Mulheres... outra vez...

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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#196 Mensagem por Clermont » Dom Dez 10, 2006 4:41 pm

TESTEMUNHO DE UMA ENFERMEIRA.

Berta Morais, 2o Tenente-Enfermeira. Voluntária da FEB, incorporada em 5 de abril de 1944. Natural de São Paulo. Cursos de Enfermagem Hospitalar e Enfermeira da Reserva do Exército. Embarcada em agosto de 1944, serviu principalmente no 38th Hospital e no 16th Evacuation. Desmobilizada em dezembro de 1945. Medalhas de Campanha e de Guerra.


Voluntariado feminino.

A nossa situação de Enfermeira na FEB iniciou-se, exatamente, no dia 9 de outubro de 1943, com uma notícia de jornal. Naquele dia, sábado, a última edição de um jornal oficial, “A Noite”, trazia uma pequenina notícia sobre a abertura de inscrição para as enfermeiras que acompanhariam o Corpo Expedicionário, então em cogitações, especificando dia, hora e local onde seriam prestadas informações às interessadas.

Na segunda-feira, dia 11 de outubro, dirigi-me à Diretoria de Saúde do Exército, no Palácio da Guerra, e, por uma dessas circunstâncias honrosas na vida de cada um de nós, tornei-me, para desassossego meu, a Voluntária n° 1, objeto, a partir daí, da bisbilhotice dos jornalistas cariocas: onde nasceu, sua idade? Conhecimentos? Que faz na vida? Por que se inscreveu?... No meu entusiasmo e ingenuidade de voluntária, eu declarava, então, a um repórter: “Sinto-me orgulhosa e espero que todas as mulheres de nossa terra venham colaborar no nosso esforço de guerra para que, onde houver um contingente brasileiro, haja um hospital brasileiro e enfermeiras brasileiras.” Naqueles dias, nem de longe iria supor que para 25.000 brasileiros enviados à Itália, mal haveria 67 patrícias ao lado deles! E que num hospital avançado, durante a guerra, seria preciso, acomodar numa escala de serviço 10 enfermeiras em 12 enfermarias, cada enfermaria com 64 homens acamados!

Já no dia seguinte, os jornais noticiavam haverem-se inscrito, nas primeiras horas após a abertura do expediente, 32 candidatas e publicavam as primeiras declarações das autoridades da Diretoria de Saúde do Exército: “tratava-se do conhecimento das nossas possibilidades técnicas nesse terreno” (sic) e “seria exigido das candidatas a qualificação de voluntárias socorristas”, declarações acompanhadas dos surrados elogios de praxe sobre “o entusiasmo das inúmeras adesões do primeiro dia de inscrição.”

Quatro meses se passaram: nada mais se disse sobre o assunto. Todavia, a Enfermeira n° 1 telefonava de vez em quando para a Diretoria de Saúde para saber se, depois da abertura de inscrição, as autoridades haviam tomado mais alguma decisão.

Certo é que, em 11 de janeiro de 1944, foi novamente aberta a inscrição e novamente apresentaram-se centenas de moças. Dessas centenas, só 67 seriam efetivamente convocadas e embarcadas para a Itália, sendo que na frente hospitalar nunca seríamos mais de 40, as outras, aproveitadas no serviço de transporte de feridos para o Brasil, ou recambiadas por doenças e outros motivos.

E, em 28 de janeiro de 1944, era solenemente iniciado o “Curso de Emergência da Reserva do Exército.”


Curso de emergência para as voluntárias.

Pela definição do regulamento interno, “o Curso destinava-se à formação de enfermeiras militares, mediante um trabalho de adaptação das profissionais civis, recrutadas entre moças diplomadas e entre aquelas que possuíssem longa prática de enfermagem devidamente comprovada.”

Porém, na rotina do “Curso de Emergência”, uma coisa logo se tornou visível: a heterogeneidade das candidatas quanto à instrução, pois, não tendo havido uma seleção inicial na abertura de inscrição, havia gente de nível intelectual abaixo das classes médias do curso primário. Espantará dizer, porém será oportuno lembrar, que algumas, mesmo nessas condições, foram aprovadas, convocadas e enviadas à Itália!... Só uma pequena proporção era composta de moças diplomadas ou de profissionais de longa prática, a maior parte compondo-se de meras voluntárias socorristas sem nenhuma prática hospitalar, sem mesmo conhecimentos básicos da arte de enfermagem.

Por que teria ocorrido isto, por que esse desinteresse das enfermeiras diplomadas ou profissionais em cooperar com a Força Expedicionária Brasileira?

Muitas razões existirão, certamente, porém, uma devemos relembrar porque ponderável, invocada, com razão, pela Escola Ana Néri, a escola-máter de enfermagem em nosso país e, sem dúvida, ainda a mais importante. Segundo informações, ouvidas por nós, das próprias autoridades superiores da Saúde do Exército, a diretoria da Escola Ana Néri, ao tomar conhecimento das condições de aproveitamento das enfermeiras e dos seus vencimentos, se recusou a colaborar por considerá-las abaixo do nível mínimo de amparo em que são universalmente admitidas profissionais dessa natureza. Tal a precariedade das condições oferecidas pelo Exército, que aquela Escola deu o assunto por encerrado!

O Curso teve a duração de seis semanas e para nós foram seis semanas de correrias sem fim, de canseiras inauditas, atropeladas pelos horários, pelas distâncias incríveis entre os diversos locais de instrução, pela falta de transporte, pela má alimentação, pela diversidade de matérias.

Para uma simples e primeira avaliação do esforço despendido, tome-se, um mapa do Rio e verifiquem-se as distâncias entre qualquer ponto da chamada zona sul e Benfica ou Triagem (Hospital Central do Exército), onde tínhamos de passar as manhãs, das 8 horas ao meio-dia, em estágios nas clínicas; de lá, íamos almoçar para chegar em tempo ao Palácio da Guerra, onde tínhamos aulas teóricas das 14 às 16 horas, saindo daí para o Forte São João, onde tínhamos, por fim, Educação Física e Ordem Unida, com exaustivos movimentos de meia-volta, volver! sentido, ordinário, marche! alto, descansar, sentido!...

Para as alunas que, na qualidade de funcionárias, tinham seus vencimentos assegurados e integrais e, também, para aquelas que, por possuírem família no Rio e não necessitarem trabalhar, tinham amparo e meio de subsistência – este horário já era apertadíssimo. Que dizer, então, das que, como a relatora desses fatos, não possuíam família no Rio, nem emprego que permitisse a livre freqüência ao Curso? Ou, como era ainda o meu caso, trabalhando no Serviço Nacional de Recenseamento, como extranumerária, com salário dependente de produção e freqüência? Nessas condições, tive de deixar o trabalho e viver de magras economias nessas amargas seis semanas de curso. Resultado: fazia grandes madrugadas para economizar no bonde que, por esse tempo, era de preço bem mais camarada. Do Exército nada recebíamos, nem mesmo condução que não teria sido difícil fornecer.

Foi no auge da apertura que algumas colegas solicitaram à Direção do Curso ordem para as mais necessitadas fazerem refeições no restaurante do SAPS, bem conhecido de todo carioca, na Praça da Bandeira. Depois de uma espera prolongada, recebemos um cartão que nos autorizava a fazer refeições, ali, a Cr$ 1,40 por pessoa. Aí, travamos conhecimento com a desgraça de ser necessitado. O mínimo que a gente esperava, no meio de operários sujos, maltrapilhos e desbocados, era quarenta minutos, quando a fila andava depressa. Tempo amargo que não vale a pena ser lembrado. Que teria custado ao Exército autorizar as enfermeiras mais necessitadas a fazerem a refeição do almoço no próprio Hospital Central, onde sempre tanta gente come de favor?

Quanto à orientação propriamente intelectual do Curso, sofreu os azares de todo curso de emergência, solicitado entre a premência do tempo, o volume de matérias a ser ensinado e... também a falta de oportunidade de muita coisa dada inutilmente!

O programa dado ia “da organização geral dos exércitos em campanha” às “complicações infecciosas das feridas de guerra”, com uma boa dose de regulamentos militares, de disciplina, de serviços, de continências, etc. Durante o Curso, fizemos estágios relâmpagos em todas as clínicas do Hospital Central do Exército, inclusive isolamento, excetuada apenas enfermaria-xadrez. Até no laboratório de Raio X, passamos, posto que rapidamente. Nas salas de operações, permaneceram por mais tempo as que mostravam maior aptidão para esse trabalho técnico. Aulas ultra-rápidas de natação ainda nos foram ministradas.

Como amostra de previsão intelectual, a direção do Curso nos obrigou a umas intoleráveis e ridículas aulas de francês, quando já naquela época éramos constantemente revistadas pelas autoridades militares norte-americanas. Não saberiam os responsáveis pelo Curso (ou teria sido difícil prever?) que iríamos viajar em transportes americanos, que iríamos ser empregados com tropas americanas, que iríamos permanecer dias e dias em bases americanas? Que, particularmente, nós enfermeiras, iríamos ser agregadas aos hospitais americanos? Fato é que nos obrigaram a cursar as aulas de francês elementar! Freqüência obrigatória, uma tarde perdida, num tempo em que os minutos eram preciosos. Será interessante deixar anotado que, a não ser em “tochas” pela França, no fim da guerra, jamais ouvimos uma palavra de francês. Nem mesmo na África Francesa, pois o pessoal nativo que trabalhava nas bases de aviação preferia falar a língua de Joe.

Fenômeno idêntico ocorreu com as intermináveis aulas sobre Epidemiologia e profilaxia da malária, da febre amarela, do tifo exantemático e do cólera. Foi um desfilar enorme de nomes complicados de famílias inteiras de mosquitos... enquanto aprendíamos com precisão rigorosa a composição da tribo do vetor da febre amarela, continuávamos a ignorar, por exemplo, o emprego do termômetro Fahrenheit que, como todos sabem, não é usado entre nós, nem existe mesmo à venda, porém é o único utilizado pelos americanos. Ora, admira que nossos instrutores, recém-chegados da América, onde haviam sido mandados estagiar, nem tivessem se preocupado com um assunto pequeno, porém de suma importância, pois é fácil deduzir que se a menor elevação térmica no acamado é motivo de alarme em tempo normal, que diremos de feridos nos hospitais vizinhos ao front? Mesmo depois de chegadas à Itália e uma vez trabalhando, nunca tivemos dos nossos superiores a menor explicação sobre a comparação de escalas, dificultosa até para muitos médicos, por falta de hábito, quanto mais para muitas das nossas enfermeiras que nem o curso ginasial possuíam!

Sobre a orientação do Curso, cabe ainda uma palavra sobre o favoritismo que perturbou muitas vezes a marcha dos trabalhos e o ânimo das candidatas de “boa vontade”. Assim, fomos testemunhas da amizade que a nossa ex-professora de Educação Física dedicava a algumas das suas alunas que, sempre alegando doenças ficavam todo o tempo de exercícios, deliciosamente reclinadas na varanda do pavilhão de física da fortaleza, apreciando os movimentos das companheiras, enquanto a Mestra, ante o nosso visível espanto, apressava-se em alegar que as felizardas não precisavam mesmo fazer os exercícios porque já as conhecia e já sabia que as mesmas já estavam a par do assunto. Como não podia deixar de acontecer, foi a uma dessas suas amigas e alunas que coube a nota máxima...

Ainda por ocasião do embarque se repetiria a mesma história. Havia sido estabelecido que as primeiras colocadas teriam prioridade no embarque. Para as cinco primeiras que seguiram, entretanto, vale lembrar que não foram nem as primeiras colocadas, nem as de melhores conhecimentos de línguas...

Decorridas seis semanas, em 11 de março de 1944, encerrava-se o Curso, eram feitas as nomeações e transferidas para o Quartel-General da FEB, onde, ainda, iríamos receber lições de ética social-militar e continuar os exercícios de ordem-unida no Colégio Militar. Uma vez nomeadas, passávamos a receber 550 cruzeiros mensais, desafogo para as que estavam dependendo desse dinheiro, mas ainda com tanta coisa para comprar e preparar a bagagem que a apertura ainda continuava, embora mais atenuada...


Assistência moral.

Sobre os estímulos de ordem moral, tão necessários numa fase como aquela de preparativos de embarque, seria injustiça dizer que nos tenham faltado inteiramente. A obra da CAEF ( Comissão de Assistência às Enfermeiras da FEB ) calou fundo em nossos corações, principalmente pelo contraste que oferecia, em meio de tanta indiferença ou hostilidade. Essa comissão, dirigida por Dona Mabel Shaw, Diretora do Posto 23 da Cruz Vermelha, no Largo da Glória, e integrada por moças da melhor sociedade carioca, fez muito para nos dar todo apoio moral e material. Aliás foi com essa comissão que ocorreu um episódio digno de nota como revelação do meio ambiente onde tínhamos que nos mover. Para dar maior relevo às suas atividades, como é usual nessas ocasiões, a Comissão resolveu convidar uma dama da alta sociedade para a Presidência de Honra e, balanceadas as conveniências, a escolha recaiu na esposa do então Ministro da Guerra, atarefado na organização da FEB. Duas moças foram escaladas para comunicar à eleita a distinção de que fôra alvo. A distinguida, porém, recebeu as moças da comissão na porta da rua e foi logo dizendo que em absoluto não aceitava, que era contra o fato de mulheres entrarem no exército e quanto mais para tomarem parte direta na guerra, que evidentemente não eram moças que prestassem as que já faziam parte da FEB e por aí afora... Recebidas na porta da rua, da porta da rua mesmo voltaram. Voltaram – por que não dizer? – cabisbaixas e amarguradas.

Um episódio pitoresco, também de ordem moral, aconteceu nas imediações do nosso embarque, vindo desfalcar o nosso já tão minguado corpo de enfermeiras. É que os namorados ou noivos das companheiras, premidos pelas indicações de embarque próximo e conseqüente separação, iam casando às pressas, de qualquer jeito. Chegou a tal ponto a devastação das nossas fileiras que, um dia, o nosso General, por intermédio de um Capitão, reuniu as moças e informou que se o fenômeno continuasse, teríamos, automaticamente dissolvido o Corpo de Enfermeiras Expedicionárias; pelo que pedia que todas examinassem suas respectivas situações e decidissem de vez o que pretendiam fazer, pois não era possível continuarmos naquele clima de “suspense”, numa época de embarque de tropa para teatros externos de operações.


Nossos uniformes.

A feitura dos nossos uniformes foi providenciada já nos últimos dias do Curso. Compunham-se de uma túnica de feitio idêntico ao dos oficiais, saia simples com apenas uma prega macho na frente e outra atrás. Camisa verde-oliva, igual à dos oficiais, gravata da mesma cor, boné com pala ( depois abolido ), casquete, meia de algodão, sapato preto; uniformes feitos de três tipos de fazenda: brim, lã e gabardina, os dois últimos bonitos e vistosos. Esses os uniformes de passeio. Agora a história triste dos uniformes de serviço. Imaginem um vestido de algodão ordinário, cinza, simples. Um avental, modelo comum usado pelas enfermeiras do Rio, também saia do mesmo tecido e um pavoroso pano – esse é o termo, pois não era lenço, nem touca – para ser amarrado na cabeça, cor verde-oliva. Quando vi semelhantes horrores, consolei-me pensando que iríamos usá-los na África, segundo se murmurava. Imaginava também que iríamos viver apenas no meio de tropas brasileiras. Calculem agora a triste figura, uma vez chegadas a Nápoles, das primeiras moças. O contraste com as americanas, nos seus frescos e graciosos uniformes de excelente fazenda de algodão, branco com listinhas miúdas de cor bege, meias de seda, sapatos marrons de ótima qualidade... Foi um choque. Felizmente o Chefe de Saúde da FEB percebeu o desastre e ordenou que fossem distribuídos imediatamente uniformes de trabalho idênticos aos das americanas.


A longa viagem de ida.

Arrumadas as bagagens e recebidas as ordens de embarque com o timbre de secreto, às seis horas da manhã de 4 de agosto de 1944, fomos colocadas num avião transporte americano e largadas no mundo. Imaginem quatro moças sem saber uma palavra de inglês, inteiramente sós e ainda por cima com ordens severas de só carregarem 200 cruzeiros no máximo e roupas para doze dias de viagem.

Em Natal, começou a nossa amargura. Não sabíamos quantos dias iríamos permanecer na base, tanto poderia ser um dia, como poderia ser algumas semanas. Devíamos pagar dez cruzeiros por refeição; que, fazer? Recorremos ao General-Comandante da Região que, apesar de toda a boa vontade manifestada, nada pode fazer de prático. Passamos a reduzir o número das nossas refeições: tomávamos café e jantávamos.

Felizmente, durou poucos dias essa aflitiva situação. Partimos para a África e nas diversas escalas ou paradas, quando havia possibilidade de uma visita às cidades, ficávamos amarguradas por nada podermos adquirir, tanto mais com os preciosos adornos de marfim trabalhados à mão. A oportunidade era única, mas onde os recursos, embarcando para tão longa viagem com 200 cruzeiros conosco?

Assim decorreu a viagem, em 12 dias de jornada, com numerosas paradas no norte da África, de Costa de Ouro até a Tunísia, nossa última escala antes de Nápoles. Estávamos sujas, exaustas e famintas, loucas por chegar. E dolorosa surpresa: ninguém nos esperava em Nápoles, ninguém sabia que estava em caminho mais uma turma de enfermeiras. Desconhecidas, sozinhas, perdidas, mofamos assim algumas horas no aeroporto de Nápoles até que um americano compadecido, resolveu descobrir nosso destino. Chegando àquela cidade pouco antes das 15 horas, só às 22 horas, iríamos chegar às acomodações de um hospital. Nosso cansaço era maior que a fome: assim que a enfermeira americana indicou-nos aposentos, caímos na cama até o dia seguinte.

Dois dias aguardamos transporte. Nessa época, já o 6o RI, de São Paulo, se deslocava para o Norte e se achava em vias de emprego. Recebida ordem para estarmos prontas às oito horas da manhã, no dia e hora determinados, esperamos o dia inteiro, até às 18 horas, quando novamente um americano, compadecido, arranjou carona para o dia seguinte. Triste ironia que muitas e muitas vezes aconteceu, quando recebíamos amarguradas o auxílio do irmão rico e previdente. Previdente, principalmente, porque nossa gente possuía elementos para, com um mínimo de organização, evitar esses contratempos que tão mal nos recomendavam. Evidentemente, se o Comando brasileiro ordenava que as enfermeiras se deslocassem para o Norte, marcando dia e hora, natural que providenciasse a condução, sabendo que não havia nenhuma espécie de tráfego civil. Esse dissabor se repetiria mais de uma vez, com dolorosa agravante. Assim, por meios de fortuna, fomos nos deslocando sem tréguas até Livorno, onde acampamos e fomos anexados ao 64th Hospital, situado na linda praia de Ardenza. Anotemos logo que este foi o único hospital que nos tratou muito mal, nos hostilizando mesmo. É que era composto, em sua maioria, de gente do Sul dos EUA, gente orgulhosa que pouca vontade tinha de manter contatos com os nativos do Rio Grande para baixo. Os oficiais ficaram acampados ao lado e as enfermeiras, como não havia outro recurso, admitidas junto às americanas, nas mesmas dependências comuns: dormitórios, refeitórios, banheiros, etc.


A ação de presença de um chefe.

Nossa situação, porém, logo iria sensivelmente melhorar graças à simples ação de presença de um grande Chefe. Por ocasião da apresentação das tropas brasileiras ao General Mark Clark, fomos convidadas para almoçar em companhia dos dois oficiais ajudantes de ordem do General. Eles, como sempre faziam, perguntaram logo como estávamos sendo tratadas ( nessa época nosso grupo já compreendia 15 enfermeiras ). Coube a uma das nossas colegas, culta e corajosa que manejava o inglês correntemente, dar-lhes a resposta e contar-lhes as nossas peripécias. O almoço terminou às 15 horas; nesse mesmo dia, 25 de agosto, antes das 17 horas, o nosso grande amigo General Clark, em pessoa, chamava à ordem o Comandante do Hospital e a Enfermeira-Chefe americana. E às primeiras horas do dia 26, deslocávamo-nos para Santa Luce, próximo de Vada, agregadas ao 38o Hospital.

Ao chegarmos ao 38o Hospital, já lá encontramos um dos ajudantes de ordem do general Clark. Desnecessário dizer que fomos recebidas de braços abertos, com todas as honras. A adorável Miss Almond, Enfermeira-Chefe, recebia-nos com as maiores atenções. Passamos, então, a morar em tendas de loa, sobre chão limpo. Recebemos camas de vento, mantas e travesseiros; enfim, nos instalávamos dignamente, para começar o nosso trabalho.


A rotina do hospital.

Todos podem imaginar a rotina, a dura rotina de uma enfermeira num hospital próximo da linha de frente. Rotina feita de sacrifícios ignorados, de esforços insuspeitos, de presença de espírito e, principalmente, de amor à humanidade...

O 38o era todo de tendas de lona, inclusive salas de operações, a única parte assoalhada. As enfermarias eram compridas barracas, repartidas ao meio pela sala da enfermeira e pelo pequenino compartimento da cama da morte. Era confrangedor transportar para lá um companheiro desenganado! Quando se perdiam as esperanças e a fim de evitar a amarga presença da morte aos outros pacientes, o doente era conduzido àquele recanto sinistro. Um silêncio esmagador caía, então, sobre a enfermaria, habitualmente tão tagarela e tão animada! Havia, ainda, no Hospital o costume de toque de silêncio após a morte dos soldados. Mas era de tal forma devastador o efeito das notas tristes do clarim em nosso espírito que logo foi abolido pelo Comando Americano do Hospital.

Há episódios curiosos nesse contato de mentalidade com as americanas. Por exemplo, o choque provocado em nós, pelo hábito norte-americano de ter as instalações sanitárias e chuveiros em comum, para todas as enfermeiras. Quanto às instalações sanitárias, não seria tanto, porque sempre era possível contornar; mas, quanto aos chuveiros, era impossível. Uma colega nossa, profundamente religiosa, Filha de Maria, não se conformava, conservando sempre, durante o banho que era em comum e na mesma hora, uma peça de roupa. As americanas, intrigadas, comentavam o fato, até que um dia a Enfermeira-Chefe entrou a indagar se a moça não estava escondendo alguma doença. A pobre não teve outra alternativa senão concordar.

Do nosso contato com a tropa brasileira, fora das tendas de feridos, guardamos algumas recordações amáveis. Por exemplo, a lembrança de nos convidarem algumas vezes para ir visitá-los, gentis convites para festas e jantares onde dividíamos a alegria de rever a nossa gente, comermos da cozinha deles, e bater um bom papo em nossa saudosa língua portuguesa, alegria creio que era muito dos pracinhas de ouvirem a nossa língua falada por mulheres.

Em contraste, quando estávamos ainda em Santa Luce, aparecia de vez em quando um ou outro oficial brasileiro, a título de visitar o hospital ou procurar conhecidos, porém talvez mais animados de outras intenções. Uma noite, estávamos de serviço na enfermaria, eu e outra colega conhecida por seus excepcionais dotes de beleza. Para surpresa nossa, diante da hora absolutamente avançada para visitas, aparecem dois majores, Major J. P. U. C., * filho de importantíssima personagem nacional acompanhado pelo Major M. Passam pela enfermaria, cumprimentam-nos e pedem para falar ao Oficial-Médico de serviço. Pouco depois, vimos nosso oficial despedir, zangadíssimo, tão ilustres personagens. É que eles tinham pedido ao Oficial-Médico para “ajeitar” para eles as duas enfermeiras de serviço que, na opinião deles, não seriam de todo más...

Hospitais de Pisa e Pistóia: combatentes de Camaiore, do Vale do Serchio, dos ataques frustrados ao Castello, das vitórias de Castelnuovo, Montese, Zocca! Era a fila interminável de ambulâncias em comboio, trazendo a sua carga de sofrimento. Era o sofrimento no que ele tinha de mais doloroso ao coração. Sofria-se vendo nossos rapazes estraçalhados, morrendo numa caridosa indiferença, proporcionada pelos grãos de morfina do “primeiro socorro”. Creio nunca ter rezado com mais sinceridade e fervor: “Senhor! Fazei que se acabe esta guerra. Poupai-nos desse sofrimento sem par!”

Uma tarde, indo ao clube dos soldados em tratamento, encontrei-os, excitadíssimos, ouvindo mensagens das famílias do Brasil, retransmitidas pela rádio Tupi. De repente a angústia se apossou dos nossos corações ao se anunciar a voz clara e ansiosa de uma pobre mãe, chamando pelo nome do seu filho, desejando-lhe saúde e breve regresso: exatamente aquele filho, naquele mesmo dia, jazia inerte no necrotério, vítima de uma bala inimiga. Foi um choque tão grande que não precisou de comentários. Um a um, os soldadinhos foram se retirando para suas enfermarias, deitaram-se, cobriram as cabeças e ninguém mais disse palavra naquela tarde.

Foi no 16o que assisti a uma das cenas mais fortes que me foi dado ver em toda a guerra. Num encontro de patrulhas, um pracinha do 6o RI foi ferido e o estilhaço, atingindo-o no braço esquerdo, inutilizou-o para sempre. Pouco depois, em novo encontro, os remanescentes da patrulha alemã eram feitos prisioneiros e, com eles, um ferido grave, um rapaz de 18 anos. Atingido em cheio, perdera os dois antebraços e a gangrena progressiva obrigara à amputação de ambos os braços. Era doloroso ver o pobre rapaz, devorado pela febre, agitando dolorosamente aqueles cotos sangrentos. Por coincidência fôra colocado na mesma enfermaria do nosso pracinha ferido no primeiro encontro e logo identificado, por este, como “o tedesco que me acertou”. Por isso dizia: “ele me paga – que eu tiro a desforra, lá isso eu tiro” – é o que ele vivia a dizer. Na noite seguinte, estava eu de plantão na sala de operações e, pela madrugada, aproveitando uma folga dei um pulo até à enfermaria para ver um doente grave. Ao entrar, percebi logo um vulto curvado sobre o pobre alemão tão gravemente ferido; pensei, com um choque no coração, no pracinha e nas ameaças que sempre fazia. Aproximei-me cautelosamente, sem ser pressentida e o que me estarreceu? Curvado sobre o alemão, os olhos cheios de lágrimas, o nosso pracinha, um mulato, dizia: -“Fume, seu desgraçado! Fume o cigarro com gosto – brasileiro é “bão” e tem dó de quem está padecendo.” E colocava, piedosamente, o cigarro nos lábios escaldantes de febre do alemão ferido. O pobre exauria com sofreguidão as baforadas frescas de fumaça e sorria feliz...

Outro quadro doloroso de sofrimento: o das criancinhas feridas, vítimas indefesas das minas e dos bombardeios! Com que mágoa infinita se via a amputação de uma perna pequenina ou de um pézinho minúsculo: eram espetáculos que nos faziam odiar a guerra.

De Pisa a Pistóia, onde ficamos todo o inverno. Daí para o Vale do Pó, na ofensiva da primavera: quantos acontecimentos, quantas sensações de descoberta que não cabe descrever aqui!


A longa viagem de volta

De Salsomaggiore, Norte da Itália, empreendemos a nossa viagem de volta, uma longa e tenebrosa viagem. Iniciou-se com o dissabor de uma ordem de regresso, sem a correspondente condução. Nove oficiais, um capelão e uma enfermeira praticamente largados e isolados, sem qualquer meio para cumprir a ordem. Um americano percebendo nossas dificuldades arrumou uma ambulância que iria nos deixar em Bolonha, nas ruínas da estação ferroviária local, onde devíamos tomar um trem. Três dias em Bolonha e, afinal, um trem e um carro à nossa disposição. O “carro” era um vagão de transporte de carga todo desmantelado, vagão vazio, sem portas, sem luz, sem água, sem instalações sanitárias. Seis dias e seis noites, vagarosamente, esse trem foi rolando de Bolonha em direção ao sul. Apanhávamos água quando parava, por acaso, perto de alguma bica ou ribeirão. Alimentação tínhamos apenas uma caixa de ração que teve de ser parcimoniosamente distribuída. Definhava-se a olhos vistos com as provações e a fome. Próximo a Tarquínia é que um polícia americano iria salvar a situação: por acaso, passou próximo ao nosso vagão e ao perceber-me, olhou-me espantadíssimo. Passados uns quinze minutos aparecia um major americano indagando pela enfermeira assinalada pelo polícia militar, pois, para eles não seria possível supor uma enfermeira viajando em tais condições. Muito espantado ficou com a nossa explicação e, em seu automóvel, seguíamos, d aí a pouco, o capelão e eu, para Roma.

Em 21 de setembro de 1945, embarcávamos no porto de Nápoles, no “James Parker”, com o 4o e último Escalão da FEB. Esse foi, sem dúvida, o “navio negreiro” da FEB. As acomodações eram insuficientes, havia grande número de convalescentes a bordo e diariamente baixava uma grande quantidade de gente atacada de pneumonia, pois, as praças viajando ao relento, dormindo nos conveses e com a chuvinha miúda que caía, eram presa de gripe e pneumonia. Havia ainda o regime de duas refeições, por dia: o café da manhã, às 7 horas e o jantar às 18 horas e nada mais. A água também racionada. O espetáculo do navio era a presença da traidora Margarida Hirschmann, locutora da “Auri-verde”, estação alemã montada em Milão para a tropa brasileira. Espetáculo de descaramento e quase certeza de impunidade.

Depois, a melancólica arribada ao porto do Rio: chegar tropa da Itália já era coisa vista e não interessava mais. O desejo insopitável era agarrar a bagagem o mais cedo possível e sumir. E foi assim que, ali, no armazém 13 do cais do porto do Rio, desliguei-me para sempre, melancólica e silenciosamente do que restava da FEB. Ainda envolvi o “James Parker” num último olhar de pesar e de saudade: ele representava o ponto final numa história de sacrifícios, sem nenhuma paga, a não ser a consciência do dever cumprido.


Reflexões finais.

A criação do quadro de enfermeiras militares é uma necessidade imediata que salta à vista. A experiência da organização da FEB deve ser meditada. Os resultados obtidos com o parco contingente feminino enviado à Itália devem ser pesados, assim como as lições dos outros exércitos com que convivemos em campanha.

Assim, ocorre-nos indagar: por que as autoridades militares não tratam de organizar imediatamente um quadro de enfermeiras profissionais e de comprovada competência?

Por que não existe uma Escola de Enfermeiras Militares, como existe uma Escola de Saúde para os médicos e sargentos enfermeiros?

Por que não cercar desde logo de todos os estímulos morais e materiais, dando-lhes o lugar que compete na hierarquia militar, às enfermeiras? Por que não se procura desde logo dar-lhes um padrão de vida condizente com suas nobilíssimas responsabilidades?

Os bons exemplos devem ser imitados e um bom exemplo é a organização militar americana, pelo menos, na parte que nos interessa aqui, no Serviço de Saúde e dos seus componentes. Não só deveríamos criar nossa organização feminina, como deveríamos trazer algumas especialistas para nos orientarem de início. Sem essa orientação geral, nada conseguiremos, pois, para termos um quadro de enfermeiras adequado serão precisos anos de estudo, de trabalho e entusiasmo. Uma coisa importante observada em campanha foi a necessidade das equipes cirúrgicas e dos seus resultados hospitalares, entendendo-se e ficando praticamente demonstrado que do perfeito entendimento entre médicos e enfermeiras, treinados para trabalharem juntos, depende em grande parte o sucesso de uma operação.

E nunca mais se diga que a zona de combate não é lugar para mulher! Venham ver o que uma enfermeira pode fazer de bom e milagroso a um homem ferido! Muitas e muitas vezes, uma mão carinhosa sobre uma testa escaldante, um lençol bem esticado, um sorriso, uma face de mulher fazem mais pelo ferido do que um litro de plasma.


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Extraído de “Depoimento dos Oficiais da Reserva sobre a FEB”. 2a Ed. São Paulo, 1950.

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* : Putz! Há uns 20 anos que eu morro de curiosidade pra saber quem eram esses espertinhos “papa-enfermeiras”...




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#197 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Dez 27, 2006 10:36 am

Policiais femininas suam a farda para integrar tropa de elite

Mara Cornelsen [15/11/2006]


Policiais femininas suam a farda para integrar tropa de elite.
(Fotos de Fábio Alexandre e Aliocha Maurício)
A semana começou dura para as três policiais femininas que aspiram fazer parte da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) do 12.º Batalhão da Polícia Militar. Numa experiência inédita, elas estão recebendo treinamento para enfrentar a criminalidade nas ruas centrais de Curitiba (e em outros 35 bairros cobertos pela unidade), e principalmente combater o tráfico de drogas. Voluntárias, Caroline Felix Barbosa, 19 anos, Karina Rossi Marques, 22, e Francieli Nunes, 27, que terminaram o curso de soldado em setembro passado, enfrentaram segunda-feira mais uma etapa de duras instruções, acompanhando cerca de 20 colegas de farda. Elas querem ser “linha de frente” e não medem esforços para conseguir isso.


Instrutores não dão moleza para novatas.
De coturno minuciosamente engraxado, cabelos presos e sentadas entre os companheiros, as garotas quase passam despercebidas.
A estatura física mais franzina -que as diferencia dos marmanjos - é notada quando empunham armas longas e de grosso calibre. Mesmo assim não fazem feio. Treinam empunhadura, mira e ensaiam exaustivamente as técnicas de abordagem nas ruas, em veículos e de progressão em favela. E têm total consciência de que qualquer falha, no serviço cotidiano, pode significar a morte delas ou de seus colegas.
Cati
O treinamento de técnicas de invasão de favelas aconteceu na segunda-feira, em um terreno situado no Jardim Botânico, emprestado por uma empresa da capital. Foi montada uma favela cenográfica, com muito plástico preto e pedaços de madeira, simulando barracos e estreitos corredores. Por eles, os policiais precisavam passar enfrentando bombas, rojões, gritos e muita tensão, além de receberem tiros de armas de pressão municiadas com bolinhas de tinta. Os exercícios se estenderam por mais de 10 horas seguidas, com uma breve parada para o almoço.
No fim da semana anterior, o mesmo local havia servido para o curso “Técnicas de Progressão em Favela”, ministrado pelo Centro Avançado de Técnicas de Imobilização (Cati) - entidade fundada por um brasilieiro, em Vitória (ES), que atua em vários países e treina inclusive a Swat norte-americana.
Os principais princípios do Cati são a preservação da vida, o respeito aos direitos humanos, o trabalho em equipe e a manutenção da ordem pública sem a utilização de força bruta.
O tenente Lima, instrutor que treina a Rotam do 12.º BPM, fez o curso do Cati, juntamente com três soldados - Pinheiro, Bezerra e Rodrigues. Os quatro transmitiram então aos seus comandados e colegas o que haviam treinado, dando ênfase especial nos ensinamentos às garotas, que nas patrulhas - dentre outras obrigações - serão as responsáveis pelas revistas em mulheres infratoras.
Tem que fazer cara de má


Risco vai ser rotina.
Entrar e sair das viaturas com a agilidade de um gato, treinar voz de comando e, acima de tudo, aprender a adotar uma postura de rigor e altivez - mesmo usando coletes balísticos, joelheiras, caneleiras, armas pesadas, radiocomunicador, algemas e uma parafernália de outros equipamentos - são alguns dos desafios das jovens PMs, que querem atuar nas ruas, em situações de risco. Provavelmente elas são pioneiras no Brasil, já que em outras corporações mulheres não são aceitas nas equipes de elite.
Caroline, que está em estágio mais avançado de treinamento, acredita que será aprovada em breve, e será a primeira mulher a entrar para a Rotam. Francieli, que tinha uma experiência “doméstica” de polícia, já que é esposa do soldado Nunes, lotado no Comandos e Operações Especiais (COE), tropa de elite da Companhia de Choque, também não quer fazer feio, e garante que chegará ao final com aprovação. Karina - também namorada de um policial - deve demorar um pouco mais com seu estágio, porque faz paralelamente um curso para serviços administrativos. Mas não desanima e apesar de ter um rosto quase angelical, está tendo que treinar “cara feia” para intimidar marginal.
Elas terão muito trabalho pela frente, principalmente abordar e revistar mulheres traficantes, que escondem a droga na genitália para escapar da revista policial, pois só policiais femininos podem revistar mulheres.


Fonte: parana-online




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#198 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Dez 27, 2006 10:37 am

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#199 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Fev 17, 2007 3:01 pm

Exército investiga praxe

Chefe do Estado-Maior exige esclarecimentos

Mafra. Processo sobre a praxe da primeira mulher oficial de Infantaria foi reaberto

O chefe de Estado-Maior do Exército (CEME) mandou abrir na segunda-feira um processo de averiguações relativo à aspirante Cláudia Almeida Brito, a primeira mulher oficial de Infantaria que foi afastada 12 dias após o início do tirocínio.

“Queremos saber se existiram abusos, agressões verbais e físicas e actos que feriram a condição de mulher”, afirmou o general Pinto Ramalho, garantindo que não haverá “qualquer limitação ao processo de investigação” e que todos os responsáveis serão punidos.

“Quero pôr uma pedra sobre este assunto rapidamente”, declarou. O processo só será dado como encerrado por decisão do chefe máximo do Exército e depois de feitas todas as diligências, nomeadamente a consulta aos hospitais civis onde a aspirante foi assistida, e de onde partiu a queixa para o Ministério Público por suspeita de crime.

O despacho do CEME contraria a decisão do Comando de Instrução do Exército que, em Dezembro, mandou arquivar por falta de “indícios de prática de ilícito disciplinar ou criminal” o processo de averiguações conduzido na Escola Prática de Infantaria (EPI). Na altura, foi o segundo-comandante tenente-coronel Alves o responsável pelo inquérito, que ouviu todos os alunos e instrutores que participaram no exercício que esteve na origem da baixa psiquiátrica da aspirante Brito.

A instrução começou no próprio dia em que os alunos chegaram à EPI para o seu quinto e último ano de formação de oficiais, a 7 de Novembro. O exercício de baptismo, ou ‘espera’, na terminologia do quartel de Mafra, durou a tarde e a noite inteira e incluiu treinos físicos, provas militares e a simulação de um cenário em que os novos oficiais eram feitos prisioneiros de guerra, de olhos vendados e mãos atadas. Mas não só.

“É uma tradição”, disse um dos instruendos ao Expresso. Ela manda que sejam recebidos pelo conjunto de oficiais, submetidos a uma série de provas físicas, brincadeiras como a “oração de sapiência” - proferida por um falso instrutor que lhes chama “burros” - ou serem sujos com massa consistente (usada para limpar as armas), numa confusão entre recepção, praxes e treinos.

Porém, a hierarquia nega a existência de praxes. “Não as autorizamos”, disse ao Expresso Pinto Ramalho, assegurando que, se a prática existe, “não é aceite pelo Comando do Exército”. Admite, no entanto, que haja condutas de “bom acolhimento e integração, que não podem ser confundidas com praxes”.

O certo é que, no primeiro dia em Mafra, a recepção termina com um jantar no qual são servidos alimentos impróprios. “Lembro-me de uma travessa de couves podres”, disse outro dos instruendos ouvidos pelo Expresso. O ambiente de festa antecede a partida para o terreno onde os alunos passam a noite sem dormir. Tudo com o objectivo de treinar futuros oficiais que “terão de enfrentar situações de enorme risco”.

Na arma mais dura do Exército, são necessários exercícios de endurecimento e “de dessensibilização”, como disse o tenente Rodrigues, psicólogo militar que acompanha alguns dos treinos.

Mulher não entra

“Perdemos a noção de tudo”, disse um dos alunos e camarada de Cláudia, também ele lesionado e a aguardar decisão sobre o seu futuro na carreira militar. Só no tirocínio deste ano, há três baixas, além de Cláudia. Mas ao contrário dos seus camaradas (um com uma lesão no joelho, outro no braço e outro com problemas de coluna), a aspirante terá enfrentado o preconceito de ser a primeira mulher oficial de Infantaria.

“Era um mito na Academia que essa fosse a única arma sem mulheres”, disse um dos alunos. “Foi um choque a entrada dela. Não creio que tão cedo venha para aqui outra”, afirmou. Ainda na Academia, Cláudia deu uma entrevista ao ‘Jornal do Exército’, onde reconhecia as “muitas dificuldades” que enfrentou para entrar na Infantaria. “Cada vez há mais aquele espírito: mulheres em Infantaria, não! A primeira frase que ouvimos é: vocês não conseguem porque correm menos do que nós, porque não levam uma mochila tão pesada”.

Mas o problema não foi esse. Terá enfrentado abusos e agressões físicas e verbais que muitos dos seus camaradas afirmam não ter visto nas declarações que prestaram no inquérito. Ao Expresso, três deles reiteraram a mesma posição, embora afirmassem que já estavam a par das notícias que relatavam a violência a que foi sujeita.

O chefe de Estado-Maior não aceita a existência de discriminação, garantindo que o Exército tem “uma prática indistinta em relação ao género”. Também este ponto vai ser objecto de averiguação superior. “O Exército não violenta pessoas, não confunde praxes com exercícios de formação, não discrimina nem abusa”, remata, garantindo que ninguém está mais interessado do que ele em que haja transparência e esclarecimento da verdade.

Esta semana, Cláudia recebeu a confirmação oficial da sua reprovação por excesso de faltas no tirocínio. A decisão foi publicada na ordem de serviços da Academia Militar. O comandante da escola, general Paiva Monteiro, disse ao Expresso que a oficial terá agora 10 dias para se pronunciar, podendo optar por repetir o tirocínio em Infantaria, ou mudar de arma.
Texto Luísa Meireles e Rosa Pedroso Lima

A 'espera'

É o exercício de baptismo dos aspirantes de Infantaria quando iniciam o seu tirocínio no quartel de Mafra. Na gíria é conhecido por ‘calhau’.

Compreende uma série de provas físicas, como corridas, flexões e estafetas, mas também exercícios próprios da instrução e brincadeiras que oscilam entre as praxes (que a hierarquia nega) e a recepção aos caloiros. São apresentados aos alunos falsos instrutores, que dão falsas instruções e aulas, ao mesmo tempo que lhes é servido um jantar com alimentos impróprios.

A ‘espera’ prolonga-se em geral pela noite fora, só terminando manhã cedo. É nessa altura que lhes é servido um pequeno-almoço de bife com batatas fritas, que supostamente deve retemperá-los de uma longa noite sem comer nem dormir e sujeitos aos primeiros treinos de campo.

Os oficiais de Infantaria acham que este é o primeiro contacto com a “rusticidade” própria da arma.

FRASES

“Não autorizamos praxes”

“O Exército não violenta pessoas, não confunde praxes com exercícios, não discrimina nem abusa”

“Não voltámos à estaca zero nas averiguações. Se alguém não falou verdade, tem de assumir as consequências”
JOSÉ LUÍS PINTO RAMALHO, chefe do Estado-Maior do Exército


REACÇÕES

Ramalho Eanes
ex-Presidente da República
Arma: Infantaria
Uma praxe inteligente é sempre respeitadora da dignidade da pessoa e dos seus valores e deve contribuir para ganhar uma melhor integração na instituição a que decidiu pertencer. Recusar toda a praxe que não obedeça a estes princípios é um direito indiscutível de todo o cidadão


Vasco Lourenço
ex-capitão de Abril
Arma: Infantaria
Praxes sempre se fizeram, mas no sentido de abrir as portas a quem chega para facilitar o entrosamento. Fazendo fé no que é escrito, é altamente condenável e não é admissível. E se foi por ser mulher, então é muito pior e só mostra uma mentalidade e complexos absolutamente condenáveis


Lemos Pires
major-general
Arma: Infantaria
Uma praxe académica não pode por definição provocar sentimentos de repulsão ou exclusão, nem admitir emprego da violência física propositada. O quadro descrito excede em muito o que é aceitável como praxe e o seu propósito e revela um comportamento desviante


Loureiro dos Santos
ex-CEME
Arma: Artilharia
Uma praxe que vá contra os direitos de uma pessoa, nomeadamente com violência, deve ser terminantemente proibida. Os seus responsáveis devem ser rigorosamente punidos



Governo sem comentários

No Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, Portugal vai defender o combate à discriminação. Por enquanto, ninguém comenta este caso.
O secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros responsável pelas questões de igualdade de género ‘não considera oportuno’ comentar o caso da aspirante Cláudia Almeida Brito. No entanto, garante o seu Gabinete, a situação está “a ser acompanhada”.

A presidente da Comissão para a Igualdade e os Direitos da Mulher (CIDM), Elza Pais, também optou por não prestar declarações. Tal como Jorge Lacão, “acompanha” a situação sem actuar nem fazer comentários.

Nenhum pedido de esclarecimento foi dirigido às autoridades militares sobre a eventualidade de estarmos perante um caso de discriminação de género, nem da parte da Secretaria de Estado, nem da Comissão. Isto, apesar do Conselho da Europa e o Parlamento Europeu terem decretado 2007 como o Ano da Igualdade de Oportunidades para Todos.

Em Julho passado, José Sócrates assinou a resolução do Conselho de Ministros que compromete Portugal com esta meta europeia, nomeando uma estrutura de missão - cujo mandato cessa apenas em Março de 2008 -, que deverá programar e fazer aprovar acções com o objectivo de “reforçar o empenho de Portugal nesta matéria” e traçar “uma abordagem transversal do combate à discriminação”.

A estrutura da missão será coordenada pela própria presidente do CIDM e na resolução que a constitui o Governo considera “imperativo eliminar os factores de discriminação que possam subsistir”. O final do Ano Europeu coincide com o termo da Presidência portuguesa da UE, altura em que será apresentado o relatório das iniciativas europeias a favor da igualdade."
:? :oops:




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#200 Mensagem por cabeça de martelo » Ter Mar 20, 2007 11:54 am

Mulheres na Infantaria

João Brandão Ferreira

Vieram a público algumas notícias sobre eventuais “exageros”ou “abusos”físicos e psicológicos sobre uma aspirante de infantaria, durante o seu tirocínio em Mafra, que a teriam obrigado a abandonar o curso.


Deixando para trás a controversa decisão de se permitir a entrada de cidadãos do sexo feminino para as Forças Armadas, de modo indiscriminado, mandaria o bom senso e a equitatividade, que da porta de armas para dentro não houvesse “machos” e “fêmeas”, mas apenas um ser militar. Isto, sem embargo da salvaguarda de especificidades incontornáveis que distinguem homens e mulheres e que muitos “istas” da nossa praça pretendem aplainar querendo fazer igual aquilo que, naturalmente, é diferente.


Como se já não fosse suficiente deixar invadir uma instituição que foi sempre cumprindo bem a sua missão, durante séculos, sem precisar de incorporar mulheres, ainda as foram admitir em Armas e especialidades directamente expostas ao combate, quando não são mesmo o esteio desse combate – o que parece de todo contrário à compleição e natureza feminina. È o caso da Infantaria.


A senhora aspirante era a primeira a aventurar-se a assumir tal desiderato como oficial do quadro permanente. A pressão psicológica era grande, como se deve compreender e como transparece numa entrevista que deu ao “Jornal do Exercito” em Janeiro deste ano. Mas para que haja sucesso os candidatos ao curso têm que ultrapassar as provas curriculares. Lá estão os instrutores – que não pertencem propriamente a uma associação de malfeitores, note-se –, para o aferirem. É campo onde não nos metemos.


Acontece que a militar em questão, logo no início da instrução baixou à enfermaria e veio a ter que abandonar o curso por faltas. Durante um fim-de-semana em que foi a casa, sentindo-se mal foi ao hospital. O médico que a assistiu entendeu que o que observou poderia derivar de alguma “agressão”física e, ou, psicológica e como parece ser de lei, reportou o facto às autoridades competentes. O assunto caiu nos jornais e logo se relacionou as eventuais “lesões” com o ocorrido em Mafra.


No “processo” relativo à futura oficial existente na Escola Prática de Infantaria, nada constará passível de censura relativamente ao treino a que foi submetida. Somos sempre pelo apuramento da verdade dos factos e pela prevalência da Justiça. No entanto:

Não parece bem fazer-se chicana nos “media” com coisas sérias;
Ou haver aproveitamento jornalístico, ou não, para ataques infundados, ou em prol de interesses pessoais;
Deve ter-se em conta que como me disse um instrutor em tempos idos “a infantaria não é nenhuma pêra doce”, e que parece não haver nenhum infante no mundo que tenha chegado ao fim dos treinos sem um conjunto alargado de nódoas negras;
A Infantaria se destina ao combate puro e duro e que tão importante é a preparação física como uma forte componente moral e psicológica;
Nem toda a gente que se propõe atingir um objectivo na vida, tem capacidade para o levar a cabo. As coisas são como são e não podem ser de outra maneira.

Ainda uma última achega: A chegada dos tirocinantes à EPI e respectivo curso envolve uma série de “praxes” e tradições antigas, que longe de estarem deslocadas, são fundamentais à vivência dos Exércitos, não só porque endurecem o corpo e a mente como, sobretudo, por criarem laços afectivos e deontológicos para todo o sempre; espírito de corpo; camaradagem e outros laços morais fundamentais à Instituição Militar e sem os quais esta não se sustenta.



Falar do que não se sabe, ainda por cima podendo afectar negativamente um dos pilares da Nação Portuguesa, não parece ser o mais avisado.


http://www.jornaldefesa.com.pt/noticias_v.asp?id=427




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#202 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Abr 11, 2007 6:04 am

A PRIMEIRA COMANDANTE DUM NAVIO DA NOSSA ARMADA


Atracados ao cais 5 posição 2-Sul, com geradores desligados mas com um típico fundo de «pica e raspa», no refeitório da Lancha de Fiscalização «Sagitário», a P1158, uma das quatro da classe «Centauro», evolução em alumínio naval das cinco da classe «Argos» em fibra de vidro que vigiam as águas próximas do nosso Mar Territorial (12mn) ao longo da costa continental ou da ZMM (Zona Marítima da Madeira), temos diante de nós uma das 38 jovens oficiais MIF (Militar do sexo feminino) oriundas da Escola Naval, a primeira a comandar um navio da nossa Armada.



Revista da Armada – Adiámos este encontro por ter de fazer mais um curso. Inerente às suas funções de comando ou referente a uma das actividades em que o navio pode estar envolvido?


Comandante Gisela Vaz Antunes – Foi um curso de Aperfeiçoamento em Operações SAR (Search and Rescue - Busca e Salvamento) decorrente da preocupação da Esquadrilha em ter o seu pessoal treinado, através de cursos obrigatórios e opcionais para determinado cargo. Este, aberto a toda a guarnição, era para o comandante, mandatório.



RA – Mas para Comando?

CGA – Depois de ter assumido o comando fiz um Curso de Aperfeiçoamento em Fiscalização da Pesca e o normal Estágio para Comandantes e Imediatos de Unidades Navais que dura um mês e se aplica a todos os navios, em que são abordados vários temas, tratados por vários palestrantes que nos transmitem a sua experiência. Foi muito interessante sobretudo para nós, 2TENs, que naturalmente temos menos experiência.

RA – Que, no seu caso, era já de ...

CGA – Três navios. À saída da Escola Naval fui para a fragata «Comandante Sacadura Cabral» onde estava em extra lotação e quatro meses depois passei para a corveta «Afonso Cerqueira», onde estive um ano, tendo passado, quando entrou em fabricos, no Arsenal, à «João Roby» que estava arrancar... onde fiz o PTO.

RA – O PTO? Plano de Treino ... Operacional? (Sim, sim ...) Sabe que o primeiro navio a ser sujeito a um Plano experimental de Treino foi, em 1962, o Patrulha Costeiro «Madeira» ... o, então, PAB, o Plano de Adestramento Básico, que uns anos depois passou a PTB ... entrou o termo Treino.

Em que funções?

CGA – Na fragata fui Adjunta do Imediato para a Gestão do Pessoal (AIGP). Na primeira corveta fui para Chefe do Serviço de Operações e depois de um período de transição acumulei com o de Comunicações. Foi um ano bem preenchido. O navio tinha regressado dos Açores e como tal tivemos dois SAR de uma semana, cada, e depois fomos para a Islândia...

RA – Islândia!?!

CGA – Correcto! Numa missão NEAFC (North East Atlantic Fisheries Commission), de 15 Maio a 30 de Junho, com uma equipa da DGP (Direcção Geral das Pescas) que faz a fiscalização de todos os navios que na área pertençam aos países que tenham assinado o acordo. Haviam duas embarcações portuguesas e nas zonas de pesca do Red Fish era curioso observar as fiadas que as embarcações de pesca faziam umas atrás das outras, mantendo as distâncias.

RA – Temos a sensação que é uma actividade de Serviço Público da Armada desconhecida da larga maioria dos portugueses.

CGA – Fizemos base em Reiquiavique (Islândia) e em Dublin (Irlanda), 4 dias em cada porto, em função da localização dos pesqueiros, mais a norte ou mais a leste. Fomos o terceiro navio português, um de dois em dois anos, a cumprir esta missão.

RA – E o tempo? Que tal?

CGA – Muito, muito frio mas bom tempo! Na BNL (Base Naval de Lisboa), após o regresso, tivemos mais SAR’s e fomos a Cabo Verde numa missão inopinada, conjunta com a PJ, cerca de um mês, de combate ao contrabando que, sendo classificada, se tornava para nós psicologicamente desgastante, pois não sabíamos nada de nada e, claro, quanto ao regresso ainda menos, mas os oficiais do pouco que soubessem, também não estavam autorizados a dizê-lo. Era precisa a compreensão das famílias, nada habituadas a situações destas.

RA – Mais um Serviço extra imposto à Armada que era frequente há muitos anos. Conseguiram resultados?

CGA – Suponho que não se conseguiram resultados precisos mas a operação foi retomada ...

RA – Foi uma experiência de extremos ... climatéricos, pelo menos!



CGA – Não foi só. Chegados a Lisboa, fomos logo enviados para a Guiné com a «Corte Real» a prevenir uma situação que já tinha ocorrido. Mal tínhamos podido explicar o que fizéramos, quando duas ou três semanas depois, voltámos a sair. Estivemos cerca de um mês, em patrulha, ao largo da Guiné e íamos a Cabo Verde e, claro, estávamos prontos para proceder à recolha de cidadãos nacionais, da U.E. e outros, se fosse necessário evacuar a Guiné.

RA – E apareceram navios franceses?



CGA – Sim, uma corveta, afastada da nossa zona de patrulha, mas que estava atracada no Mindelo numa das nossas passagens por lá. Após esta missão fomos à Praia e aí recebemos ordem para dar volta à missão mas, à última da hora, o comandante recebeu um telefonema a dizer que a fragata regressava e que nós continuávamos a operação com a PJ. Foi muito difícil de digerir... eu nem fui a terra. Os outros, todos contentes, desejavam-nos boa estadia.



Nós saímos no dia seguinte. Mais uma semana e meia o que deu um total de mês e meio naquelas paragens.

RA – Depois ...

CGA – Viemos em Novembro e fomos para o Arsenal. Eu passei então para a «Roby». (As funções?) Como Chefe dos Serviços de Navegação e de Comunicações e ainda Relações Públicas (RP). Fizemos o PTO que entre outros, inclui o Distex...




RA – Foi nessa altura que fiz uma reportagem sobre o Distress Exercice (Exercício de Assistência Humanitária) que, infelizmente, não chegou a ser publicada e em que trocámos mensagens...

CGA – Isso mesmo.

RA – Mas há ainda um PT... E?

CGA – “E” de Específico. Aplica-se apenas a corvetas que estando operacionais há já algum tempo, são, antes de iniciarem uma dada missão, avaliadas só em alguns exercícios interessantes para essa missão, como, no caso dos Açores, poderá acontecer com o Distex.

RA - Depois de regressarem dos Açores é que ocorre a sua nomea-ção.

CGA – Sim. Uma série de circunstâncias terá ocorrido para que fosse convidada pelo Almirante CEMA para vir comandar este navio. Como foi em Fevereiro houve a preocupação de que o convite formal ocorresse em 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher.


RA – E houve esse eco? Foi muito «castigada»?

CGA – Sim! Sim! ... Percebo! Eu fui sempre uma pessoa muito tímida. Cheguei, eram cerca das 1630, e estava tudo muito calmo. O comandante Brás de Oliveira disse-me que haveria uma conferência de imprensa. Depois da cerimónia protocolar, fomos, então, para uma salinha onde estavam vários jornalistas.

RA - Como foi? Estamos curiosos.

CGA – Eram cerca de dez. Fizeram perguntas... algumas embaraçosas mas nada de especial... já tinha sido entrevistada a bordo da «João Roby» em directo, uma vez, e em diferido, outra. Também já tinha participado num seminário, não um curso organizado para oficiais de RP mas para os jornalistas e aí recebemos alguma informação, mas foi apenas uma semana incluindo dois dias de visitas.

Houve o cuidado de me darem um apontamento com alguns elementos estatísticos que me foram úteis.

RA – Ao menos...

CGA - Não se esperava que tivesse tanta repercussão mas, logo que foi divulgado, houve uma tentativa de contacto telefónico, através duns primos, que falhou. Lembro-me, nesse sábado, que tinha acabado de chegar a casa dos meus futuros sogros, quando do EMA me comunicaram que dois outros Jornais pediam uma entrevista que fui lá dar pois deveriam sair no domingo a seguir. Além disso dei duas entrevistas para a rádio.

RA – Neste momento é a quarta mulher na Classe de Marinha?

CGA – Sou. Sou a décima primeira. Além destas quatro, mais antigas que eu há cinco de AN e uma de Engenharia de Armas e Electrónica e outra de Mecânica.



RA – As MIF são na Armada 7%, ou seja cerca de 700 ao todo, das quais 170 oficiais. E como foi a reacção da sua actual guarnição?

CGA – O TEN Sousa Luís comunicou que seria rendido pela primeira mulher a comandar um navio e ele próprio, talvez por que o assunto já tivesse sido falado, achou que a reacção foi normal.

Houve no entanto a preocupação de me nomearem para um navio onde as condições de privacidade pudessem ser melhor preservadas como os das classes «Argos» ou «Centauro».

RA – Qual o tipo de missões em que tem estado envolvido o navio?

CGA – Temos missões de uma semana no Centro, de dois meses no Sul e pontualmente de dois ou três meses na Madeira. Fazemos, no âmbito do Serviço Público, a Fiscalização da Pesca, a Salvaguarda da Vida Humana no Mar e outras, como o Combate ao Contrabando e à Imigração Ilegal.

Uma das missões em conjunto com outras entidades foi a pedida pela ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) que embarcou uma equipa para fazer a inspecção de um tipo de arrastões a que chamam navios fábrica pois, além de pescar, fazem todo o processamento do peixe até à congelação. Estávamos no Algarve, a Barlavento, e duma listagem de cerca de dez, todos nacionais, puderam inspeccionar apenas dois, pois as condições meteorológicas agravaram-se.

As mais comuns são as de Fiscalização da Pesca.

RA – Mas não só?

CGA – Há as de carácter militar-naval, como seja a participação em Planos de Treino de outras unidades e Exercícios Operacionais, e as Escoltas de Navios Militares estrangeiros na entrada e saída de portos e enquanto atracados...

RA – Falamos, pois, de Ameaças Assimétricas?

CGA – Isso. Em alguns dos casos, enquanto estão atracados fica uma lancha ao largo do navio, pronta a intervir se se notar alguma aproximação inesperada e durante o tempo que for necessário a ponto de sermos rendidos por outra lancha. Nos movimentos a nossa acção decorre nas águas próximas em torno do navio em causa.

RA – Não há muito tempo observámos uma situação idêntica junto à Barra mas havia também, pareceu-nos, uma lancha da Polícia Marítima...

CGA – Na saída, ou entrada, o acompanhamento é feito por uma lancha da PM nas águas interiores, até à Linha Entre Torres, e daí para diante é feita por uma lancha da Armada. O que deve ter obser-vado era a passagem do testemunho que ocorre nessa altura.

RA – Confere, de facto. E?

CGA – Além disso temos as missões Passex, que é um exercício com forças que passam ao largo e que pedem a colaboração da nossa Armada. Podemos simular ataques de lanchas rápidas.

RA – Sim!? Qual é a velocidade máxima da lancha?

CGA – Podemos dar 26 nós mas tudo depende do estado de limpeza do casco e outros factores, como a meteorologia, a aguada e o nível do combustível. Acabada de sair do Arsenal é espectável que dêem mais. Já aconteceu atingirem os 30 nós!



RA – Bastante bom para as missões de Fiscalização! Já ocorreram situações de perigo!

CGA – Não. De facto não ocorreram.

RA – Antes assim!

CGA – (Risos). Estamos preparados para o que der e vier...

RA – Entretanto ... casou-se? Não nos diga que o seu marido é oficial da Armada?

CGA – (Mais risos) É mesmo! Conhecemo-nos na Escola Naval onde fomos camaradas de curso.


RA – Por outros casos que conhecemos, isso pode ser um desencontro... total.

CGA - Ele é de Administração Naval e está desembarcado há já cerca de um ano. Mas temos sabido conciliar a nossa vida com as nossas carreiras navais.

RA – Ainda não têm filhos. Como é jovem podemos perguntar-lhe que idade tem.

CGA – Tenho 26 anos. Sou ainda muito nova para pensar em ter filhos.

RA – Sem dúvida! A idade de risco é lá para os trinta e tal...

Diga-nos (esta pergunta já lhe deve ter sido feita muitas vezes), o que a motivou para vir para a Armada?

CGA – Estava a tirar o 12º ano e a Escola Naval convidava alunos a visitá-la. Sou de Coimbra, de onde viemos de autocarro, e, cá, fizeram-nos um briefing sobre a carreira e quais as classes e as habilitações necessárias e quantos anos durava o curso. Foi assim.

RA – Mas o que é que mais a impressionou?

CGA – O que mais me impressionou foi ser um emprego diferente, militar, que tem regras, e como nunca pus barreiras, até porque tenho muitos primos com quem convivia, isso levou-me a pensar que não tinha que ser uma profissão exclusivamente para homens. Acontece também que o meu pai fez o serviço militar na Armada e falava-me com muita saudade e muito gosto do tempo em que esteve cá. Tudo isto contribuiu muito.

RA – Muito interessante!

Não falámos ainda das missões em si. Quanto duram?

CGA – As missões da Zona Marítima do Centro, as mais frequentes, são normalmente de 8 dias e como não devemos ser rotineiros, pois isso iria denunciar a nossa presença nas áreas de fiscalização, planeamos sair para o mar sempre de modo tão imprevisto quanto possível, de dia ou de noite, muitas vezes a altas horas.

RA – E como resolvem o problema das refeições?

CGA – Na Base estamos abonados à BNL. A bordo, durante as missões, gerimos o Subsídio de Alimentação comendo a bordo mas fazemos o possível por tomar as refeições atracados pois o navio balança muito... sim, sim, o almoço e o jantar... todos cozinham e como somos apenas oito tudo corre bem. Temos, aliás, uma escala entre as praças, grupos de dois, que se revezam e se entre-ajudam.


RA – Boa altura para nos dizer algo sobre a guarnição.

CGA – Tenho um sargento e seis praças, uma de cada classe. O sargento é de Máquinas e tem como adjunto um marinheiro Condutor de Máquinas. Depois, um cabo e um marinheiro de Manobra (o cabo é o Mestre do navio), um cabo Comunicativo, oriundo de Sinaleiro, um marinheiro Artilheiro e um Electrecista.



Quando me perguntou pela reacção do pessoal não me ocorreu dizer que o facto de sermos uma pequena guarnição nos aproxima muito mais que nos navios maiores e que, conhecendo-nos melhor, se consegue um trabalho em equipa mais eficiente. É assim em todas as Lanchas.

RA – Acreditamos sem dificuldade. A «distância» é uma barreira que cria outras barreiras. E a operação com o bote? Como é feita?

CGA – Temos duas equipas, uma por bordada, que vai a bordo das embarcações de pesca proceder às Vistorias. São constituídas por três homens, o condutor da semi-rígida e os que, devidamente preparados, vão a bordo vistoriar. Na lancha ficam, além do comandante e do sargento, os restantes três.

RA – Temos a certeza de que a nossa conversa se poderia estender. Agradecemos a sua colaboração por todas as razões plausíveis e, pelo modo expontâneo, desembaraçado e sensato com que nos respondeu, ficamos seguros de que a «Sagitário» (27 metros e 94 toneladas de Deslocamento) e a sua Guarnição estão muito bem entregues. Que tudo permita evidenciar as suas qualidades, são os nossos votos e, certamente, de toda a Armada.



Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves

1TEN

Fotos CAB L Figueiredo



http://www.marinha.pt/extra/revista/ra_ ... ag_18.html




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

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#203 Mensagem por nestor » Dom Jun 03, 2007 8:29 pm

Para aclarar de una vez la identidad de esta chica

Imagem


Se ha mencionado que era piloto o que era azafata y ni siquiera era militar.

Pues la verdad es que es muy conocida en la Base Aeronaval de Rota , (donde tiene su base madre el P.A. PdA.), me indican que esa muchacha de 25 años de edad , es una muy buena mecánica de motores y sistemas de disparo de armas de Harrier, está casada con un oficial de la Armada (alférez de fragata), y su próximo destino solicitado es el nuevo BPE (Porta Av.) Juan C. I., donde pasará seguramente como sgto. hacia el 2008 .


Otra buena noticia es que este mes tendremos en España la primera mujer piloto de combate, una alferez que ahora está haciendo el curso con los F-5 de enseñanza avanzada de Talavera la Real.

Saludos




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#204 Mensagem por cabeça de martelo » Seg Jun 04, 2007 8:14 am

Vocês têm Alferes a voar na Marinha?! Cá em Portugal é de Tenente para cima! :shock:




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#205 Mensagem por nestor » Seg Jun 04, 2007 10:05 pm

cabeça de martelo escreveu:Vocês têm Alferes a voar na Marinha?! Cá em Portugal é de Tenente para cima! :shock:


No es de la Armada, es del Ejercito del Aire y tendrá el grado de teniente cuando finalice el curso.

Saludos.




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#206 Mensagem por Sniper » Seg Jun 04, 2007 10:11 pm

Para aqueles que como eu não sabem o que é um Alferes :lol: :
Alferes

do Ár. alfaris, cavaleiro

s. m.,
oficial do exército português, de patente imediatamente inferior à de tenente;


:D




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#207 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Jul 11, 2007 7:37 am

2007-07-08 - 00:00:00

Mulheres de Armas
Diferentes entre iguais nas Forças Armadas


O espelho foi testemunha da satisfação. Tinha 16 anos, o irmão acabava de regressar a casa no primeiro fim-de-semana depois de ter começado a tropa, mas era a ela que o verde azeitona da farda assentava melhor. Ela assim achava, o reflexo da imagem a querer acompanhar o pensamento. Já ele, contrariado pela obrigação, não se importaria nada que a irmã lhe tomasse o lugar, embora nessa altura mulheres e serviço militar não fossem peças do mesmo dominó.

A tristeza de não poder cumprir o sonho de infância levou Ana Pombeiro de Jesus a emigrar para a Suíça, alguns anos depois de ter experimentado pela primeira vez a roupa do irmão. A hoje 1.º Sargento regressou com 23 anos, quando a notícia há tanto esperada veio pelo telefone: as mulheres iam finalmente poder prestar provas de admissão. Foi aí que a menina que sonhava com os tanques de guerra voltou a acreditar que os sonhos se existem é para serem cumpridos.

Já Mónica Pereira Martins estava longe de imaginar, quando aos 17 anos teve que se decidir por uma carreira, que ia pertencer ao grupo das primeiras mulheres a entrarem para os cursos de licenciatura da Escola Naval. Mais do que isso: que as notas que foram compondo a sua carreira iam sempre tocar-se de pioneirismo. Curiosamente, passou os seus dias de menina a pensar em números e a imaginar-se no futuro como professora de Matemática, influência das tias com a mesma profissão. Depois de acabar o 12.º ano, a 1.º tenente Pereira Martins inscreveu-se na Academia da Força Aérea, na Escola Naval e na Universidade de Coimbra, no curso de Matemática Aplicada. Foi admitida nas três, preferiu a segunda. Mas os pais, com medo que Mónica se arrependesse da escolha e não se adaptasse à dura vida militar, pagaram a primeira propina na faculdade, para garantir o lugar. Ela disse que não, não era preciso. Não foi. Não chegou nunca a desenhar números no quadro preto. Em vez disso, fez da escolha profissão que não se imagina a abandonar. A equação tem resultado.

Foi a necessidade de procurar um rumo profissional que a preenchesse e lhe desse o que o trabalho em Gestão nunca conseguiu, que fez Maria João Oliveira fazer um círculo no anúncio de jornal que falava no recrutamento de mulheres para a Academia da Força Aérea e sublinhar a vontade de aventura e desconhecido. Arriscou, foi aceite. Estava-se em 1991, e a major Maria João tinha 26 anos, e no currículo a palavra mágica: solteira, uma das condições para entrar. O estado civil alterou-se por duas vezes, depois de entrar na academia: de solteira a casada e mais tarde divorciada. Mas ainda hoje agradece ter aberto o jornal no dia em que viu o anúncio: é mais feliz como militar do que como civil.

Quem também o diz é a tenente-coronel Anabela Varela, que só lamentou ter deixado os saltos altos em favor das botas da tropa. “Foi o mais difícil de trocar, fiquei sem calcanhares no primeiro exercício e com as mãos calejadas só de puxar os cordões das botas”, assume a jurista de profissão. A criança que sonhava ser hospedeira de bordo percebeu em adulta que o sonho repetido de voar se fazia com as asas da Força Aérea mais do que com os aviões civis. Mas, como Ana de Jesus, não pode concorrer logo à Academia por não serem admitidas mulheres quando terminou o liceu, o que lhe cortou as ‘asas’. Formou-se por isso em Direito e o mesmo anúncio de jornal que Maria João viu, abriu-lhe a porta para o sonho antigo que nunca tinha sequer verbalizado para si própria. Na Academia da Força Aérea passou a ser a Marcela, alcunha que partilhava com Maria João, que entrou no mesmo ano. Tem explicação: o primeiro licenciado que entrou para a Força Aérea tinha o mesmo nome, e a partir daí os licenciados não mais se escaparam da designação.

HOJE, MÓNICA É PILOTO NAVAL

Ana pertence à administração militar pára-quedista, Maria João é chefe de Secção Administrativa da Repartição de Auditoria Administrativa da Direcção de Finanças da Força Aérea, e Anabela é jurista. São mulheres nas Forças Armadas e dizem-se diferentes entre iguais. É esse o estandarte que defendem. Sem armas, mas com a convicção do treino militar que as formou. Quando a conversa se começa a escrever de discriminação, as reticências anunciam hesitação. Mas garantem que não, nunca se sentiram inferiorizadas pelos “camaradas” homens.

Ana de Jesus vai mais longe e aponta o dedo às facilidades excessivas que são dadas ao sexo feminino na recruta. “Sou contra as percentagens, porque não acho que a nossa integração seja difícil, nós é que a tornamos difícil”, diz, enquanto acusa o desemprego de levar para a vida militar mulheres sem condições físicas para tal. “Há facilidades para as militares femininas e os homens percebem isso, o que ajuda a criar o sentimento de injustiça”, explica a militar que participou em três missões de apoio à paz. A major Maria João também destaca a discriminação positiva, e refere a protecção e o paternalismo que sempre sentiu por parte dos camaradas masculinos. Nega que alguma vez tenham duvidado do seu valor militar.

Já Mónica, não esquece que durante os primeiros tempos a grande dificuldade foi ao nível das infra-estruturas: não estavam preparadas para as mulheres. “Era tudo feito a pensar nos homens, os próprios navios não estavam prontos para receber o sexo feminino”, avança a 1.ª Tenente Pereira Martins, hoje piloto da fragata Álvares Cabral, que sublinha a evolução que a área militar tem sofrido nos últimos anos. A tenente, solteira e sem filhos, lembra, no entanto, que a Marinha se confronta com a maternidade, porque uma mulher grávida não pode embarcar. De uma ou outra forma, sentiram as quatro que nem sempre as portas se abrem com um empurrão, e que muitas vezes a dificuldade está na fechadura. Ana de Jesus sofreu isso na pele.

Depois de concretizar o sonho maior que tinha, o de ser admitida, a 1.º sargento queria mais do que vestir a farda: queria ir para Infantaria, ser operacional, estar na linha da frente nos combates. “Na altura não era permitido às mulheres serem operacionais, por isso tive de me contentar com a parte administrativa”, conta. “Lembro-me de, nessa altura, um superior meu me dizer: ‘Ainda vais ser a primeira mulher comando em Portugal’”. O tempo “errado” em que nasceu não deixou, mas o mesmo tempo transformou a mágoa em amor à camisola: “Hoje também gosto de administração militar”, explica Jesus – como é tratada na Escola de Pára-quedismo de Tancos, onde trabalha.

Também Anabela lamenta a fechadura que aos 18 anos não foi possível abrir. Trancada a sete chaves. “Se pudesse ter ingressado logo, e não só aos 28 anos, hoje não era jurista: era piloto de aviões.” Desilusões à parte, nenhuma das quatro mulheres das Forças Armadas imagina a vida longe dos camaradas, das fardas, das paradas. E também da aventura e do desafio constantes, que todas confessam ter sido o que as levou até à profissão que hoje exercem. Acumulam muitas histórias para contar, que as missões e o treino lhes escreveram nas páginas. Ana tem dificuldade em escolher uma. Acaba, entre risos, por lembrar quando foi no primeiro contingente para o Kosovo, na mesma altura em que os refugiados estavam a regressar. Os militaes ficaram alojados em tendas de campanha individuais, no mato, mas muitas vezes acabavam por dormir nas viaturas.

Ana procurava um camarada masculino e, quando chegou ao pé dele, o militar estava... nu. “Oh Jesus, desculpa”, terá dito, mais incomodado com a situação do que ela. A 1.º sargento foi também, muitas vezes, ombro de saudades. “Eles aproveitavam para falar com as militares mulheres sobre as esposas e os filhos, dada a nossa sensibilidade especial”, conta. Diz também que moderavam a linguagem “de caserna” desde que as primeiras mulheres começaram a participar em missões, o que facilitava quando chegavam a casa junto das famílias e não tinham de repensar o vocabulário.

Os olhos azuis de Anabela Costa Varela iluminam-se quando recorda o maior elogio que recebeu de um militar homem: “Esqueci-me de que és uma mulher.” Uma mulher que dança nos tempos livres, tem uma filha de 20 anos, e que durante dois anos integrou o Comité Executivo das Mulheres nas Forças Armadas, como Deputy Chair. Mónica Pereira Martins sorri quando diz que os amigos acham “espectacular” ter uma amiga militar, e que é o orgulho da família que sempre a apoiou. A Inês e o Francisco, de 11 e 9 anos, já estão habituados a que a mãe, Maria João, seja militar e que influenciada pela organização e hierarquia da profissão que tem, lhes imponha mais regras que as mães dos amigos. Os sobrinhos de Ana de Jesus, com quem esta aproveita os tempos livres, também. E nunca se escapam de ir na rua e ouvir: “Agora é que eu devia ser militar”.

ESTUDO MOSTRA EVOLUÇÃO POSITIVA

A socióloga Helena Carreiras, investigadora do CIES/ISCTE tem vindo a estudar o tema da integração feminina nas instituições militares. Carreiras participou no Colóquio ‘Igualdade de Oportunidades nas Forças Armadas’, que decorreu em Lisboa. Na sua apresentação, a socióloga referiu que a situação das mulheres nas Forças Armadas das democracias ocidentais tem vindo a alterar-se significativamente nas últimas quatro décadas: muitas restrições foram eliminadas, com um mais fácil acesso das mulheres a um conjunto alargado de posições e funções. Portugal está, aliás, acima da média no que respeita à representação feminina nas Forças Armadas. No entanto, a socióloga diz que a integração militar feminina está longe de ser concretizada, pois as mulheres são ainda excluídas de áreas e funções ligadas ao combate e têm uma representação limitada em posições de poder.

APOIO DA FAMÍLIA

Mónica Pereira Martins, Ana de Jesus, Maria João Oliveira e Anabela Varela têm em comum o facto de terem sido incondicionalmente apoiadas pela família quando decidiram abraçar o sonho militar. Mesmo em relação aos amigos “civis” – como gostam de frisar – dizem não sentir qualquer tipo de diferença de relacionamento. Consideram que a conciliação entre a vida familiar e a carreira militar não é diferente de em qualquer outra profissão, e o mais difícil são mesmo as ausências em trabalho. Anabela e Maria João só sentiram isso no primeiro ano da Academia, em que a semana de treino intensivo as levava a casa só ao fim-de-semana, mas Mónica e Ana, ambas solteiras, têm de passar algumas temporadas fora. A 1.º tenente quando está embarcada na fragata Álvares Cabral (já chegou a passar seis meses longe da família), a 1.º sargento quando participa em missões – como já aconteceu na Bósnia e no Kosovo, ambas de apoio à paz. As quatro defendem que quando “o treino é duro, o combate é fácil”, que aplicam à sua vivência enquanto “diferentes entre iguais”.

DADOS

16 por cento das mulheres colocadas nas Forças Armadas pertencem à Força Aérea, 13,5% ao Exército, e 6,6% à Marinha.

14 por cento dos militares portugueses das Forças Armadas são mulheres (em 2007). Em 2006 a percentagem era de 12%, em 2005 de 10,3% e em 2000 a representação era de 6,6%.

19 por cento das mulheres militares no Exército estão em funções de apoio, 14,3% em funções técnicas e apenas 7,9% são operacionais. Na Marinha apenas 2% são operacionais e na Força Aérea a percentagem é de 7%.

1479 entre o ano 2000 e o de 2006, mais 1479 mulheres ingressaram nas Forças Armadas Portuguesas. Comparando o ano de 1994 e o de 2006 a evolução é ainda mais notória: mais 3089 mulheres.

Fonte: Carreiras, Helena (2006) Gender and the Military. Women in the Armed Forces of Western Democracies, London and New York, Routledge. Relatórios anuais do CWINF (Committee on Women in the NATO Forces).

Marta Martins Silva


Fonte: http://www.correiomanha.pt/noticia.asp? ... idCanal=19




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Re: Mulheres... outra vez...

#208 Mensagem por Tigershark » Seg Jun 23, 2008 7:25 pm

23/06/2008 - 19h03 - Atualizado em 23/06/2008 - 19h10

EUA têm a primeira mulher general quatro estrelas
Da France Presse

WASHINGTON, 23 Jun 2008 (AFP) - Ann Dunwoody, com 33 anos de carreira militar, foi nomeada hoje general quatro estrelas, tornando-se, assim, a primeira mulher a aceder à mais alta patente do Exército dos Estados Unidos.



"É uma ocasião histórica para o ministério da Defesa e estou orgulhoso em promover a tenente-general Ann Dunwoody", afirmou nesta segunda-feira o secretário americano da Defesa, Robert Gates, em comunicado.



Segundo a porta-voz do Exército, Anne Edgecomb, esta nomeação é "importante levando-se em consideração que o Exército possui apenas 11 generais quatro estrelas".



Dos 1.070.000 soldados, 14% são mulheres.



A designação deve ser confirmada pelo Senado.




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Re: Mulheres... outra vez...

#209 Mensagem por Clermont » Qui Set 18, 2008 7:44 pm

MULHERES EM COMBATE TERRESTRE – Uma proposta para um experimento.

Por Fred Reed – 2003.

Vamos examinar de modo obtuso (não estou certo como se faz para examinar de modo obtuso, mas vamos tentar) se mulheres devem ser permitidas em combate terrestre. E, então, eu farei uma esplêndida e progressista proposta, que irá ser aplaudida pelas feministas radicais, em todas as partes. Eu acho que serei premiado com um título de membro vitalício na Organização Nacional das Mulheres.

Mulheres devem participar de combates terrestre? Santo Deus, não. Mulheres não tem lugar algum na infantaria, artilharia ou na arma blindada. Elas são fracas demais, delicadas demais e pequenas demais. Elas cansam após um dia de marcha ou esforços pesados. Elas, simplesmente, ficam pelo caminho. Elas irão fazer com que homens sejam mortos. A idéia é ruim, qualquer um que tenha sido militar compreende isto, mas ninguém tem tutano de dizer para as feministas, “não.”

Talvez você não tenha estado à pé, numa zona de guerra. Eu já. Nos meados dos anos 1960, eu estava nos blindados, no Vietnam, com o Corpo de Fuzileiros Navais, passei um bom tempo carregando um fuzil, passei pelo treino de infantaria em Camp Geiger, que você não irá querer tentar, a menos que seja um garotão saudável. Deixem-me dizer-lhes algumas coisas sobre a vida no chão, numa zona de guerra.

É brutalmente físico. Tente descarregar um caminhão transportando bombas de morteiro. Erga 27 Kg, morro acima, no calor asiático, durante uma hora. Quando eu era um naval, um lança-chamas pesava, se a memória funciona, 34 Kg. Tente levar essa porra, subindo colinas com a escorregadia argila da Carolina do Norte, quando você escorrega para trás, quase tanto quanto você anda para frente, e com seus pulmões queimando, até que você mal possa respirar. Tente reparar as lagartas de um blindado, quando um pelotão está com problemas e precisa de apoio de fogo, imediatamente. Não fale sobre isso. Não teorize. Tente. Em Lejeune, nós fazíamos marchas forçadas, dias após dia, com três horas e meia de sono. Não, isso não é exagero. Tente.

Certo. Vá ao seu ginásio local. Se não é membro, pague 10 paus por uma licença de um dia, e observe. Fique por lá, umas duas horas, e observe o que os homens puxam. Observe o que as mulheres puxam. Veja se você detecta um padrão.

Mulheres não puxam um pouquinho menos do que homens, e não são um pouquinho mais fracas. Elas puxam, enormemente, menos. Elas são, catastroficamente, mais fracas.

Não aceite minha palavra. Vá. Olhe.

Tenho 53 anos, em melhor forma do que a média, para meu tamanho e idade, mas nada espetacular. Eu nunca fui do tipo atlético. Eu vou ao ginásio para continuar forte o bastante para carregar meus tanques de mergulho. Se eu entrar num ginásio dos Fuzileiros Navais e disser que sou o sujeito mais forte lá, o Corpo teria de ser desmobilizado, porque não se pode lutar enquanto se está morrendo de rir.

Mas, de longe, eu sou a mulher mais forte que eu já vi, no meu ginásio, em dez anos de inscrição.

Não me chamem de sexista. Não me digam que estou tentando ser o “machão”. (ou, podem dizer: eu não me importo). Vá e olhe.

Quer documentação? Há um ramo de pesquisa chamado fisiologia do exercício, que tem estudado as capacidades físicas de homens e mulheres em quase infinito detalhe (em grande medida, para ajudar atletas). Examine capacidade cardíaca relativa, contagem de eritrócitos, relação da massa muscular com a massa corporal. Eu não estou fazendo ilações disparatadas. Você pode encontrar tudo isto em qualquer biblioteca universitária.

Agora, o que tais diferenças físicas significam para a sociedade fora das Forças Armadas? Quase nada. Uma mulher não precisa de força para ser cirurgiã, professora, senadora, jornalista, ou CEO. Mas, mulheres fracas vão fazer com que homens sejam mortos na guerra. Eu já vi guerras. Eu já estive em enfermarias de feridos. E também um bocado de homens. Para nós, a guerra não é uma abstração, e fazer com que homens sejam mortos, para agradar feministas não é bonito.

Eu tinha prometido fazer uma esplêndida proposta. Aqui está ela. Vamos pegar 100 homens, direto do treinamento básico, e 100 mulheres, também do básico, escolhidos aleatoriamente. Vamos levá-los, todos, para Camp Lejeune, Carolina do Norte, num outubro chuvoso. Vamos botar mochilas de 27 Kg (60 pounders) nas costas deles, dar-lhes fuzis e uma carga completa de munição.

Então, vamos submetê-los a marchas forçadas, em passo acelerado, marcado por um sargento de infantaria, até que eles caiam. Eu quero dizer, cair literalmente: não conseguir mais agüentar de pé. Sem tempo de descanso, sem cartõezinhos verdes para acenar, sem caminhões para carregar seus equipamentos, sem retardos. Avançar até cair. É isso o que ocorre em combate: amargo esforço físico, sem interrupção, sem sono. Isto é físico.

Se as mulheres puderem agüentar, eu calo a boca. Se elas agüentarem, todos os críticos de se colocarem mulheres na infantaria terão de calar a boca. Eis aqui, uma oportunidade maravilhosa para feministas radicais, por toda parte. Mas, querem saber duma coisa? Eu vou receber uma porção de gritos e uivos por causa desta coluna, acusando-me de sexismo e patriarcalismo. O que eu não vou receber é um chamado das feministas para realizar o teste. Elas sabem o que iria acontecer.




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Re: Mulheres... outra vez...

#210 Mensagem por Clermont » Sex Set 19, 2008 8:37 pm

MULHERES EM COMBATE – Fatos no armário.

Por Fred Reed – 2003.

Ocasionalmente tenho escrito que botar mulheres em trabalhos, fisicamente exigentes, nas Forças Armadas, como por exemplo, o combate, é estúpido e impraticável. Previsivelmente, tenho recebido respostas garantindo que odeio mulheres, abuso de crianças, canibalizo órfãos e sou incapaz de arranjar uma namorada. Umas poucas mensagens, com truculência algumas vezes amplificada por má-escrita, tem exigido dados de apoio.

Certo. O que se segue é oriundo de documentos que encontrei no armário, que restaram dos meus dias como colunista de assuntos militares (”Soldiering”, Universal Press Syndicate). Observe as datas: tudo isto é conhecido há um longo tempo.

Do relatório da Comissão Presidencial sobre a Designação de Mulheres nas Forças Armadas (relatório de 15 de novembro de 1992, publicado em livro pela Brassey’s, em 1993):

“A recruta mulher mediana do Exército é 12 cm (4,8 inch) mais baixa, 14,3 Kg (31,7 pounds) mais leve, tem 16,9 Kg (37,4 pounds) a menos de músculos, e 2,5 Kg (5,7 pounds) a mais de gordura do que o recruta masculino mediano. Ela tem, apenas, 55 porcento de força nos membros superiores e 72 porcento nos inferiores... Um estudo do Exército de 124 homens e 186 mulheres, feito em 1988, descobriu que as mulheres tem mais do que o dobro de chance de sofrer ferimentos nas pernas e quase cinco vezes mais chances de sofrer fraturas por stress do que os homens.”

E mais:

“A Comissão ouviu uma abundância de testemunhos de especialistas sobre as diferenças físicas entre homens e mulheres, que podem ser resumidas como se segue:

A capacidade aeróbica de mulheres é significativamente mais baixa, querendo dizer que elas não podem carregar tanto e tão longe, quanto os homens, e elas são mais susceptíveis à fadiga.

Em termos de capacidade física, os primeiros 5 porcento das mulheres estão ao nível do homem mediano. A mulher mediana de 20 a 30 anos tem a mesma capacidade aeróbica que um homem de 50 anos.”

Do mesmo relatório: “O tenente-coronel William Gregor, Exército dos Estados Unidos, testemunhou perante esta comissão no que tange a pesquisa que ele conduziu num Campo Avançado do CPOR do Exército, com 623 mulheres e 3.540 homens. ... Evidências que Gregor apresentou a comissão incluem:

“A) Utilizando o Teste de Aptidão Física Padrão do Exército, ele descobriu que a quinta parte mais alta das mulheres em West Point obteve índices no teste equivalente a quinta parte mais baixa dos homens.

(...)

“C) Apenas 21 mulheres do total inicial de 623 (3,4%) obtiveram um índice igual ao índice mediano dos homens de #260.

“D) No teste de flexões, apenas 7 porcento das mulheres podem atingir um índice de #60, enquanto 78 porcento dos homens o excedem.

“E) Adotando um padrão masculino de aptidão, em West Point, significaria que 70 porcento das mulheres que ele estudou seriam descartadas como fracassos, no final do ano inicial, apenas 3 porcento seriam elegíveis para a insígnia de Recondo, e nem uma só receberia a insígnia de Aptidão Física do Exército... “

O seguinte, citado por Brian Mitchell, em seu livro Women in the Military: Flirting With Disaster (Regnery, 1998) e amplamente conhecido pelos estudantes das Forças Armadas, são resultados de um teste que a Marinha fez para ver como mulheres podem se desempenhar em controle de danos – isto é, tarefas necessárias para salvar um navio que tenha sido atingido.

(Nota do Clermont: tabelas muito chatas pra se copiar, basta citar alguns fatos:)

A) Teste de transporte de padiola, no mesmo convés:

Após treinamento, 38 % das mulheres fracassaram. Nenhum homem fracassou.

B) Teste de transporte de padiola, subindo/descendo o convés:

Após treinamento, 88 % das mulheres fracassaram. Nenhum homem fracassou.

C) Carregar a bomba d’água P250, descendo o convés:

Após treinamento, 99 % das mulheres fracassaram. Apenas 4 % dos homens fracassaram.

D) Acionar a bomba d’água P250:

75 % das mulheres fracassaram. Nenhum homem fracassou.

Nossos navios podem ser atingidos. Eu sei o que são mísseis supersônicos de cruzeiro. E os iraquianos também.

Também, oriundo do relatório da Comissão:

“Relatórios sobre não-desdobramento, perante a Comissão, mostraram que as mulheres são três vezes mais não-desdobráveis do que homens, primordialmente devido à gravidez, durante as Operações DESERT SHIELD e STORM. De acordo com o testemunho da capitão de navio Martha Whitehead, perante a Comissão, a razão primordial para as mulheres serem incapazes de desdobramento foi a gravidez, isto representando 47 porcento das mulheres que não puderam ser desdobradas.”

Talvez, precisemos de carrinhos blindados de bebês.

Minha amiga Catherine Aspy, graduou-se em Harvard, em 1992, e (não, não estou drogado) alistou-se no Exército, em 1995. Seu relato foi publicado no Reader’s Digest, fevereiro de 1999. (Aliás, está copiado, aqui, no Fórum DB. Por coincidência, neste mesmo tópico...)

Ela contou-me o seguinte sobre suas experiências: “Fiquei atordoada. O Exército era um vasto centro maternal, cheio de mães solteiras adolescentes, usando-o como casa de assistência social. Eu levei o treinamento à sério e, realmente, tentei manter o passo com os homens. Eu descobri que não podia. Eu não cheguei nem mesmo perto. Eu não tinha idéia de que a diferença em capacidade física fosse tão enorme. Lá estavam bandos de mulheres sentadas, fora dos exercícios, ou de muletas, por causa de ferimentos no treinamento.

Eles, (os militares) estavam tão apavorados com assédio sexual, que as mulheres não eram permitidas a irem a lugar algum sem outra mulher junto. Eles chamavam isso de “companheirismo de batalha”. Que loucura. Eu tinha vinte e seis anos, mas não podia ir ao banheiro sozinha.”

Supõem-se que as mulheres devam enfrentar a infantaria norte-coreana, mas elas precisam de proteção para ir ao banheiro feminino. O fascínio da política militar não tem fim.

Quando eu estava escrevendo a coluna militar, olhei para a experiência do Canadá, que tentou o experimento da feminização. Eu peguei o relatório de Ottawa, como também o fez a Comissão. Esta última dizia:

“Após extensas pesquisas, o Canadá descobriu pouca evidência para apoiar a integração de mulheres em unidades terrestres. Das 103 mulheres canadenses que se voluntariaram para ingressar em unidades de infantaria, apenas uma graduou-se no curso inicial de treinamento. A experiência canadense corrobora o testemunho do ten-cel Gregor, que disse que as probabilidades de selecionar uma mulher rivalizando com o tamanho e força físicos do homem mediano são mais do que 130 para 1.

Da Military Medicine, outubro de 1997, que eu peguei na biblioteca do Pentágono:

(pag. 690): “Um terço das 450 soldados mulheres observadas indicam que elas experimentaram problemas de incontinência urinária durante atividades de exercício e de campo. O outro achado crucial da pesquisa foi que, provavelmente, 13,3 % das pesquisadas provocavam retenção urinária, enquanto participavam em exercícios de campanha.” Isto porque urinar era um embaraço.

Ou (pag. 661): “Kessler et al descobriram que a prevalência por toda a vida de tensão pós-traumática (PTSD) nos Estados Unidos era duas vezes mais elevada entre mulheres...” Depressão, diz MilMed, é de longe mais comum, entre mulheres, como o são ferimentos em treinamentos. Et cetera.

Os militares estão perfeitamente cientes de tudo isto. Suas próprias publicações lhes dizem isto. Eles vêem isto todo dia. Mas, proteger suas carreiras, e traseiros, é mais importante do que proteger o país.

De qualquer forma, para aqueles que queriam evidências de apoio, aí estão elas.




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