Frações de Infantaria

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Re: Frações de Infantaria

#106 Mensagem por henriquejr » Dom Jun 30, 2013 4:37 pm

Túlio escreveu:Tomara que seja assim aqui também. Segundo o Amigo/Colega NAVAL, ao menos no CFN é. Falta o GUERRA falar pelo EB...
Aqui na PM/RN, o policial como gestor (independente da graduação ou posto) tem sido estimulada desde os cursos de formações. O que se quer é acabar com aquela velha mentalidade que um soldado é apenas um executor de ordens, principalmente com relação a sua atuação como policial em si (fora da caserna). Aqui a maior parte das viaturas (excerto das unidades especializadas) são comandadas por Soldados (o mais antigo de cada guarnição), e livre iniciativa para agir, dentro das suas respectivas áreas de patrulhamento e sob coordenação do CIOSP (Central). Os Sargentos e Oficiais (Tenentes nas áreas de patrulhamento e Capitães e Major como Supervisores de operações, no CIOSP) atuam como fiscais e apoio (operacional ou administrativo). Nos briefings, geralmente ministrado pelo Oficial de Serviço da respectiva área, são repassadas as equipes as informações pertinentes ao serviço, Ordens de Serviços, missões, etc... e depois abre-se um espaço onde todos podem dar sugestões, que se forem de acordo com a maioria, e forem pertinentes, são prontamente aceitas.

Para terem idéia de como as coisas estão mudando, na minha unidade (especializada em prevenção e combate as drogas) um Soldado foi escolhido para gerenciar uma equipe de 16 Soldados que trabalham numa cidade da região metropolitana, e o mesmo participa de todas as reuniões com o Comando, representando sua equipe.

Outro exemplo é de um Soldado que atualmente chefia a Subcoordenadoria de Estatística da Secretária Estadual de Segurança Pública, cargo já ocupado por Oficiais Superiores e Delegados!
A Subcoordenadoria será composta de quatro núcleos, um de cada organismo que compõe a Sesed: Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep).

O subcoordenador de Estatística e Análise Criminal é o soldado PM Kleber Maciel de Farias Júnior, formado em estatística pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde foi professor-substituto por dois anos.

http://www.defesasocial.rn.gov.br/conte ... icia=24590




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Re: Frações de Infantaria

#107 Mensagem por Clermont » Dom Jul 07, 2013 8:06 am

O PELOTÃO DE FUZILEIROS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

Gary Kennedy

Se o grupo de combate era o bloco básico, o pelotão de fuzileiros representava a primeira fração taticamente viável do batalhão de infantaria.

Ele desdobrava entre dois até quatro elementos idênticos adicionando uma estrutura de comando e apoio de fogo integral. Isto dava ao seu comandante a flexibilidade de poder operar não apenas os elementos normais de fogo e manobra, mas também manter uma pequena reserva. Os fundamentos de como estes elementos operavam juntos ao nível do pelotão pode ser traçado através da progressão até batalhão e regimento.

Semelhante ao grupo de combate, havia três tipos distintos de pelotão durante a Segunda Guerra Mundial. O mais comum compreendia três GCs idênticos, cada um com uma ou duas metralhadoras leves.

O próximo alterava o número de GCs, ou reduzindo para dois, ou subindo para quatro, com variantes similares no número de metralhadoras leves.

A versão final rearmava certo número de GCs com submetralhadoras ou fuzis de assalto, com metralhadoras leves em algumas ocasiões.

Constituição do "típico" pelotão de fuzileiros.

Muito simplesmente não existia tal coisa. Conquanto seja possível discutir o grupo de combate em termos amplos, as múltiplas variantes e desviações do pelotão de fuzileiros complicam as coisas, notavelmente.

Por volta de 1943, o pelotão de fuzileiros de infantaria mediano compreendia três GCs, mais um pequeno comando. Os britânicos, rotineiramente, desdobravam um morteiro leve e uma arma antitanque de infantaria. O Exército americano desdobrava apenas a "bazuca", mas, posteriormente, acrescentou fuzis automáticos extras. Os alemães normalmente atribuíam uma metralhadora leve de reserva. O Exército Vermelho nada agrupava, exceto um solitário oficial no comando de sua reduzida fração à três GCs. O quadro muda marcantemente, de novo, com a inclusão de infantaria blindada e infantaria aeroterrestre.

Comando de pelotão.

O típico comando de pelotão compreendia o comandante, seu sargento adjunto e certo número de mensageiros. Pessoal adicional tais como socorristas, ou no modelo alemão, condutores de carros tirados à cavalo também eram desdobrados. A função do socorrista era atender feridos e moribundos, e sua presença não impactava as táticas. Condutores de carros permaneciam com suas viaturas na área de comando da companhia, segundo meu melhor entendimento, e portanto podem ser excluídos deste exame.

O comandante de pelotão.

O comandante era um oficial subalterno, ou um sargento superior no Exército alemão. Ele ocupava uma posição vital e, de algum modo, pouco invejável, na cadeia de comando. Seu dever era atingir o objetivo designado para seu pelotão a um custo mínimo em baixas. A definição de "custo mínimo" podia variar dependendo da mssão em vista, e da importância do objetivo. Se o valor fosse considerado alto o bastante por seus comandantes superiores, isso poderia ser igual à maior porção do pelotão.

O tenente estava na posição única de compartilhar as frustrações de seus homens com as, algumas vezes, absurdas ordens que recebiam de cima, mas obrigado pelo dever em levá-las à cabo com o melhor de sua habilidade. Ele também estava mais bem colocado para ver as, freqüentemente trágicas conseqüências. Também havia a questão se ele era o Líder do pelotão, ou seu Comandante. Pode parecer a mesma coisa, mas há uma sutil diferença.

Alguns oficiais estavam determinados a liderar da frente, estabelendo um exemplo ao fazer o trabalho eles próprios. Enquanto altamente louvável, eles, freqüentemente, pagavam o preço final por sua bravura. Os exércitos precisam promover experimentados comandantes de pelotão para o nível seguinte, mas eles tinham de sobreviver o bastante para ganhar esta experiência. Com três líderes de GC e entre trinta e quarenta soldados, os tenentes precisavam aprender a arte da delegação e direção dos esforços de seus homens, sem necessariamente estarem, eles mesmos, envolvidos no tiroteio. Porém, quando a fração hesitava ou se encontrava aferrada, era a responsabilidade do comandante de pelotão se levantar e incitar seus homens à frente com o grito de Sigam-me! ou Vamos lá, rapaziada! Era então que o Comandante tornava-se um Líder.

O sargento adjunto de pelotão.

O adjunto de pelotão atuava como o subcomandante da fração. Dadas as excentricidades de como homens recebiam comissões de oficial nos vários exércitos da época, a presença de um sargento adjunto não era nenhum acidente. Um novo tenente podia se achar no comando com pouca ou nenhuma experiência de combate ou de administração. O sargento adjunto era, por comparação, um veterano. Ele tinha trabalhado duro, percorrendo a trajetória de praça fuzileiro até graduado líder de GC e estava plenamente versado na condução do pelotão.

O oficial inteligente aprendia a confiar no aconselhamento de seu sargento, enquanto se familiarizava com seu novo comando. Psicologicamente, sem dúvida, havia amplo espaço para fricção, mas não era a função do sargento adjunto enfraquecer a autoridade de seu tenente, mais do que deixar que ele cometesse erros táticos sem fazer comentários. Praticamente falando, o sargento assumia o comando do pelotão, na ausência ou baixa do tenente. Da mesma forma, se o sargento adjunto tombasse, um dos líderes de GC o substituiria, o posto deste último sendo assumido pelo seu auxiliar no grupo de combate.

De forma interessante, ambos os exércitos alemão e russo deletaram o sargento adjunto durante suas reorganizações de 1943, significando que os comandantes de pelotão arcavam com uma ainda maior responsabilidade.

Os oficiais, em sua maioria, eram dotados de algum tipo de pistola, ou adquiriam uma, privadamente. Esta era, com freqüência, suplementada por uma submetralhadora ou carabina. Os sargentos adjuntos, de forma mais tradicional, portavam fuzis, mas também começaram a adotar armas automáticas leves.

Mensageiros e radio-operadores

Dados os imensos avanços tecnológicos da era pós-guerra, é fácil esquecer que as comunicações durante a Segunda Guerra Mundial eram, de algum modo, básicas.

Cada pelotão incluía certo número de mensageiros, pelo menos dois e, às vezes, três. Estes homens eram encarregados de transmitirem ordens verbais do comandante de pelotão à qualquer grupo de combate fora do controle direto, ou para frações vizinhas. Eles também forneciam um elo com o comando da companhia.

Embora armado de fuzil, a função do mensageiro não era, primordialmente, de combate. Antes, sua tarefa era entregar sua mensagem com precisão, ao destinatário, e voltar para o seu comandante com a resposta ou relatório de situação. Isso tinha de ser feito no meio do combate, quando unidades podiam, rápida e inesperadamente, mudarem de localização e, é claro, em face do fogo inimigo.

O rádio receptor-transmissor tornou-se uma parte, cada vez mais importante, das comunicações do pelotão nos exércitos ocidentais, enquanto a guerra progredia. Os rádios, entretanto, permaneceram notoriamente inseguros, e as transmissões podiam falhar devido a obstáculos do terreno ou atmosféricos. Essas deficiências garantiam que o mensageiro nunca desapareceria do campo de batalha, mas os rádios provaram-se os mais efetivos meios de comunicação com os distantes comandos de companhia ou batalhão.

Rádio-operadores não eram, oficialmente, elencados nos pelotões de fuzileiros britânicos ou americanos. Ao invés, um dos mensageiros, normalmente o ordenança do oficial para os britânicos, atuaria como tal. Rádio-operadores alemães eram anexados pelo comando da companhia. Os pelotões de comunicações de batalhão podiam, também designar homens para a função. A exceção aqui era o Exército Vermelho, que seria feliz se pudesse atribuir um rádio-operador por batalhão, que dirá para somente um pelotão. Isso os deixava totalmente dependentes de mensageiros. Quando mensageiros dedicados eram deletados nas unidades com forças reduzidas, homens tinham de ser tirados dos grupos de combate para desempenharem a função.

Apoio de fogo.

No início da guerra, o morteiro leve de 51 mm era uma arma de apoio popular, versões dele equipando os pelotões britânicos, alemães e russos. Por volta de 1942-43, apenas os britânicos retiveram seus modelos 2 pol. em tal papel. Tais armas destinavam-se a lançar projéteis explosivos, mas estes mostraram-se de mínimo benefício tático, e os britânicos, cada vez mais, utilizaram os seus para fornecer cortinas de fumaça.

Armamentos antitanque, fossem fuzis ou projetores, eram uma consideração mais importante. Ambos, britânicos e americanos, atribuíram-nos diretamente ao pelotão, exigindo que um par de homens fosse destacado como serventes. Os alemães e russos, por comparação, mantinham-nos em formações separadas, que poderiam ser encontradas por toda parte, da companhia ao nível regimental. Fosse qual fosse o sistema utilizado, no entanto, a regra geral de que, pelo menos, existisse uma arma antitanque por pelotão.

O comandante de pelotão manteria suas armas antitanque à mão, durante a fase ofensiva, prontas para responderem a aparição de blindados inimigos. Ações agressivas caça-tanques já eram uma proposição diferente.

O pelotão na ofensiva.

Era com o pelotão que o princípio da formação e sua utilização em táticas começava a emergir.

Há um limite para o número de homens sob os quais um comandante pode exercer controle pessoal, aproximadamente ao redor de dez (como demonstrado em esportes de campo). Isso ajudava a determinar, realisticamente, o tamanho dos grupos de combate. O pelotão de fuzileiros poderia variar entre tão pouco quanto trinta, ou tanto como cinqüenta homens, dependendo do tipo e circunstâncias. O comandante de pelotão não podia esperar exercer efetivo controle pessoal sobre um tal corpo. O que ele poderia fazer era dirigir seus homens através dos seus líderes de GC, e desdobrar qualquer armas de apoio que ele julgasse necessárias.

Com um pelotão à três GCs, havia três distintas formações ofensivas, que poderiam ser adotadas. Elas eram conhecidas por muitos nomens, mas talvez o mais descritivo fosse ponta de flecha, em forma de "V". e em linha.

Ponta de flecha.

Ou formação de cunha estreita, tinha a vantagem de manter o grosso do pelotão longe do contato direto com o inimigo durante o estágio inicial.

Caracterizava-se por um GC de ponta ou reconhecimento, liderando o avanço. Os restantes dois GCs moveriam-se em paralelo, a alguma distância atrás do primeiro, assumindo um formato triangular. O grupo de comando do pelotão ocuparia o centro da formação, permitindo ao comandante exercer o controle direto sobre todos os seus três elementos.

Exatamente como o pelotão desdobrava podia variar. Os britânicos, por exemplo, aplicavam o mesmo princípio "uma perna no chão" descrito para o grupo de combate. Ao encontrar resistência, o GC ponteiro mudaria para uma função de fogo, aferrando o inimigo. O comandante do pelotão buscaria, então, movimentar seus GCs remanescentes para uma posição de onde eles poderiam desfechar seu assalto, favorecendo o ataque sobre um flanco mais fraco em detrimento do método frontal contra uma posição mais fortemente defendida.

A ponta de flecha também podia ser desenvolvida de uma forma menos deliberada. Uma vez que o GC ponteiro recebesse fogo, eles o devolveriam, novamente. O comandante de pelotão buscaria, então, avançar seus outros GCs por lanços, utilizando fogo de cobertura do primeiro GC. Quando seus GCs de manobra alcançassem a próxima cobertura, eles então assumiriam o papel de fogo e permitiram o GC restante movimentar-se.

Em ambos métodos táticos, exigia-se do comandante de pelotão que exercesse um substancial grau de controle. O inconveniente com a interpretação britânica surgia quando o elemento de movimento ficava debaixo de fogo. O comandante precisava decidir qual a melhor forma de neutralizar este fogo, para permitir-lhe obter seu objetivo original. Isso podia envolver destacar uma peça de Bren Gun ou utilizar o morteiro 2 pol. para fornecer cobertura de fumaça. O perigo estava em desfalcar suas duas seções para lidar com uma ameaça imediata, em tal grau que ele poderia ser incapaz de assaltar a ameaça primária.

Numa versão mais fluída, descrita em manuais alemães e russos, a ênfase estava no comandante dirigindo as ações de seus GCs. Ao avançar por lanços, os GCs em movimento eram dependentes daqueles estacionários para o fogo de cobertura. Era necessário que o comandante designasse, precisamente, quais GCs fariam os lanços e para onde, e quais GCs forneceriam fogo supressivo, e contra o quê.

Em forma de "V".

Em forma de "V" ou cunha larga era uma tática simples e popular.

Ela imitava a ponta de flecha mas invertia o desdobramento dos GCs. Agora, o avanço era executado por dois GCs movendo-se em paralelo. O terceiro GC era mantido atrás, em apoio, enquanto o grupo de comando do pelotão, novamente, ocupava o centro.

Esta reversão colocava a maior parte do pelotão em linha direta com o inimigo, entretanto, também aumentava o peso de fogo imediato que o comandante podia desfechar contra aquele. Os GCs dianteiros cobririam um ao outro usando os princípios fundamentais do fogo e movimento. O terceiro GC seria mantido atrás em reserva, ou utilizado para fornecer fogo de cobertura adicional.

A teoria "dois na frente, um atrás" era praticada pelas forças americanas desde o nível do pelotão até o divisionário. Ela fornecia uma fórmula simples, repetível, para fazer progredir um avanço que, constantemente, mudava o foco da esquerda para a direita e para trás. Talvez o inconveniente fosse que, o único meio para obter superioridade numérica no assalto aproximado fosse arremessar o terceiro GC, ou melhor ainda, utilizá-lo para cobrir o assalto final dos outros dois.

Em linha.

A formação em linha, sem muita surpresa, é referida notavelmente nos regulamentos do Exército Vermelho. Cada GC do pelotão desdobrava-se em linha de escaramuça, então, colocava-se em linha com o GC "guia" ou de reconhecimento. O movimento podia ser conduzido ou sob apoio de fogo de um ou mais GCs,ou a totalidade do pelotão avançaria, abrindo fogo da altura do quadril com fuzis, submetralhadoras e metralhadoras leves.

A instrução de que a formação em linha só deveria ser assumida se o pelotão fosse pego de surpresa parece, de alguma forma, vaga. O manual a prescreve, especificamente, para o pelotão à quatro GCs, que desaparecera, em grande medida, por volta de 1943. Entretanto, não há dúvida de que ela era praticada pelo reduzido pelotão à três GCs, depois desta data.

Pós-Assalto.

A consolidação já foi tratada na parte sobre grupos de combate. Da mesma forma, as tarefas de avaliação de perdas e suprimento de munição, cuidados com feridos e guarda de quaisquer prisioneiros discutidas anteriormente também aplicam-se ao pelotão.

O comandante de pelotão necessitaria reagrupar sua fração, que teria, naturalmente, se dispersado durante a fase ofensiva, para repelir qualquer contra-ataque. Seus líderes de GC precisariam relatar sua situação concernente a baixas e munição. As baixas entre os líderes de GC também precisavam ser substituídas.

Da mesma forma, o comandante de pelotão precisaria comunicar sua situação ao seu comandante de companhia, seja por mensageiro ou por rádio. Ele teria de preparar seus homens para um possível novo assalto, ou aperfeiçoar suas posições defensivas para uma estadia mais longa, dependendo do plano da companhia.

O pelotão na defesa.

Os deveres do pelotão na defesa eram os mesmos do grupo de combate: manter sua posição.

Entretanto, um pelotão, ao contrário de um GC, tinha os recursos para ocupar uma área muito maior e para defender-se em profundidade. As peculiaridades do terreno envolvido sempre ditarão o exato posicionamento dos GCs. Em geral, um comandante de pelotão não desejaria empenhar mais do que dois GCs na linha principal, colocando o terceiro para fornecer apoio de fogo ou lidar com qualquer ruptura da posição.

Ele posicionaria suas armas e poços de fuzileiros para fornecer um contínuo campo de fogo sobre os acessos à sua posição. Em posições particularmente expostas, ele poderia destacar um pequeno elemento para guarnecer um posto avançado.

O posto avançado era um dos deveres menos atraentes que podiam ser atribuídos aos soldados. Em essência, o pelotão ocuparia uma posição de onde seria possível para o inimigo avançar para bem perto da linha principal, sem ser detetado. Se pudesse fazer isso, sem contestação, a posição inteira poderia ser avassalada. Para se proteger contra isto, o comandante escolheria desdobrar um pequeno destacamento a alguma distância de sua linha principal. Sua função seria atuar como "arame de tropeço" que pudesse detetar o inimigo antes que se aproximasse para contato. Uma tal posição seria particularmente pouco invejável, mas vital para assegurar a integridade da defesa.

Também era com o pelotão que a utilização de obstáculos podia ser introduzida. Para a condução de uma defesa preparada, normalmente os comandantes poderiam esperar receber um suprimento de minas terrestres e/ou arame farpado para fortificarem suas posições. Numa defesa sumária, eles teriam de se arranjar com escavação e vasculhar qualquer coisa que estivesse disponível no local, se tivessem tempo.

Arame farpado e minas, sozinhos, não podiam deter um assalto determinado. Para serem verdadeiramente eficazes, eles precisavam ser cobertos por fogo. Os atrasos impostos sobre uma força de assalto por sua presença seriam irrelevantes, a menos que esta pudesse ser engajada enquanto emaranhadas no arame ou sondando seu caminho através de um campo minado.

Movimento por formações.

As formações antes examinadas eram as principais variantes utilizadas durante o combate. No avanço para o combate, o pelotão, normalmente, formaria uma coluna, com um grupo de combate na liderança seguido pelo grupo de comando do pelotão e quaisquer armas de apoio, então, os GCs remanescentes atrás. O GC ponteiro, normalmente, lançaria à frente batedores, a menos que o pelotão transitasse numa área segura.

O comandante do pelotão seria acompanhado pelos líderes de seus dois GCs de retaguarda, durante a marcha. Desta forma, estes últimos poderiam receber as ordens imediatamente do comandante, sem necessidade de mensageiros, na eventualidade de o pelotão encontrar oposição.

Existe uma tentação de se acreditar que os comandantes aderiam religiosamente às formações elencadas em seus adestramentos particulares. A realidade era que o movimento, normalmente, tinha de conformar-se à natureza do terreno e a necessidade de manter cobertura. Pelotões podiam movimentar-se da coluna para o desdobramento e vice-versa, como considerado necessário para efetuar as travessias mais seguras. O fator importante era manter o controle dos GCs e não permitir que o pelotão se dispersasse. Entretanto, era preciso manter distância entre os GCs e o grupo de comando para evitar que um único impacto provocasse baixas desproporcionais.

Alternativas ao típico pelotão de fuzileiros.

Como anteriormente mencionado, existiram numerosas variações na constituição do pelotão. Entretanto, as duas mais importantes podem ser resumidas abaixo.

Dois ou quatro GCs.

No início da guerra, tanto alemães quanto russos utilizaram pelotões à quatro GCs, apoiados por uma peça de morteiro leve e um grupo de comando. Por volta de 1943, a maioria destas frações agrupavam apenas três GCs e o comando. No entanto, ao menos por algum tempo, ambos basearam suas táticas num pelotão "quadrado" antes do que num "triangular".

O impacto mais óbvio estava nas formações. A presença de um quarto GC tinha de ser acomodada. Os manuais sugeriam que este GC ficasse na retaguarda das formações ponta de flecha ou em forma de "V", fornecendo um elemento de reserva. Os russos também faziam menção ao pelotão avançando por GCs ou "seções". Isto poderia sugerir a combinação de dois pares de GCs, talvez sob a direção, respectivamente, do comandante de pelotão e do sargento adjunto. Referências ocasionais também são feitas ao pelotão de fuzileiros alemão desdobrando-se em duas alas, lideradas pelo comandante e pelo adjunto, respectivamente.

No final de 1942, o Exército Vermelho atribuiu um par adicional de metralhadoras leves aos seus pelotões de fuzileiros. Em cada um destes, dois GCs foram reforçados com uma segunda arma automática para suplementar a primeira. O efeito disto sobre o pelotão não foi coberto no manual. No entanto, parece razoável especular que pelotão se desdobraria em duas seções, cada uma com dois GCs. Dentro da seção, agora um GC produziria uma quantidade de fogo supressivo bem mais substancial, permitindo ao outro manobrar para entrar em posição. As duas seções poderiam, então, operarem numa típica combinação de fogo e movimento.

Pelotões também poderiam atuar com dois GCs, seja por circunstância ou desígnio. As frações dos Comandos britânicos e dos Rangers americanos deletavam seus terceiros grupos de combate, enquanto os pelotões de fuzileiros paraquedistas americanos, no início, aparentemente também o fizeram. Os pelotões do Exército Vermelho, com freqüência, agrupavam dois GCs por volta de 1944, quando as horrendas baixas na infantaria começaram a causar efeitos. No modelo ocidental, cada pelotão foi provido com um terceiro grupo de apoio (ou grupo de petrechos), guarnecendo um morteiro. Isto permitia aos dois grupos de combate operarem sob seu próprio apoio de fogo, desta forma, avançando da maneira normal, dois na frente, descrita acima. No modelo do Exército Vermelho, a perda do terceiro GC não foi compensada e os dois elementos restantes tinham de contar, um com o outro, para apoio mútuo.

Pelotões de submetralhadoras ou Sturm.

Estes dois tipos de grupos de combate já foram discutidos. Seus pelotões enquadrantes permanecem exclusivos dos exércitos russo e alemão.

O pelotão de submetralhadoras do Exército Vermelho, simplesmente agrupava três GCs sob um único tenente. Como no caso do GC, o pelotão dependia de armas pesadas para cobrir seu avanço. Uma vez no assalto aproximado, podia atuar como qualquer outra fração à três GCs.

O Pelotão Sturm alemão podia usar ou a submetralhadora ou o fuzil de assalto. Em ambos os casos, dois GCs seriam inteiramente dotados de armas automáticas individuais. O terceiro GC então desdobraria uma mescla mais convencional de fuzis e metralhadora leve, para oferecer apoio. Embora não especificamente detalhado, o formato sugeria que o terceiro GC fornecia a base de fogo, enquanto os outros dois manobrariam para desfechar o assalto aproximado. Metralhadoras leves adicionais poderiam ser atribuídas aos grupos de assalto, ou serem utilizadas para reforçar a base de fogo.


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Extraído de Gary Kennedy - http://www.bayonetstrength.150m.co.




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Re: Frações de Infantaria

#108 Mensagem por Clermont » Sáb Ago 03, 2013 8:08 pm

SARGENTOS E O COMANDO E CONTROLE DO PELOTÃO DE FUZILEIROS.

Sargentos-mores John E. Mangeles e Daniel Ortega - Academia de Sargentos-mores dos Estados Unidos, 7 de agosto de 2009.

I. Introdução:

No Exército de hoje, temos um problema na dotação de oficiais. As duas mais importantes razões para esta situação são o índice de baixas entre oficiais subalternos e o ritmo operacional de nossas atuais guerras. Como resposta ao problema da carência de oficiais no Exército dos dias atuais, eu ofereço a solução que tem sido utilizada, não-oficialmente, no Exército durante décadas. Este tem convocado os praças graduados, repetidas vezes, a preencher as posições tradicionalmete ocupadas por oficiais. É meu argumento que os graduados devem comandar pelotões e os oficiais subalternos devem ganhar experiência durante, ao menos um ano, antes de assumirem o comando de nossos maiores recursos, os soldados.

A) Baixas.

Durante mais de duzentos anos, o Exército sempre desenvolveu seus líderes a partir de dentro. Entretanto, na guerra, as baixas tem cobrado seu tributo sobre os oficiais subalternos, exigindo que os graduados assumam as posições e responsabilidades daqueles, até que o vácuo de liderança seja preenchido. Estatísticas de oficiais por posto mostram quase 54 porcento de todos os tenentes que participaram na Grande Guerra, tornando-se uma baixa. A percentagem de oficiais é significativamente mais elevada do que os 38 porcento de índice de baixas para os praças de infantaria ("The Casualty Issue" por Evan Andrew Hueler). A emergência dos "prodígios de noventa dias" no Vietnam não foi coincidência. O Exército foi obrigado a criar escolas "Shake and Bake"
(uma marca de ração de galinhas, usada como apelido desdenhoso para os centros de formação acelerada de oficiais e sargentos) de modo a satisfazer a crescente demanda da guerra no Vietnam. Os sargentos foram chamados para preencher o vácuo, criando outro problema, carência de graduados.

B) Ritmo Operacional.

O ritmo operacional do Exército tem aumentado quase ao ponto de fratura, levando muitos jovens oficiais a buscarem oportunidades na vida civil. Como a major Kim Nash, uma oficial de transportes destaca,

"Originalmente, eu estava programada para obter meu mestrado e lecionar, e isso foi desmontado pelos desdobramentos; a janela se fechou para mim, agora."


e Sig Christenson aponta num artigo que o Exército espera ter um déficit de 2.500 capitães e majores neste ano, com este número, logo subindo para 3.300. Estes oficiais são os pilares do Exército, o pessoal que, daqui a dez anos, deveria estar liderando batalhões e brigadas.

"Estamos arruinando um Exército que nos custou trinta anos para construir,"


disse Chuck Hagel, o inconformado senador do Partido Republicano do Nebraska, a um grupo de repórteres numa recente conferência.

II. Construindo a liderança.

A construção da liderança no Exército leva tempo. Um líder de esquadra de fuzileiros leva dois ou três anos; um líder de grupo de combate, de cinco a oito anos e um sargento adjunto de pelotão, de dez a doze. Isto é um drástico contraste a um líder de pelotão que tem zero anos de experiência quando galga uma função de liderança ao nível do pelotão de fuzileiros. Quando este novo tenente é ferido ou, de outro modo incapacitado, o sargento adjunto está pronto para assumir o comando do pelotão, mas isso afeta a totalidade do canal de apoio de graduados, já que o líder do grupo de apoio precisará tornar-se o sargento adjunto, e um dos líderes de GC precisará tornar-se o líder do grupo de apoio.

A liderança de combate ao nível da companhia de fuzileiros e abaixo está baseada sobre a experiência anterior do militar. Como observado antes, quando um tenente, novo em folha, tenta comandar efetivamente um pelotão, sem ter tido experiência, isso é muito difícil senão impossível. Ele precisa basear-se na experiência do seu sargento adjunto e dos líderes de GC.

A totalidade do Exército é afetada por este problema, mas em lugar nenhum da força este problema é mais sentido do que na infantaria. A cadeia de comando é desenhada para apoiar os soldados, verticalmente e lateralmente. No entanto, ela será mais eficaz se for permitido que os oficiais subalternos aprendam primeiro. A cadeia de comando tem elasticidade, mas não é inquebrável; é preciso conhecer onde fica este ponto de fratura, de forma a aperfeiçoar seu desempenho. Sem a experiência necessária para liderar uma tropa, os líderes colocam seus soldados em risco, um risco que não é exigido, nem necessário.

III. Maturidade de combate.

O velho ditado, "ter estado lá, ter experimentado aquilo", tem uma grande relevância na liderança de combate. Os soldados compreendem e gravitam ao redor destes líderes que tenham, repetidas vezes, se provado no combate real. Estes mesmos líderes são capazes de transmitir este conhecimento a todos os seus subordinados, efetivamente, devido à sua maturidade de combate, a base de seu poder. Para melhor ilustrar, seguem-se alguns exemplos.

Um dos meus pelotões no Afeganistão perdeu seu líder para uma IED, um par de meses depois do desdobramento. O líder de pelotão tinha estado na fração por onze meses e havia crescido com o pelotão em alguns tiroteios. Seus soldados confiavam nele. Depois de sua morte, o pelotão continuou imediatamente suas operações sem perder o ritmo. Maturidade de combate como esta é difícil de encontrar.

O pelotão acima mencionado recebeu um novo líder, um com muito pouca experiência, e aos olhos do pelotão, não sendo verdadeiramente confiável. O sargento adjunto e os líderes de GC comandaram o pelotão e, lentamente, introduziram o novo tenente como um líder digno. A maturidade de combate exigida para esta transição é enorme e uma que nos impressionou. Nada disso teria sido possível sem a maturidade de combate destes sargentos.

IV. Conhecimento de combate.

Os sargentos na minha companhia tinham múltiplas temporadas no Iraque e Afeganistão. Você não pode treinar ou conseguir na escola esse tipo de conhecimento de combate. Nossos soldados sabiam bem disso. Enquanto desdobrados no Iraque, nos fins de 2003, o 2º Pelotão foi posto sob restrição, incapaz de desempenhar operações básicas de combate. Seu líder de pelotão carecia de experiência, maturidade de combate e conhecimento de combate. O sargento adjunto estava na mesma situação e os líderes de GC, embora muito agressivos, precisavam de direção e propósito. O pelotão estava em desorganização. Um novo sargento adjunto chegou com experiência e fartura de conhecimento de combate. Em apenas dois meses, o pelotão tornou-se o elemento de esforço principal da companhia de fuzileiros, e seis meses depois, tornou-se o elemento de esforço principal da Força-Tarefa. Nesta altura, o líder de pelotão estava comandando a fração. No Afeganistão não foi diferente. No final de 2006, a mesma companhia estava desdobrada no leste do Afeganistão. Neste caso, o líder de pelotão perdeu sua arma em sua primeira patrulha e, como resultado, foi exonerado. Todos os graduados no pelotão eram combatentes sazonados e tinham previsto aonde as coisas iam dar. O líder estava engasgando em seu próprio vômito; ele não escutava e pensava que sabia tudo. Este é um problema recorrente no Exército de hoje. Nós empurramos nossos líderes subalternos avante sem qualquer pensamento das conseqüências. Num exército de tempo de paz, esse método funciona, entretanto, no nosso atual ritmo operacional, esse método não funciona tão bem como deveria. Não importa o quanto seja bom o treinamento, a experiência é a melhor professora e a experiência do combate real não pode ser ensinada. A doutrina não-escrita salienta que é esperado que o sargento adjunto influencie o líder de pelotão e o treine. Entretanto, as conseqüências são terríveis se o adjunto for incapaz de fazer isso. Este é um processo informal que precisa ser autorizado formalmente. Modificações pelas fontes oficiais são necessárias, o ensino militar precisa formalizar um programa que permita aos seus jovens líderes aprenderem enquanto forem 2º tenentes. Isso já está ocorrendo, mas precisamos que este processo seja tornado oficial em nossos regulamentos.

Os praças graduados estão carregando a tocha nas operações de frações de infantaria, e pagando o preço final. O país já está em guerra por mais de oito anos e nós não fizemos quaisquer mudanças na forma como ensinamos nossos jovens oficiais. Por tempo demais já sabemos que em todas as guerras são os praças graduados que lideram as frações com distinção e que ensinam, treinam e monitoram os jovens oficiais em tempo de guerra. Nós temos de abrir os olhos e formalizar o treinamento para que nossos oficiais tornem-se melhores líderes de pelotão, melhores comandantes de companhia e grandes comandantes de batalhão. O contraterrorismo é uma luta das frações, nossos líderes precisam ser experimentados e possuírem maturidade de combate para vencerem as batalhas de nossa nação, com a menor quantidade de derramamento de sangue americano. Não há substituto para a forma correta de liderança. Um 1º tenente com esse tipo de monitoramento, será muito melhor no comando de seu pelotão, um dia, e nós todos estaremos melhores com isso.




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Re: Frações de Infantaria

#109 Mensagem por Clermont » Ter Fev 25, 2014 10:21 pm

LIÇÕES APRENDIDAS EM COMBATE.

* Por favor, leve em conta que o propósito deste artigo não é "culpar" o Corpo de Fuzileiros Navais pelo meu ferimento, ou me lamuriar pelas minhas circunstâncias, mas, pelo contrário, ter um impacto positivo todos os que se expõem ao perigo, tanto em solo estrangeiro (militares e contratados particulares) e aqui em casa (oficiais da lei e seguranças civis).

cabo Paul Gardner, Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos - M4Carbine.net - 26 de setembro de 2009.

Imagem

Eu sou um guerreiro ferido. Servi como um fuzileiro naval durante a invasão inicial do Iraque em 2003, cerca de sete anos atrás, e fui gravemente ferido enquanto engajava o inimigo num tiroteio em 12 de abril de 2003, na cidade de Al Tarmiyah, um pequeno subúrbio logo à noroeste de Bagdá.

Eu apenas voltei a atirar novamente, pouco mais de um ano atrás, e a alguns meses, participei do curso Tridente de Conceitos Combativos de Carabina 1, instruído por Jeff Gonzales. Antes do curso de Jeff eu me considerava extremamente competente e mortífero com a carabina, mas estava muito errado. Após o término deste curso de três dias, eu agora posso dizer, com absoluta confiança, que se de alguma forma eu tivesse sido capaz de assistir a um curso de Trident de Conceitos, Tático EAG, Gunsite ou o curso de carabina Magpul Dynamics (ou treinamentos similares oferecidos por um intrutor de qualidade) antes de ser desdobrado para a guerra, lá em 2003, e pudesse ter colocado em prática todas as coisas ensinadas nos cursos de carabinas que eles oferecem, eu NÃO teria sido baleado da maneira que fui, naquela tarde de domingo, no Iraque.

Isso não quer dizer que eu não teria sido ferido ou morto mais tarde no meu desdobramento, ou num desdobramento subseqüente, mas eu não teria sido baleado naquele dia e não teria ficado paralisado da cintura para baixo para o resto de minha vida, o que, no final, significaria que eu teria sido capaz de continuar levando a luta até o inimigo, pelo menos por um pouco mais de tempo... possivelmente, até mesmo este dia. Para os leitores militares e policiais, e estes que estejam pensando em se alistarem em qualquer destes campos, em algum momento no futuro, por favor, tirem um minuto para se aprofundarem nisto um pouco.

A razão para esta minha crença é bem simples: quando fui engajado em combate no dia em que fui ferido, eu cometi vários equívocos críticos resultantes ou de vícios de treinamento ou de, simplesmente, não ter sido treinado em como manipular e combater com meu fuzil da forma apropriada. Estou bem ciente de que Treinamento, Táticas e Procedimentos (TTPs) e Normas Gerais de Ação (NGAs) foram grandemente aperfeiçoadas nos últimos sete anos desde que fui ferido, mas garanto de que ainda são deficientes e podem continuar a serem incrementadas. Há algumas coisas que só podem ser autenticamente aprendidas por meio do combate real, mas na minha opinião e experiência, há um bocado de treinamentos aperfeiçoados de armas, amplamente disponíveis no setor privado que estão, simplesmente, sendo despediçados sem serem implementados no treinamento e rotinas das unidades, e que deviam ser, definitivamente, incluídos como o "padrão" pelo qual todos devem se reger. Eu creio que isso salvará vidas e impedirá que um bocado de homens e mulheres seja desnecessáriamente ferido ou morto. No entanto, uma vez que tais habilidades são atingidas elas, absolutamente tem de ser praticadas numa base rotineira, já que o combate armado é, definitivamente, uma habilidade perecível.

Abaixo vai um sumário dos eventos que eu, enfaticamente, sinto que levaram-me a ser baleado naquele dia, e permanentemente paralisado da cintura para baixo. Isso não é um relatório pós-ação "oficial" de todo o combate no qual o meu pelotão esteve envolvido, mas antes uma pequena olhada em alguns poucos momentos deste combate, envolvendo apenas, eu mesmo.

Em 12 de abril de 2003, meu pelotão foi envolvido numa emboscada muito bem executada (no lado emboscado, infelizmente) na vila iraquiana de Al Tarmiyah. O combate que se seguiu durou impressionantes três horas que, mesmo hoje em dia, é deveras incomum. O combate envolveu, basicamente, meu pelotão - por volta de 55 fuzileiros navais - contra, aproximadamente, mais de 150 Fedayeen combatentes por Saddam, como foi-me dito vários meses depois. Eu também fui posteriormente informado de que matamos cerca de 100 dos bastardos naquele dia. Felizmente, não sofremos nenhuma morte em ação, mas tivemos diversos feridos, a maioria por estilhaços de RPGs e granadas de mão, com o meu sendo o ferimento mais severo do dia. Foi devido a engajamentos como esse que o inimigo se adaptou e, rapidamente, aprendeu a não confrontar de frente as forças americanas... para não sofrer as conseqüências. Logo depois a insurgência começou e eles passaram a utilizar táticas guerrilheiras, assim como desempenhar emboscadas de inquietação e colocar dispositivos explosivos improvisados nas estradas do país, para infligir baixas sobre o nosso lado sem as graves conseqüências dos engajamentos frontais contra nós.

Fomos, inicialmente, emboscados por rojões RPG e fogo de armas leves de combatentes inimigos, tanto ao norte quanto ao sul, enquanto desmontávamos de nossos carros sobre lagartas anfíbios (CLANFs) e estabelecíamos segurança num cruzamento em forma de "T". Logo depois meu pelotão dividiu-se e avançou para fora da zona de matança, para levar a luta até o inimigo, em ambas as direções. Os bandidos não estavam esperando que fôssemos tão agressivos. Mas nós éramos fuzileiros navais, e eles nos tinham irritado muito. Já estávamos exasperados pra diabo, de que os tanques "Abrams" e os helicópteros canhoneiros "Cobras", que sempre estavam posicionados, justamente na nossa frente, em nossa coluna de viaturas durante a marcha sobre Bagdá (por razões óbvias), estivessem "roubando" nossas mortes desde que atravessamos a fronteira, várias semanas antes, portanto, estávamos, literalmente torcendo para que alguns bandidos nos cutucassem com vara curta e topassem uma luta conosco.

Cerca de uma hora e meia no meio da luta, eu me encontrei no quintal de uma residência de dois andares. De cinco a oito combatentes inimigos tinham fugido da casa, depois que o nosso atirador de SMAW (Shoulder-launched Multipurpouse Assault Weapon) disparou um rojão nela. Cerca de cinco deles estavam usando um barracão de depósito e para hóspedes no quintal, feito de adobe, como um bunker improvisado, enquanto outros combatentes estavam posicionados fora dele. Quando entrei no pátio, meu "plano" improvisado era, ou achar alguma coisa para usar como cobertura, enquanto engajava o bunker, ou irromper dentro da casa e atirar pela janela ou da porta. Eu apenas sabia que precisava encontrar alguma cobertura, para pode matar alguns dos bastardos de relativa segurança.

Enquanto dava a volta pelo canto da casa e entrava no pátio, imediatamente divisei um combatente inimigo aproximadamente uns 18 metros distante na posição "11 horas", rastejando baixo para longe do bunker e arrastando um AK-47 com ele. Eu presumi que ele estava fazendo exatamente o mesmo que eu: tentando alcançar uma posição melhor para matar seu inimigo.

Eu parei de me mover, imediatamente, e comecei a engajá-lo. Eu disparei pelo menos 15 cartuchos nele, com a maioria das balas impactando seu corpo. Cada vez que obtinha um acerto, seu corpo me deixava saber disso, ao contorcer-se violentamente. Minha adrenalina estava bombando loucamente, motivo pelo qual continuei a martelá-lo com cartuchos. Eu nunca tinha engajado um inimigo tão próximo antes, e este era a primeiríssima vez que eu, realmente, podia ver minhas balas impactando a carne de outro ser humano. Era um tal choque para a minha psique que eu não sabia o que mais fazer, exceto aniquilar, completamente, a ameaça na minha frente. A única razão para eu deixar de atirar foi devido a outro combatente ter dado um passo para fora da soleira do bunker na posição "1 hora", começar a atirar desvairadamente contra mim. Eu respondi mudando meu fogo para ele. Eu disparei uns 5 ou 7 cartuchos nele, antes que meu ferrolho travasse à retaguarda, com o carregador vazio. Eu consegui um acerto em alguma parte do torso dele, embora não fizesse idéia de onde. Ele tombou para trás na soleira do bunker e fora da minha visão.

Eu presumi que o havia retirado da luta para sempre, ou matando-o, ou ferindo-o gravemente. No entanto, esta suposição se provaria um enorme erro de julgamento da minha parte.

Já que meu M16A2 estava "seco" e eu precisava recarregar, movi-me cerca de uns 9 metros para a minha direita. Eu sabia que não estava por detrás de qualquer cobertura, estando somente oculto, mas pensava que se mais alguém saísse da porta do bunker não poderia me ver. Além do mais, eu só ia recarregar meu fuzil e voltar à luta, certo?

Errado.

O Corpo de Fuzileiros Navais tinha me mostrado no campo de adestramento ("Boot Camp") como recarregar meu M16 na raia de tiro, porém recarregamento rápido e recarregamento tático nunca foram ensinados. Houve um só momento, durante um treinamento antes de sermos desdobrados, no qual um britânico dos Reais Fuzileiros Navais, que era parte de uma equipe realizando uma avaliação de treinamento em minha unidade, demonstrou como recarregar nossos fuzis rapidamente, colocando o carregador vazio em nosso bolso de cargas, de modo a não perdermos tempo tentando enfiá-lo de volta em nossas superapertadas cartucheiras padrão. Para não mencionar que você nunca irá querer reinserir um carregador vazio na mesma cartucheira de onde você irá, instintivamente, puxar um carregador cheio. Mas nós nunca repetimos isso ou praticamos posteriormente, portanto, eu não retive isso e meu corpo nunca memorizou os movimentos desta técnica. Nós, realmente, nunca repassamos ou praticamos QUALQUER tipo de recarregamento; simplesmente, era alguma coisa que se esperava que você soubesse como fazer: quando nossas armas ficavam secas, você enfiava outro carregador nela. Isso parece simples, mas eu descobri que era um bocado mais complicado do que isso... especialmente sendo realizado sob tensão.

Então, o que eu fiz quando chegou o momento para recarregar meu M16 naquele dia fatídico? Eu pressionei o liberador de carregador, puxei o carregador vazio para fora do alojamento e inseri o carregador vazio de volta numa das cartucheiras. Isso tomou um par de segundos extras para ser feito, especialmente considerando que eu o estava inserindo uma cartucheira muito apertada que já continha um carregador nela. O carregador cheio na cartucheira estava posicionado com as balas para cima, também, porque muitos cartuchos caíram, quando tentei botá-lo com as balas para baixo na cartucheira. Eu suponho que isso se deveu às beiradas do carregador estarem desgastadas, mas, então, eu nada sabia sobre o que constituia um carregador ruim e, especialmente, não sabia que carregadores eram um componente descartável. Depois de sacar um carregador cheio, eu o enfiei no alojamento do carregador até que estivesse assentado e então, finalmente, depois de, pelo menos, uns 8 segundos, pressionei o liberador do ferrolho e carreguei outro cartucho na câmara.

Eu também estava olhando para baixo, para minha arma e equipamento, durante o tempo todo que estava recarregando. Assim, quando finalmente terminei o recarregamento e olhei de volta na direção do bunker inimigo, somente 18 metros afastado de mim, aquele mesmo combatente inimigo que havia acabado de balear e supunho que estavia permanentemente derrubado, agora estava de pé na posição de "11 horas", no canto do bunker, e mirando diretamente contra mim, com seu fuzil de assalto AK-47.

Enquanto eu desempenhava meu lento e terrível recarregamento, o iraquiano tinha se colocado de pé e dado um passo para fora da soleira do bunker de forma a poder buscar e alvejar o bundão americano que tinha acabado de ferrar seu camarada. Quando não me viu, imediatamente, na minha posição prévia, ele movimentou-se sob o muro do bunker até avistar-me, lá de pé, desempenhando aquele aborto de recarregamento, enquanto olhava para baixo, para minha arma e equipamento. Basicamente, eu tinha deixado... não, convidado o bastardo a me pegar.

Também vale a pena notar que eu estava de pé na clássica posição olímpica (bladed stance) de raia de tiro de "alcance conhecido", expondo o desprotegido lado esquerdo do meu peito ao inimigo. Na época, o Corpo de Fuzileiros Navais nunca nos ensinou a posição atlética, ou quadrada (Squared or athletic stance), de frente para o alvo, tirando total vantagem de nossas placas balísticas (SAPI ou Small Arms Protective Insert). A única posição "de pé" que eu conhecia era a olímpica ensinada para mim pelo meu Instrutor Primário de Pontaria, lá no campo de treinamento que, naturalmente, só valia alguma coisa na "raia de tiro de mão única", quando se qualificando com fuzil durante o treinamento, definitivamente, não para utilização na "raia de tiro de mão dupla" do combate, quando utilizando armadura corporal para proteger seus órgãos vitais e a medula espinhal. Também é bom que se saiba que eu ganhara, por duas vezes, a condecoração de "Atirador de Fuzil Especialista", que não significou merda nenhuma em combate.

Para deixar as coisas piores, durante todo o tempo que eu recarregava, meu fuzil também estava na posição de "prontidão baixa", ao invés de mantido apontado para o meu "local de trabalho". Portanto, quando liberei o ferrolho e carreguei outro cartucho na câmara, eu tive, realmente, de erguer meu fuzil de forma a engajar o inimigo, ao invés dele já estar erguido e em "Prontidão", apontado e pronto para mandar bala, depois da minha recarga.

Assim, quando finalmente ergui os olhos e o vi mirando em mim, com seu AK-47, começei a erguer meu fuzil, numa tentativa de derrubá-lo de uma vez por todas. Mas, já era tarde demais. A última coisa que vi foi um brilhante clarão de seu AK-47, enquanto ele disparava uma rajada curta de projéteis 7,62 mm contra mim. Uma destas balas, impactou-me, bem debaixo da minha axila esquerda, na área exposta que não era protegida pelas placas balísticas SAPI, e cambalhotou para baixo, através do meu corpo. Após rasgar meu baço (que teve de ser removido), perfurar e desinflar meu pulmão esquerdo, lacerar meu estômago e rim esquerdo, e estourar uma grande porção de minha vértebra, a bala rompeu minha medula espinhal, no nível T12/L1, que instantânea e completamente, paralisou-me da cintura para baixo.

Há um bocado mais nesta história, é óbvio, mas essa pequena parte é tudo que tem relevância neste artigo particular.

O ponto nesta história é que a memória muscular obtida através da repetição pode ser uma grande coisa quanto táticas, técnicas e procedimentos que você tem entranhados são bons e eficazes. Mas isso trabalha de ambas as formas, querendo dizer, por exemplo, se você lida com certos cenários durante o treinamento de um modo relaxado e "administrativo", então você pode garantir que lidará com tais cenários em combate, do mesmo modo.

Para um rápido resumo, eis aqui os equívocos que eu cometi em combate que eu acredito ter levado ao meu grave ferimento e permanente incapacitação:

- Presumi que havia matado o bandido com um tiro na área do torso.

- Executei um recarregamento tão lento.

- Guardei meu carregador vazio durante o meio de um tão intenso tiroteio.

- Armazenei meu carregador vazio no mesmo local que os meus carregadores cheios.

- Fiquei olhando para baixo, para minha arma, enquanto recarregava, ao invés de na direção do tiro contra a ameaça(s).

- Tendo meu fuzil em "prontidão baixa" enquanto recarregava.

- Mantido posição olímpica e não tirando vantagem da proteção que minhas placas balísticas ofereciam.

Se você, atualmente, está nas forças armadas, é um oficial da lei, um contratado militar particular, ou até mesmo um segurança particular, eu, enfaticamente, acredido que seria da sua conveniência que obtivesse algum treinamento avançado de armas fora da sua unidade ou departamento. Tudo que eu aprendi, apenas no primeiro dia do curso Tridente de Conceitos Combativos de Carabina 1, teria facilmente ajudado a impedir o ferimento que eu, desnecessariamente, sofri... Eu digo isso com total e completa confiança.

Se você decidir freqüentar um curso de treinamento de armas, esteja certo de tomar montes de notas e fotos em sua classe, para que você possa voltar para sua unidade ou departamento e difundir o conhecimento para seus camaradas irmão-de-armas. Se você for um líder de grupo de combate, você tem uma obrigação de assegurar, rapidamente, que seus jovens fuzileiros navais ou soldados possam desempenhar recarregamentos velozes, saibam quando e onde não guardar [o carregador], como e quando desempenhar um recarregamento tático. Pratiquem essas coisas até que se tornem uma segunda natureza, com movimentos fluídos; parte da boa e velha memória muscular.

Quando você freqüentar bons cursos oferecidos por companhias de qualidade, como as que eu mencionei anteriormente, essas coisas serão ensinadas para você, e ela são ensinadas por uma razão. Essas táticas, técnicas e procedimentos são ensinados desta maneira de forma a impedir mortes e ferimentos como o meu. Portanto, preste atenção e aprenda na classe para que você não tenha de aprender no meio de um tiroteio, como eu aprendi.

Oh, e só para registrar, o ladrão de oxigênio que atirou em mim, juntamente com todos os seus colegas Fedayeen no interior do bunker, foi obliterado, logo depois, com montes de 5,56, umas poucas granadas de alto-explosivo 40 mm e granadas de fragmentação, e por último mas não menos importante, um dos seus próprios RPGs que eles, gentilmente, deixaram para trás, para que o usássemos contra eles mesmos.


Semper Fidelis!!

Paul.

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Re: Frações de Infantaria

#110 Mensagem por Hermes » Sáb Mar 15, 2014 2:23 am

Interessante o artigo, aliás, o tópico é um dos melhores. Sempre ouvi dizer que os americanos pisavam em seu carregador vazio para descartá-lo em combate e que por isso seriam frágeis. Pelo jeito não é isso que fazem hoje, será a crise? Li também (acho que nesse mesmo tópico)que os canadenses tinham aprendido essa lição e usavam grandes embornais laterais para colocar os carregadores vazios e assim não perderem tempo e que essa técnica foi introduzida no treinamento. Por ultimo, em todos os cursos de tiro da PCERJ se ensinava há algum tempo atrás atirar de frente para o alvo para aproveitar a proteção balística, porém, na vida real é muito difícil policiais civis usarem coletes o tempo todo, até por característica investigativa de muitas missões, além da falta de coletes, de muitos estarem vencidos ou por que a ultima leva de coletes que recebemos era impossível de usar, pois mais parecia colar cervical, de tão duros que eram. Assim, o problema da posição de tiro aqui é diferente de lá. Não caso militar ou policial militar, claro, onde se usa colete mais diuturnamente.




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Re: Frações de Infantaria

#111 Mensagem por Hermes » Sáb Mar 15, 2014 2:24 am

Há, sim, estou louco para voltar ao estande de tiro e quando voltar vou tentar essa posição lateral da cadeira de rodas.




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Re: Frações de Infantaria

#112 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Mar 15, 2014 7:57 am

Essa posição é usada quando tu usas uma viatura como cobertura e disparas por baixo da mesma (os pneus estão a tapar o tronco).





Editado pela última vez por cabeça de martelo em Sáb Mar 15, 2014 8:24 am, em um total de 2 vezes.
"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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Re: Frações de Infantaria

#113 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Mar 15, 2014 8:16 am

Artigo dos Militares do 5º e 6º Turno de 2012



Começa a recruta, o rapaz entra de sua livre vontade num novo mundo, um mundo onde tem que re-aprender tudo, como falar, como pensar, como ser. Tem que esquecer as frívolidades, guardar os seus medos e fortalecer a sua determinação. O rapaz faz tudo isto para conseguir tornar-se num homem decente, alguém capaz de enfrentar o futuro e levar uma vida plena de valores e princípios. Uma vida digna. Uma que valha a pena viver. Ser Soldado.

A este rapaz é lhe dado uma cama, um cacifo e um quarto que partilhará com outros jovens que procuram a mesma coisa. O rapaz ainda não sabe, mas estes jovens, embora lhe sejam desconhecidos, serão para si mais do que irmãos. E assim, durante 3 meses estes jovens vivem juntos, partilhando todos os aspectos da vida militar. Descansando, comendo, lutando, marchando,rindo e sofrendo juntos, aprendem a lição mais importante da tropa, sobre algo que não existe em mais sítio nenhum, os jovens descobrem a camaradagem.

No fim dos 3 meses, parece-lhes que nunca tiveram outra vida, que nunca terão ninguém na vida deles que seja tão importante como os novos irmãos. Mas eis que chega o momento, a recruta acaba, e os irmãos são separados. As despedidas são feitas, é desejada boa sorte e cada um faz-se às novas casas. Viseu, arredores de Lisboa, Caldas, Tancos, Santa Margarida, os irmãos são espalhados como folhas pelo vento. E é assim que começa a nossa história na BrigMec, tristes por nos separarmos dos camaradas, receosos do desconhecido, mas sempre de cabeça erguida.

Muitos escolhem Santa Margarida por aquilo que ouvem, “a unidade mais operacional”, “o melhor sitio para aprender”, “missão”, e é isso que os tráz aqui. Os agora Soldados vão chegando aos poucos, alguns em grupo, mas não de muitos. Chegam à noite, e não fazem a mais pálida ideia onde se vieram meter. Os novatos são encaminhados para a 3ªCAt, atualmente desativada, nada de permanente, apenas para passar a noite, uma noite que não será esquecida tão depressa, pois é nessa que os soldados são confrontados com uma realidade diferente, a escola acabou, aqui não existem notas, se cometer erros podem ser perdidas vidas. “O que é isto?” perguntam alguns, surgem as dúvidas “será que é realmente isto que quero?”. O que quer que pensem, agora não podem fazer nada. É nessa mesma noite que percebem a importância da camaradagem e espirito de corpo. No primeiro dia são levados para o auditório onde são apresentados ao Sargento-ajudante Vicente, são tiradas dúvidas, é dada uma ideia geral sobre o 1 BIMec, são-nos apresentados os novos desafios e o que de nós se espera: trabalho, lealdade, trabalho, profissionalismo e trabalho uma vez mais. A seguir aparece o Capitão Campos, fala-lhes sobre o 1 BIMec, o que é e o que faz, é também mostrado um vídeo sobre o BIMec para elevar a moral e dar uma ideia mais concreta daquilo que se passa em Santa Margarida: ACÇÃO, ESFORÇO, DEDICAÇÃO, TREINO OPERACIONAL, TREINO FÍSICO, TIROS... ISTO É A GUERRA. Ninguém reage, não abertamente, mas consegue-se adivinhar o que lhes vai nas cabeças.Conversa-se, de onde vêm, o que querem, o que acham daquilo que já viram. São, também, oferecidos conselhos e algumas palavras de apoio. Recebe-se também uma visita do próprio Comandante do Batalhão, Tenente Coronel de Infantaria Pedro Brito Teixeira, por enquanto um estranho, que se encontra à nossa frente; expressa palavras de incentivo e apela a que todos os membros dêm o máximo de si. Depois disto é dado a escolher para onde querem ir 2CAt, CAC, CCS, é explicada a missão de cada companhia e as funções que possivelmente podem desempenhar. Cada homem e mulher faz a sua escolha, mas é só na sala de aulas que se decide definitivamente para onde vão. A maior parte para a 2CAt, alguns CCS, e meia-dúzia para a CAC, para o Pel Rec. Arrumam as suas coisas e são atribuidos às respectivas casernas. Passam 2 semanas a treinar e trabalhar, seja a limpar, a carregar o que for preciso, pintar, tudo o que lhes mandarem fazer, e durante todo esse tempo vão aprendendo tudo o que há para aprender sobre a Companhia em que estão e sobre o Batalhão, antiguidades, lemas, códigos, o Grito de Saudação do 1 BIMec... E ao longo desse tempo vão conhecendo a família, Soldados, Cabos, Sargentos, até os comandantes, homens que antes pareciam tão temiveis e exigentes são agora vistos como alguém de quem se pode depender, aprendem a não questionar o que lhes é dito pois a sua confiança é total nos seus superiores. Ainda que não façam parte da família, já começam a sentir uma certa familiaridade com tudo o que se passa ao redor. As críticas e as partidas reduzem-se, o cansaço diminui, e é neste estado que começa o nivelamento, treino físico e instruções, tanto diurnas como nocturnas, todos os dias. Não é fácil, mas os jovens querem provar ser merecedores da honra de fazer parte duma unidade tão afamada com o 1 BIMec, e para isso estão dispostos a tudo.

A primeira semana começa com provas de aptidão física, todos dão o máximo para mostrar que têm a capacidade de aguentar a vida militar, ou não. Durante a semana as instruções sucedem-se, tanto tácticas como as técnicas. Os primeiros dias são os mais ativos, tipos de posturas, progressão no terreno, queda na máscara, um pouco de Combate em Áreas Edificadas, relato de notícias com memónica da TUTELA, e sempre com a mochila atrás. Os instrutores são incansáveis, tanto os Sagentos como os Cabos são portadores de uma paciência infindável para com as dúvidas dos instruendos, se bem que não se inibem de dar reprimendas e alertas quando são necessárias. A maioria ainda se lembra daquilo de que falam, outros já esqueceram, mas todos aprendem (ou re-aprendem) e estudam o conhecimento que lhes é transmitido, pois a bem do futuro de cada um é melhor que o façam. Depois vêm as armas, de vários tamanhos, propósitos, pesos, calibres, quantos homens são necessários para tirar o máximo rendimento, o número de estrias, etc. Um sem-fim de informação que todos se esforçam para decorar, uns com mais dificuldade do que outros, mas acabam todos por aprender as principais carateristicas das armas como se as tivessem conhecido durante toda a vida. E a semana vai passando, aprendendo, estudando, e, também, são avaliados, pois a avaliação é contínua, desde a alvorada do primeiro dia, até ao dia em que terminarem, todos os dias, das 8h às 24h, os rapazes são observados e avaliados pelos atentos olhos dos instructores, avaliam os conhecimentos, as suas atitudes, determinação e camaradagem, tudo isto dirá se conseguirão um lugar, ou não, no Batalhão.

Eis que chega a última semana, os rapazes já sabem que a instrução acabou, prepararam-se durante o fim-de-semana para mostrar o valor individual de cada um, é o tudo ou nada, ou são bons o suficiente para o 1 BIMec ou terão que melhorar. Os primeiros dois dias são de revisões, é a última oportunidade para esclarecer dúvidas e firmar os conhecimentos na massa cinzenta, tempo que os jovens não desperdiçam, bombardeiam tanto Sargentos como Cabos constantemente com perguntas dos mais variáveis feitios, pertinentes e impertinentes, inteligentes e menos inteligentes, mas ainda assim os instrutores mantêm-se pacientes. O terceiro dia é dedicado ao tiro, talvez a faceta mais importante na instrução de qualquer militar, visto que tem um efeito directo na sobrevivência do militar em campo. Os rapazes aprendem como se manejam as armas no 1 BIMec, a princípio nervosos, mas à medida que a sessão decorre aprendem que não há nada a temer, desde que tratem as armas com respeito tudo correrá bem. A primeira sessão é de tiro de precisão, e quem atinge os valores necessários, passa à fase seguinte. À tarde é tiro instintivo, uma novidade para quase todos, são poucos os que conseguem acertar nos alvos, mas mais uma vez tudo corre sem problemas. Nesse dia é também feito um teste teórico sobre factos e história do 1 BIMec e da Brigada Mecanizada, algo que os jovens não esperavam, mas ainda assim não se saiem mal.

No último dia, Quinta-Feira, é feito um Circuito de Avaliação, é avaliada a camuflagem, o atavio da mochila, os conhecimentos sobre as armas, sobre o M113, comunicações e progressão, sempre com a mochilas às costas, fazendo viagens do ponto central até à estação em passo de corrida, em alto arma. Rápidamente anseiam pela próxima estação visto que podem desmochilar por breves minutos, relaxam apenas o tempo suficiente para se concentrarem na avaliação que vão efectuar, assim que terminam, mochilam, e voltam para o ponto central central, ondem ficam a aguardar. Olhando para trás, os circuitos de avaliação anteriores foram um autêntico passeio, mas nada disto os desmoraliza, pelo contrário, de cada vez que viajam entre estações e são observados pelos camaradas já pertencentes ao batalhão, tornam-se cada vez mais confiantes, pois sentem respeito vindo deles, algo que sempre desejaram.

À noite têm o último teste, uma marcha. São levados por um Unimog numa viagem que parecia não ter fim, até um Delta desconhecido, não sabem onde estão, não sabem a que distância fica o objectivo, o que apenas sabem é que nenhum deles vai desistir. Corre tudo às mil maravilhas, nenhum se perdeu ou aleijou, todos conseguiram acabar a marcha. Ficam contentes por poderem descansar, felizes por ninguém ter ficado para trás, realizados por terminar o Nivelamento .

Na Sexta-Feira, em Parada, sob o olhar de todo o Batalhão são chamados um a um, por companhia para receberem um diploma referente à realização do curso e a respectiva nota. Uma prova material daquilo que passaram, assinada e carimbada pelo próprio Comandante do 1 BIMec. Um gesto inesperado, e que encheu os corações de um bando de jovens acabados de formar, de um orgulho que até aquele momento nunca tinha experimentado, mais do que isso, deram valor ao esforço de cada um, foram reconhecidos.

A experiência aqui no BiMec? Só agora começou, foi exigente até agora, e sempre o será, pois isto é Infantaria, e quem sabe, com muita humildade, dedicação e esforço, talvez um dia digam isto sobre os novatos que agoram terminaram a Primeira lição:

“Por vós riram da morte e a fome desdenharam,

Cansados de sofrer jamais o confessaram,

São de aço os quais ali vão, tropa digna, valente!”



"O FUTURO DE NÓS DIRÁ"




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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Re: Frações de Infantaria

#114 Mensagem por Clermont » Dom Abr 06, 2014 11:53 am

O VERDADEIRO PAPEL DAS ARMAS LEVES EM COMBATE.

Doutor Jim Starr - RUSI Defence Systems - Junho de 2009

Considere uma companhia de fuzileiros lutando em algum lugar do mundo. A companhia ataca uma posição de um pelotão inimigo. Tipicamente, uns poucos inimigos são mortos ou feridos; o restante rende-se ou retira-se. A companhia disparou vários milhares de cartuchos, dos quais, uma dúzia se tanto, atingiram o inimigo. Isso não é muito eficiente.

Algo mais esteve acontecendo, porém, este "algo mais" não é bem compreendido. Como resultado, ele não é bem-feito. Este "algo mais" é a supressão. Este artigo trata do que é supressão; por quê ela é importante; e como efetivá-la muito, mas muito melhor.

DEFESA E ATAQUE.

Desde a Guerra dos Boêres, se não antes, os infantes tem sido incapazes de avançar em terreno aberto contra defesas, toleravelmente bem-organizadas, equipadas com fuzis. As baixas dos atacantes eram simplesmente grandes demais. A exigência mínima para uma defesa bem-sucedida era muito modesta: balas ogivais, de alta-velocidade, disparadas de fuzis de retrocarga minimamente decentes. Qualquer coisa mais, tal como armas automáticas, simplesmente tornava o trabalho dos atacantes ainda mais duro. Na primeira parte do século XX, diferentes exércitos surgiram com maneiras diferentes de dominarem esse problema. Muitos envolviam artilharia ou tanques. Alguns envolviam armas pesadas de infantaria, tais como os morteiros. A maioria incluia uma forma de organização e táticas pelas quais o atacante utilizava fogo de armas leves para suprimir o inimigo. Isso permitia aos atacantes movimentarem-se à frente, até o ponto onde poderiam utilizar baionetas, granadas e fogo de armas leves em curto alcance (a distâncias talvez de uns poucos metros) para incapacitar quaisquer defensores que continuassem a resistir. Criticamente, no entando, não havia muita racionalização, análises explícitas sobre como isso tinha efeito.

Uns poucos estudos são muito esclarecedores. Parece que a capacidade de um soldado atingir um dado alvo é tipicamente reduzida por um fator de dez ou algo próximo, quando ele é retirado de uma raia de tiro estática para uma área de tiro de campanha, onde ele terá de escolher cobertas, movimentar-se, atirar e por aí vai. Ela é reduzida por mais outro fator de dez ou algo assim, se houver um inimigo atirando de volta. Ela é reduzida por outro fator de dez se o inimigo tiver metralhadoras, ou se tiver tanques; e por cem, se ele dispuser de ambos. Começamos a ver por quê muitos milhares de projéteis podem ser disparados, mas muito poucos realmente acertam.

Outro estudo revela um fenômeno inteiramente diferente. Ele ilustra que obter surpresa, ou infligir choque sobre o inimigo são enormemente eficazes. Mais eficazes do que qualquer provável correlação de forças, ou a utilização de outros sistemas de armas. Colocando de forma muito simples, se o atacante puder achar os flancos e a retaguarda do inimigo e atacá-lo daí, ou aplicar uma repentina e concentrada violência sobre ele e, então explorá-la, o inimigo tipicamente cederá, de forma muito rápida. Ele então, ou se retirará, se puder, ou se renderá. Um número de questões se entrelaçam aqui. Uma é que a utilização de rotas cobertas para achar os flancos e a retaguarda do inimigo, claramente é uma coisa boa. Outra é que a utilização de tanques ou de fogo indireto para atordoar o inimigo é muito útil. Mas, dentro de todas estas táticas, há outro fator crítico: a capacidade da infantaria atacante para suprimir o defensor. Isto permite ao atacante movimentar-se à frente: seja para aproximar-se para utilizar baionetas e granadas, ou envolver e ultrapassar as posições dos defensores para atacá-los de direções inesperadas.

Embora relativamente poucos inimigos sejam, tipicamente, incapacitados pelo fogo de armas leves, a localização e identificação deles é, com freqüência, crítica. Por exemplo, a limpeza de uma trincheira pode permitir ao atacante ficar por trás de várias outras, e começar a envolver a posição.

Supressão é o efeito de armas leves e outros sistemas de armas que, temporariamente, impede o inimigo de disparar seus armamentos ou mover-se em terreno aberto. Em termos simples, ela os faz manter as cabeças abaixadas. Ela é criticamente importante. Na ofensiva, ela permite ao atacante mover-se para a frente, achar brechas e pontos fracos e explorá-los. Na defensiva, ela impede o inimigo de avançar e atirar, por conseguinte, possibilitando que ele seja contra-atacado. Em ambos os casos, ela aferra o inimigo preparando-o para incapacitação (ou destruição) por outros armamentos.

A ARMA E SEU ATIRADOR.

É importante compreender que, durante o último século e ou mais, a maioria das modernas armas leves tem sido mais precisas do que seus atiradores. Um típico fuzil - seja de ação de ferrolho ou semi-automático - formará um grupamento de, talvez, 40 milímetros ou melhor em 100 metros, se disparado de uma estativa. Um soldado razoavelmente bem-treinado disparando a mesma arma, numa raia de tiro, pode efetuar grupamentos de, talvez, 100 milímetros na mesma distância. Muito poucos exércitos treinam seus soldados para, consistentemente, superar esse tipo de precisão. Isto tem uma enorme conseqüência, que muito poucos exércitos reconhecem: a arma é, de muitas formas, irrelevante. Já que a maioria das armas leves é mais precisa do que seu atirador, isso faz com que a arma que for selecionada seja de pouca importância. Há muitos outros parâmetros. Confiabilidade, peso e ergonomia são todas importantes. Mas, precisão é quase irrelevante, porque muitas armas são "boas o bastante" neste aspecto.

O que é, de longe, mais importante, é treinar o soldado para obter o efeito desejado de suas armas leves. Na maioria dos exércitos, ele é treinado para atingir alvos até 300 m, ou talvez 600 m. Porém, em batalha, ele raramente faz isto ou é, em algum momento, treinado para fazer o que realmente importa: suprimir o inimigo. Pesquisas de campo efetuadas na Segunda Guerra Mundial, forneceram um medida útil para a supressão das armas leves, como também o fizeram algumas análises mais recentes. Podemos considerar três casos: a necessidade de suprimir um inimigo; a necessidade para mantê-lo suprimido; e a necessidade para restabelecer a supressão uma vez perdida. Em geral, o fogo de armas leves tem de passar dentro de, aproximadamente, um metro do delineamento do alvo para ser eficaz. Um pequeno número de projéteis passando através desta área em poucos segundos (talvez, três a cinco projéteis em tantos segundos) suprimirá o alvo, ou retomará a supressão, se necessário; enquanto apenas um projétil a cada três segundos manterá o inimigo suprimido.

DADOS DOS ALVOS.

Até recentemente, no entanto, não era possível saber se o fogo de um grupo de infantes estava, realmente, fazendo isto. Na raia de tiro era possível, no melhor dos casos, ver os alvos caindo quando atingidos e, então, botá-los de pé, novamente. Erros por pouco, que provavelmente os teriam suprimido, não podiam ser levados em conta. Entretanto, a firma sediada na Grã-Bretanha, System Design and Evaluation (SDE) Ltd, desenvolveu um simples e prático sistema de alvos acústico controlado por computador, que rastreia cada bala disparada dentro de uma área de vários metros ao redor do alvo. Ele pode avaliar quais projéteis estão passando dentro de uma área dada e, se necessário, pode dirigir um alvo de armas leves para responder da maneira apropriada. Portanto, por exemplo, ele pode ser programado para fazer abaixar um alvo se três a cinco projéteis passarem dentro de um metro do alvo, dentro de três a cinco segundos. Ele pode ser programado para manter o alvo abaixado se quaisquer projéteis passarem dentro de um metro em qualquer período subseqüente de três segundos; e, caso contrário, para reerguer o alvo. Ele também detecta impactos sobre o próprio alvo e coleta e exibe todos os dados do alvo em tempo real.

Testes com soldados de infantaria britânicos, usando equipamento da SDE, demonstram que a maioria dos projéteis disparados num típico cenário realista, simplesmente, não são precisos o bastante para suprimir, utilizando os parâmetros acima. Não é incomum para os projéteis disparados num alvo exposto, errarem por cinco ou seis metros. Grandes quantidades de munição são dispendidas em tais testes, tipicamente, obtendo muito poucos acertos e supressão muito limitada.

TREINAMENTO PARA EFETIVA SUPRESSÃO.

No entanto, o equipamento da SDE foi consideado como extremamente útil no treinamento de soldados para suprimir com eficácia. De fato, o primeiro grupo a utilizar o equipamento foi efetivamente, autodidata. Após ver o resultado na tela do computador, o comandante da seção de fuzileiros (GC) controlou melhor o fogo de sua seção; e conservou sua munição fazendo com que seus soldados disparassem por turnos, ou quando ordenados. Os resultados para um desempenho melhor a 500 m comparado com o mesmo em 300 m, deveu-se ao comandante ter visto os resuldados em 300 m, corrigindo alguns erros simples antes que sua seção disparasse em 500 m.

Outro e altamente significativo achado foi que, sem o benefício de ver seus resultados, uma seção de fuzileiros, tipicamente, apenas suprimiria um alvo por uns poucos minutos, antes de ficar sem munição. Com alguns comentários e instrução, a mesma seção, então, suprimiria uma alvo similar durante vinte vezes mais tempo com a mesma quantidade de munição. As relativamente simples questões de localizar o inimigo e controlar o fogo da seção são enormemente eficientes.

METRALHADORAS LEVES NA SUPRESSÃO.

Entretanto, os mais indiciadores achados se relacionam às diferenças entre armamentos. O fuzil automático pesado (FAP) britânico L86-SA80, (LSW, Light Support Weapon, ou Arma de Apoio Leve), alimentado por carregador, com utilização de bipé, é extremamente bom em suprimir alvos até 500 m ou mais e, em conjunção com os fuzis L85, mantê-los suprimidos. Isso, principalmente, devido a ele ser preciso o bastante para que cada tiro disparado contribua com a supressão.

A metralhadora leve (Mtr L) L110 ("Minimi") se desempenhou, de longe, pior em tais testes. No melhor dos casos, apenas o primeiro tiro de uma rajada curta passa perto o bastante para suprimir. No entanto, os tiros subseqüentes desta rajada passam, em qualquer lugar até 6 metros de distância nos alcances de campo de batalha. Já que, talvez, de três a cinco projéteis, em três a cinco segundos são necessários para suprimir, um típico atirador de Mtr L raramente obterá supressão. Ele terá de disparar de três a cinco rajadas em tantos segundos para o fazer. E mais, já que apenas o primeiro projétil, tipicamente, passará próximo o bastante, ele terá de disparar uma rajada a cada três segundos ou tanto, para manter o alvo suprimido. Isso consumirá muito mais munição do que uma mescla de fuzis e FAP SA80, sozinhos.

O PROPÓSITO DA SUPRESSÃO.

Finalmente, chegamos aquilo que é a maior fonte de desperdício de cartuchos de armas leves em combate: o propósito. De longe com maior freqüência, nós vemos centenas de milhares de cartuchos disparados com alguma vaga intenção de suprimir o inimigo. Porém, mesmo se isto for bem feito, com freqüência, fracassamos em detectar o por quê isto está sendo feito. Isso deveria destinar-se a fixar o inimigo: para permitir a manobra, ou para atacá-lo com outros armamentos. Com excessiva freqüência, isso parece ser feito somente porque a infantaria "pode fazer isto".

"Façam diminuir o fogo do inimigo!" é a abordagem errada.

"Vamos suprimir o inimigo!" é uma abordagem melhor .

"Vamos suprimir o inimigo, para permitir que o pelotão o ataque pela retaguarda!" é uma abordagem melhor ainda.

Fogo de supressão sem propósito é somente isto: sem propósito.

CONCLUSÃO.

Para concluir, o fogo de armas leves mata e incapacita muito pouca gente num típico combate de infantaria. A localização e identificação destes indivíduos são críticas para o resultado. No entanto, o efeito do fogo de armas leves na supressão do inimigo é, provavelmente, mais importante. A supressão fixa o inimigo, para permitir o movimento, ou para a eliminação por outros armamentos. A supressão é criticamente importante, mas também, em geral, feita muito pobremente.

Novos sistemas de treinamento podem ajudar os infantes a suprimirem de longe mais eficazmente: com maior precisão; por mais tempo; utilizando menos munição; ou uma combinação destas coisas. Lamentavelmente, alguns armamentos (tais como a relativamente recém-adquirida Mtr L) parecem ser muito deficientes na supressão; e de longe piores do que os armamentos que eles deveriam reforçar. Isso se deve, possivelmente, porque o sistema de aquisição não tem forma alguma de mensurar a supressão sob condições de campanha.

As armas leves de infantaria claramente, devem ser letais. A maioria tem sido, há pelo menos 100 anos. Elas devem ser mais precisas do seus atiradores. A maioria tem sido, há pelo menos 100 anos. Além disso, elas devem ser adquiridas parcialmente baseando-se em questões tais como confiabilidade, peso e ergonomia.

No entanto, mais importante, elas deveriam ser adquiridas baseando-se no efeito que elas criam. Este é uma combinação de matança de indivíduos (que acontece, apenas raramente) e supressão de alvos. A supressão é o elemento crítico do combate de infantaria, em grande medida por causa do que ela permite.


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Jim Starr é um oficial reformado do Exército que agora leciona na Escola de Estado-Maior e Comando das Forças Combinadas do Reino Unido e na Escola de Administração e Tecnologia de Defesa.




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Re: Frações de Infantaria

#115 Mensagem por LeandroGCard » Dom Abr 06, 2014 2:18 pm

Clermont escreveu:O VERDADEIRO PAPEL DAS ARMAS LEVES EM COMBATE.

Doutor Jim Starr - RUSI Defence Systems - Junho de 2009

Considere uma companhia de fuzileiros lutando em algum lugar do mundo. A companhia ataca uma posição de um pelotão inimigo. Tipicamente, uns poucos inimigos são mortos ou feridos; o restante rende-se ou retira-se. A companhia disparou vários milhares de cartuchos, dos quais, uma dúzia se tanto, atingiram o inimigo. Isso não é muito eficiente.
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As armas leves de infantaria claramente, devem ser letais. A maioria tem sido, há pelo menos 100 anos. Elas devem ser mais precisas do seus atiradores. A maioria tem sido, há pelo menos 100 anos. Além disso, elas devem ser adquiridas parcialmente baseando-se em questões tais como confiabilidade, peso e ergonomia.

No entanto, mais importante, elas deveriam ser adquiridas baseando-se no efeito que elas criam. Este é uma combinação de matança de indivíduos (que acontece, apenas raramente) e supressão de alvos. A supressão é o elemento crítico do combate de infantaria, em grande medida por causa do que ela permite.

Artigo extremamente interessante.

Eu já havia lido alguma coisa sobre esta questão do fogo de infantaria e como ele é sempre muito ineficiente em realmente atingir qualquer alvo se comparado aos resultados do stands. Mas o artigo coloca a questão da supressão, que é a primeira vez que vejo.


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Re: Frações de Infantaria

#116 Mensagem por Clermont » Sex Jun 27, 2014 10:02 am

TÁTICAS DE GRUPO DE COMBATE PARA CRIANÇAS DO JARDIM-DE-INFÂNCIA.

(Autoria de "1stlooey" do Sixth Army Group An online community of Sixth Scale WWII Enthusiasts - http://www.sixtharmygroup.com/forums/.)


Um grupo de combate de Fallschirmjäger (pára-quedistas) alemães consistia de nove homens, que avançariam numa fila única conhecida como "Reihe"

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O líder do GC (Schützengruppe), normalmente um sargento, lideraria a fila armado com submetralhadora MP-40, calibre 9 mm,

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seguido pela peça de metralhadora, constituída pelo Richtschütze nº 1 (o atirador) e o Richtschütze nº 2 (o municiador),

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seguidos por cinco fuzileiros (Gewehrschützen). O primeiro, dotado de fuzil de assalto de pára-quedistas FG-42, calibre 7,92 x 57 mm,

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o segundo e o terceiro dotados de fuzis semi-automáticos G-43,

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com o quarto e o quinto portando fuzis de ação de ferrolho Mauser Kar-98K,

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No fim da fila, vinha o auxiliar do GC, tipicamente um cabo armado com submetralhadora MP-40, calibre 9 mm.

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um motociclista de reconhecimento chega para prevenir o líder de GC. O sargento detém o grupo de combate com um sinal manual:

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- Herr Feldwebel, cuidado! Um grupo de americanos está bem em frente de vocês!

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- Oh, eles estão? E quantos você viu?

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- Não posso dizer com certeza, Herr Feldwebel. Não esperei para contá-los. Os amis tem boa pontaria. Agora, preciso ir avisar o batalhão!

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O motociclista acelera passando a fila de homens, para completar sua missão.

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Da Reihe, o GC pode facilmente ser formado na "Schutzenkette", ou linha de escaramuça, com a metralhadora desdobrada, e os fuzileiros espalhados à direita, à esquerda ou em ambos os lados para proteger a peça.

Com outro sinal manual, o sargento ordena "Grupo! Schutzenkette", e os homens aceleram para entrar em posição:


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Eles olham à frente, buscando pelo inimigo.

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Re: Frações de Infantaria

#117 Mensagem por Alcantara » Seg Jun 30, 2014 2:30 pm

Perfeitos... 8-]




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Re: Frações de Infantaria

#118 Mensagem por Clermont » Seg Set 01, 2014 4:45 pm

Texto antigo, lá de 2004. Esbarrei nele e senti vontade de repostar...

__________________________________________

“CLOSE COMBAT” E A APRENDIZAGEM DE TÁTICAS DE INFANTARIA.

Autoria do Major Brendan B. McBreen, Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.

Eu aprendi mais sobre táticas de infantaria de pequenas unidades a partir das simulações de “Close Combat” do que em mais de treze anos de experiência no Corpo de Fuzileiros Navais.

“Close Combat” é uma simulação de combate de computador produzida pela Atomic Games. O foco da simulação é o combate de infantaria ao nível de pequenas unidades. A série correntemente consiste de cinco versões: CC I – Omaha Beach; CC II – A Bridge Too a Far; CC III – The Russian Front; CC IV – Battle of the Bulge e CC V – Invasion Normandy. (1)

Eu sou um major de infantaria, com treze anos de serviço comissionado, sete anos com o 5º Regimento de Fuzileiros Navais, dois anos nas escolas, e três anos como oficial de treinamento de infantaria com o Laboratório de Guerra do Corpo de Fuzileiros Navais. Eu servi além-mar com o II Batalhão do 5º de Fuzileiros Navais, quatro vezes. Eu comandei dois pelotões e uma companhia de fuzileiros navais. Eu servi como oficial de operações de batalhão e de regimento. Eu sou um estudioso de táticas. Eu ensinei táticas de infantaria para sargentos e oficiais. Eu participei e liderei treinamentos de decisões táticas.

Nenhuma dessas atividades ou experiências de aprendizado podem igualar o eficiente e focalizado ensinamento tático que eu experimentei através da repetição de combates dos cenários de pequenas unidades em “Close Combat”.

“Close Combat” permite a um jogador lutar centenas de cenários, criar milhares de decisões táticas, experimentar com diferentes táticas, e aprender com seus erros. Eu seria um comandante de pelotão mais qualificado agora, do que era doze anos atrás. Graças aos combates simulados de “Close Combat”, eu internalizei significativas lições táticas de nível de pelotão de fuzileiros:

1) Assaltos longos sem apoio são mortíferos. Assalte por curtas distâncias, contra uma posição levemente armada, ou que tenha sido bem suprimida. Um único soldado inimigo pode destrur um GC atravessando 100 metros de campo aberto.

2) Uma aproximação longa sob cobertura é sempre melhor que uma rota curta e aberta. Seja cauteloso com rotas de aproximação que não possam ser cobertas por uma unidade de proteção.

3) Toda unidade precisa de obscurecimento. Fumaça salva vidas. Todo assalto e cada retirada deve usar fumaça.

4) Fogo e manobra são a chave da tática. Use a maioria de sua força para suprimir avassaladoramente o inimigo, e uma pequena unidade de assalto para cerrar, rapidamente, sobre o objetivo.

5) Tudo repousa na supressão. Fogo sem manobra é desperdício e não é decisivo (e manobra sem fogo é suicídio). Supressão eficiente é a base de todas as táticas de infantaria.

6) Unidades sem apoio mútuo estão condenadas. Unidades mutuamente apoiadas protegem uma à outra de serem fixadas ou assaltadas.

7) Morteiros são, inerentemente, imprecisos. Supressão de área NÃO é destruição. Projéteis são limitados, use-os bem. Não desperdiçe morteiros contra bunkers ou edifícios.

8 ) Concentre seu fogo. Controle de fogo assegura ação decisiva. Em contato, os homens irão dispersar seu fogo. Destruir alvos, em seqüencia, com fogo de ponto é mais eficiente que distribuir o fogo ineficazmente.

9) Toda escalão – GC, pelotão e companhia – precisa de capacidade antitanque, quando enfrentando blindados. Uma unidade de infantaria sem armamento antitanque orgânico ou tem de se retirar ou ser avassalada. A infantaria só pode enfrentar tanques em terreno fechado.

10) Para posições antitanque, setores de fogo estreitos e profundos, desenfiados em ambos os flancos, são os melhores. O melhor setor de fogo permite engajar somente um tanque por vez.

11) Posições defensivas são temporárias. Todas as unidades precisam de múltiplas posições e a habilidade de se retirar.

12) Para posições de metralhadoras, setores de fogo estreitos e profundos, desenfiados em ambos os flancos, são os melhores. Posições principais e sobressalentes separadas por proteção frontal são as melhores.

13) Cobertura é vital. Mova-se de uma posição coberta para outra. Boa cobertura é relativa a uma única posição inimiga. Posições inimigas com apoio mútuo podem superar sua cobertura.

14) Movimente-se por lanços. Um GC em contato precisa de imediato fogo de supressão por outro. A medida do sucesso é o número de unidades que podem colocar, imediatamente, fogo de supressão sobre o contato inimigo.

Bons líderes fuzileiros navais conhecem todas essas lições. Eles foram ensinados, eles leram, eles treinaram para realizá-las. Mas eu, e estes fuzileiros que lutamos “Close Combat”, conhecemos essas lições até a medula. Nós conhecemos a penalidade por erros, por uma má leitura da situação, por tomar decisões tarde demais. Centenas de nossos homens simulados morreram em assaltos malfeitos, posições pobremente desenhadas, e como resultado de inesperadas ações inimigas, para nos ensinar essas lições. Nós examinamos o terreno, checamos a linha-de-visada, posicionamos as unidades, e supervisionamos as unidades em contato com o inimigo tantas vezes que os princípios-chave táticos tornaram-se impregnados em nós, como uma segunda natureza.

Eu defendi três centenas de cruzamentos rodoviários. Não apenas o primeiro passo de colocar um esquema defensivo no papel, mas todo o caminho através da iniciação do combate, de retroceder para posições suplementares sob pressão, e algumas vezes sendo avassalado pelo inimigo, por ter falhado em proteger minhas posições de metralhadoras. Eu não posso, agora, caminhar por uma rua sem ver em minha mente o cruzamento ocupado: “Uma arma antitanque embasada nesta posição baixa com um campo de fogo oblíquo e bom desenfiamento, metralhadoras aqui e ali, um GC avançado com uma posição alternativa próximos aos canhões, um GC no canto para o caso de eles colocarem infantaria descendo essa viela.”

Os métodos históricos de ensinar táticas, caminhar pelo terreno, trabalhar através de exemplos nos manuais, jogos de decisão tática, e reais exercícios de campanha, são importantes e precisam ser feitos por todos os líderes. As escolas e unidades precisam focalizar em líderes reais, unidades reais e terreno real.

Para aumentar esse treinamente tático, entretanto, líderes precisam experimentar os caóticos desafios do combate centenas de vezes. Como um instrumento barato e fácil de usar para ensinar um líder fuzileiro as dinâmicas da tática, a simulação “Close Combat” é sem rival.

Repetição. Em ordem para compreender e identificar padrões, os fuzileiros precisam de centenas de exemplos simulados. Em ordem para internalizar lições, os fuzileiros precisam enfrentar um inimigo ativo e sofrer de seus próprios equívocos táticos. Através da repetição, as lições básicas se tornam tão bem conhecidas que as táticas avançadas e experimentações podem ser tentadas. Apenas com a experiência de combater através de centenas de posições inimigas pode um líder olhar para a fraqueza de uma dada posição e iniciar meios criativos de explorar tal fraqueza. Ler os sutis aspectos de uma situação tática é uma habilidade aprendida que exige bem mais prática do que é atualmente disponível fora de uma simulação.

Eficiente uso do tempo. Escolas e unidades programam tempo de treino. Bem mais tempo está, tipicamente, disponível para indivíduos em “brechas”. Fins de semana, noites, tempo de viagem, e tempo morto que pode ser usado para treinamento simulado individual. Esse tempo é, normalmente, mais abundante que o alocado para os ambientes de aprendizagem formal. Nas forças operativas, em especial, oportunidades para aprendizagem individualizada poderiam ser maximizadas.

Competição entre pares. Fuzileiros podem enfrentar uns aos outros em campos de batalha simulado. Essas experiências de aprendizagem tática, intensificadas pela rivalidade profissional, podem servir como catalizador para discussões doutrinárias, uma oportunidade para construir coesão de liderança, e uma chance para compara táticas e técnicas entre profissionais. A simulação de “Close Combat” é uma grande ferramenta quando em desdobramento, seja em navio, em exercício, ou no além-mar.

O Comando de Educação e Treinamento do Corpo de Fuzileiros Navais, em Quantico, está, atualmente, avaliando uma versão para os Fuzileiros Navais de “Close Combat” para uso em treinamento (2). “Close Combat” é uma valiosa ferramenta de ensino. Eu recomendo para todos os líderes fuzileiros interessados em aperfeiçoar suas habilidades táticas de pequenas unidades. Combata nos cenários. Combata seus pares. Combata para aprender a liderar.


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O major McBreen é, atualmente, um estudante na Escola de Guerra Avançada.

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(1) Quem quiser pode conferir alguma coisa sobre o jogo, aqui mesmo no fórum em: http://www.defesabrasil.com/forum/viewt ... 02&start=0

(2) É a versão “Close Combat – Marines”, infelizmente não foi disponibilizada para civis. Mas, a partir dela, se desenvolveu uma versão para venda no mercado, chamada “Road to Baghdad”, retratando a recente invasão do Iraque.




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Re: Frações de Infantaria

#119 Mensagem por Clermont » Ter Set 09, 2014 3:20 pm

LIDERANÇA E MORAL ENTRE AS LEGIÕES ROMANAS

As legiões romanas são freqüentemente descritas como uma máquina militar, mas as legiões eram apenas tão boas quanto a soma de seus homens e isso dependia do moral deles. Os legionários eram tão suscetíveis ao pânico e a derrota como quaisquer outros soldados desmoralizados através da história. Por exemplo, quando o exército de Aulio Cecina estava se retirando através da Germânia em 15 d.C., se encontrou numa situação similar àquela que destruiu o exército de Varo. Os soldados romanos entraram em desespero:
”Não havia tendas para as centúrias, bandagens para os feridos e, enquanto dividiam suas rações, poluídas com terra e sangue, eles contemplavam o fatal escurecer e isso para muitos milhares de homens significava que nada restava além de um único dia. Um cavalo desgarrado atirou em confusão os homens que correram para detê-lo. Tão grande foi o pânico conseqüente – os homens acreditando que os germanos haviam irrompido – que houve uma corrida geral para os portões... principalmente o portão que levava para longe do inimigo. (Tácito, Anais, 1.65-66)


Os comandantes tinham de agir rápido para conter a irrupção do pânico e desespero. A paciência de Cecina manteve seu exército unido:

“Cecina, satisfeito em saber que o medo deles era infundado, mesmo assim descobrindo que nem ordens e nem mesmo a força de nada valiam, jogou-se de barriga no chão, na frente do portão, e apenas a vergonha barrou uma estrada que passava por cima do corpo do general. Ao mesmo tempo, os tribunos e centuriões explicavam que era um alarme falso. Ele, então. passou as tropas em revista, em frente aos seus aquartelamentos, ordenando-lhes que escutassem em silêncio, prevenindo-os da crise e de sua urgência. “A salvação repousa em nossos braços, mas devemos ser cautelosos e permanecer dentro de nossos parapeitos até que o inimigo se aproxime, esperando assaltar o campo. Então iremos irromper de todos os lados e rumar para o Reno! Se fugirmos, poderemos esperar mais florestas, pântanos mais profundos e um inimigo brutal. Mas se formos vitoriosos, glória e honra!” Ele lhes lembrou de tudo que amavam em casa, toda a honra que eles haviam ganho em campo, mas nada disse de suas adversidades. Então, com completa imparcialidade e começando consigo próprio, ele distribuiu os cavalos dos legados e tribunos aos homens de grande bravura. Esses deveriam carregar primeiro, seguidos pela infantaria." (Tácito, Anais, 1.66-67).


O plano de Cecina obteve sucesso. Enquanto os insuspeitos germanos debatiam como assaltar o campo, os romanos carregaram descendo os parapeitos, desbaratando e perseguindo o inimigo até o cair da noite (Tácito, Anais, 1.63-68).

Os legionários cresciam sob a liderança justa e carismática de seus oficiais. César, Antônio, Germânico, Cecina e Vespasiano são exemplos óbvios de generais desejosos de liderar pelo exemplo e compartilhar das durezas dos soldados. Os centuriões, com freqüência citados por César e Josefo, eram corajosos e firmes, capazes de impor sua autoridade em situações de crise e reverter o surgimento de pânico entre as fileiras. Mas nem todos os oficiais tinham a necessária confiança, coragem ou carisma para liderar seus homens efetivamente. Muitos eram brutais e corruptos. Quando faltava a liderança justa, o desempenho em batalha era pobre e os legionários ficavam predispostos ao motim e rebelião.

Veleio Patérculo, que serviu como legado legionário durante a Revolta Ilíria de 6-9 d.C., enfatiza que a desintegração e destruição do exército de Quintílio Varo na Floresta Teutoburg (9 d.C.) foi causada pela pobre liderança e covardia de Varo e seus oficiais superiores:

”Um exército sem igual em bravura, o primeiro dos exércitos romanos em disciplina, energia e experiência de campanha, devido à negligência de seu general, a traição do inimigo e a aspereza da Fortuna, foi cercado, sem muita oportunidade como desejariam os soldados para lutarem ou se desvencilharem, exceto contra duras circunstâncias; mesmo alguns foram castigados por usarem suas armas e mostrarem o espírito dos romanos. Encurralado por florestas, pântanos e emboscadas, ele foi destruído quase até o último homem pelo mesmo inimigo que tinha sempre massacrado como gado... o general tinha mais coragem para morrer do que para lutar... [e] atravessou-se com sua própria espada. Os dois prefeitos de campo... após a maior parte do exército ter sido destruída, propuseram sua rendição, preferindo morrer sob tortura... do que em batalha. [O legado] Vala Numônio... previamente um homem honrado, estabeleceu um terrível precedente ao deixar a infantaria desprotegida pela cavalaria, tentando fugir para o Reno. A Fortuna vingou esse ato... ele morreu nesse ato de deserção. O corpo de Varo, parcialmente queimado, foi mutilado pelo inimigo; sua cabeça decepada." (Veleio Patérculo, 2.119)


O motim das legiões panônias em Emona, em 14 d.C. foi causado em parte pela corrupção e brutalidade dos centuriões e oficiais superiores. O amotinado Percênio lamentou-se que, do seu pagamento, ele tinha de “comprar roupas, armas e tendas, [e] subornar o tirânico centurião para comprar um alívio do dever.” Seus camaradas mataram o centurião Lucílio, que era conhecido como “Me Dá Outro” devido ao seu hábito de quebrar bastões de videira enquanto espancava legionários e pedindo um novo (Tácito, Anais, 1.17,23).

A excessiva disciplina do prefeito de campo, Aufidênio Rufo, foi paga igualmente. Ele foi capturado por um destacamento de legionários que reparavam estradas e pontes:

”Arrastado de sua carruagem, carregado de bagagens e posto na frente da coluna, ele foi vítima de perguntas sarcásticas se estava achando agradável agüentar toda essa enorme carga e essas marchas infindáveis. Pois Rufo, há muito tempo um soldado comum, então centurião e finalmente prefeito de campo, tentou reintroduzir a dura velha disciplina; ele estava habituado às duras fainas e a falta de piedade porque ele as havia suportado. (Tácito, Anais, 1.20)”


A corrupção dos centuriões também minou o moral das legiões germanas de Oton em 69 d.C.:

“Os soldados exigiram que os pagamentos normalmente feitos aos centuriões para garantir licenças fossem abolidos, já que eles montavam a uma taxa anual sobre os soldados ordinários. Um quarto de cada centúria estaria em licença ou vagabundeando pelo campo, contanto que os soldados pagassem ao centurião o seu preço, e ninguém se importava como se impunham cargas sobre os soldados ou como eles conseguiam seu dinheiro. Na realidade, era através de roubos em estradas, pequenos furtos e por trabalhos servis que os soldados compravam descanso dos deveres militares. Aos soldados mais ricos eram designados as piores fadigas até que eles comprassem alívio. Então, empobrecido e desmoralizado pela indolência, o soldado retornava à sua centúria pobre em vez de rico e preguiçoso em vez de enérgico. Assim, arruinados um após o outro pela mesma pobreza e falta de disciplina, eles estavam prontos para o motim e a dissensão e por fim a guerra civil.

Mas Oton desejava evitar alienar os centuriões, portanto ele prometeu que o tesouro imperial iria pagar por licenças anuais, um procedimento que era indubitavelmente útil e mais tarde estabelecido pelos bons imperadores como uma regra fixa do serviço. (Tácito, Histórias, 1.46)


Mesmo quando a corrupção e a brutalidade estavam (aparentemente) ausentes, os legionários não se mostravam desejosos de seguir alguns oficiais, em particular, na batalha. Há uma forte impressão de que a fuga de uma coorte da Legio III “Augusta” de um engajamento contra Tacfarinas (um líder berbere insurreto) em 18 d.C., foi influenciada não apenas pelos números do inimigo, mas pela falta de desejo dos legionários de seguirem um oficial caçador de glórias:

”[Tacfarinas] investiu uma coorte romana não muito longe do Rio Pagyda (Tunísia). O forte era comandado por Décrio, que, energético, vigoroso e experimentado na guerra, considerou o cerco uma desgraça. Após se dirigir aos homens, ele dispôs suas linhas em frente ao forte e ofereceu batalha. Enquanto a coorte se desfazia à primeira investida, ele se interpôs ansiosamente entre os projéteis para interceptar os fugitivos, amaldiçoando os porta-estandartes que podiam ver os soldados romanos virarem as costas para uma horda de desertores e homens destreinados. No mesmo instante, ele se voltou... com um olho perfurado, para confrontar o inimigo e lutou até tombar, desertado por seus homens. (Tácito, Anais, 3.20).


Os legionários não queriam seguir homens que pudessem fazer com que fossem mortos desnecessariamente.




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Re: Frações de Infantaria

#120 Mensagem por Naval » Sex Set 12, 2014 1:55 am

Esse joguinho 2D Close Combat para PC é muito bom.

Eu tinha 3 versões. O II (Bridge to Far), III (Russian Front) e IV (Batle of Bulge).

Realmente vc aprende muito a manusear as suas unidades de infantaria aplicando as táticas.

Abraços.




"A aplicação das leis é mais importante que a sua elaboração." (Thomas Jefferson)
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