mundo pós-Guerra Fria para os quais as “regras” ainda tem de ser escritas. A guerra em três blocos não é, simplesmente, uma metáfora fantasiosa para conflitos futuros – ela é uma realidade. Como o cabo Hernandez, os fuzileiros navais de hoje, já encontraram seus grandes desafios e eles tem sido instados a exercitar um excepcional grau de maturidade, contenção e julgamento.

Os fuzileiros navais, é claro, tem sempre brilhado mais intensamente quando a parada é mais alta. Os praças graduados que lideraram os sanguinolentos assaltos sobre posições de metralhadoras alemãs em Belleau Wood, intuitivamente compreendiam a importância de seu papel. Os navais do II Batalhão do 28º de Fuzileiros Navais, que escalaram as alturas varridas pelo fogo do Monte Suribachi não precisaram de ninguém que enfatizasse a necessidade de iniciativa. Os fuzileiros navais do Reservatório Chosin, da Cidade de Hue, e das incontáveis outras batalhas através dos anos não esperaram serem lembrados de suas responsabilidades individuais. Eles se comportaram como os fuzileiros navais sempre se comportaram, e como nós esperamos que os fuzileiros navais de hoje e de amanhã, se comportem... com coragem, com agressividade e com resolução. Os futuros campos de batalha nos quais os Fuzileiros Navais lutarão irão ser, cada vez mais, hostis, letais e caóticos. Nosso sucesso se apoiará, como sempre tem sido, na liderança de nossos fuzileiros navais subalternos. Nós precisamos nos assegurar que eles estejam preparados para liderar.

Como iremos preparar os fuzileiros navais para o campo de batalha assimétrico, complexo e de alto-risco da guerra em três blocos? Como vamos desenvolver líderes subalternos para lidar, decisivamente, com o tipo de desafio do mundo real confrontando o cabo Hernandez? O primeiro passo do processo não muda. Homens e mulheres de caráter, ousados, capazes e inteligentes são atraídos para o Corpo e remoldados no caldeirão do treinamento de recrutas, onde métodos honrados pelo tempo instilam bem fundo neles o permanente ethos do Corpo. Honra, coragem e empenho se tornam mais do que meras palavras. Essas virtudes preciosas, de fato, se tornam os aspectos definidores de cada fuzileiro naval. Essa ênfase sobre o caráter permanece o fundamento sobre o qual tudo o mais é construído. A ativa sustentação do caráter em cada fuzileiro naval é uma competência institucional fundamental – e com boa razão. Com mais freqüência do que nunca, as questões realmente duras a confrontar os fuzileiros navais irão ser dilemas morais, e eles precisam ter o instrumental com o qual lidar com elas de modo apropriado. Enquanto uma visceral apreciação por nossos valores-núcleo é essencial, eles, sozinhos, não vão assegurar o sucesso de um indivíduo em batalha ou numa miríade de contingências potenciais aquém do combate. Muito, muito mais é exigido para se preparar, totalmente, um fuzileiro naval para os rigores do campo de batalha do amanhã.

Um empenho com o desenvolvimento profissional por toda a vida é o segundo passo na estrada para a construção do Cabo Estrategista. O realinhamento dos programas de instrução de Treinamento de Recrutas e Treinamento de Combate de Fuzileiros Navais revela nosso revigorado foco sobre o treinamento individual. Esses programas permanecem os mais importantes degraus no processo metódico de desenvolvimento de fuzileiros navais capacitados. Nossas Escolas Formais, unidades de treinamento, programas de educação e os esforços individuais em educação profissional construídos sobre os sólidos fundamentos assentados no treinamento de recrutas, sustentam o crescimento da proficiência técnica e tática e da robustez mental e física. O traço comum unindo todas as atividades de treinamento está na ênfase no crescimento da integridade, coragem, iniciativa, decisão, agilidade mental e responsabilidade pessoal. Tais qualidades e atributos são fundamentais e precisam ser agressivamente cultivadas dentro de todos os fuzileiros navais, do primeiro dia de seu alistamento até o último.

A liderança, é claro, permanece a moeda de troca do Corpo, e seu desenvolvimento e sustentação é o terceiro e final degrau na criação do Cabo Estrategista. Por duzentos e vinte e três anos, em campos de batalha espalhados por todo o globo, os fuzileiros navais tem estabelecido os mais altos padrões de liderança de combate. Nós somos inspirados pelo exemplo deles e confiantes de que os fuzileiros navais de hoje e de amanhã, irão ascender as mesmas alturas elevadas. A lição clara de nosso passado é que o sucesso em combate, e nos quartéis quanto a isso, repousa com nosso líderes mais subalternos. Com o passar dos anos, entretanto, uma percepção tem crescido de que a autoridade de nossos praças graduados tem sido erodida. Alguns acreditam que nós, lentamente, os despimos de liberdade, do poder discricionário, e da autoridade necessária para fazerem o seu trabalho. Tal percepção precisa ser destruída. Os vestígios remanescentes da “mentalidade de defeito zero” precisam ser trocados por um ambiente no qual seja concedido a todos os fuzileiros navais a “liberdade de falhar” e com isso, a oportunidade de ter sucesso. Micro-administração precisa se tornar uma coisa do passado e a supervisão – essa espada de dois gumes – precisa ser complementada por um aconselhamento pró-ativo. E mais importante, nós precisamos, agressivamente, dar poderes aos nossos praças graduados, mantê-los estritamente responsáveis por suas ações, e permitir que o potencial para liderança, dentro deles, floresça. Essa filosofia, refletida numa recente entrevista da Navy Times como “Poder aos Debaixo”, é central para nossos esforços para sustentar a transformação que se inicia com o primeiro encontro com um fuzileiro naval recrutador. Cada oportunidade deve ser agarrada para contribuir para o crescimento do caráter e liderança dentro de cada fuzileiro naval. Nós precisamos lembrar desse simples fato, e também lembrar que os líderes são julgados, no fim de tudo, pela qualidade da sua liderança refletida em seus subordinados. Nós também precisamos lembrar que o Cabo Estrategista irá ser, acima de tudo mais... um líder de fuzileiros navais.

Conclusão.

E quanto ao cabo Hernandez? Embora sua difícil situação seja, com certeza, desafiadora, não é implausível. O que ele fez? Primeiro, ele, rapidamente, revisou o que sabia. Ele sabia que o local da queda estava localizado dentro do setor da unidade adjacente da RMNF e que ela guarnecia os postos de checagem ao longo da rota de Nedeed até o hlcp abatido. Ele sabia que qualquer troca de tiros com os pistoleiros de Mubasa iria, provavelmente, levar a baixas civis e arriscar os sucesso da missão humanitária. Segundo, ele considerou o que ele não sabia. Ele estava incerto ou das intenções de Nedeed ou de Mubasa, ou da possibilidade de uma tentativa de resgate. Baseado nessas considerações e na miríade de outras fatores tangíveis e intangíveis, ele completou uma rápida avaliação da situação – e agiu. O cabo Sley foi instruído a manter sua posição no topo do edifício e continuar a monitorar o progresso de Nedeed e a situação das baixas. Hernandez então, mudou as freqüências e contactou o elemento de ligação dos Fuzileiros Navais com a unidade adjacente da RMNF e descobriu que eles já tinham despachado pessoal médico para o local do acidente do hlcp, mas não estavam cientes dos movimentos de Nedeed e agora, graças ao aviso de Hernandez, iriam reforçar os postos de checagem apropriados. Pelo tempo da conclusão da transmissão, o tenente Franklin tinha chegado com o GC adicional. Com eles, veio um líder da vizinhança que havia, anteriormente, atuado como intérprete e mediador. Os homens de Mubasa, aparentemente, desconfortáveis com a mudança das circunstâncias, começaram, lentamente, a se retirar. O mediador, uma figura reconhecida e respeitável na comunidade, recebeu um megafone e se dirigiu a multidão. Em minutos, a situação era difusa: os homens de Mubasa partiam, a multidão se acalmava, e o pessoal da RMNF tinha alcançado o local da queda. Por uns poucos e tensos minutos, no entanto, o destino tanto do 1º Grupo de Combate e de toda a missão tinha repousado na balança e nas ações de um jovem líder fuzileiro naval. Como era esperado, nosso Cabo Estrategista – firmemente ancorado em nosso ethos, meticulosamente escolado e treinado, dotado com o melhor equipamento disponível, infinitamente ágil, e acima de tudo o mais, um líder na tradição dos Fuzileiros Navais de outrora... tomou a decisão correta.




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#12 Mensagem por Clermont » Qui Fev 15, 2007 11:29 pm

OPERAÇÕES ESPALHADAS, BOBAGEM?

William Lind – 13 de fevereiro de 2007.

Por alguns anos, o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos esteve brincando com um conceito chamado de “Operações Espalhadas” (“Distributed Operations”). Em 11 de janeiro, ele emitiu um curto documento com a assinatura do tenente-general J.F. Amos, grandiosamente intitulado “Comandante Para Integração e Desenvolvimento de Combate” (eu posso lembrar quando os Fuzileiros Navais teriam engasgado com um título assim) que define e explica o conceito. Bem, mais ou menos.

Para entender o documento, um pouco de retrospectiva ajuda. Há duas definições potenciais de operações espalhadas, uma que leva o Corpo de Fuzileiros Navais à frente de modo importante e outra que é, essencialmente, uma fraude. Na primeira, operações espalhadas é, apenas, um nome novo para a verdadeira infantaria Jäger [”caçadores”, em alemão] ou ligeira. Enquanto ambos, o Corpo de Fuzileiros e o Exército americanos chamam sua infantaria à pé de “ligeira”, em termos de táticas ela é infantaria de linha. A verdadeira infantaria ligeira sempre tem combatido espalhada, com frações operando além do alcance de apoio mútuo ou de armas de apoio. Essas frações tem dependido de suas próprias armas, vivendo em grande parte da terra e lutando muito similarmente à guerrilheiros, com táticas baseadas numa disposição mental para emboscadas. Mesmo no século XVIII, a infantaria ligeira utilizava táticas que nós consideraríamos modernas; veja o livro de J.F.C. Fuller, “Infantaria Ligeira britânica no século XVIII”, ou o fascinante diário de um capitão Jäger hessiano na Revolução Americana, Johann Ewald.

Se o Corpo de Fuzileiros Navais adotar autênticas táticas de infantaria ligeira sob o rótulo “operações espalhadas”, ele extenderá sua doutrina de guerra de manobras em um sentido lógico e útil. Ele poderia, também, adaptar sua infantaria para a guerra de Quarta Geração; como o FMFM-1A (manual de campanha dos Fuzileiros Navais), observa o que os Estados Unidos mais precisam para enfrentar inimigos de Quarta Geração é de um bocado de infantaria ligeira.

Mas há outra definição de operações espalhadas, oculta nos cantos escuros de Quantico. Essa definição usa operações espalhadas como a nova palavra da moda para o Sea Dragon, um pseudo-conceito que o Corpo de Fuzileiros Navais trouxe com os anos 1990 para justificar programas. O Sea Dragon enviaria pequenas esquadras de fuzileiros navais vagueando pelo terreno, essencialmente como observadores avançados, cujo propósito seria solicitar fogo remoto, de alta tecnologia.

Ao contrário da infantaria ligeira, as esquadras não poderiam depender de suas próprias armas, o que significaria que, pelo tempo em que o fogo de alta tecnologia chegasse, elas estariam mortas. O Sea Dragon representa o sonho molhado final do Exército francês dos anos 1930, um exército reduzido a nada mais do que observadores avançados e artilharia. Isso sempre foi conversa fiada.

Então, à que o documento de 11 de janeiro se refere? Infelizmente, ele é confuso demais para dizer. De um lado, ele inclui uma longa citação de meu velho amigo, Jeff Record, sobre a importância da infantaria ligeira em pequenas guerras. De outro, ele inclui uma longa lista dos usuais programas engolidores de dinheiro grande... “MRAP, EFV, JLTV, LAV, V-22, CH53K,”, zeppelins classe L-70 etc.,... o que as operações espalhadas supostamente justificariam. Estranhamente, infantarias ligeiras bem sucedidas como a do Hezbolllah não tem nenhuma dessas Wunderwaffes. Esse tipo de justificação aleatória de programas cheira suspeitamente, como um desenterrado Sea Dragon.

O documento fornece uma definição formal de operações espalhadas que não clarifica nada, além da continuada confusão intelectual e da inabilidade dos Fuzileiros Navais em escrever:

“Operações espalhadas se constituem em uma técnica aplicada para uma situação apropriada na qual unidades estão separadas além dos limites para apoio mútuo. Operações espalhadas são praticadas por forças de emprego geral, operando com dispersão deliberada, quando necessário e taticamente prudente, e com tomada de decisões descentralizada, consistente com a intenção do comandante para obter vantagens sobre um inimigo no tempo e no espaço. Operações espalhadas se baseiam na habilidade e julgamento dos fuzileiros navais em cada escalão e são particularmente aptas devido à excelência em liderança, para assegurarem a habilidade de compreender e influenciar um ambiente operacional expandido.”

De um lado, a referência à unidades operando além do apoio mútuo sugere uma autêntica infantaria ligeira. De outro, nada pode ser mais errôneo que a sugestão de que qualquer um, isto é, “forças de emprego geral”, pode operar como infantaria ligeira. Táticas Jäger exigem treinamento extensivo e um nível muito alto de experiência. Alguém poderia perguntar quem teria escrito essa definição, um JAG? [”Judge Advocate General”, o corpo de promotores de justiça militares americanos.]

No fim, o documento de 11 de janeiro deixa as operações espalhadas, ainda equilibradas no fio da navalha entre um maior passo à frente, adaptando-se à guerra de Quarta Geração e um mergulho na pior espécie de tagarelice justificadora de programas da Avenida Madison. Se Quantico quer mover as operações espalhadas na direção que elas devem ir, precisa colocá-las bem longe dos usuais coronéis, contratantes e consultores e dá-las a um pequeno grupo de comandantes de batalhão e companhia, acabados de retornar do Afeganistão e do Iraque, fornecendo àqueles, em troca, uma pilha de livros sobre a história da infantaria ligeira.

General Amos, a bola está com você.




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#13 Mensagem por Clermont » Qua Ago 08, 2007 7:46 pm

A ESCOPETA TÁTICA EM GUERRA DE RUA.

Por Ryan J. Morgan – Infantry Magazine novembro-dezembro de 2004.

Minha companhia de fuzileiros da Infantaria de Assalto Aéreo encarou muitos desafios durante a Operação IRAQI FREEDOM. Não sendo o menor deles o fato de que sabíamos que iríamos ter de entrar e limpar edifícios em guerra de rua. Esses edifícios variavam em tamanho e formato da casa padrão com um muro exterior à hotéis e universidades de múltiplos andares. Através de todos eles, os GCs encarregados de entrar e limpar essas complexas estruturas se desempenharam soberbamente, ao adaptar-se à situação e sempre completar a missão.

A escopeta mostrou ser uma arma muito útil para minha companhia. Nós conduzimos operações urbanas em cinco cidades durante a Operação IRAQI FREEDOM. Para todas essas missões, a escopeta foi a mais versátil arma em nosso arsenal. O problema era que apenas haviam duas na companhia. Isso resultou ou no GC e pelotão retardarem seu momento para levar a escopeta à frente, resultando em que o soldado ficava exaurido; ou conduzindo entradas martelando, continuamente, a fechadura ou a porta, meios que não permitem a surpresa. O pano de fundo é de que a escopeta devia ser uma arma de GC. Cada líder de GC devia ter a opção de ter essa arma em seu grupo.

Arrombar portas ou portões não tem a mesma ênfase colocada que a real limpeza de recintos tem. Tradicionalmente, os manuais de campanha cobrindo esse treinamento tem soldados indo através dos movimentos; muito pouco, se qualquer, treinamento prático é feito para arrombar portas e fechaduras. O FM 7-8 (manual de campanha) não trata de “como fazer” para arrombar uma porta, ele, meramente, declara que o “GC entra e limpa todas os recintos subseqüentes...” As razões para isso, são muitas. Pode haver uma carência de fechaduras para praticar corte, ou o controle da raia de tiro pode não permitir às unidades atirar em portas na casa de tiro. O tempo pode não ser o bastante para permitir a uma unidade arrombar e reconstruir portas para cada GC. Nunca há explosivo o bastante para praticar entradas além dos auxiliares de treinamento inertes. No entanto, baseado em observações e experiências no Iraque, eu vi um modo mais fácil: a escopeta tática. Graças ao FM 3-06.11, “Armas Combinadas em Terreno Urbano”, finalmente tem-se alguma ênfase e explanação sobre alguns “como fazer” para irromper. O FM 3-06.11 explica os três tipos de entrada; balística, explosiva e mecânica, com a maioria dessas duas páginas cobrindo a entrada balística.

No Iraque.

Durante operações urbanas no Iraque, 90 % ou mais dos arrombamentos de porta executados pelos meus grupos de combate, foram com a escopeta. Nós tínhamos outros meios de arrombamento, um sendo o conjunto Hallagan, também conhecido como os “instrumentos dos Hooligans”. Este é um conjunto de ferramentas portadas por um soldado consistindo de uma marreta leve, um pequeno conjunto de cortadores de correntes e, é claro, a ferramenta Hallagan.

A ferramenta de ruptura Hallagan é um pé-de-cabra modificado, feito de material não-faiscante com um espigão extra e um enxó em forma de cunha numa ponta para adicional alavancagem. Ele também tem uma haste de fibra de vidro com um cabo emborrachado, que é isolante e reforçado para grandes trabalhos de alavancagem. A ferramenta Hallagan trabalha muito bem com portas de madeira e outras fracas barreiras, entretanto, ela é menos efetiva sobre portas de metal e portões. Outra ferramenta é, obviamente, a carga de demolição. Material de demolição estava em falta para ação de entrada devido à grande quantidade de depósitos de armas que estávamos destruindo. O ressuprimento para material de demolição era imprevisível, e os GCs tinham de achar uma alternativa. O ombro de um infante também funciona como ferramenta de arrombamento; no entanto, essa técnica pode se tornar dolorosa com o homem de ruptura entrando, se não caindo, dentro do recinto primeiro. Eu acredito que a maioria dos infantes iria considerar isso inaceitável. Tudo nos deixa com a escopeta.

As escopetas de nosso batalhão eram orgânicas da companhia de comando. Quando o desdobramento se aproximava, os comandantes de companhia requisitavam que duas escopetas fossem designadas para cada companhia de linha, como meios alternativos de arrombamento. O treinamento, no terreno, para a utilização da escopeta no pelotão era limitado a adestramentos de reflexos, e Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTPs) de um coletivo de antigos soldados de batalhões Ranger, antigos oficiais de polícia e outros que tinham algum treinamento com uma escopeta. Portanto, enquanto cruzávamos a fronteira para dentro do Iraque, cada companhia tinha entre quatro a seis soldados treinados no uso limitado da escopeta em um ambiente tático.

Compreendam que o GC de nove homens, delineado nos manuais para táticas de infantaria é a exceção antes do que a regra. Na minha companhia, as únicas frações completas eram as seções de apoio. A norma era um grupo de combate de sete homens. O homem de ruptura (Breach Man) portava a escopeta, em adição a sua arma primária, a metralhadora leve M249 SAW. Limpeza de recintos é um exercício de precisão, e nem a SAW, nem a escopeta são armas de precisão.

Quando chamado a conduzir um arrombamento, o homem de ruptura entrava em posição, carregava o primeiro cartucho, então, disparava. Se fosse determinado que outro disparo era exigido, o homem de ruptura iria carregar outro cartucho e disparar. A seqüência de fogo era mirar, carregar, disparar, recarregar, disparar etc... Após o último tiro ser disparado, a escopeta não deveria ter outro cartucho na câmara. Após essa seqüência, a porta era chutada, e a equipe entrava e limpava o recinto com o homem de ruptura assumindo a última posição no grupo.

A escopeta deve ser portada em uma bandoleira que permita a ela pender do corpo de um soldado estando prontamente disponível para troca com a arma primária do soldado. Não estando sob o controle direto do soldado (isto é, o soldado não a está segurando), a escopeta é susceptível para se enroscar em obstáculos ou equipamentos e o soldado corre o risco de que a arma tombe. Se não houver um cartucho na câmara, isso não é problema, daí não se recarregar a arma após o último tiro de arrombamento. O modo mais seguro de portar a escopeta é com o ferrolho fechado, martelo à frente, câmara vazia e pronta para disparo (breech closed, hammer forward, chamber empty and on fire). Isso favorece a utilização de uma escopeta de ação de bomba sobre uma automática.

Quando decidir que tipo de escopeta utilizar, é importante ter uma que possua duas características distintas. Primeiro, ela não deve ter cano excessivamente longo, quanto mais curto, melhor. Isso reduz a possibilidade de desgaste da arma ou, apenas, ter o cano ficando no caminho. Segundo é a necessidade de uma coronha retrátil ou, até mesmo, nenhuma coronha. Semelhante à M-4 em relação ao M-16, em combate aproximado, quanto mais curto melhor e mais fácil de manejar.

O equipamento apropriado é essencial para o soldado portando a escopeta. Primeiro de tudo, uma bandoleira que mantenha a arma próximo ao lado de disparo do soldado, permite-lhe alcançar esse lado e preparar a arma sem reajustar sua arma primária. A bandoleira necessita ser presa à arma pela coronha ou próximo à guarda do gatilho. Isso permite máximo alcance de movimentação sem qualquer excesso de bandoleira ficando no caminho.

O tipo certo de munição precisa estar disponível para a unidade. Enquanto os chumbos grosso e fino funcionem, esses são os menos preferíveis para operações de entrada. Para arrombamento de porta, a carga de escolha por muitas equipes SWAT é um balote desintegrante (frangible slug). Um balote desintegrante é especialmente desenhado para derrotar fechaduras e dobradiças sem penetrar o recinto. Isso reduz, significativamente, o dano colateral no interior do aposento. Se o balote desintegrante não estiver disponível, chumbo #09 irá funcionar. O tamanho do chumbo reduz o dano colateral além da porta.

Um balote desintegrante não pode ser empregado efetivamente se o cano da arma estiver tocando na porta. Portanto, um dispositivo distanciador (stand-off device) deve ser utilizado para criar o efeito desejado. Um tipo de dispositivo distanciador é uma haste de metal que fica ligada ao tubo carregador. Outro é chamado Dispositivo Rompedor (Breacher Device). Ele se prende ao cano da arma e parece um supressor de clarão ou compensador. O rompedor permite a arma ser colocada na superfície da porta e disparada sem preocupação com uma explosão do cano. O rompedor irá reduzir, aproximadamente, 80 % da pressão do gás que resulta quando uma escopeta é colocada contra uma porta sólida. NOTA: Se você está empregando chumbo sem um Dispositivo Rompedor, é melhor botar o cano da escopeta próximo à porta para reduzir estilhaçamento.

Uma lanterna é, também, essencial para a escopeta. Operações conduzidas durante visibilidade limitada ou no interior de um edifício sem eletricidade, exigem que os soldado tenha uma dispositivo de iluminação. Escopetas podem ser modificadas com uma lanterna no tubo carregador ou no lado do cano.

Pontaria e treino de familiarização com a escopeta precisam ser integrados dentro do treinamento de armas do pelotão, da mesma forma como uma M-4 ou um AT-4. Ela é um sistema de armas que todo homem no pelotão precisa ser capaz de utilizar e empregar efetivamente. Um bom plano de familiarização está no RTC 350-1-2. Ele sublinha o processo passo-a-passo de carregar, disparar, reduzir enguiços, recarregar e limpar até os adestramentos de tiro-ao-alvo e, por fim, treinamento para arrombamentos de porta. A escopeta não é a arma primária do soldado que a portar, portanto, ele precisa ser capaz de fazer uma suave transição de volta a sua arma primária. Também, embora a escopeta não seja uma arma de precisão e não seja a melhor escolha para limpar um aposento, pode se tornar necessário para o homem da escopeta engajar alvos. O RTC fornece um adestramento básico de tiro-ao-alvo para treinar tal habilidade.

Uma utilização a mais para a escopeta está em operações de estabilidade e apoio. Ter uma escopeta confiada para uma tarefa por um GC fornece a este grupo de combate a habilidade para empregar munições não-letais ou de menor letalidade. Ter munição de chumbo ou de balote é um benefício quando confrontado por uma turba amotinada. A escopeta é, por si mesma, uma arma intimidatória, e irá conseguir a atenção de uma turba, por meramente ter sua câmara carregada com um cartucho. Meus soldados, muitas vezes, utilizaram uma escopeta descarregada por esta razão. Nós descobrimos que as pessoas respondem muito rápida e calmamente quando ouvem o ferrolho de uma escopeta se fechando.

Através de todas as ações de estabilidade e apoio da Operação IRAQI FREEDOM, a escopeta tática mostrou ser uma arma útil e versátil. É a minha crença de que a escopeta deve se tornar uma adição permanente ao arsenal de todo grupo de combate da Infantaria. Essa mudança irá aumentar a efetividade do grupo de combate por todo o espectro das missões que se exige que ele desempenhe.


_________________________________

O Capitão Ryan Morgan é um graduado da Academia Militar dos Estados Unidos, em West Point. Suas designações anteriores incluem serviço como líder de um pelotão “Bradley”, líder de pelotão de morteiros pesados e oficial executivo (subcomandante) de companhia com o I Batalhão, 8º Regimento de Infantaria em Fort Carson, Colorado. Ele também comandou as companhia de comando e “Charlie” do II Batalhão, Regimento 502 de Infantaria, 101ª Divisão Aeroterrestre (Assalto Aéreo) durante a Operação IRAQI FREEDOM. Cap. Morgan, atualmente, serve como oficial executivo assistente no Centro do Futuro, Comando de Doutrina e Treinamento.




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#14 Mensagem por Clermont » Sex Ago 17, 2007 6:06 pm

BRITÂNICOS E AMERICANOS.

Britânicos e americanos tinham doutrinas opostas de combate. Como o general Mark Clark disse certa vez, “Nós, americanos, tendemos a ser o que eu chamaria homens da frente ampla. Ao cruzar um rio, os americanos preferiam atacar mais ou menos em toda a linha, buscando confundir o inimigo quanto ao ponto do golpe principal e permitindo que tais ataques progredissem durante a batalha, e então trazendo as reservas para explorar qualquer abertura obtida. Os britânicos tendiam a concentrar o golpe em um ponto ou dois, somente (o que, diga-se de passagem, foi a forma como Clark atacou através da Linha Gótica), e apenas depois de uma enorme preparação, com todo o poder de fogo que pudessem concentrar. Isto podia levar e levou a excessivos atrasos”. O Tenente-General Sir Richard L. McCreery comandante do 8º Exército britânico (a partir de 1º de outubro de 1944) achava que a “frente ampla” resultava em riscos demais, desperdícios de recursos demais, e acima de tudo, baixas desnecessárias.

Em outubro de 1944, no flanco direito do II Corpo do Exército dos Estados Unidos, a 88ª Divisão de Infantaria americana (“Blue Devils”) avançou para o noroeste, reforçando toda a frente, enquanto a 78ª Divisão britânica tomava à si o setor dos Blue Devils a noroeste de Castel Del Rio sobre o rio Santerno. Esta divisão já havia assumido ou recapturado posições que tropas americanas tinham fracassado em manter no Passo Kasserine, na Sicília e em Salerno. “Nossas operações”, salienta John Horsfall da Brigada Irlandesa (78ª Divisão), “começaram mal”. As chuvas, naturalmente, não ajudaram, mas as diferenças no comando também confundiram as coisas. A técnica de combate dos americanos, Horsfall observa, era “inusitada”. “Num assalto de infantaria, dificilmente se visualizaria os soldados britânicos em avanço”, enquanto os GIs (Government Issue, ou “Artigos do Governo” apelido dos soldados do Exército americano) “simplesmente avançavam em massa desdenhando as precauções que nossa infantaria julgava necessárias.”

No mais, parecia não haver nenhum planejamento, além da designação de objetivos. As baixas eram “colossais” aos olhos dos britânicos. Uma troca de mensagens pelo rádio entre oficiais americanos, interceptada pelos britânicos, fascinou Horsfall:

- Bolas, por que seus garotos ainda não subiram aquela colina?

- Pô, Coronel, como posso atacar essa colina danada, sem apoio de artilharia?

- Droga, você não pode querer ter canhões o tempo todo, né Porky?”

E ocorreram os inevitáveis choques. Quando um grupo de soldados de uma unidade de transmissões americana colidiu com um posto avançado da Brigada Irlandesa no escuro, foi alvejado e aniquilado até o último homem. Os capacetes americanos pareciam com os do inimigo (principalmente com os dos pára-quedistas alemães) na escuridão. Quando Horsfall foi ao encontro de seus aliados para expressar seu pesar, o comandante do regimento americano deu-lhe um tapinha no ombro. “Esqueça isto! Essas coisas acontecem toda noite,” ele disse, e ofereceu uma dose forte de gin à Horsfall. Este preferia se lembrar mais da generosidade que da possível verdade do comentário do americano. “Os ianques,” ele ressalta, “combatiam valentemente; o sistema deles de algum jeito funcionava. Era uma grande satisfação estar com eles, e o vigor de seus jovens comandantes de companhia entusiasmava.”

Um sargento britânico que tinha considerável experiência em seguir atrás das tropas tanto britânicas quanto americanas (ele pertencia à uma unidade de transmissões que agia atrás da linha de frente, mantendo contato com os partigiani, guerrilheiros italianos) contou a este autor que qualquer um podia dizer qual a diferença entre um campo de batalha americano e outro britânico. O americano era sujo, juncado com armas, munições, cigarros e rações jogadas fora; o britânico era limpo de tais detritos. Uma vez sua unidade teve um rádio enguiçado e entrou em um depósito de suprimentos americano à procura do conjunto de válvulas necessário. O sargento de suprimentos disse a eles que jogassem o rádio numa pilha de aparelhos danificados, e deu-lhes um outro, novo em folha. “Como indivíduos,” diz outro soldado britânico, “ Os americanos tinham maior liberdade de se movimentarem que nós. Eles pertenciam a um exército altamente móvel; todos eles podiam dirigir e tinham acesso a transporte num grau que era impossível para um soldado comum no Exército britânico. Eles também estavam muito bem aparelhados e parecia que podiam perder equipamento sem risco de corte-marcial.”

Naturalmente, os britânicos tinham séculos de experiência em operações militares. Os GIs, com freqüência, amaldiçoavam o Exército por se guiar estritamente “pelos regulamentos”, mas comparado ao britânico, o Exército dos Estados Unidos era relaxado. O adestramento prescrito tem a vantagem de assegurar os melhores reflexos possíveis para as mais variadas situações prováveis. Na emissão de ordens, por exemplo, isto resulta em clareza e ausência de ambigüidades o que, como Brian Harpur nos diz, “garante que os generais compreendam bem o que eles estão pensando em fazer.” Harpur, que serviu na Itália como oficial de um pelotão de metralhadoras britânico, presenciou uma dramática confirmação das diferentes formas como americanos e britânicos faziam as coisas. Ele tinha chegado a um PC de batalhão americano no momento em que o oficial-comandante dava ordens a um subalterno para tomar uma colina, o Ponto 508 no mapa. Harpur já antecipava ouvir a norma-padrão britânica de emissão de ordens de combate: Informação (disposição das tropas amigas e inimigas); Intenção (explanação dos objetivos que a unidade X “deve atacar”); Método (planejamento, com detalhes o bastante para evitar incompreensões); Administração (arranjos relativos à alimentação, suprimentos etc.); Intercomunicação (localização do comando, dos limites de unidades, etc); Alguma pergunta?; e Sincronizem seus Relógios.

Harpur relata a conversação como segue: “Ouça, Joe, tenho uma missão especial pra você,” o Coronel berrou para o exausto subordinado dando a impressão de que Joe era o sujeito mais sortudo do mundo. "Quantos homens você tem?” Joe calculou que tinha “cerca de dezessete.” O Coronel apontou para a maciça elevação que se erguia sobre eles, e perguntou se Joe podia tomá-la. “Nós precisamos deste morro, Joe.” Joe assentiu. “Ah, eu acho que sim, coronel, eu acho que sim.” O Coronel perguntou se Joe podia partir às 19:30 h e prometeu apoio de artilharia: “Eu vou te garantir o caminho mais fácil que eu puder.” Joe virou nos calcanhares, nas palavras de Harpur, “uma patética mas orgulhosa silhueta do eterno soldado.” Ele acrescenta, “Eu nunca antes havia escutado ordens que desprezassem tanto as convenções, mas que fossem tão diretamente ao âmago da questão.”

Na manhã seguinte, ao alvorecer, Harpur rastejava, debaixo de pesado fogo inimigo, sobre o mesmo terreno com as tropas de socorro de uma brigada britânica. Por toda parte, cadáveres de homens como Joe e o Coronel “...jaziam como grotescos marcos de pedra” no caminho para o morro capturado na noite anterior. Mais tarde, Harpur perguntava a si próprio, se o modo britânico de fazer as coisas teria obtido sucesso com menos baixas. Mas ele tinha noção de que uma pausa à espera de reforços – para montar um ataque “dentro dos conformes” – teria permitido que o inimigo reforçasse as alturas, causando uma carnificina ainda maior. “É impossível afirmar,” ele conclui, “mas meu instinto me diz que nesta situação os americanos estavam certos.”

E o que os generais alemães pensavam de seus oponentes ocidentais? Segundo disse Sir Basil Liddell Hart, “Eles não gostavam de exprimir sua opinião a respeito, mas colhi algumas impressões no decurso de nossas conversas. Em uma referência aos comandantes aliados, Rundstedt disse: ‘Montgomery e Patton foram os dois melhores que conheci. O marechal Montgomery era muito sistemático’. E acrescentou: ‘O que é bom, quando se tem forças e tempo suficientes’. Blumentritt fez um comentário similar. Depois de louvar a velocidade da progressão de Patton, ele acrescentou: ‘O marechal Montgomery foi o único general que jamais sofreu uma derrota. Ele se movia assim’ – Blumentritt deu uma série de passos muito deliberados e curtos, abaixando o pé pesadamente de cada vez.

Dando sua impressão sobre as diferentes qualidades das tropas americanas e britânicas, disse Blumentritt: ‘Os americanos atacavam com entusiasmo e tinham excelente noção de mobilidade, mas quando se viam sob fogo de artilharia pesada geralmente recuavam – mesmo depois de terem conseguido realizar uma penetração com êxito. Por contraste, uma vez que os britânicos tivessem mordido uma posição defensiva e permanecessem no mesmo lugar por mais de vinte e quatro horas, era quase impossível desalojá-los. Contra-atacar os ingleses sempre nos custou muitas baixas. Tive muitas oportunidades de observar essa interessante diferença no outono de 1944, quando a metade da direita do meu Corpo enfrentou os britânicos e a metade esquerda, os americanos’.



”O QUE O ‘JERRY’ PENSA DE NÓS... E DE SI MESMO” DO BOLETIM DE INTELIGÊNCIA, DEZEMBRO DE 1944.

Um relatório sobre comentários alemães a respeito das táticas aliadas e alemãs na Itália, do Boletim de Inteligência, dezembro de 1944.

Um prisioneiro alemão, um panzergrenadier que passou 16 semanas em Cassino, contou aos seus interrogadores britânicos que, na sua opinião, os soldados aliados tem cometido um número de erros impressionantes em combate. Ele discutiu isso com algum detalhe e, enquanto suas visões não sejam, necessariamente endossadas, elas são dignas de serem examinadas como uma indicação de como alguns soldados inimigos podem esperar que lutemos no futuro. De outro lado, o comandante do batalhão deste mesmo prisioneiro, dirigindo-se aos seus oficiais de companhia sobre o assunto do desempenho do batalhão em combate, analisou as deficiências em linguagem franca. Os comentários desses dois homens são, especialmente, interessantes, quando lidos em seqüência.

COMENTÁRIOS SOBRE MÉTODOS ALIADOS.

“A infantaria aliada atacava muito cautelosamente e se amontoava demais quando se movimentava contra seus objetivos,” disse o panzergrenadier. “Eles eram muito negligentes em buscar ocultação e, portanto, podiam ser vistos a maior parte do tempo. Quando eles se movimentavam contra seus objetivos, suas linhas não eram alternadas o bastante e eram profundas em vez de extensas.”

“Os soldados aliados em passo acelerado, após fazerem um alto repentino, com freqüência permaneciam em posição ajoelhada, simplesmente aguardando serem alvejados, em vez de se jogarem ao chão. Então, se nada acontecesse, ele se erguiam no mesmo ponto onde estavam antes ajoelhados, e continuavam seu avanço. Eu penso que isso é extremamente perigoso, especialmente quando o terreno está pontilhado de tocaieiros, como na Itália. Eu mesmo já vi, pelo menos, uma dezena de soldados aliados morrerem devido a essa estupidez.”

“No Exército alemão, nós pensamos que é apenas senso comum, para um soldado no ataque, selecionar um objetivo para cada fase de seu avanço. Após alcançar um objetivo, ele imediatamente se joga ao solo e rasteja 10 a 15 metros para a esquerda ou direita, cuidadosamente evitando observação. Ele aguarda aí, uns poucos segundos, antes de continuar seu avanço.”

Algumas vezes, no entanto, o infante aliado irá se lançar após um tiro ser disparado e rolará para a direita. Nós, alemães, sabemos disso. Nós também notamos que a infantaria aliada corre rumo aos seus objetivos em linha reta, esquecendo de ziguezaguear e, portanto, apresentando um excelente alvo.”

Na Itália, especialmente, forças atacantes podem usar as rochas para sua vantagem mais do que eles fazem. Enquanto eu estava em Cori, havia um grande espaço entre duas formações rochosas, que concedia um campo de fogo claro. Nós o cobrimos com uma metralhadora leve. Os primeiros soldados aliados que tentaram passar entre as rochas, movimentaram-se muito lentamente e em linha, e alguns deles foram atingidos. Apenas depois disso, os outros se lançaram através do espaço aberto.”

“Muitos comandantes aliados careciam de agressividade. Eles não percebiam quando um objetivo podia ser tomado; por conseqüência, os soldados atacantes, freqüentemente, voltavam atrás justo antes de alcançar seu objetivo.

“Em Cassino, eu estava em um vale com 97 outros soldados alemães em em “foxholes”. Primeiro, um grupo de tanques “Sherman” atacou dentro do alcance de nossos Faustpatronen. Três dos tanques foram postos fora de ação. A infantaria, que deveria ter seguido bem atrás dos tanques, estava cerca de 500 metros atrás, e portanto longe demais para buscar a cobertura das viaturas blindadas. Os tanques imediatamente se retiraram. Quando os infantes viram que os tanques tinham dado a volta, eles também deram a volta e se retiraram. O vale inteiro podia ter sido limpo em questão de minutos.”

“A grande distância entre as unidades blindadas aliadas e a infantaria era aparente quase toda vez. Houve um caso quando tanques aliados irromperam através de nossos “foxholes”, para serem seguidos uma hora mais tarde por infantes, que foram rechaçados por uma chuva de fogo de metralhadora. Nós, alemães, tínhamos fé em que vocês iriam cometer esses erros.”

“A rede de cobertura sobre os capacetes dos soldados aliados nos permitia ver o delineamento do capacete distintamente, e à considerável distância, durante a luz do dia,” o soldado alemão concluiu. “Por outro lado, a camuflagem que os nós [alemães] usamos em nossos capacetes descaracteriza o delineamento do capacete, e a cobertura de lona pode ser pintada para se adequar ao terreno.”

COMENTÁRIOS SOBRE MÉTODOS ALEMÃES.

“Defesa, com escavação e longas horas deitado à espera, é contrária à natureza do soldado alemão,” o comandante do batalhão alemão disse aos seus oficiais.

“Todo comandante de companhia precisa enfatizar para seus homens repetidamente que a vida de toda a companhia depende do estado de alerta de um único soldado. Nós precisamos estar preparados para novos truques sujos da parte dos aliados todo dia.”

“Eu não quero ouvir soldados reclamando de que não comem ou dormem há dois dias e que a situação é impossível. A palavra ‘impossível’ não pode existir em nosso vocabulário.”

“Principalmente, devido a sua monotonia, a observação se tornou muito pobre. O menor movimento dos matos precisa ser reportado. Lembrem-se que migalhas podem ser colocadas juntas nos comandos mais elevados e formar um quadro significante. Mesmo relatos negativos podem ser da mais profunda importância. Eu tenho notado que nossos observadores não usam camuflagem, e que ao o fazerem, ela normalmente não é adequada ao terreno. Como resultado o observador fica em posição como uma bandeira. As companhias parecem fazer tudo que podem para revelar suas ações ao inimigo. Em resumo, a disciplina de camuflagem é pobre.”

“De novo e de novo, tem sido evidente que nossos soldados consideram a noite sua inimiga. A maioria dos nossos homens está completamente indefesa à noite.

“Os aliados estão utilizando a noite para muito de sua atividade, e tem tido um grande sucesso. Eu tenho notado que eles utilizam seu fogo de metralhadora muito efetivamente à noite. Eles podem colocar seu fogo de metralhadora entre 10 e 20 centímetros acima do topo de nossos “foxholes”, de tal modo que nem mesmo à noite nossos homens ousam erguer suas cabeças.”

“Nossos soldados aprenderam as mesmas táticas, mas são preguiçosos demais para prepararem suas armas para tiro noturno. Muitos dos nossos soldados tem até adotado a idéia de que não devem atirar, afinal de contas. Isso pode ser buscado no fato de que o inimigo, com sua superioridade em material, com freqüência lança uma barragem de artilharia sobre soldados individuais. Se nós queremos trazer de volta o velho espírito, os soldados precisam aprender que sua arma mais importante é sua pá.”

“Os soldados precisam preparar posições alternativas. Nós precisamos jamais atirar de nossas posições principais durante a luz do dia. Não pode acontecer de novo que nossos homens se abstenham de atirar contra as tropas aliados, dando como desculpa, ‘Nós apenas vamos acertar a areia.’ É responsabilidade do comandante de companhia providenciar que sua companhia possa estar pronta para ação a um aviso. Neste caso que eu tenho na mente, não acredito que todo mundo estivesse dormindo, mas antes de que o sistema apropriado não estava sendo seguido.”

“Nossos homens não são bem treinados em patrulhamento. Eles sempre querem atacar após uma preparação de artilharia pesada. Isso está errado. Rastejem, ao estilo índio, e cheguem no meio do inimigo, subitamente. É auto-evidente que as cintas de metralhadoras precisam ser enroladas em volta da barriga, que documentos e todos os papéis precisam ser deixados para trás.”

“Os homens precisam ser treinados para entender ordens militares breves. Nossa organização é pobre. Ela é mudada somente depois que o inimigo nos ensina uma lição. Outro dia perdemos um desertor. O que esse homem iria dizer ao inimigo era óbvio. Ele teria, no mínimo, contado ao inimigo a hora e a rota para a troca de nossos transportes de comida. Que o inimigo atuou sobre tal informação está provado por nossas perdas. Por quê os esquemas não mudam a cada dia? As ambulâncias não chegam à frente rápido o bastante. Outro dia eles levaram três-quartos de hora, e eu entendo que alguns dos feridos sangraram até a morte.

“A penetração inimiga de nossas linhas ocorreu, principalmente devido as brechas entre as companhias serem muito grandes. Se a companhia à sua esquerda falha em manter contato, você precisa, no seu próprio interesse, manter contato com ela.”

“As comunicações tem sido muito pobres. Durante uma barragem, nunca envie apenas um mensageiro. Devido ao fogo de artilharia aliada, nossas comunicações por fio tem sido cortadas a maioria das vezes. A utilização de rádios, ao invés, tem sido impossível devido a falta de rádios. Há muito poucas mensagens. Os oficiais subalternos nunca se colocam mentalmente na posição de seus escalões superiores. Esses escalões estão na maioria tão longe à retaguarda que não podem ser contatados. Todo homem, dos praças para cima, precisa ter o hábito de reportar com a maior freqüência possível.”

“A distribuição da munição tem sido satisfatória, e nossos sistema de depósitos de munição tem provado seu valor.”




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#15 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Ago 17, 2007 8:14 pm

Acabei de descobrir que a maneira como se ensina fazer a guerra em Portugal tem mais a ver como os Alemães e Britânicos lutavam, do que como os Americanos. :?




Editado pela última vez por cabeça de martelo em Sáb Ago 18, 2007 6:21 am, em um total de 1 vez.
"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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