#113
Mensagem
por cabeça de martelo » Sáb Mar 15, 2014 8:16 am
Artigo dos Militares do 5º e 6º Turno de 2012
Começa a recruta, o rapaz entra de sua livre vontade num novo mundo, um mundo onde tem que re-aprender tudo, como falar, como pensar, como ser. Tem que esquecer as frívolidades, guardar os seus medos e fortalecer a sua determinação. O rapaz faz tudo isto para conseguir tornar-se num homem decente, alguém capaz de enfrentar o futuro e levar uma vida plena de valores e princípios. Uma vida digna. Uma que valha a pena viver. Ser Soldado.
A este rapaz é lhe dado uma cama, um cacifo e um quarto que partilhará com outros jovens que procuram a mesma coisa. O rapaz ainda não sabe, mas estes jovens, embora lhe sejam desconhecidos, serão para si mais do que irmãos. E assim, durante 3 meses estes jovens vivem juntos, partilhando todos os aspectos da vida militar. Descansando, comendo, lutando, marchando,rindo e sofrendo juntos, aprendem a lição mais importante da tropa, sobre algo que não existe em mais sítio nenhum, os jovens descobrem a camaradagem.
No fim dos 3 meses, parece-lhes que nunca tiveram outra vida, que nunca terão ninguém na vida deles que seja tão importante como os novos irmãos. Mas eis que chega o momento, a recruta acaba, e os irmãos são separados. As despedidas são feitas, é desejada boa sorte e cada um faz-se às novas casas. Viseu, arredores de Lisboa, Caldas, Tancos, Santa Margarida, os irmãos são espalhados como folhas pelo vento. E é assim que começa a nossa história na BrigMec, tristes por nos separarmos dos camaradas, receosos do desconhecido, mas sempre de cabeça erguida.
Muitos escolhem Santa Margarida por aquilo que ouvem, “a unidade mais operacional”, “o melhor sitio para aprender”, “missão”, e é isso que os tráz aqui. Os agora Soldados vão chegando aos poucos, alguns em grupo, mas não de muitos. Chegam à noite, e não fazem a mais pálida ideia onde se vieram meter. Os novatos são encaminhados para a 3ªCAt, atualmente desativada, nada de permanente, apenas para passar a noite, uma noite que não será esquecida tão depressa, pois é nessa que os soldados são confrontados com uma realidade diferente, a escola acabou, aqui não existem notas, se cometer erros podem ser perdidas vidas. “O que é isto?” perguntam alguns, surgem as dúvidas “será que é realmente isto que quero?”. O que quer que pensem, agora não podem fazer nada. É nessa mesma noite que percebem a importância da camaradagem e espirito de corpo. No primeiro dia são levados para o auditório onde são apresentados ao Sargento-ajudante Vicente, são tiradas dúvidas, é dada uma ideia geral sobre o 1 BIMec, são-nos apresentados os novos desafios e o que de nós se espera: trabalho, lealdade, trabalho, profissionalismo e trabalho uma vez mais. A seguir aparece o Capitão Campos, fala-lhes sobre o 1 BIMec, o que é e o que faz, é também mostrado um vídeo sobre o BIMec para elevar a moral e dar uma ideia mais concreta daquilo que se passa em Santa Margarida: ACÇÃO, ESFORÇO, DEDICAÇÃO, TREINO OPERACIONAL, TREINO FÍSICO, TIROS... ISTO É A GUERRA. Ninguém reage, não abertamente, mas consegue-se adivinhar o que lhes vai nas cabeças.Conversa-se, de onde vêm, o que querem, o que acham daquilo que já viram. São, também, oferecidos conselhos e algumas palavras de apoio. Recebe-se também uma visita do próprio Comandante do Batalhão, Tenente Coronel de Infantaria Pedro Brito Teixeira, por enquanto um estranho, que se encontra à nossa frente; expressa palavras de incentivo e apela a que todos os membros dêm o máximo de si. Depois disto é dado a escolher para onde querem ir 2CAt, CAC, CCS, é explicada a missão de cada companhia e as funções que possivelmente podem desempenhar. Cada homem e mulher faz a sua escolha, mas é só na sala de aulas que se decide definitivamente para onde vão. A maior parte para a 2CAt, alguns CCS, e meia-dúzia para a CAC, para o Pel Rec. Arrumam as suas coisas e são atribuidos às respectivas casernas. Passam 2 semanas a treinar e trabalhar, seja a limpar, a carregar o que for preciso, pintar, tudo o que lhes mandarem fazer, e durante todo esse tempo vão aprendendo tudo o que há para aprender sobre a Companhia em que estão e sobre o Batalhão, antiguidades, lemas, códigos, o Grito de Saudação do 1 BIMec... E ao longo desse tempo vão conhecendo a família, Soldados, Cabos, Sargentos, até os comandantes, homens que antes pareciam tão temiveis e exigentes são agora vistos como alguém de quem se pode depender, aprendem a não questionar o que lhes é dito pois a sua confiança é total nos seus superiores. Ainda que não façam parte da família, já começam a sentir uma certa familiaridade com tudo o que se passa ao redor. As críticas e as partidas reduzem-se, o cansaço diminui, e é neste estado que começa o nivelamento, treino físico e instruções, tanto diurnas como nocturnas, todos os dias. Não é fácil, mas os jovens querem provar ser merecedores da honra de fazer parte duma unidade tão afamada com o 1 BIMec, e para isso estão dispostos a tudo.
A primeira semana começa com provas de aptidão física, todos dão o máximo para mostrar que têm a capacidade de aguentar a vida militar, ou não. Durante a semana as instruções sucedem-se, tanto tácticas como as técnicas. Os primeiros dias são os mais ativos, tipos de posturas, progressão no terreno, queda na máscara, um pouco de Combate em Áreas Edificadas, relato de notícias com memónica da TUTELA, e sempre com a mochila atrás. Os instrutores são incansáveis, tanto os Sagentos como os Cabos são portadores de uma paciência infindável para com as dúvidas dos instruendos, se bem que não se inibem de dar reprimendas e alertas quando são necessárias. A maioria ainda se lembra daquilo de que falam, outros já esqueceram, mas todos aprendem (ou re-aprendem) e estudam o conhecimento que lhes é transmitido, pois a bem do futuro de cada um é melhor que o façam. Depois vêm as armas, de vários tamanhos, propósitos, pesos, calibres, quantos homens são necessários para tirar o máximo rendimento, o número de estrias, etc. Um sem-fim de informação que todos se esforçam para decorar, uns com mais dificuldade do que outros, mas acabam todos por aprender as principais carateristicas das armas como se as tivessem conhecido durante toda a vida. E a semana vai passando, aprendendo, estudando, e, também, são avaliados, pois a avaliação é contínua, desde a alvorada do primeiro dia, até ao dia em que terminarem, todos os dias, das 8h às 24h, os rapazes são observados e avaliados pelos atentos olhos dos instructores, avaliam os conhecimentos, as suas atitudes, determinação e camaradagem, tudo isto dirá se conseguirão um lugar, ou não, no Batalhão.
Eis que chega a última semana, os rapazes já sabem que a instrução acabou, prepararam-se durante o fim-de-semana para mostrar o valor individual de cada um, é o tudo ou nada, ou são bons o suficiente para o 1 BIMec ou terão que melhorar. Os primeiros dois dias são de revisões, é a última oportunidade para esclarecer dúvidas e firmar os conhecimentos na massa cinzenta, tempo que os jovens não desperdiçam, bombardeiam tanto Sargentos como Cabos constantemente com perguntas dos mais variáveis feitios, pertinentes e impertinentes, inteligentes e menos inteligentes, mas ainda assim os instrutores mantêm-se pacientes. O terceiro dia é dedicado ao tiro, talvez a faceta mais importante na instrução de qualquer militar, visto que tem um efeito directo na sobrevivência do militar em campo. Os rapazes aprendem como se manejam as armas no 1 BIMec, a princípio nervosos, mas à medida que a sessão decorre aprendem que não há nada a temer, desde que tratem as armas com respeito tudo correrá bem. A primeira sessão é de tiro de precisão, e quem atinge os valores necessários, passa à fase seguinte. À tarde é tiro instintivo, uma novidade para quase todos, são poucos os que conseguem acertar nos alvos, mas mais uma vez tudo corre sem problemas. Nesse dia é também feito um teste teórico sobre factos e história do 1 BIMec e da Brigada Mecanizada, algo que os jovens não esperavam, mas ainda assim não se saiem mal.
No último dia, Quinta-Feira, é feito um Circuito de Avaliação, é avaliada a camuflagem, o atavio da mochila, os conhecimentos sobre as armas, sobre o M113, comunicações e progressão, sempre com a mochilas às costas, fazendo viagens do ponto central até à estação em passo de corrida, em alto arma. Rápidamente anseiam pela próxima estação visto que podem desmochilar por breves minutos, relaxam apenas o tempo suficiente para se concentrarem na avaliação que vão efectuar, assim que terminam, mochilam, e voltam para o ponto central central, ondem ficam a aguardar. Olhando para trás, os circuitos de avaliação anteriores foram um autêntico passeio, mas nada disto os desmoraliza, pelo contrário, de cada vez que viajam entre estações e são observados pelos camaradas já pertencentes ao batalhão, tornam-se cada vez mais confiantes, pois sentem respeito vindo deles, algo que sempre desejaram.
À noite têm o último teste, uma marcha. São levados por um Unimog numa viagem que parecia não ter fim, até um Delta desconhecido, não sabem onde estão, não sabem a que distância fica o objectivo, o que apenas sabem é que nenhum deles vai desistir. Corre tudo às mil maravilhas, nenhum se perdeu ou aleijou, todos conseguiram acabar a marcha. Ficam contentes por poderem descansar, felizes por ninguém ter ficado para trás, realizados por terminar o Nivelamento .
Na Sexta-Feira, em Parada, sob o olhar de todo o Batalhão são chamados um a um, por companhia para receberem um diploma referente à realização do curso e a respectiva nota. Uma prova material daquilo que passaram, assinada e carimbada pelo próprio Comandante do 1 BIMec. Um gesto inesperado, e que encheu os corações de um bando de jovens acabados de formar, de um orgulho que até aquele momento nunca tinha experimentado, mais do que isso, deram valor ao esforço de cada um, foram reconhecidos.
A experiência aqui no BiMec? Só agora começou, foi exigente até agora, e sempre o será, pois isto é Infantaria, e quem sabe, com muita humildade, dedicação e esforço, talvez um dia digam isto sobre os novatos que agoram terminaram a Primeira lição:
“Por vós riram da morte e a fome desdenharam,
Cansados de sofrer jamais o confessaram,
São de aço os quais ali vão, tropa digna, valente!”
"O FUTURO DE NÓS DIRÁ"
"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".
O insulto é a arma dos fracos...