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Mensagem
por Clermont » Sex Jan 06, 2006 8:34 am
MULHERES DEVEM ENTRAR EM COMBATE? – Uma soldado traz sua perspectiva sobre o atual debate.
Por Catherine L. Aspy – Reader’s Digest, fevereiro de 1999.
Dentro de meus coturnos meus pés haviam virado hamburguer. Meu uniforme, até o meu cinturão, estava empapado com suor, e minhas costas e ombros estavam dormentes devido aos 18 Kg de carga na minha mochila. O clímax do treinamento básico do Exército em Forte Jackson, Carolina do Sul, uma marcha de 20 Km, estava quase acabando.
Determinada a continuar, forcei meus músculos a se moverem. Mas poucas das outras mulheres na companhia permaneceram comigo próximo à frente. Muitas se extraviaram, e algumas montavam o caminhão que nos seguia para recuperar mochilas descartadas. Os homens, enquanto isso, caminhavam à vontade, cantando a cadência. Eles pareciam se divertir com tudo aquilo.
A marcha confirmou algo que havia me ocorrido com freqüência durante as prévias oito semanas: com raras exceções, as mulheres na minha unidade não podiam competir fisicamente com os homens. Muitas eram incapazes de erguer cargas pesadas, escalar barreiras ou subir numa corda suspensa por sobre uma rede de segurança. Nos testes finais em corridas de 3000 m, a mulher mediana levava 18 minutos, o homem mediano 14 minutos. Era aparente que muitos dos homens não eram desafiados o bastante pelo regime de treinamento.
Certamente havia bons soldados entre as mulheres na minha companhia; mais tarde, durante uma temporada regular numa instalação de inteligência militar, eu vi mulheres de todas as forças se desempenharem tão bem ou melhor que homens numa variedade de funções. Entretanto, a enorme brecha no desempenho físico, tão óbvia no treinamento básico, forçou-me a considerar as implicações de colocar mulheres em unidades de combate terrestre.
Hoje em dia, quase 200 mil mulheres nas forças armadas da nação (14% de todo o pessoal da ativa) servem como tudo, de pilotos de caça da Força Aérea a oficiais de polícia militar do Exército, até capitães de navios da Marinha. Mas as armas de combate direto do Exército e dos Fuzileiros Navais – incluindo infantaria, blindados e artilharia de campanha – estão fechadas para elas.
Deve-se permitir mulheres nessas unidades também? Muitos acreditam que sim. Afinal, nós os americanos, nos ressentimos de ser barrados de qualquer coisa; é parte de nosso instinto de liberdade. A ex-representante (deputada federal) Patrícia Schroede (Democratas – Colorado), declarou, “leis de exclusão de combate já perderam sua utilidade e agora não são nada mais do que discriminação institucionalizada.”
Isso não era uma questão com eu me preocupasse quando me alistei. Estou certa que se tivesse sido questionada na época se mulheres deveriam ser permitidas em combate, eu teria respondido, no mínimo, “talvez”.
Agora, eu digo “não”. Tudo que observei durante minha estada no Exército, e mais tarde, quando eu estudava a questão e conversava com outros dentro e fora das forças armadas, me convenceu de que isso seria um erro.
Combate não se trata primordialmente de cérebro, ou patriotismo, ou dedicação ao dever. Não há nenhuma questão de que as soldados mulheres tem isso em abundância. Combate é sobre capacidade de luta e o moral da unidade. Aqui a força física pode ser uma questão de vida ou morte. E é por isso que as disparidades físicas entre homens e mulheres não podem ser ignoradas.
Cargas desiguais
Por anos, a sargento Kelly Logan (nome falso) acreditou que as mulheres deveriam ser permitidas nas unidades de combate, que “não importava se você é homem ou mulher – há um padrão, nós todos o satisfazemos, e vamos em frente com a missão.” Então veio para ela a temporada de dever de 1997 com as forças de pacificação da Bósnia. “Eu tive uma mudança completa de atitude,” diz ela. “Quando tínhamos de fazer coisas como cavar e reforçar bunkers, os caras terminavam fazendo a maioria do trabalho físico. As mulheres tendiam a se moverem para os lados.” Logan observava o ressentimento ser criado até que isso minou o moral da unidade.
Ela também observava que muitas mulheres eram “tão despreparadas para a militança pesada que teriam posto a unidade em perigo numa crise.” Patrulhar na Bósnia exigia que os soldados permanecessem em alerta alto e com equipamentos de batalha completos, incluindo vestes Flak (coletes à prova de bala, ou armaduras corporais) e munição. Diz Logan: “O equipamento impedia muitas das mulheres de se movimentarem tão rapidamente quanto os homens, que dirá ser eficientes em combate.”
Enquanto algumas mulheres podiam estar à altura dos rigores do combate, ela diz, “elas seriam as raras exceções. E para alguns indivíduos, era apenas questão de tempo antes que as ligações platônicas progredissem para o sexo, e então todos as espécies de disrupção se seguiam.”
Logan concluiu, com relutância, que “mulheres não podem se relacionar com homens numa unidade do mesmo modo que os homens se relacionam entre si.” Mas ela não pode dizer isso abertamente, e insiste que seu nome verdadeiro não seja usado. “Falar sobre essas coisas em público pode danificar definitivamente sua carreira.”
A expectativa nas unidades militares tem sido sempre que você pode carregar sua própria carga. Mas um piloto de helicóptero “Apache” me disse que sua chefe de tripulação simplesmente se recusava a carregar suas próprias ferramentas, que pesavam de 27-36 Kg (60 to 80 pounds).
”Supôe-se que o Exército não demonstre favoritismo,” disse um ex-combatente da “Desert Storm”, Sam Ryskind, que era um mecânico na famosa 82º Divisão Aeroterrestre. “Mas as mulheres com que eu treinei eram de fato isentas de quaisquer trabalhos pesados.”
Fosse trocar os pneus dos caminhões, transportar cargas, ou mesmo pôr panelas pesadas em posição na linha do rancho, Ryskind diz que homens “executavam o trabalho pesado. Muito em breve isso criou uma situação ‘nós-e-elas’.”
Enquanto tais experiências não refletem as reais condições de combate, elas apontam para os tipos de problemas insolúveis que poderão surgir se mulheres estiverem em unidades de combate.
Em 1994, uma regra do Exército barrando mulheres de centenas de posições de “apoio ao combate” foi eliminada. Enquanto isso, o Exército tentou instituir testes para harmonizar a força física de um soldado com uma “especialidade ocupacional militar” (MOS ou “military occupation specialty”). Então foi descoberto que os testes teriam desqualificado a maioria das mulheres do Exército de 65% das mais de 200 MOS. Os testes foram descartados.
O Fator Força.
Para lidar com a brecha no desempenho homens-mulheres, o Exército aumentou a ênfase em “trabalho de equipe”. Ninguém é contra trabalho de equipe – isso é a essência das forças armadas. Mas em alguns casos isso se tornou um eufemismo para definir o rebaixamento de tarefas militares, como quando três ou quatro soldados são necessários para carregar um camarada ferido ao invés de dois.
”De um ponto de vista do combate isso é totalmente grotesco,” nota William Gregor, um ex-combatente do Vietnam que é agora professor associado de ciências sociais da Escola de Estudos Militares Avançados do Exército em Forte Leavenworth, Kansas. “Você pode não ter pessoal extra em volta. E a batalha exaure você. Uma unidade onde uma pessoa não pode carregar seu próprio peso torna-se uma unidade mais fraca.”
Eu tenho 1,70 m (five feet, six inches), e cheguei no treino básico pesando 61 Kg (135 pounds). Eu era mais alta que muitas mulheres na minha unidade. Mas a soldado mulher mediana é 12 cm (4.7 inches) mais baixa e 15,3 Kg (33.9 pounds) mais leve que sua contraparte masculina. Ela tem 17 Kg (37.8 pounds ) menos de massa muscular (lean body mass). Isso é crítico porque maior massa muscular está proximamente relacionada com força física.
Um estudo da Marinha dos Estados Unidos sobre força dinâmica do torso superior em 38 homens e mulheres descobriu que as mulheres possuem cerca de metade da potência de levantamento dos homens. Em outro estudo da Marinha, as 7% mais bem colocadas de 239 mulheres obtiveram o mesmo desempenho que os 7% piores colocados entre os homens em força nos membros superiores.
Mesmo eu tendo sido atleta no secundário e sido endurecida pelos dois meses de treinamento, a marcha final de 20 Km me matou. Uma razão: a capacidade cárdio-respiratória – a taxa na qual o coração, pulmões e vasos sanguíneos entregam oxigênio para os músculos em operação. Treinadores sabem que essa capacidade é a chave para o desempenho físico sustentado. E numerosos estudos tem revelado diferenças por sexo. “Em geral,” resumiu a Comissão Presidencial Sobre Designação de Mulheres Nas Forças Armadas de 1992, “mulheres tem menor massa cardíaca, volume cardíaco e produção cardíaca do que os homens.”
Alguns que querem mulheres em unidades de combate reconhecem tais diferenças, mas proclamam que elas são baseadas em estereótipos e podem ser minimizadas por treinamento extra. Isso não é tão simples.
Num estudo do Exército, por exemplo, 46 mulheres receberam um programa de treinamento de 24 semanas especialmente desenhado para ver se elas podiam aperfeiçoar sua capacidade de fazer trabalhos “muito pesados”. Durante o treinamento, o número de mulheres que eram qualificados para tais trabalhos aumentou de 24% para 78%. Ainda assim, na média elas eram incapazes de se equiparar ao desempenho de carga de homens que não passaram pelo programa.
Mas e quanto a essas poucas mulheres que podem se qualificar para unidades de combate? Gregor, que tem feito extensivas pesquisas sobre desempenho de homens e mulheres, questiona o quão realista seria treinar 100 mulheres para combate com a possibilidade de achar um punhado que iria satisfazer – ou em casos excepcionais exceder – os requerimentos mínimos.
Padrões mais duros?
A intercambialidade de cada soldado em uma emergência de combate é um princípio permanente da eficiência de um exército como uma força de combate. Isso presume que cada um recebeu o mesmo treinamento e pode se desempenhar pelo mesmo padrão básico. Isso ainda é verdadeiro para homens que se alistam para entrar diretamente nas armas de combate. Eles treinam “pelo velho modo”, num ambiente duro, exigente.
Isso já não é mais verdade. Sob o treinamento básico misto entre sexos, instituído em 1994, homens e mulheres são mantidos por diferentes padrões. O regime tornou-se menos exigente para ocultar as diferenças em desempenho físico entre homens e mulheres (embora o Exército negue isso).
Eventualmente, a debilidade do treinamento básico tornou-se objeto de tal amplo ridículo público que regras “mais duras” foram estabelecidas. Mesmo com esses novos padrões, programados para ter efeito nesse mês, mulheres podem se sair tão bem quanto homens que estão sendo testados por um padrão mais duro. Num grupo etário de 17-21 anos, por exemplo, para obter um índice mínimo de 50 pontos, um recruta masculino precisa fazer 35 “push-ups”, uma mulher, 13. Se mulheres forem permitidas em unidades de combate esses duplos padrões se tornarem universais, o resultado será colocar forças fisicamente mais fracas em campanha.
Uma nota pública do Exército defendeu esses padrões “mais duros” sob o argumento de que eles “promovem a igualdade entre os sexos” e “nivelam o campo de jogo”.
Eu não sei sobre campos de “jogos”. Mas de algum modo eu acho que o campo do combate real não será muito nivelado.
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Catherine L. Aspy formou-se por Harvard em 1992 e serviu dois anos no Exército. Agora ela está na Reserva Pronta Individual. Aspy foi assistida no preparo desse artigo pelo Birô do Reader's Digest de Washington.